quarta-feira, 29 de setembro de 2021

ARTE, PROSA E SAMBA: A AMIZADE (resenha)

Um encontro cheio de boas energias, de muitas trocas, muito crescimento mútuo, como é o SBC e como são (ou deveriam ser) as AMIZADES.

Começamos com as citações das grandes amizades: Cora Coralina e Drummond, Diadorim e Riobaldo, entre outras. E falamos sobre os conceitos de AMIGO, ADVERSÁRIO, INIMIGO: quem deseja a minha submissão a elx e|ou suas ideias não é meu amigo, pois amigo é aquele que me permite (e eu também permito) o não, a divergência. Portanto, adversário pode ser um grande amigo. E o maniqueísmo de pensar que quem não concorda comigo é meu inimigo e muito perigoso... e mais: meu inimigo e deve ser "eliminado". NÃO!!! Nosso grande Guimarães Rosa dizia: "sou quando divirjo", lição de vida e de relações de crescimento. Dizer isto no princípio do nosso encontro e ver "olhos brilhando", na expectativa de uma conversa pra lá de boa, já me animou demais...

Daí fomos para a apresentação do SBC, este grupo de amigos que se transformou num "conceito" de "bem viver". Conseguimos um pequeno vídeo gravado pela Cléo falando sobre isso:


Daí apresentamos o nosso grande amigo SBCense, que já estava arrasando no violão e voz, Romário Araújo, e sua música sobre Itabira, lindíssima:


Falamos sobre a amizade com Fernando Pessoa, grande poeta e filósofo Lisboense:

                                                Fernando Pessoa (1888-1935)

"Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril" (aqui só uma palinha do mesmo, mas no encontro falamos dois poemas).

E outro que não podia faltar:

                                            Vinicius de Moraes (1913-1980)

Nosso grande poetinha camarada: "A gente não faz amigos. Reconhece-os".

E a nossa poetinha camarada Antonieta Shirlene, grande SBCence em viagem, mas mandou dois poemas, um deles é este:

FLORISBELA E ANABELA

Não existe coisa mais bela

Do que o outono

Do que a primavera

Do que a amizade

Amarrada com fita amarela

Tal a amizade de Florisbela e Anabela

Que detardinha na janela comem pipoca

Vão juntando seus pedacinhos

Qual beija flor, de flor em flor

Contam seus sonhos e desafios

Contam também sobre o amor.

E foi ela, também, que teve a grande ideia do varal de frases, que ficou lindo! E as pessoas animaram de  ir puxando do varal cada frase e leram no microfone frases super marcando sobre A AMIZADE , inclusive essa da música Canção da América, do Milton Nascimento e Fernando Brant:

AMIGO É COISA PRÁ SE GUARDAR 

DEBAIXO DE SETE CHAVES

DENTRO DO CORAÇÃO. 

Foi com uma parte dessa música, também, que terminamos nosso encontro:

QUALQUER DIA, AMIGO, A GENTE VAI SE ENCONTRAR...

Mas não sem, antes, falarmos sobre livros e filmes que nos ensinam sobre a amizade, tudo sempre permeado com as lindas interpretações de músicas sobre o tema. 

Inclusive cantamos umas músicas sobre amizades nos anos 80 do século passado, quando alguns brasileiros e brasileiras estavam exilados por causa da repressão do regime militar que vivíamos, nessa época. Durante o governo do último presidente militar, General Figueiredo, tivemos a "abertura", e algumas pessoas que estavam fora do Brasil, por terem se exilado ou por terem sido expulsas do país,  voltaram... e tínhamos músicas lindas falando sobre isso. Uma delas: O Bêbado e o Equilibrista, de João Bosco e do saudoso Aldir Blanc. E falamos um pouco sobre essa época histórica, e como a histórica é importante para entendermos o mundo e nossa atualidade. 

E conseguimos gravar uma parte no celular do grande SBCense Paulinho... a seguir, uma "palinha" pra quem não foi animar de ir no próximo, último domingo de outubro, que vai ser sobre o tema SOBRE VIVER. 


Aproveite e se inscreva no canal e dê um LIKE viu?

O SBC também agradece todas as pessoas que participaram deste encontro, Cléo, Zezé, Gilvana, Vanessa, Salime, e as novas pessoas amigas que ainda vamos decorar  os nomes. E o nosso querido Zum, que fez o convite virtual, bacanérrimo! 

Ahhhh: ao final do encontro tivemos sorteio de livros, todo mundo adorou (principalmente os que ganharam... rsrs)... mas a coisa que mais me alegra de montão é terminar um encontro desses e olhar pras pessoas e perceber os olhos brilhando... ai, como isso é bom... os meus também brilham e eu agradeço à vida que me tem dado tanto... mas esse é o tema do nosso próximo encontro...

Até lá... 


GENTE!!! e o nosso próximo encontro será no dia das BRUXAS!!!
Então, combinamos de ir fantasiadxs... e fazer ligações entre os temas: SOBRE VIVER e BRUXAS, porque, afinal, nós, mulheres, somos sobreviventes de um sistema que queria matar todas nós, as DIVERGENTES. Preparem suas fantasias!!! Nos montemos!!! todxs nós!!!





   




domingo, 19 de setembro de 2021

Conversas SBCenses: sobre LOUCURA (e AMIZADE)




Paulo Barreto (
João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto; pseudônimo literário: João do Rio), jornalista, cronista, contista e teatrólogo (1881-1921).



Diálogo entre Angel e Rochelle... eu de "butuca":



Angel: Rochelle, li alguns contos do João do Rio e me interessei pela sua biografia. Aí  fui pesquisar e descobri que o seu pai, numa época de recessão, no Brasil e no mundo, há cerca de 100 anos, perdeu o emprego e então foi trabalhar num hospício, no almoxarifado. Depois de algum tempo ele ficou louco. Isso me deixou encucada. Você que entende mais do humano do que eu, me responda: trabalhar em hospício faz a pessoa ficar louca?

Rochelle: Minina... nunca vi isso não... mas tô pensando numa coisa: será que a pergunta não seria "em quanto tempo a pessoa fica louca trabalhando num hospício?" ; outra possível: "foi bom pra essa pessoa ficar louca?". Porque eu tenho pra mim que quanto menos tempo ela ficar louca depois que começar a trabalhar no hospício melhor pra ela, né?

Angel: Você é que é muito louca Rochelle! Eu aqui impressionada com o conto e você mangando de mim!


Rochelle: Angel, você me fez lembrar um grande brasileiro, nordestino: Ariano Suassuna. Ele morreu em 2014 e eu tive a alegria de assistir uma aula-espetáculo dele, um pouco antes da sua morte... e foi ele que inspirou nosso conceito SBCense de vida, no item RISO, rir da vida, da gente mesmo, riso é revolucionário, libertador, desoxida talentos.


Nessa aula-espetáculo ele conta estórias de pessoas num hospício que ele tinha ido visitar por ocasião da inauguração do mesmo. Ele era secretário da Cultura de Pernambuco e estava acompanhando o Governador. O Diretor do Hospício queria mostrar o valor do tratamento pelo trabalho, os loucos estavam todos muito contentes carregando pedras num carrinho de mão. Mas um deles ia de lá pra cá com o carrinho emborcado! Então ele perguntou pro louco: Porque você anda com o carrinho emborcado quando todos os outros estão carregando pedras ? No que o louco respondeu: eu sou louco! não sou burro! se eu virar o carrinho eles vão encher de pedras! Eu heim... não vou fazer isso não! não vou me submeter a essa exploração!

Então Angel, com esse caso do Suassuna você entende o que eu disse? por que quanto menos tempo a pessoa levou pra ficar louca mais saudável ela é!  Podemos refazer sua pergunta: nós, no sistema em que vivemos, somos saudáveis? Pessoas normais são saudáveis? Pessoas adaptadas são saudáveis?

E concluíram: é preciso muito humor, muita alegria e esperança,  para fazer a revolução, para construirmos um mundo melhor, mais humano, mais distributivo, mais justo. Será que Ariano conversava com o Paulo?

Angel: Que Paulo, Rochelle?

Rochelle: Paulo Freire minina! Estamos hoje, 19 de setembro, comemorando os 100 anos desse gênio da EDUCAÇAO LIBERTADORA, que forma o sujeito crítico, contrapondo à EDUCAÇÃO BANCÁRIA, que significa "enfiar" conhecimento pronto "goela abaixo" do educando. Para Paulo, educação é uma construção conjunta, educador, educando, olhar para o mundo, se colocar como sujeito... e por aí vai. Tem gente que tem muito medo do Paulo! Pois é revolucionário!



Angel: claro que eles eram amigos! e o Paulo é, também, um dos mentores do SBC! Eles também estarão no nosso encontro dia 26.setembro lá no Botequim Madureira. 



E eles também estão convidando todas as pessoas que se identificam com esses conceitos: o SBC é um grupo ABERTO, INCLUSIVO, ANÁRQUICO, DEMOCRÁTICO, ECOLÓGICO... E FEMINISTA...  

Valorizamos o RISO, a alegria, o nível de relação de AMIZADE, são as que mais a gente cresce, o SBC acredita nisso... e o SENTIDO ESTÉTICO na vida e nas relações, a arte é transformadora.


Grande LENINE!!! Freiriano e SBCense... também nos convidando.

Aí está o convite, chamem seus amigxs. O SBC estará lá para recebê-los, para cantar, conversar, falar poemas sobre o tema... enfim, rever pessoas queridas.



Até lá!!!

Santuza TU

 


quarta-feira, 15 de setembro de 2021

ARTE, PROSA E SAMBA 2: A AMIZADE

Cora Coralina e Carlos Drummond convidam para o nosso segundo encontro 
ARTE, PROSA E SAMBA: A AMIZADE


 

Será no dia 26 de setembro a partir das 13 horas no Botequim Madureira, no Bairro Aparecida, em Belo Horizonte. Vamos conversar sobre o conceito SBCense de AMIZADE, o que diferencia esse sentimento do AMOR,  grandes amizades na História, como a da Cora e do Drummond, do Riobaldo e Diadorim, da Anabela e da Florisbela,  sobre o VALOR DA AMIZADE  para a vida, entre outras coisas. Claro, tudo permeado pela Arte: poemas, músicas... e vamos, enfim, comemorar a AMIZADE, um conceito fundamental para o SBC.

O card a seguir é um convite para o nosso evento:



Não percam! vai ser lindo!!! e convidem as pessoas amigas.

Até lá...

Saudações SBCenses...




sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Na beira do fogão: conversando sobre DEMOCRACIA

 



Este foi o fogão da nossa conversa sobre DEMOCRACIA. A foto foi tirada depois, no dia estávamos tão envolvidxs com a conversa que não lembramos. Algumas pessoas levaram informações do GOOGLE, outras levaram referências de livros e filmes... e eu fiquei encarregada de fazer a resenha (e ilustrações)... a seguir:


palavra democracia tem origem no grego demokratía que é composta por demos (que significa "povo") e kratos (que significa "poder" ou "forma de governo").

 A democracia é a possibilidade de exercício político por parte do povo. Trata-se de um regime político em que todos os cidadãos elegíveis participam igualmente — diretamente ou através de representantes eleitos. Os gregos antigos criaram a ideia de cidadania, aquele que é considerado cidadão poderia exercer o seu poder de participar da política da cidade. Reparem que não era inclusiva a democracia grega, e isso foi a uns 300 anos antes de Cristo. Os escravos e as mulheres não estavam incluidxs, eram serem "inferiores".

A democracia grega era, portanto,  restrita. E essa ideia começou a mudar a partir da Revolução Francesa que, por meio do republicanismo, passaram a advogar por uma participação política de todas as classes sociais. Ainda na Modernidade, apesar de avanços políticos e de uma ampliação do conceito de democracia, as mulheres não tinham acesso a qualquer tipo de participação democrática ativa nos países republicanos, fato que somente começou a ser revisto com a explosão do movimento feminista das sufragistas, que culminou na liberação, pela primeira vez na história, do voto feminino, na Nova Zelândia, em 1893 (ou seja, pouco mais de 100 anos).


As democracias podem ser classificadas quanto aos tipos diferentes, com base no modo como se organizam. E, também, podem apresentar diferentes estágios de desenvolvimento. Por isso, o termo é amplo e de difícil definição, pois o simples ato de dizer que “a democracia é o poder do povo" ou de associar democracia à prática de eleições não define o conceito em sua totalidade.

Temos três tipos básicos de democracia:

§  Democracia direta

É a forma clássica de democracia exercida pelos atenienses. Não havia eleições de representantes. Havia um corpo de cidadãos que legislava. Os cidadãos reuniam-se na ágora, um local público que abrigava as chamadas assembleias legislativas, onde eram criadas, debatidas e alteradas as leis atenienses. Cada cidadão podia participar diretamente emitindo as suas propostas legislativas e votando nas propostas de leis dos outros cidadãos. Os cidadãos preparavam-se, mediante o estudo da Retórica, do Direito e da Política, para as assembleias.  As decisões, então, eram tomadas por todos. Exercemos, agora, esse tipo de democracia? Sim, claro, podemos e devemos exercê-lo nas nossas comunidades. E mais, nos preparar para isso, para defender nossas opiniões, argumentar,  ouvir x outrx e elaborar consensos. Isso vem a ser a aprendizagem do "exercício da cidadania" ou "fazer política". 

§  Democracia representativa (ou indireta)

Pela existência de vastos territórios e de inúmeros cidadãos, é impossível pensar em uma democracia direta, como havia na Grécia. Vários fatores contribuíram para a formação desse segundo tipo de democracia: o voto (sufrágio universal); a Constituição,  que regulamenta a política, a vida pública e os direitos e deveres de todos; a igualdade de todos perante a lei, o que está estabelecido pela Constituição. Vejam que Direitos Humanos está diretamente relacionado à Democracia.

Então... as democracias representativas são regidas por constituições que estabelecem um Estado Democrático de Direito. Nessas organizações políticas, todo cidadão é considerado igual perante a lei, e todo ser humano é considerado cidadão. Não pode haver desrespeito à constituição, que é a carta maior de direitos e deveres do país, e os cidadãos elegem representantes que vão legislar e governar em seu nome, sendo representantes do poder popular nos poderes Executivo e Legislativo.

vantagem desse tipo de organização política é a exequibilidade, e sua desvantagem é a brecha para a corrupção e para a atuação política em benefício do bem privado e não do bem público. Por ser um sistema em que a participação política não é exercida diretamente, mas por meio de representações, ele é chamado de democracia indireta. E a característica principal da democracia representativa é a eleição dos nossos representantes.

§  Democracia participativa (ou semi direta)

Nem uma democracia direta, como era feita na Antiguidade, e nem totalmente indireta, como acontece com a democracia representativa, a democracia participativa mescla elementos de uma e de outra. Existem eleições que escolhem e nomeiam membros do Executivo e do Legislativo, mas as decisões somente são tomadas por meio da participação e autorização popular.

Essa participação acontece nas assembleias locais, em que os cidadãos participam, ou pela observação de líderes populares, nas assembleias restritas, que podem ou não ter direito a voto. Também acontecem plebiscitos para ser feita uma consulta popular antes de tomar-se uma decisão política. Esse tipo de democracia permite uma maior participação cidadã, mesmo com a ampliação do conceito de cidadania e pode ser chamada democracia semidireta.



sistema político brasileiro pode ser chamado de representativo, mas a nossa Constituição Federal de 1988 permite uma ampla participação popular que, caso fosse efetivamente aplicada, poderia colocar-nos no patamar de democracia participativa, inclusive prevendo a possibilidade de uma iniciativa popular legislativa.

Perceberam que DEMOCRACIA está intimamente relacionada com EDUCAÇÃO, com DIREITOS HUMANOS, com PARTICIPAÇÃO e CIDADANIA. E com POLÍTICA, que fazemos o tempo todo, "na cama e no mundo", e precisamos aprender a fazer politica de um jeito mais bonito, mais inclusivo, mais saudável, enfim, uma politica que defenda, essencialmente, a VIDA.

Quando um Estado Democrático de Direito, representado pela Constituição, é, por algum motivo, suspenso, interrompido ou deixado de lado, podemos dizer que há a formação de um Estado de exceção, que é uma das características de uma ditadura.

Dessa breve elucidação do conceito, partimos para a compreensão da Democracia no Brasil: Como tantas outras coisas no nosso país, a relação entre democracia e política aqui é complicada. Na Primeira República,  ou República Velha, tivemos um período provisório comandado por setores militares (1889 - 1894). Um período em que a chamada “política café com leite” deu início a um longo conchavo entre líderes de São Paulo e Minas Gerais para a presidência do país. Em 1930, uma chapa liderada por Júlio Prestes, paulista, é indicada e eleita. Porém os políticos mineiros não aceitam a eleição, iniciando a Revolução de 1930, que acaba com a república e inicia a Era Vargas. Uma característica da Primeira República era o voto de cabresto, em que os coronéis locais mandavam e fiscalizavam as pessoas quando votavam, criando uma fraude que descaracteriza a legitimidade do processo democrático. A democracia só foi restabelecida no Brasil em 1945. E, em 1964, o país vive outro golpe contra a república brasileira e contra a democracia. Trata-se do golpe civil-militar, que impôs um regime de exceção, suspendendo direitos civis e a constituição, impondo a censura contra a imprensa e fechando, o Congresso Nacional.

Pois, como podemos ver, só existe democracia com o funcionamento dos três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário, cada um com suas atribuições específicas.


Imprescindível, para entender melhor a democracia no nosso país, principalmente nos últimos anos, o filme "Democracia em vertigem", documentário de 2019 indicado ao Oscar em 2020, dirigido por Petra Costa, que relata os bastidores do impeachment da Presidenta Dilma, o julgamento de Lula e o pleito que elegeu o candidato de extrema-direita.

Voltando a história, em 1985, a ditadura militar acaba, mas deixa como marca as eleições indiretas para presidente. O grande movimento, iniciado ainda no fim da ditadura, o "Diretas Já", pedia o estabelecimento de eleições diretas para presidente. Em 1988, acontece a Assembleia Constituinte que cria a Constituição Federal de 1988, a Constituição Cidadã, e restabelece a possibilidade da democracia plena, reforçando direitos e promovendo a igualdade.

Percebemos que nossa Democracia ainda é muito frágil. O respeito a essa democracia, até mesmo por parte de representantes do Legislativo, do Judiciário e do Executivo, e por parte da população civil, ainda é um problema, pois o que mais temos visto é a violação dos valores constitucionais por parte de políticos eleitos pelo povo. E o povo, nós, ou um tanto de nós, na alienação, na falta de educação política, nos deixamos levar pela "superfície" das informações, pelas informações falsas, que nos impõe um Simulacro,   um modelo cultural, que seguimos sem reflexão. 

Pois com conversas e reflexão fica fácil de ver que um conceito (e a prática) de democracia  é aquele onde o governo  preserva o legítimo direito de expressão e de existência das minorias, um governo para todos. E outro conceito (e a prática) de democracia é o "governo da maioria", a "minoria" tem que se adaptar, ou se submeter, ser explorada, massacrada, vilipendiada. Com todo o "encobrimento" necessário, isto é, a ideologia, ou o que se chama  "Guerra Cultural" que, num sentido geral, significa a tentativa de imposição de padrões, entendida (e praticada) como "o meu jeito de pensar, meus princípios, meus valores, são a verdade absoluta... e quem não compartilha dessa verdade deve ser eliminadx... este  é o entendimento atual de "guerra cultural". A "polarização", o maniqueísmo, "certo ou errado", feio ou bonito, céu ou inferno, homem ou mulher... só interessam à dominação. O humano é muito maior do que dois lados... é uma construção constante...

 

                                                            Jacques Rancière. 1940...

O seu livro O ódio à democracia,  o filósofo francês contemporâneo Jacques Rancière fala sobre   a crise democrática que tem assolado os países no século XXI. Segundo ele, o mundo tem agido contra a democracia por uma espécie de medo que ela pode colocar no cidadão médio: o medo de que a democracia seja o regime político por excelência.

Rancière afirma que a democracia é o regime do dissenso, e isso tem promovido a cisão da população. É normal que haja discordância dentro de um regime democrático, mas deve haver também respeito mútuo por todas as partes que respeitam a democracia, e deve haver uma tentativa de construir-se um projeto comum com base na discordância.

A partir do momento em que setores autoritários não respeitam os seus adversários, tem-se início um processo de ódio contra a democracia que pede o fim dela para que o adversário e a sua posição política sejam eliminados. É daí que surge o anseio pela ditadura.



"Neste ensaio, publicado em 2005 na França, Jacques Rancière, um dos mais importantes filósofos da atualidade, conduz o leitor por um passeio pela história da crítica à democracia para situá-la no cerne político do momento atual, procurando esclarecer o que há de novo e revelador no sentimento antidemocrático, uma manifestação tão antiga quanto a própria noção de democracia. Dessa forma, Rancière repensa o poder subversivo do ideal democrático e o que se entende por política, para assim encontrar o caráter incisivo de sua ideia. O livro ganha edição em português pela Boitempo Editorial em um momento único da política brasileira, no contexto de um cenário eleitoral surpreendente, que sintetiza a efervescência social dos últimos anos, revelada com mais intensidade nas manifestações sociais de junho de 2013. A obra mostra-se atual também em relação ao debate que vem crescendo sobre participação e representação popular, democracia direta e o desejo de que a política signifique mais do que uma escolha entre oligarcas substituíveis. "É justamente essa recusa da hierarquia que tem a ganhar com a leitura deste livro de Jacques Rancière que, à luz dos clássicos como da experiência francesa e mundial, continua um trabalho sempre renovado, jamais concluso, de afiar o gume da democracia", afirma o filósofo Renato Janine Ribeiro no texto de orelha do livro".


Renato Janine Ribeiro, !949-... professor de filosofia, cientista político, escritor e colunista brasileiro, também autor do livro A DEMOCRACIA, que acrescentamos como referência importante para nossas conversas.

E assim terminamos nossa conversa, com sugestões de outros temas, que estão elencados no post do "lançamento" do projeto, assim como sugestões de outros lugares para a próxima conversa... e lembrando (e cantando) o grande GONZAGUINGA:


A música "Comportamento Geral", foi lançada em 1973. Ao apresentar a música a um júri do antigo programa Flávio Cavalcanti, Gonzaguinha foi "massacrado". Um dos jurados sugeriu sua deportação. A música teve sua execução pública proibida, mas a venda em disco para audição particular foi permitida. 

E como é atual! Vejam a letra! Afinal, nem no tempo da ditadura militar tentaram acabar com os direitos trabalhistas, com a aposentadoria, só falta, como diz a letra da música, acabarem com o carnaval.
 
"Você deve notar que não tem mais tutu / e dizer que não está preocupado
Você deve lutar pela xepa da feira / e dizer que está recompensado
Você deve estampar sempre um ar de alegria / e dizer: tudo tem melhorado
Você deve rezar pelo bem do patrão / e esquecer que está desempregado
Você merece, você merece / Tudo vai bem, tudo legal / Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé / Se acabarem com o teu Carnaval?
Você merece, você merece / Tudo vai bem, tudo legal / Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé / Se acabarem com o teu Carnaval?
Você deve aprender a baixar a cabeça / E dizer sempre: "Muito obrigado"
São palavras que ainda te deixam dizer / Por ser homem bem disciplinado
Deve, pois, só fazer pelo bem da Nação / Tudo aquilo que for ordenado / Pra ganhar um Fuscão no juízo final / E diploma de bem comportado
Você merece, você merece / Tudo vai bem, tudo legal / Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé / Se acabarem com o teu Carnaval?
Você merece, você merece / Tudo vai bem, tudo legal / Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé / Se acabarem com o teu Carnaval?

Você merece, você merece / Tudo vai bem, tudo legal
 E um Fuscão no juízo final / Você merece, você merece
 E diploma de bem comportado / Você merece, você merece
 Esqueça que está desempregado / Você merece, você merece/tudo vai bem, tudo legal"

E outra, que cantamos, do mesmo Gonzaguinha e da mesma época, anos 70, aqui interpretada pela maravilhosa Elza Soares:


"Memória de um tempo onde lutar por seu direito

É um defeito que mata

São tantas lutas inglórias
São histórias que a história
Qualquer dia contará

De obscuros personagens
As passagens, as coragens
São sementes espalhadas nesse chão

De Juvenais e de Raimundos
Tantos Júlios de Santana
Dessa crença num enorme coração

Dos humilhados e ofendidos
Explorados e oprimidos
Que tentaram encontrar a solução

São cruzes sem nomes
Sem corpos
Sem datas

Memória de um tempo onde lutar por seu direito
É um defeito que mata

E tantos são os homens por debaixo das manchetes
São braços esquecidos que fizeram os heróis
São forças, são suores que levantam as vedetes
Do teatro de revistas, que é o país de todos nós

São vozes que negaram liberdade concedida
Pois ela é bem mais sangue
Ela é bem mais vida
São vidas que alimentam nosso fogo da esperança
O grito da batalha
Quem espera, nunca alcança

Ê ê, quando o Sol nascer
É que eu quero ver quem se lembrará
Ê ê, quando amanhecer
É que eu quero ver quem recordará

Ê eu, não posso esquecer
Essa legião que se entregou por um novo dia
Ê eu quero é cantar essa mão tão calejada
Que nos deu tanta alegria
E vamos à luta"

E terminamos como a Elza:

QUE PAÍS É ESSE!!!

VAMOS LUTAR POR UM PAIS MAIS INCLUSIVO, MAIS HUMANO, MAIS DEMOCRÁTICO! 

Até nosso próximo encontro, talvez na varanda.

Abraços carinhosos

SantuzaTU


segunda-feira, 6 de setembro de 2021

ARTES NA PANDEMIA: conto do Sérgio , mais novo SBCense



Sérgio Miguel Cardoso, ou Sérgio Cardoso... mais recente “aquisição” do SBC:

Iniciou carreira artística como ator muito cedo, aos cinco anos de idade atuando em peças infantis no Grupo Escolar Barão do Rio Branco onde cursou o primário.

Em 1955, com a inauguração da extinta TV Itacolomi canal 04, atuava em teleteatros, levado por seu pai, Otavio Cardoso, que foi convidado para montar e dirigir o elenco de teleteatro daquela emissora onde permaneceu por 14 anos, até sua extinção.

Participou de vários espetáculos como, por exemplo, o famoso “Grande Teatro Lourdes”, ao lado de grandes atores tais como: Ary Fontenelle, Lady Francisco, Rogério Falabella, Mauro Gonçalves (o Zacarias dos Trapalhões), Antônio Naddeo, Elvécio Guimarães, Ana Lúcia Kathá, Clausi Soares, Glória Lopes, Ricardo Luiz, Jacy Campos (no famoso programa Câmera Um),e vários outros grandes atores e atrizes.

Atuou também como Double na Herbert Richer’s no Rio de janeiro, onde residiu por muitos anos ao lado de Sadi Cabral, Carlos Imperial, e outros

Participou como cantor em programas musicais ao lado Clara Nunes, Agnaldo Timóteo, Bando dos Cariúnas (Grupo musical do Professor Elias Salomé), bem como atuou como cantor lírico na ópera O Verter de Verdi produzida pela Sociedade Coral de Minas Gerais pela temporada lírica de Belo Horizonte comandado por seu pai que ali atuava como regisseur.

Atuou ainda, já nas décadas de 80, 90 e 2000 nas peças “Pobre Vila Rica” de autoria de Carl Schumacher pelo projeto “Caminhos da Liberdade” produzido pela Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais em 1989, “A Paixão de Um Deus” de Jair Raso em 1999 e “Lola”, adaptação livre para musical baseado na obra de Fassbinder, por Roberto Cordovani.

Juntamente com Magdalena Rodrigues, Presidenta do SATED/MG (Sindicato dos Artistas), produziu, dirigiu e atuou no Condomínio Morro do Chapéu a peça “O Natal na Praça”, com elenco amador formado por moradores daquele condomínio residencial por ocasião das festividades natalinas.

Formado em Direito exerce a profissão de Advogado em Minas Gerais.

Sempre gostou de ler, escrever e compor poemas.  Às vezes crônica, às vezes conto. Viajando de um gênero para o outro, “Cardoso escreve contos e crônicas como quem elabora um roteiro. A sugestão da imagem parece ser mais importante que rebuscar a linguagem ou penetrar em divagações descritivas. São as situações que se encadeiam, sem perda de tempo, para surpreender o leitor em finais impressentidos. Mesmo quando, aparentemente, é possível prever a sequência, o autor inverte o jogo e, subitamente, parte para um desfecho inesperado, um típico “golpe de cena”, que os dramaturgos conhecem de sobejo” , escreve Jota Dangelo na apresentação do seu livro CONTOS.

 E foi este livro que o Sérgio nos “presenteou”, depois que ficamos nos conhecendo em encontro das Artes (e da cerva...) na rua Grão Mogol, no Carmo. Lugar bacana, gente bacana, ótima música, e tudo mais...



E , claro, depois que ele conheceu o SBC, nosso conceito de BEM VIVER, e se identificou imediatamente.

Então, lemos o livro de uma “sentada” só, e fizemos  apreciações sobre cada um dos sete contos, especialmente este:

O CAVALHEIRO E A DAMA ou TIMIDEZ e HONESTIDADE, inusitado, excitante como as coisas “proibidas”. Então pedimos para publicá-lo no nosso projeto ARTES NA PANDEMIA. E aí está, para o nosso deleite.

 Obrigada caro amigo SBCense.



 O trem, afinal, encostou à plataforma com toda a sua característica zoeira.

O Homem desviou o olhar da Mulher e travou a batalha dos lugares. Venceu. Ajeitou-se, cansado pela refrega, na poltrona suja.

Por mero acaso, a Mulher estava à sua frente, num assento virado ao contrário (o tal “cara dura”), tendo à esquerda um cidadão.

O trem partiu. Ele cochilou. Quatro estações adiante,

desceram os cidadãos: o da esquerda e o da direita, dela e dele, respectivamente.

O Homem – por simples gentileza – ofereceu à Mulher o assento ao seu lado (direito, junto à janela): -É desagradável, minha senhora, viajar nesse banco “cara dura”. Viramos mira dos demais.

A Mulher concordou; agradeceu, e passou-se para o lado dele, é claro.

Por longo tempo não mais se falaram. Ele fingia dormitar; ela não fingia nada.

Por fim, o Homem abriu os olhos e a Mulher – por educação, ofereceu-lhe um sanduíche diminuto: pão, alface, bife, salsicha, tomate, dois ovos e mostarda.

— Não, muito obrigado. Estou sem fome, disse o Homem. E comeu o sanduíche.

— Horríveis aqueles camaradas que desceram, disse a Mulher. Antipáticos, sem assunto e mal cheirosos; não lhes dei a mínima confiança.

— Concordo, concordo, sem dúvida, com a sua opinião, falou o Homem, lembrando-se de que a Mulher e os cidadãos haviam conversado o tempo todo.

— O senhor está com bastante sono, não? – perguntou a Mulher – pelo menos dormiu bastante.

— Sim, respondeu o Homem. Ando muito sem sono.

— Depois – continuou – sou um tanto acanhado e não sei bem iniciar uma conversação.

Assim, prefiro dormir nas viagens, concluiu passando o braço casualmente por trás dos ombros da Mulher.

— Aprecio homens acanhados, disse a Mulher. Eu, na qualidade de casada, honesta e fiel, não aprecio homens “entrões” . E ajeitou-se melhor no braço do Homem.

— É casada? Perguntou o Homem, com evidente surpresa, pois já havia visto a aliança grossa e brilhante no anular esquerdo da Mulher. Então, conte comigo para despachar audaciosos que a queiram desrespeitar, acrescentou enquanto apertava-a suavemente de encontro a seu peito.

— Vê-se logo que é um cavalheiro, articulou a Mulher. Sinto-me segura e protegida a seu lado, uma vez que é indivíduo que não abusa. Sou também muito tímida e encostou sua face na dele.

— Muitas vezes surpreendo perguntando-me como pode haver tipos avançadores (de desodorante Avanço), expressou-se o Homem, examinando delicadamente a contextura do tecido que a vestia nas partes mais anatômicas.

— Bem grande esse túnel, gaguejou a Mulher, ao conseguir libertar a boca que o Homem beijava ainda. Meu marido, sempre me diz ter desagradáveis impressões ao passar por túneis.

— De fato, há indivíduos sem vergonha que se aproveitam da escuridão para

atitudes pouco recomendáveis e desrespeitam senhoras por acaso ao seu lado, tartamudeou o Homem, enquanto fazia discreto “bilu-bilu” na Mulher.

— Não tolero tais camaradas, ciciou a Mulher. Costumam até fazer-nos indecorosos convites.

— Isto é verdade, disse o Homem e conceituou distraído:

conheço um desses descarados, que certa vez, teve a audácia de convidar distinta dama com quem viajava, para interromperem a viagem e pernoitar com ele na primeira estação onde desceria, alegando,

veja a senhora que desfaçatez – o fato de estar muito frio . E, assim falando, o Homem media o diâmetro das pernas da Mulher.

— A um convite de tão baixa espécie, articulou a Mulher reunindo sua bagagem – não seria possível resposta digna.

— Lógico, disse o Homem, descendo do trem. Felizmente sou bastante reservado para tentar tal aventura.

— E teve a sorte de viajar ao lado de uma senhora correta, sempre pronta a rebater qualquer insinuação descabida, exclamou a Mulher, ao entrarem no Hotel.

— Perfeitamente, sem dúvida, sem dúvida, - falou o Homem – e por isso me felicito, concluiu ao assinar o livro de registro com o seu verdadeiro nome falso.

— Imagine se eu me prestasse ao que se prestam essas... “quaisquer” que andam por aí... ciciou a Mulher entrando no quarto.

— Se assim fosse, tartamudeou o Homem, acompanhando-a, creia que a senhora não mereceria sequer minha consideração; sempre apreciei a virtude...e fechou a porta do quarto!

                                                            'FIM

Aproveitando para fazer um convite especial: A partir do dia 15 deste mês comemoraremos os 100 anos de Clarice Lispector, no mesmo lugar onde conhecemos o Sérgio.  SuperSBCence!!!

Nos encontramos lá... Até!!!

SantuzaTU