quinta-feira, 23 de março de 2023

Conversas SBCenses: Comunismo e Felicidade

 


No ano de 2012 Assembleia Geral da ONU aprovou por unanimidade uma resolução proclamando a nova data, que se soma ao calendário da ONU de dias internacionais: dia 20 de março, dia da FELICIDADE.

"A busca pela felicidade é um objetivo humano fundamental", diz a resolução, aprovada por consenso pelos 193 membros da assembleia. Ela pede que se observe "o Dia Internacional da Felicidade de forma apropriada, incluindo por meio de atividades educativas e de conscientização pública".

A comemoração teve como inspiração o reino do Butão, onde a felicidade é considerada o sentimento mais importante do PIB (Produto Interno Bruto) que foi substituído pelo o de Índice de FIB (Felicidade Interna Bruta) na década de setenta. 

No nosso post de 6 de março de 22 conversávamos sobre filmes; e um deles era sobre um filme do Butão:


Certamente no Butão o conceito de FELICIDADE não se parece com o nosso. Pois a primeira ideia que nos ocorre é a de que, na nossa sociedade ocidental, o conceito de felicidade tem sido difundido de uma maneira alienante e tóxica. 

Wander Pereira, professor e pesquisador do assunto na Universidade de Brasília,  alerta que a constante busca por "algo que é a felicidade" pode ser ruim e danosa. Para ele a felicidade é um empreendimento coletivo. "É uma experiência coletiva porque ela surge da necessidade de trabalhar e viver juntos, o ser humano desenvolveu essa necessidade na história evolutiva". "Felicidade é encontrar coisas que estejam presentes na sua vida e isso passa muito pelas construções sociais, pelas redes que a gente faz, pelos relacionamento que a gente tem ao longo da vida", diz o professor.

E dessas considerações é que passamos a conversar sobre o conceito de felicidade tóxica,  que nada mais é que a ideia de que pensamentos positivos devem estar acima de quaisquer outras emoções consideradas "negativas"., ou seja, a busca exacerbada pela felicidade e a negação das emoções. 

Essa prática em excesso pode comprometer nossa saúde mental . "O ponto é que quando um sentimento é ignorado, isso não significa que ele deixou de existir ou parou de te afetar. Na verdade, se você não aceitar que suas emoções existem e que vão surgir no dia a dia, nunca vai aprender a lidar com elas".
Daí, pensando sob o ponto de vista cultural,   podemos concluir para a felicidade tóxica é ..."um subproduto da atual cultura, que sobrevaloriza o individualismo, a competição e o sucesso", ou seja, a felicidade tóxica é um subproduto do capitalismo. 
E, na mesma semana em que se comemora o  dia da felicidade, sai pesquisa IPEC:
Quase metade (44%)  dos brasileiros veem ameaça comunista no governo Lula.
(mesmo que, na mesma pesquisa, para 41% dos brasileiros este governo seja bom ou ótimo)
Segundo Leonardo Sakamoto, a palavra "comunismo" retirada de seu sentido original, de propriedade comum dos meios de produção e da ideologia por ela sustentada, se tornou no Brasil um simples comando para o linchamento digital, independentemente de quem esteja do outro lado. O objetivo é tirar a credibilidade e destruir, muitas vezes para servir de exemplo. E, consequentemente, esse processo tornou a palavra depositária do "mal". E um grande mal é sempre temido e vira uma ameaça.
Para muitos de nós que nascemos no século passado, depois da segunda guerra mundial, segunda metade do século, desenvolvendo-se o imperialismo americano, a guerra fria EUA X União Soviética, o que ouvíamos era que "comunista comia criancinhas"... isso nos aterrorizava. 
Já na Ditadura começávamos a desenvolver uma visão crítica do mundo, perceber o que estava acontecendo no Brasil, a censura, o medo, a repressão, a falta de liberdade de conversar, criticar, nossos artistas, poetas - nossas referências -  'fugindo' do Brasil... mas tínhamos Dom Helder:

Enfim, faz sentido para nós entender a FELICIDADE como um EMPREENDIMENTO COLETIVO.

E pensar: para que - e para quem - serve a manutenção da ignorância?
E terminamos nos inspirando na arte, para pensarmos sobre o mundo... e nós no mundo... enquanto sujeitos...
Vendo um filme: Já era hora, comédia dramática italiana sobre um homem que trabalhava demais
Cantando Tom e Vinícius:

E lembrando Drummond - eterno: Uma Hora e mais outra, do livro "A rosa do povo"

“Há uma hora triste
que tu não conheces.
Não é a tua tarde
quando se diria
baixar meio grama
na dura balança;
não é a da noite
em que já sem luz
a cabeça cobres
com frio lençol
antecipando outro
mais gelado pano;
e também não é a
do nascer do sol
enquanto enfastiado
assistes ao dia
perseverar no câncer,
no pó, no costume,
no mal dividido
trabalho de muitos;
não a da comida
hora mais grotesca
em que dente de ouro
mastiga pedaços
de besta caçada;
nem a da conversa
com indiferentes
ou com burros de óculos,
gelatina humana,
vontades corruptas,
palavras sem fogo,
lixo tão burguês,
lesmas de blackout
fugindo à verdade
como de um incêndio;
não a do cinema
hora vagabunda
onde se compensa,
rosa em tecnicolor,
a falta de amor,
a falta de amor,
A FALTA DE AMOR;
nem essa hora flácida
após o desgaste
do corpo entrançado
em outro, tristeza
de ser exaurido
e peito deserto,
nem a pobre hora
da evacuação:
um pouco de ti
desce pelos canos,
oh! adulterado,
assim decomposto,
tanto te repugna,
recusas olhá-lo:
é o pior de ti?
Torna-se a matéria
nobre ou vil conforme
se retém ou passa?
Pois hora mais triste
ainda se afigura;
ei-la, a hora pequena
que desprevenido
te colhe sozinho
na rua ou no catre
em qualquer república;
já não te revoltas
e nem te lamentas,
tampouco procuras
solução benigna
de cristo ou arsênico,
sem nenhum apoio
no chão ou no espaço,
roídos os livros,
cortadas as pontes,
furados os olhos,
a língua enrolada,
os dedos sem tato,
a mente sem ordem,
sem qualquer motivo
de qualquer ação,
tu vives; apenas,
sem saber pra quê,
como para quê,
tu vives: cadáver,
malogro, tu vives,
rotina, tu vives
tu vives, mas triste
duma tal tristeza
tão sem água ou carne,
tão ausente, vago,
que pegar quisera
na mão e dizer-te:
Amigo, não sabes
que existe amanhã?
Então um sorriso
nascera no fundo
de tua miséria
e te destinara
a melhor sentido.
Exato, amanhã
será outro dia.
Para ele viajas.
Vamos para ele.
Venceste o desgosto,
calcaste o indivíduo,
já teu passo avança
em terra diversa.
teu passo: outros passos
ao lado do teu.
O pisar de botas,
outros nem calçados,
mas todos pisando,
pés no barro, pés
n´água, na folhagem,
pés que marcham muitos,
alguns se desviam,
mas tudo é caminho.
Tantos: grossos, brancos,
negros, rubros pés,
tortos ou lanhados,
fracos, retumbantes,
gravam no chão mole
marcas para sempre:
pois a hora mais bela
surge da mais triste.”

Enfim, a arte nos faz refletir... e nos salva ...

Abraços carinhosos...





5 comentários:

  1. Basta conhecer um país comunista, o corte das liberdades e a servidão ao estado para temer esse monstro que matou milhões de pessoas. Falácias a pregação de direitos iguais.

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  2. Li, reli, emocionei-me e revivi momentos difíceis! É a vida! E a vida é bonita!

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  3. O comentário dessa primeira pessoa, que se identifica como "anônimo", só vem confirmar tudo o que o seu texto e as citações afirmam: as pessoas não conhecem e não gostam. Não sabem que o comunismo é uma proposta filosófica, para uma sociedade igualitária, extremamente avançada, na qual, inclusive, o Estado será extinto, por desnecessário. Nenhum sistema econômico pode se perpetuar, haja vista que todos foram superados ao longo da história. Com o Capitalismo não será diferente. Todas as experiências, vividas até hoje, só nos servem para elaborarmos novas formas de organização da sociedade. A proposta dos comunistas é, até que outra melhor seja elaborada, o que há de mais avançado, em termos de continuidade da aventura humana neste planeta.

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  4. Para começo de conversa, o comunismo ainda não se realizou em nenhum país. O que existem são experiências socialistas com a expectativa de, num futuro ainda distante, atingir-se, quem sabe, o comunismo. Mas a ignorância é uma doença terrível!

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