quinta-feira, 2 de março de 2023

Da série: CONHECENDO O(s) VALE(s)

Fronteira dos Vales no mapa de Minas Gerais
A história do lugar tem início  por volta de 1891, com a chegada à região de dois irmãos que procuravam se esconder devido a um crime que haviam cometido. Eles usavam um código com duas pancadas em pedras sobre pedras produzindo a sonorização de 'Pam-pam...'. A eles juntam-se familiares e logo se forma um arraial chamado de Córrego do Pampã.  Em 1938 o arraial passa a Distrito de Teófilo Otoni, com o nome de São José do Pampã. Emancipa-se em 1963, com o nome de Pampã e, posteriormente, recebe a denominação atual de Fronteira dos Vales, por estar situada entre os vales do Mucuri e Jequitinhonha.  Está distante 740 km de Belo Horizonte, tendo acesso pelas rodovias BR-381, BR-116, BR-367, MG-105. 

Pois não é que existia mesmo a cidade com esse nome?

Mas  nosso caso começa em Virgem da Lapa, também uma cidade do Vale. Antes, porém, vamos falar de algumas cidades envolvidas no caso: 


Virgem da Lapa: O nome da cidade é uma referência a Nossa Senhora da Lapa, cuja imagem atribui-se ter sido encontrada por garimpeiros da região. O topônimo (ou "nome geográfico") foi uma sugestão do então presidente da Câmara Municipal Vicente Paulino Murta (mais conhecido pelo apelido "Seu Doce"), juntamente com outros representantes do recém-criado município. Virgem da Lapa foi fundada em 1948, em decorrência da emancipação político-administrativa do arraial de São Domingos do Arassuahy.


Viram? "pertim" de Araçuaí (como se escreve agora), o "logo ali" de mineiro, ainda mais de "baianeiro", os mineiros dos Vales, Jequitinhonha e Mucuri. 

O Município de Araçuaí está localizado no Nordeste de Minas Gerais, no Médio Jequitinhonha, a uma distância de 678 Km de Belo Horizonte. Sua emancipação política ocorreu em 1871. Mas a história de Araçuaí teve início por volta de 1830, quando Luciana Teixeira, proprietária da Fazenda Boa Vista da Barra do Calhau, deu abrigo aos emigrantes da Barra do Pontal (canoeiros e meretrizes expulsas pelo Padre Carlos Pereira de Moura, da Aldeia do Pontal (hoje Itira) localizada a alguns quilômetros abaixo, na confluência dos rios Araçuaí e Jequitinhonha. O Arraial que então se fundou chamou-se "Calhau", devido à grande quantidade existente no local de pedras lisas e arredondadas, esculpidas pela correnteza das águas. O Arraial de Calhau foi elevado à categoria de sede de Distrito em 1857. A instalação sob a denominação de Vila de Arassuay deu-se em 1871, para finalmente a 21 de setembro de 1871 ser elevada à categoria de cidade, por força da lei nº 1870, com o nome de Araçuaí. Esse nome é de origem indígena, e quer dizer Rio das Araras Grandes.

E Araçuaí é "pertim", também, da minha terra: Salinas, 116 km de Araçuaí a Salinas.

                                    Vista aérea de Salinas-MG

A grande investida por estas paragens principiou em 1554, quando o desbravador Francisco Bruzza Espinosa partiu de Porto Seguro/BA e percorreu toda essa região do Norte de Minas, chegando até o Jequitinhonha, Rio Pardo, Serra das Almas, Itacambira etc.

Um século depois, em 1663 o famoso Conde da Ponte iniciou a ocupação desta região. Por volta de 1698, o bandeirante Antônio Luiz dos Passos estabelecia uma fazenda de criação de gado às margens do Rio Pardo, e daí percorreu toda essa região, a procura de riquezas. Numa dessas incursões chegou às margens de um rio pouco caudaloso e encontrou ricas jazidas de salgemas. Os índios que habitavam esta região eram os Tapuias da Nação G.

Em 1833 era emancipado o distrito de Rio Pardo, pertencente a Minas Novas/MG, e o distrito de Salinas era incorporado ao município de Rio Pardo. Em 1838, era realizado um recenseamento, onde habitavam no Arraial de Santo Antônio de Salinas, 248 pessoas. Em 1880 A Vila foi elevada à categoria de Arraial de Santo Antonio de Salinas. Em 1855, Dona Ana Maria de Araújo, proprietária da fazenda Ribeirão, doou um pedacinho de terra para que nela fosse construído um cemitério coberto com casas precisas para este fim.

Em 1923, é mudada a denominação de Santo Antônio de Salinas para SALINAS / MG, e no ano de 1932 tomou posse o nosso primeiro prefeito municipal (nomeado), Dr. Clemente Medrado Fernandes.

Ultima cidade envolvida no nosso caso: Joaíma era um distrito criado em 1911 e subordinado ao município de Arassuaí (hoje ARAÇIAÍ) e mais tarde São Miguel Jequitinhonha (hoje JEQUITINHONHA). Em 1943 é elevado à categoria de município com a denominação de Joaíma. Os primitivos habitantes foram índios botocudos, chefiados pelo cacique Joahima. Com a colonização, vieram os portugueses. Em 1892, chegou ao pequeno povoado Cypriano de Souza, acompanhado de numerosa família, vindo de Santa Rita (depois Medina); esse novo morador deu incremento à vida do lugar, iniciando amplas plantações e construindo, sob a orientação do Padre Emereciano Alves de Oliveira, a primeira Capela, onde, em 1900, foi celebrada a primeira festa do Senhor do Bonfim, padroeiro do lugar. Por essa época, chegou ao povoado o gaúcho Manoel Luiz, chefiando cerca de duas centenas de brancos e indígenas, que se atiraram aos trabalhos da lavoura e se radicaram na foz do Ribeirão Anta Podre, consolidando de vez, o arraial.

O primeiro nome de Joaíma foi "Quartel" ou "Quartel de Água Branca", nome do córrego às margens do qual foi instalado um Quartel da 7ª Divisão Militar de São Miguel. Com o crescimento da aldeia, foi necessário criar mais um Quartel e o lugar passou a denominar-se "Quartéis do Bonfim", em homenagem ao Padroeiro do local, Nosso Senhor do Bonfim. Em 1911 o povoado foi elevado à categoria de Distrito, do recém criado município de São Miguel de Jequitinhonha, com o nome de Bonfim de Joahima. Com a emancipação política, em 1948, o município recebeu o nome de Joaíma, em homenagem ao chefe indígena Joahima.



Depois do conhecimento histórico dessas cidades lindas do Vale - ou dos Vales - e "dum gulim de cachaça" - a melhor do Brasil, vamos à história de PAM PAM, que envolve todas elas:

Ela nasceu em Virgem da Lapa, morava em Araçuaí e se casou com um Salinense, teve um casal de filhos, se mudou para Belo Horizonte, e agora é uma senhorinha "biza" muito da serelepe. 

Numa situação triste da família, situação de perda, ela recebia, em sua casa, irmãs de outra cidade. E, como tudo na vida, ela também estava feliz revendo as irmãs. Conversando de sábado pra domingo, até de madrugada -  na verdade ela queria "raiar o dia" conversando -  lembrando coisas da infância e juventude passadas por aquelas bandas do Vale. 

Mas uma das irmãs disse: Gente, precisamos dormir um pouco pois viajaremos de volta daqui a pouco, ou seja, bem cedinho de domingo. 

- "fazer o que", concordou a senhorinha... mas não sem antes fazer PAM PAM... ela se lembrou de um parente de Joaíma que "garrava" na prosa - e 'nuns gulim' de cachaça - e, numa certa altura da conversa, quando não tinha mais jeito, ele se levantava e dizia: AGORA VOU PRA PAM PAM... isso significava "fim de prosa"... Inclusive ele ficou com a apelido de PAM PAM.

Sei que o PAM PAM era um sujeito muito alto, tinha umas pernas muito grandes ... e quando ele levantava para "fazer PAM PAM" (ou ir pra PAM PAM), ele meio que passava uma perna por cima da mesa, parecendo um gesto - ou um golpe - de capoeira. 

Pois essa senhorinha, naquela altura da conversa com as irmãs, disse: Ok, vamos dormir, mas não sem antes fazer PAM PAM... e se levantou do sofá e foi passar a perna por cima da mesinha do centro da sala, imitando o PAM PAM... 

A pessoa ficou em uma perna só... perdeu o equilíbrio... caiu por cima da irmã... as duas caíram no chão...  a senhorinha bateu a cabeça no chão... 

Claro... ficaram até o amanhecer do dia fazendo compressas de gelo... todas preocupadíssimas ...  e, ao mesmo tempo,  rindo muito  do PAM PAM. 

Dia seguinte: hospital, exames... uma delas trincou a bacia... e a do PAM PAM, apesar do galo na cabeça, não foi visto nada mais grave nos exames. 

"Entre mortos e feridos" salvaram-se todas... e resgataram a memória de PAM PAM, a cidade - agora FRONTEIRA DOS VALES , e dessas outras cidades dos vales do Jequitinhonha e Mucuri que tanta alegria nos trazem nas nossas memórias. 

Passado o sufoco, este é um caso pra rir... de uma senhorinha linda, na "flor da idade", cheia de vida, exemplo para toda a família... e pra mim, sua filha...


Em tempo: a pesquisa das histórias das cidades foram feitas nos sites das mesmas.

Ainda em Tempo: continuamos com nossos projetos, SOBRE O VALE... e o projeto SOBRE A AMÉRICA LATINA... quem quiser mandar seus texto, suas memórias, encaminhe para o e-mail:
tusantuza@gmail.com.

Abraços carinhosos a tod@s





6 comentários:

  1. Vale muito ler essas histórias e imagens sobre as pessoas e cidades do Vale! 👏👏👏

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  2. Adoro histórias assim,nos conduzem por caminhos maravilhosos onde a imago ação vai tomando conta e resgatando outras histórias. Agora sei de onde vem toda essa sua energia
    minha querida amiga. Vem dessa
    senhorinha SERELEPE e esperta
    protagonista da história. Joaíma particularmente mexeu com minhas lembranças . É a terra do meu amigo
    EDUARDO ARAUJO,que não vejo já
    ha muito tempo,mas de quem continuo amigo e admirador. Parabéns pelo tema de hoje,como todos os outros,sempre uma ótima surpresa. Domingos Antunes.




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  3. Que maravilha ler esses relatos. Que resgate maravilhoso da história dos vales. Eu mesmo, que sou salinense, não conhecia direito a história da minha terra. Parabéns!!!

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