quinta-feira, 16 de março de 2023

Sobre o "amor movimento"


Asa de Papel Café&Arte R. Piauí, 631 - Santa Efigênia, Belo Horizonte - MG

Chamamos a nós mesm@s de ALADOS... Trata-se de uma "mini livraria", uma "mini galeria de arte" também .Um bom lugar para tomar um capuccino ou uma cerva, acompanhando um quiche ou um pão de queijo. Eventos de todo  tipo: um quarteto de jazz, uma noite de autógrafos, vernissage, oficinas e palestras... Tudo em pequena escala, mas de ótima qualidade. Se falta espaço o evento se espalha pela pracinha em frente. E os saraus, às quartas, de quinze e quinze dias.

Nosso encontros - saraus -  na ASA  são lindíssimos... cada vez mais gente, de todas as idades - cada vez mais gente se destravando e dizendo um poema, uma crônica,  cantando uma música - ou também recitando a letra, fica lindo, como um poema!

E os bons encontros, as grandes amizades... disso é feita a vida.

Costumamos dizer: "Na horizontal é prosa; na vertical é poesia...nem sempre... mas sempre cantando... ou piropando..."


Dia Nacional da Poesia, nosso grande poeta Drummond diz tudo, poesia é vida, a poesia está nas coisas, nas emoções, nas relações...nas descobertas, não nas coisas prontas e acabadas... 

Com todas as emoções podemos (e precisamos...) fazer poesia. Inclusive com os amores mais contraditórios, mais paradoxais. Aliás, alguns poetas e filósofos já apontam, desde algum tempo, o paradoxo do amor: agonia e êxtase - porque o amor é o encontro da terra e do céu, do conhecido e do desconhecido, do visível e do invisível. "O amor é uma corda esticada entre duas polaridades" (Osho). E, ampliando a grande filósofa Hannah Arendt, "Toda dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história"... ou se, sobre ela, pudermos fazer poesia...

Já temos, também, explicações científicas para essa emoção: A ocitocina é chamada de "hormônio do amor" e, quando uma pessoa está sofrendo por alguém, os níveis dessa substância caem drasticamente, A dopamina, por sua vez, é responsável pela sensação de prazer.

Nossa prosa foi sobre tentar compreender o amor para vivê-lo melhor. O que nos leva imediatamente ao perigo de compreender para "encaixar o amor num quadrado". Pois quando isso acontece nós o perdemos, nos distanciamos da nossa capacidade de senti-lo. Francesco Alberoni, filósofo italiano, nos diz sobre petrificação - leia nosso post de 30 de janeiro.2023. E outra coisa que ele diz que nos elucida bastante é a diferenciação entre ENAMORAMENTO, o que nós costumamos dizer 'estar apaixonadx' - que é, necessariamente, um ESTADO NASCENTE, ou seja, evolui (com todas as consequências nas nossas vidas e nas nossas emoções) para o desenamoramento, a petrificação (que costumamos confundir com o amor)  ou o AMOR - um movimento constante, uma construção, a dois, para a vida toda.

Pois bem, a paixão, como conversamos, é esse estado nascente de agonia e êxtase...e aí a gente tenta "encaixar" e petrifica. De outra forma, se "suportamos" o paradoxo "agonia e êxtase" criamos a possibilidade do "amor movimento", onde tudo está por se construir o tempo todo. Alberoni diz também de outro modo: quando estamos apaixonados corremos o risco de ultrapassar o "ponto de não retorno" e darmos - e pedirmos, exigirmos, do outro - o que ele chama de "provas de amor". E daí é que "encaixamos" - ou petrificamos, o amor... e, tragicamente, ele deixa de existir. 

De outro modo, como podemos desenvolver a sabedoria do amor "movimento constante"? 

A frase acima é do filósofo Allain de Boutton, citada pela escritora Paula Gicovate em live com a youtuber Carol Tilkian (a esquerda), do @_amorespossiveis, ela faz ótimas entrevistas sobre o tema com pesquisadorxs top da área, Viviane Mosé, Fabricio Carpinejar, Regina Navarro, entre outrxs.

Vale a pena ler os dois livros, da Paula Gicovate e do Allain de Boutton:



E já verificamos outra contradição possível, quando pensamos na perspectiva de gêneros: isso vale, funciona,  em 'mão dupla' na nossa sociedade patriarcal, machista e misógina? Esse pressuposto pode, também, ser usado  como ferramenta de manipulação e uso do poder, principalmente por homens que se dizem em "desconstrução"? Como diz Alberoni, no livro "Enamoramento e amor", quando no 'estado nascente' procuramos dar e receber 'provas de amor', não é raro o homem transformar "aquele ser esplendoroso" objeto do seu desejo num ser "domável" e "inexpressivo". A inveja, outra emoção potente que pode estar misturada com o amor, quando é negada, reprimida, não elaborada, pode destruir x outrx, o amor e a si mesmx.


Conversamos sobre um filme "A Liberdade é Azul", de 1993, do Diretor Krzysztof Kieslowski. O titulo do filme é acompanhado da citação: o mito da liberdade, e da frase: aprendemos a viver como se, ao vivenciarmos o amor, tivéssemos que abrir mão da liberdade. 
E essa "aprendizagem" ocorre de maneira diferente para homens e mulheres, parece que as mulheres abrem mão da liberdade (e de si mesmas) em função do amor, enquanto os homens aprendem a se apegar à liberdade.
Enfim, ruim pra todos os gêneros,  não aprendemos a lidar com os paradoxos e vivenciar de uma maneira bonita e alegre o amor.
Contudo, o que "não aprendemos", porque não faz parte da nossa cultura maniqueísta, precisamos "aprender" ... para caminharmos no sentido da construção de novas formas de amar.


Grandes temas: amor, liberdade... e arte. Grande filósofo, psicanalista e músico Vladimir Safatle, no seu livro mais recente, Em um com o impulso: experiência estética e emancipação social, diz: "a experiência estética é fundamental para a organização de nossas expectativas de liberdade", e mais: "é pelo contato com a arte que aprendemos a ser livres"... e a amar de um jeito mais bonito, acrescentamos. 

E sobre o amor ao tempo e a vida: a seguir dois poemas, da Viviane Mosé e do Pablo Neruda:


E fragmentos dos nossos saraus:

Intertextualidades: CONTRADIÇÕES DE UMA MULHER  - com Rosa e com Vivi:

Ontem eu resisti a você... a seus beijos, a seu carinho...

Resistir, no nosso campo progressista, é uma virtude de pessoas guerreiras...

Aqui é um estereótipo, uma construção histórico cultural do nosso gênero:

Aprendemos que, para sermos desejadas, precisaríamos ser difíceis... que merda...

Viver e perigoso: a mesma coisa que me salva pode me matar, já dizia G. Rosa.

Fui uma tonta... devia ter te comido... e me deixado comer

Como diria a Vivi: ... "me olhando nos olhos e com o meu consentimento"

Só assim é gostoso...

Ele se diz um homem feminino

Sabe lavar, passar, cuidar da casa, fazer comidinhas gostosas...

Com isso ele me desafia...e eu entro em contradição... e entro em competição com ele!

Mas me pego fazendo outras perguntas:

Eu quero um homem feminino? um homem que saiba tudo que eu aprendi e ainda acha que faz melhor?

ou eu quero um homem masculino que tenha aprendido todos essas tarefas femininas

e que queira fazer junto

Ai... meu Deus... como é difícil superar estereótipos!

Homens meigos são sedutores

Mulheres meigas são "meigalinhas"... principalmente as auto afirmativas

Mulher resolvida pode querer ser 'mulherzinha'... diminuitivo afetivo, não diminuitivo estereotipado.

Assim como pode também ser 'ridícula' no amor... não me desumanize...  vamos rir juntos...

Acordo com seu cheiro, ao meio dia te deleto, a tarde te recupero, a noite durmo e sonho com você... Te devoro... Te espero...

Depois desses fragmentos cantamos Nana Caymmi, composição de Dorival Caymmi e Ana Terra, "Meu menino":


E terminamos com dois poemas da nossa ALADA Márcia Leão:


Terminamos... por enquanto. O assunto continua... sempre.

Abraços carinhosos, e mais uma ideia: "SOLTAR O CONTROLE PARA DESCOBRIR O FLUXO"... E ESTARMOS ATENTOS E ATENTAS... E FORTES!  NA CONSTRUÇÃO...







14 comentários:

  1. Recebi como um presente. Mais que um blog. Um magazine ou uma viagem. Repleto de cores, sons, palavras. Convidando o coração e a mente a se abrir. Para o amor,. Esse menino que nos convida a ser adulto. E esse adulto que nos convoca a amar e ser livre, como crianças. Muito obrigada!

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  2. A cada post do blog do SBC me sinto cada vez mais privilegiada em tê-lo conhecido. Parabéns Tu. Você nos representa e nos enriquece com suas escritas, considerações e questionamentos. Como sabe, às vezes não concordo com alguns pontos . Mas sabemos, somos diversas e únicas. Não é salutar pensar igual.
    Caminhamos juntas respeitando nossas individualidades.
    Abraços carinhosos.
    ANTONIETA SHIRLENE

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  3. Obrigada querida... é com a diferença que a gente aprende mais... abraços carinhosos

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  4. O amor é tudo!!! Adorei

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  5. Muito bom mesmo.
    ANTONIETA SHIRLENE

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  6. O amor é uma caixa de pandora, onde cada um encontra sua caixinha de surpresas ! Adorei Santuza..abraços

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  7. Amei completamente! Obrigada Sant8zs

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