sexta-feira, 31 de março de 2023

Sarau feminista... SBC presente


"O amor não está em mim... o amor não está em você ... o amor está no espaço entre nós, na energia que nos rodeia"

Lembrando do filme Antes do Amanhecer do nosso post anterior, usamos a frase para retratar a forte energia que circulava naquele sarau... a energia da sororidade, o amor da amizade, o amor entre mulheres, a troca de experiências, conhecimentos, poesias, que só contribuiram para um conforto dos nossos espíritos e nosso crescimento mútuo, pois este é o valor da arte.


Gratidão às queridas ALADAS Toninha e Haydee, coordenadoras do evento, na foto Haydee apresentando o mesmo.

Nosso roteiro era: cada uma de nós homenagearia uma mulher, falaria sobre ela e citaria uma frase, um trecho da sua obra, um poema...  não publicaremos todas as homenagens, foram em torno de quarenta. Publicaremos, na ordem em que fomos recebendo após o encontro, uma pequena amostra desse evento maravilhoso:

- Nossa querida Marcia Leão, que ..."adorou assistir às singularidades que encantaram o conjunto", homenageou Elza Soares com o belíssimo texto de sua autoria: 

 Quem vai dizer que não 

A carne mais barata é a carne negra
A mesma que constrói casas, pontes...
A mesma que está na mira 
Estirada num asfalto qualquer

A mulher do planeta fome
Com seus alfinetes 
Ditando moda
Que agora é sobreviver

A mulher do fim do mundo
Canta perdas infindas
Calando a todos
Recebendo a tudo como beijos

A rouquidão da voz 
Vinda do âmago, da angústia
Assombrando com a astucia
Da fragilidade franzina 

O furacão amedrontado
Grita pra esconder o medo
Pra estancar o sangue
Que escorre da face marcada

Que quando ela canta
Rasga nossas máscaras 
Escancara as feridas
Escárnio social

E ela cantou até o fim!

- Duas lindas irmãs: KATITA e NETE... 

Primeiro a Kátia homenageou a irmão, com o poema MUSA:

Mulher 
Mãe 
Sorrisos
Escritora
Poeta
Desenhista
Janete para muitos
Janete Ferreira para os outros 
Para mim 
Simplesmente 
Nete
Irmã 
Musa inspiradora
Doutora de si.

- E a Janete, com "amor e leveza",  disse um poema seu: 

ÁGUA 

Nenhuma forma
Me define,
Porque 
Sou água.

As vezes,
Mansa.
Em outras,
Correnteza.
Rio.
De gotas,
Um oceano.

De vez
Em quando
Chuva.
E nem sempre
Límpida 

Sou água
Em meus olhos,
Em meu sangue,
Que escorre.

Raíz quadrada,
Não me explica.
Mundo redondo,
Não me implica.
Linha reta,
Não me cerca.
Estrada curva,
Não me aqueta.

Sou água 
E não me moldo,
Porque 
Antes disso
Me espalho.

E por onde passo
Faço brotar
A vida.

Em Ti.
Em Mim.
Aqui e ali. 

Escrita por Janete Ferreira

- Nossa querida Sonia Sant'Anna, emocionada,  homenageou sua avó, lendo texto publicado no seu facebook:




- Lúcia leu Rupi Kaur, poeta feminista contemporânea:



Emocionante... nos representa...

- Antonieta homenageou a guerreira DANDARA DOS PALMARES com um acróstico:

Diziam que somos o sexo frágil!
Ah! Como estavam enganados!
Nada mais forte
Diariamente, incansavelmente
Assustadoramente do que
Ritas, Luzias, Dandaras e todas mais.
Ah! Como continuam enganados!



- O poema abaixo foi cantado lindamente, e distribuído para que todas nós acompanhássemos: 

- Nossa grande Presidenta, atualmente Presidenta do BRICS, foi homenageada pela Inês:

"Por duas vezes vi de perto a face da morte: quando fui torturada,  por dias seguidos submetida a sevícias que nos fazem duvidar da humanidade e do próprio sentido da vida; e quando uma doença grave e extremamente dolorosa poderia ter abreviado minha existência. Hoje eu só temo a morte da democracia". agosto/2016

- Vanusa, com o texto a seguir,  homenageou nossas mulheres cientistas, com as quais ela se identifica:

"Gostaria de homenagear as cientistas mulheres do Brasil. 
Devemos lembrar que Mulheres e meninas representam metade da população 
do mundo e, portanto, metade de seu potencial, segundo um artigo da ONU
(Organização das Nações Unidas). Apesar disso, o gap de gênero nas áreas de ciência, 
tecnologia, engenharia e matemática(STEM, na sigla em inglês) é o responsável pela
imagem masculina quando se fala em cientistas. Nas universidades, as mulheres
representam 35% dos alunos matriculados nesses campos – e o percentual é
menor nas engenharias e na tecnologia, não chegando a 28% do total, ainda de
acordo com a ONU. 
O Brasil possui grandes cientistas mulheres que enfrentaram
dificuldades da área e fizeram história na ciência. Entre elas,
podemos citar:
Bertha Lutz (1984 - 1976) que foi uma cientista e bióloga
especializada em anfíbios; Elisa Frota Pessoa (1921- 2018), uma das primeiras 
mulheres a se formar em física no Brasil;
Elza Furtado Gomide (1925-2013), a primeira doutora
em matemática pela USP (Universidade de São Paulo). Ela se formou em física,
mas seguiu os passos do pai e se dedicou à matemática; 
Enedina Alves Marques (1913-1981), a primeira engenheira
negra do Brasil; 
Jaqueline Goes e Ester Sabino: a biomédica Jaqueline Goes de Jesus e a 
imunologista Ester Sabino ficaram conhecidas por terem sequenciado o genoma 
do novo coronavírus,  24 horas após a confirmação do primeiro caso de Covid-19 
no Brasil; 
Márcia Barbosa, Diretora da Academia Brasileira de Ciências e integrante da Academia Mundial
de Ciências, Márcia é doutora em física e especialista em estudos relacionados à água; 
Vivian Miranda: A carioca Vivian Miranda foi a única brasileira a trabalhar em um projeto da
Nasa para desenvolver um satélite avaliado em US$ 3,5 bilhões (R$ 16,74
bilhões). 
Muitas outras poderiam ser citadas pelo pioneirismo e dedicação.
As mulheres na ciência ainda são poucas se comparadas ao número de homens que
se dedicam aos estudos e pesquisas científicas. Portanto, é fundamental o papel
de jovens cientistas mulheres que recentemente colaboraram para
notáveis descobertas e desenvolvimento de pesquisas ​​para os
campos da ciência, biologia e saúde, artes e ciências sociais. Afinal,
lugar das mulheres é na educação científica e onde mais elas
quiserem".

- A Lúcia homenageou nossa jovem Ana Martins Marques, com o poema RELÓGIO:

RELÓGIO

De que nos serviria um relógio?

se lavamos as roupas brancas: é dia

as roupas escuras: é noite

se partes com a faca uma laranja em duas: dia

se abres com os dedos um figo maduro: noite

se derramamos água: dia

se entornamos vinho: noite

quando ouvimos o alarme da torradeira
ou a chaleira como um pequeno animal
que tentasse cantar: dia

quando abrimos certos livros lentos
e os mantemos acesos
à custa de álcool, cigarros, silêncio: noite

se adoçamos o chá: dia

se não o adoçamos: noite

se varremos a casa ou a enceramos: dia

se nela passamos panos úmidos: noite

se temos enxaquecas, eczemas, alergias: dia

se temos febre, eólicas, inflamações: noite

aspirinas, raio X, exame de urina: dia

ataduras, compressas, unguentos: noite

se esquento em banho-maria o mel que cristalizou
ou uso limões para limpar os vidros: dia

se depois de comer maçãs
guardo por capricho o papel roxo-escuro: noite

se bato claras em neve: dia

se cozinho beterrabas grandes: noite

se escrevemos a lápis em papel pautado: dia

se dobramos as folhas ou as amassamos: noite

(extensões e cimos: dia

camadas e dobras: noite)

se esqueces no forno um bolo amarelo: dia

se deixas a água fervendo sozinha: noite

se pela janela o mar está quieto
lerdo e engordurado
como uma poça de óleo: dia

se está raivoso
espumando
como um cachorro hidrófobo: noite

se um pinguim chega a Ipanema
e deitando-se na areia quente sente ferver
seu coração gelado: dia

se uma baleia encalha na maré baixa
e morre pesada, escura,
como numa ópera, cantando: noite

se desabotoas lentamente
tua camisa branca: dia

se nos despimos com ânsia
criando em torno de nós um ardente círculo de panos: noite

se um besouro verde brilhante bate repetidamente
contra o vidro: dia

se uma abelha ronda a sala
desorientada pelo sexo: noite

de que nos serviria um relógio?

- Por fim (não nessa ordem no sarau) eu homenageei uma grande professora, lembrando dos tempos atuais e as violências que estamos sofrendo:

Antonieta de Barros, nasceu em 1913 anos depois daquela abolição, filha de CATARINA, ex escrava, lavadeira) e morreu em 1952, com 50 anos, catarinense, primeira negra brasileira a assumir um mandato político! Era jornalista e professora e ativa defensora da emancipação feminina e da educação de qualidade para todas e todos, e pioneira e inspiração do movimento negro no Brasil.

"A grandeza da vida, a magnitude da vida, gira em torno da educação".

“Se educar é aprender a viver, é aprender a pensar. E, nessa vida, não se enganem, só vive plenamente o ser que pensa. Os outros se movem, tão somente”.


Como podemos ver, mulheres maravilhosas, homenageadas... e homenadeadoras... mulheres inspiradoras de todas as idades, cores e sabores... cantoras, poetas, romancistas, professoras, trabalhadoras, mães, avós, irmãs, sobrinhas... filósofas, cientistas, políticas... todas Brasileiras... e/ou  Mineiras. Isso nos  reporta ao "esboço de projeto SBCense MULHERES DO BRASIL, que fala sobre nossos "espíritos colonizados" e a nossa necessidade de resgatar nossas referências, nossas mulheres brasileiras, que são potentes, a fim de nos inspirarmos nas mesmas para construir nossa identidade. 


Lembrando que nossos saraus ocorrem quinzenalmente, as quartas feiras, a partir das 19 horas. Acompanhem pelo Instagram:



Antes mesmo da realização desse encontro, no grupo do Whatsapp de organização do mesmo, foi publicado um vídeo antigo, da saudosa Fernanda Young com Rita Lee, que traduziria nosso sarau. Terminamos com o mesmo:


Não podemos deixar de agradecer a nossa querida Lúcia que, ao final, nos ofereceu docinhos deliciosos. Supimpa, como disse a Sônia. Pedindo desculpas e solicitando: quem não apareceu aqui e quiser nos encaminhar sua homenagem, por favor faça isso. 

E a Francirene completa os agradecimentos por esse encontro fraterno: "Que venham outros momentos de inspiração e fortalecimento da amizade consciente entre as mulheres". Continuamos juntas, de mãos dadas", como diz a Marília Andrés...




 


6 comentários:

  1. Parabéns pela repercussão do nosso sarau Feminista!

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  2. Parabéns a todas as participantes desse evento e, principalmente, às organizadoras pela iniciativa e a você, Santuza, pela acuidade na abordagem das contribuições. Não estive presente, pois, desde o dia 28/3, estou fora de BH. Adorei os poemas e me tocou profundamente o da Janete Ferreira. Muito potente! A maravilhosa Rita Lee, como sempre, deixando sua marca por onde passa.

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  3. Adorei o post. Robusto, completo, delicado, uma perfeita poesia em forma de crônica. Adorei ter participado do sarau. ANTONIETA SHIRLENE

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