sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Conversas SBCenses: fragmentos da América Latina

 

A América Latina é formada por 13 países da América do Sul, mais 20 na América Central e mais o México na américa do Norte. Por que América Latina: trata-se de região do continente americano que corresponde aos países falantes das línguas derivadas do latim: espanhol, português e francês.

E por que estamos falando agora da América Latina? Segundo reflexões de nossa SBCense, o pouco conhecimento que temos sobre nós mesmxs e nossos vizinhos se deve à nossa "cabeça colonizada"... conhecemos mais os nossos colonizadores - históricos e atuais, ou seja, Europa e EUA - do que a nós mesmos, nossas origens, nossa história e nossas riquezas naturais e culturais. Isso tudo ainda alimentado pela mídia tradicional, que nos informa também muito mais sobre os colonizadores do que sobre nós... e quando informa sobre nós, quase sempre com uma postura pejorativa, de desvalorização...

E foi nessa toada que essa SBCense lembrou de livro da sua adolescência: 



Em As Veias Abertas..., Eduardo Galeano narra a história de exploração da América Latina desde o século XV até o período atual. No livro, de 1971 em sua primeira edição, Galeano analisa essa história desde o período da colonização europeia até a Idade Contemporânea, argumentando contra a exploração econômica e a dominação política do continente, primeiramente pelos europeus e seus descendentes e, mais tarde, pelos Estados Unidos. Com  edição atualizada em 1977, quando a maioria dos países do nosso continente padecia com "facínoras ditaduras", este livro tornou-se um 'clássico libertário', um verdadeiro inventário da dependência e da vassalagem de que a América Latina tem sido vítima, desde que nela aportaram os europeus no final do século XV. No começo, espanhóis e portugueses. Depois vieram ingleses, holandeses, franceses, modernamente os norte-americanos... e o ancestral cenário permanece - a mesma submissão, a mesma miséria, a mesma espoliação.

As Veias Abertas de América Latina  foi “um porto de partida e não de chegada”, dizia o autor. A obra, traduzida em mais de 20 idiomas, foi em várias ocasiões um best-seller, vendendo mais de 2 milhões de cópias ao ano, o que dá conta da ideia da transcendência do autor uruguaio. Uma investigação jornalística profunda, que une dados históricos com antropologia, mitos, realidades e sabedoria popular, numa narrativa que nos conduz a percorrer as realidades mais terrenas às experiências mais sublimes.

"Eduardo rompeu qualquer fronteira de estilo. Uma prosa poética, coloquial, uma profunda pesquisa histórica. A obra do Eduardo é uma obra essencial, não só para entender a América Latina, mas para entender a vida e o mundo”, comenta o escritor brasileiro e tradutor de várias obras de Galeano para o português, Eric Nepomuceno.

Partindo das principais riquezas naturais da nossa região  – que pela força das potências econômicas estrangeiras se converteram em mercadorias: prata, ouro, petróleo, algodão, café, frutas, açúcar  – Galeano mostra como foi imposta a condição de colônia, que deu a base para o capitalismo dependente que se ergueu nos países latino-americanos.


“Aqueles que ganharam só puderam ganhar porque perdemos: a história do subdesenvolvimento da América Latina integra a história do desenvolvimento do capitalismo mundial. Nossa derrota sempre esteve implícita na vitória dos outros. Nossa riqueza sempre gerou nossa pobreza por nutrir a prosperidade alheia: os impérios e seus agentes nativos”, Galeano pontua já nas primeiras páginas do livro.

Em várias entrevistas, Galeano comentou que As Veias Abertas... era uma obra despretensiosa, fruto de uma necessidade de mergulhar e entender a história da nossa América. “Me dá muita felicidade escrever, é uma alegria na vida, mas também me custa muito. Eu escrevo, reescrevo, risco, jogo fora, até encontrar as palavras que realmente merecem existir”,

A jornalista e editora Marina Duarte de Souza, no Brasil de Fato, comenta: Com As Veias Abertas da América Latina o escritor mostrou que era possível fazer jornalismo e literatura engajados, sem cair no estigma do material panfletário. Com sua linguagem “sentipensante” – aquela que é capaz de pensar sentindo e sentir pensando – Galeano preencheu os vazios históricos com palavras que valiam mais que o silêncio. Para nós do SBC, a ideia de "sentipensante" parece muito com nosso processo de auto conhecimento, o movimento TAP (Teoria Afeto Prática...)

A seguir a capa mais antiga do nosso livro ...  e a outra, da edição comemorativa dos 50 anos do mesmo, em 2021.



 “Um livro para entender a vida e o mundo". 

Obra de Eduardo Galeano completa meio século em plena vigência com a realidade dos povos latino-americanos.



Quem foi Eduardo Galeano? Eduardo Hughes Galeano, jornalista e escritor uruguaio,nasceu em Montevidéu, 1940 e morreu aos 74 anos em 2015. Autor de mais de 40 livros, que já foram traduzidos em diversos idiomas. Suas obras transcendem gêneros ortodoxos, combinando ficção, jornalismo, análise política e história.

Galeano iniciou sua carreira jornalística no início da década de 1960 como editor do Marcha, influente jornal semanal uruguaio. Foi também editor do diário Época e editor-chefe do jornal universitário por dois anos. Em 1971, aos 31 anos,  escreveu sua obra-prima "As Veias...".Em 1973, com o golpe militar do Uruguai, Galeano foi preso ...  mais tarde seu nome foi colocado na lista dos esquadrões da morte e, temendo por sua vida, exilou-se na  Espanha. Em 1985, com a redemocratização de seu país, retornou a Montevidéu, onde viveu até sua morte.

“Ele sempre foi mais um entre nós. Nunca tivemos a sensação de que estávamos falando com uma lenda da literatura latino-americana, com um mito em vida. Sempre teve esse caráter de que ninguém é mais que ninguém. Ele era absolutamente fiel ao que acreditava”, relata Belloso, chefe de redação da revista Brecha Editorial, revista que Eduardo Galeano abriu junto com Mário Benedetti, quando voltou a Montevideo com o fim do regime militar.

Dos mais de 40 livros, além do Veias Abertas..., selecionamos outros três livros interessantes para entender a obra desse escritor:

Memória do fogo, publicado em forma de trilogia, o livro, premiado pelo Ministério da Cultura do Uruguai e com o American Book Award, distinção fornecida pela Universidade de Washington, combina elementos de poesia, historia e conto. É composto pelos livros “Os Nascimentos” (1982), “As Caras e as Máscaras” (1984) e “O Século do Vento” (1986). Os livros trazem poemas, transcrição de documentos, descrição dos fatos e interpretação de movimentos sociais e culturais, que compõem uma cronologia de acontecimentos, proporcionando uma visão de conjunto sobre a identidade latino-americana. Como em “As Veias Abertas”, o livro propõe uma revisão da história da região, desde o descobrimento até nossos dias, para enfrentar a “usurpação da memória” da história oficial. Com textos independentes que se encaixam e se articulam entre si, a obra traz um quadro completo dos últimos 500 anos. Apesar de manter a cronologia das histórias, o autor ignora a geografia para dar, assim, uma melhor ideia da unidade da história americana, para além das fronteiras fixadas “em função de interesses alheios às realidades nacionais”, como definiu.

  1. Dias e Noites de Amor e Guerra (1975) 
  2. Vencedor do Prêmio Casa das Américas em 1978, o livro  é uma crônica novelada das ditaduras da Argentina e do Uruguai, um relato autobiográfico, uma memória íntima, convertida em memória coletiva.

    Junto ao horror dos amigos que desapareceram, Galeano traz o amor, os amigos, os filhos, a paisagem, tudo aquilo que, ainda na escuridão de uma guerra suja e injusta contra os mais fracos, segue sendo motivo para viver, para defender as ideias e para alçar a voz contra os que atuavam impunemente para implantar o medo e a conseguinte paralização. “Às vezes, sinto que a alegria é um delito de alta traição, que sou culpado do privilégio de seguir vivo e livre. Então me faz bem lembrar o que disse o cacique Huillca, no Peru, falando diante das ruínas: ‘aqui chegaram. Quebraram até as pedras. Queriam nos fazer desaparecer. Mas não conseguiram, porque estamos vivos’. E penso que Huilca tinha razão. Estar vivos: uma pequena vitória. Estar vivos, ou seja: capazes de alegria, apesar dos adeuses e os crimes”, como conta a contracapa do livro.

Mulheres (1997), uma coletânea de textos publicados em livros anteriores. De forma lírica e poética, Eduardo Galeano traz relatos de mulheres célebres e anônimas que, com sua vivência, deixaram marcas no dia a dia das pessoas com as quais conviveram e, por isso, devem ser lembradas. O livro traz histórias de Charlotte Perkins Gilman (1860-1935), escritora norte-americana, cuja produção literária enfoca as relações entre mulher e homem e a opressão da sociedade em que viveu; da escrava Jacinta de Siqueira, “africana do Brasil, fundadora da Vila do Príncipe e das minas de ouro dos barrancos de Quatro Vinténs”; de Xica da Silva, escrava que virou rainha no século XVIII; da revolucionária Manuela Saénz, que junto a Simón Bolívar, seu amante, lutou pela independência das colônias sul-americanas; da compositora e cantora Violeta Parra, considerada a mais importante folclorista do Chile e ainda de Frida Khalo, Tina Modotti, Evita, Carmem Miranda, Isadora Duncan. Mulheres protagonistas da história e mulheres esquecidas por ela; mulheres que sonham e mulheres castigadas por sonhar; mulheres que sobrevivem e mulheres que nos ajudam a sobreviver. As mulheres que atravessam os relatos de Eduardo Galeano comovem por sua determinação, sua desobediência constante e também por sua fragilidade.

Em 2009, durante a 5ª Cúpula das Américas, o ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez deu uma uma cópia do livro de presente ao presidente dos Estados Unidos Barack Obama. Na época, o livro saiu da posição 54.295 da lista dos mais populares do site Amazon.com, para a segunda posição em apenas um dia. Porém, matéria do jornal El país diz: ...  Mais de 40 anos depois, Galeano revelou que não leria novamente seu livro de maior sucesso. "Eu não seria capaz de ler de novo. Cairia desmaiado", disse, durante a 2ª Bienal do Livro de Brasília, em abril de 2021. O episódio demonstra que Eduardo Galeano assumiu um tom mais ponderado para analisar o maniqueísmo político de outrora. "Em todo o mundo, experiências de partidos políticos de esquerda no poder às vezes deram certo, às vezes não, mas muitas vezes foram demolidas como castigo por estarem certas, o que deu margem a golpes de Estado, ditaduras militares e períodos prolongados de terror, com sacrifícios e crimes horrorosos cometidos em nome da paz social e do progresso", disse o escritor. E nós, do SBC, refletimos concordando com ele na questão do maniqueísmo, assunto pertinente às nossas conversas (veja post de 15.dezembro.21). Trabalho afetivo/intelectual, difícil - e necessário - estarmos sempre diferenciando  o raciocínio maniqueísta - aprendido e internalizado na nossa cultura, e que, ao extremo, se presta à reprodução de "radicalismos fascistas" ... e o "radicalismo" importante na defesa de uma posição, a propósito, a posição do combate ao capitalismo predador e a construção de um mundo mais justo. E é exatamente nisso que o livro é extremamente atual ... e necessário sua releitura e|ou leitura, para os mais jovens, principalmente com o diálogo intergeracional que produz tanto crescimento mútuo.

Importante, aqui, "copiar" o parágrafo final do nosso livro, para ensejar nossas conversas:

"Nestas terras, não assistimos à infância selvagem do capitalismo, mas sua decrepitude. O subdesenvolvimento não é uma etapa do desenvolvimento. É a sua consequência. O subdesenvolvimento da América Latina provém do desenvolvimento alheio e continua alimentando-o. Impotente pela sua função de servidão internacional, moribundo desde que nasceu, o sistema tem pés de barro. Quer identificar-se como destino e confundir-se com a eternidade. Toda memória é subversiva, porque é diferente, e também qualquer projeto de futuro. Obriga-se o zumbi a comer sem sal: o sal, perigoso, poderia despertá-lo. O sistema encontra seu paradigma na imutável sociedade das formigas. Por isso se dá mal com a história dos homens, pela frequência com que muda. E porque na história dos homens cada ato de destruição encontra sua resposta, cedo ou tarde, num ato de criação".
E foi aí que, retomando o princípio da nossa conversa, nos propusemos a uma pesquisa e troca de informações e experiências sobre a América Latina. Algumas perguntas, para um princípio de orientação sobre o assunto:
1. Você conhece (através de pesquisa ou pessoalmente), fora o Brasil, algum país da América Latina? Que impressões tem sobre este país?
2. O que conhece sobre a história (político/econômica) desse país? e sua atualidade?
3. Como é a relação desse país com o Brasil?
4. E como é a cultura e a arte nesse país? e a consciência política desse povo? e o racismo e o feminismo nesse país, como é tratado?

Enfim, apenas perguntas orientadoras... sintam-se livres para essa troca que estamos propondo aqui... Como fizemos nos nossos posts de janeiro e fevereiro deste ano, a propósito da comemoração dos 100 anos da Semana de Arte Moderna, o convite é este: envie sua "pesquisa-impressões-texto"... para o e-mail: tusantuza@gmail.com

E, a cada semana, publicaremos textos sobre um, dois ou três países da América Latina. Acreditamos que essa pesquisa nos servirá imensamente para nos conhecer e nos compreender - além de compreender - e participar - da construção do que podemos chamar de uma UNIDADE PARA A AMÉRICA LATINA, uma América Latina soberana e livre do imperialismo. Pois acreditamos que esse movimento vem a ser o que se está sendo construído no mundo em geral, um mundo caminhando para a superação desse modelo de poder unipolar, e para a construção de uma nova ordem mundial, um mundo multipolar... enfim, estaremos nos preparando para o que está por vir, em termos de governo - e poder ... no Brasil ... na América Latina ...  e no mundo.


Desafio Aceito!!! Bora pesquisar...

Abraços carinhosos ...




sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Um filme e dois livros pra "virar a chave"

Filme do Reino Unido de 2022, da diretora Sophie Hyde. 
Sinopse: em "Boa Sorte, Leo Grande" Nancy Stokes é uma professora que acabou de se aposentar. Apesar de ter tido uma vida satisfatória, existe uma coisa que ela nunca teve: Nancy nunca fez um sexo digno de chamar de bom. Na verdade, Nancy nem sabe se o que ela fez foi de fato sexo. Mas isso são águas passadas, Nancy está obstinada em seu plano de ter, pelo menos uma vez, uma noite de sexo prazerosa. E tem tudo desenhado em sua cabeça: ela chamará um jovem trabalhador do sexo e reservará (anonimamente) um bom quarto em um hotel. Ela até sabe o nome do jovem: Leo Grande. Leo sabe o que faz e sabe que faz bem o seu trabalho. Apesar de parecer somente mais uma cliente e mais algumas horas de trabalho, Leo está certo que essa é a coisa que mais intrigou ele, e que Nancy é também uma pessoa diferente.

"O filme argumenta pela legalização do trabalho sexual, mas reconhece a realidade de abuso que subsiste por trás dele. Desenha a jornada de empoderamento físico, sexual e emocional de sua protagonista feminina, de seu encontro com a própria autonomia, mas não sente a necessidade de cancelar a importância da conexão humana para que esse processo aconteça. Boa Sorte, Leo Grande entende que o mundo é complicado, e seres humanos mais ainda, mas postula que a única forma de navegá-lo de forma saudável é com a ajuda um do outro".

Mas Boa Sorte... é muito mais... o site OMELETE diz que é um DRAMÉDIA... muito apropriado esse termo. O filme começa tenso, a protagonista Nancy (Emma Thompson) está nervosa, sem saber o que fazer... 'tomada' pelas 'certezas do conhecido' e pela 'segurança dos julgamentos' .... como sofremos com esse 'jeito de ser' aprendido, duramente internalizado e reproduzido por nós! ...  E se transforma em riso quando ela, convidada a incluir o novo na vida,  começa a relaxar. Rimos de nós mesmas, qual mulher nunca fingiu um orgasmo? e quantas de nós ainda nem sabemos? Pois precisamos nos conhecer... Emma Thompson (explêndida: fingindo um orgasmo e "tendo" um orgasmo...), no lançamento do filme no festival de Berlim, declara: "as mulheres sofreram lavagem cerebral para odiarem o próprio corpo".

E a cena real, terminando o filme, três mulheres saem com a expressão iluminada... e correm para o banheiro. Duas são amigas, a terceira não as conhece. E esta entra no box pra fazer xixi e começa a rir. Saindo do box ela pergunta às outras duas se gostaram do filme. A resposta é afirmativa. E elas perguntam porque ela estavam rindo. Então ela conta que ficou imaginando ela mesma e as outras duas correndo pro banheiro pra dar uma "masturbadinha". Pois saímos do filme nessa vibe. O filme fala sobre descoberta. Nossa descoberta do DIREITO ao prazer. Sim! o prazer é um direito! e quem fez a gente acreditar que direitos são dados? Claro que não! Temos que lutar por eles! E as três acrescentaram: como diz o filme, essa "aprendizagem" deveria ser um SERVIÇO PÚBLICO! Despedimos nos desejando boa sorte...

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Neste romance - ficção nacional  Frei Betto ergue sua voz em defesa dos indígenas, perpetuamente esquecidos pela sociedade brasileira e oprimidos pelos grupos que os exploram desde o "descobrimento".

 "Tom vermelho do verde" é um livro de denúncia, mas também um romance histórico que cativa o leitor desde as primeiras páginas e o impressiona com o profundo conhecimento da cultura indígena apresentado pelo autor.

"No momento em que os povos originários sofrem pressões para que suas terras sejam exploradas por companhias mineradoras e madeireiras que causam danos ecológicos irreparáveis, Frei Betto nos revela o drama vivido pelos Waimiri-Atroari a partir da construção da rodovia BR-174 em suas terras, na década de 1970. Drama até então conhecido apenas por estudiosos de culturas indígenas e que se prolonga até hoje, cujas consequências não se restringem às vítimas inocentes. Pelo contrário, atinge proporções catastróficas e imprevisíveis à medida que a floresta amazônica é arrasada e seus povos originários são dizimados".





Frei Betto é considerado uma das vozes mais ativas na luta pela justiça social na América Latina. Escritor consagrado, vencedor de dois prêmios Jabuti, tem mais de cinquenta livros publicados no Brasil e no exterior, que refletem sua trajetória como militante político e talentoso ficcionista. Temos o filme "Batismo de sangue" baseado no seu livro... e temos também ótimos livros infantis, "Um estranho dia de Zacarias" é um deles.



Em entrevista de lançamento do livro "Tom vermelho..." ele lembra Eduardo Galeano, que nos  relata a dizimação das nações indígenas das américas, com a entrada dos europeus,  no seu livro de 1971 "As veias abertas da América Latina". Diz, ainda, que para a preservação do futuro da vida no planeta, é preciso mudar radicalmente o "senso do eu" para o "senso do nós". E, sobre o Brasil agora, com a vitória do campo progressista, um programa mínimo, ou o primeiro passo seria a demarcação das terras indígenas e kilombolas. Importantíssimo, também, a criação de uma cultura plurinacional. E, falando em lançamento, teremos aqui em Belo Horizonte no Auditório da Cemig (Av. Barbacena, 1200 - Santo Agostinho), no dia 22 de agosto, quarta-feira), as 19.30h, evento presencial, aberto ao público. Bora!!!

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Por último,  hoje, para continuarmos no movimento de "virar a chave": O BANDIDO QUE VIROU ARTISTA, da Koller Editorial

Antes de tudo uma história de vida. A história da vida do Rapper Sagat B.

Uma infância marcada pela absoluta ausência de sonhos ou perspectivas, uma adolescência subvertida pelas drogas, e uma juventude de crimes.

A soma dessa química destrutiva resultou em três sentenças e 12 anos de vida atrás das duras grades da prisão.

A lição do quanto o crime não compensa enseja e cobre todas as páginas deste livro, que mostra a transformação, que veio por meio do autoconhecimento, pela consciência da necessidade de autorresocialização, que no caso de Sagat B foi possível por meio da leitura e da música ou, em uma palavra, foi viabilizada pela arte.

Toda ressocialização e possível, e a história de vida do Sagat B é um exemplo. Assim como o exemplo de como a arte pode salvar vidas. E o SBC se propõe a essa prática...


A propósito de virar a chave, a "resposta" a uma fala recorrente sobre o nosso sistema capitalista, que tenta demonizar o socialismo e o  comunismo. No tempo de juventude da protagonista do filme de hoje, segunda metade do século passado, o que "aprendíamos" através da "mídia hegemônica" era que "comunistas comiam criancinhas"; que o socialismo e o comunismo "adoram" pobreza. E este julgamento 'pré-conceituoso', continua... para algumas pessoas, dessa idade e outras ainda mais novas, mas que não conseguem começar a "virar a chave", pois não fazem perguntas, não buscam outras mídias, não leem, não buscam outras histórias e se fecham nas "verdades consumidas" de forma alienada... eis a 'resposta':

- Definitivamente, o socialismo e o comunismo NÃO adoram a pobreza. Na verdade, quem AMA a pobreza é o capitalismo, pois não vive sem ela. Para alguns poucos ficarem ricos inúmeros outros estão sendo explorados, escravizados, submetidos. E alienados, se transformam em "massa de manobra".
Por isso precisamos, também, ter como projeto para um governo progressista, a transformação de escolas de tiros em bibliotecas.  

Terminando por hoje com o presente|convite à reflexão:

Até nossa próxima "virada de chave". Abraços carinhosos...


sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Nova homenagem: Gil - BRAGIL

Filme do Reino Unido, de 2018,  com o incrível Kenneth Branagh na direção no papel de Shakespeare e Judi Dench no papel da sua mulher, Anne Hathaway. Assim como os franceses, apreciamos também os filmes ingleses, tanto comédias quanto dramas, são muito inteligentes.

O filme se passa em 1613. Depois do desastroso incêndio no The Globe, teatro dirigido por ele, o célebre escritor William Shakespeare para de escrever e retorna para Stratford, sua cidade natal. A volta para seu ambiente familiar o remete a profundas reflexões sobre as relações familiares estabelecidas ao longo de sua vida. O dramaturgo relembra da morte de seu filho de apenas onze anos e questiona seus erros e acertos no desempenho do papel de pai e marido. Humano, demasiado humano...

E foi sobre este filme que começamos nossa conversa nessa semana:

Primeiro citando Papo de Cinema, que fez um  'resumo' bacana do filme:
"A Pura Verdade constitui um belo título para uma história marcada por tantos segredos espetaculares e revelações inesperadas que mal parece retirada da vida real do escritor inglês. “All Is True”, título original, faz referência a uma das peças de Shakespeare, porém entra em contraste com o verso “Nada é verdade”, escrito por ele mesmo em mais de uma obra. A narrativa começa a demonstrar um olhar crítico, um interesse genuíno pelo poder da palavra (seja ela dentro da arte, seja nas palavras proferidas por alguém para magoar ou seduzir), um olhar metalinguístico a respeito das ficções que as pessoas criam para si mesmas, e para o olhar dos outros".
Trata-se de análise sobre as relações humanas, comentou nossa SBCense: o filme, com ótimos diálogos, aborda o sentimento sobre a perda do filho, a tristeza das peças que não existirão mais, a saudade do teatro que pegou fogo, o receio das filhas difamadas na cidade, o ressentimento da esposa abandonada.
E as personagens femininas, a esposa e as duas filhas do grande autor inglês,  mostram o machismo daquela época... e tão atual. A esposa Anne enfim confessa ao marido a dor de ser analfabeta e, portanto, nunca ter lido as elogiadas obras do marido; a filha Judith despeja com ferocidade a raiva e ressentimento contra o pai machista. 
E o filme mostra, também, o esforço das personagens, tanto no sentido de se moldarem aos papéis esperados delas na época, pela sociedade, quanto o esforço para o questionamento e para se livrarem desses papéis e para "ser sujeitos da própria vida, da própria história, do próprio destino". Trata-se de uma construção humana, segundo reflexão do nossa SBCense.
E temos também, no filme, o homoerotismo entre Shakespeare e o personagem Earl de Southampton, interpretado pelo magnífico Ian McKellen. Este personagem tem direito a uma troca repleta de provocações com o escritor e culmina na impressionante cena em que um rei declama Shakespeare ao próprio Shakespeare, cena lindíssima.
Mas a cena mais impressionante para nós do SBC é a que, segundo nosso entendimento, fala sobre o movimento para a "sabedoria humanizada", que é o movimento Teoria, Afeto, Prática (TAP)... movimento diário de reflexão a partir de tudo que vemos e ouvimos, tudo que 'existe pronto', que não passa de uma elaboração a partir de dentro de si mesmx, dos afetos|reflexões de uma outra pessoa (um livro, um filme, uma fala, tudo...) e que, necessariamente, deve passar pelos meus afetos, por dentro de mim, me provocar reflexão... e algo na minha prática de vida, nas minhas relações, na minha visão do mundo (e|ou de mim mesmx) vai ser alterado... e, passando de novo pelos meus afetos, pelas minhas reflexões, eu 'elaboro' novas teorias, eu sou sujeito... e assim vai: teoria, afeto, prática, afeto, teoria, afeto, prática... trata-se de movimento para a vida toda, no sentido da "sabedoria que nos torna mais humanxs"... um "virar a chave", como elaboramos nas nossas conversas anteriores.
Nosso SBCense afetado com essa cena, que lhe provocou grandes reflexões sobre "virada de chave", teve o cuidado e o carinho de, praticamente, transcrevê-la para nós:
A cena começa no ponto 32,24 do filme. Shakespeare está no jardim, mexendo com as plantas, quando chega um jovem admirador seu. Ele nem consegue acabar a pergunta que gostaria de fazer e Shakespeare já começa a responder pensando ser a mais comum que lhe fazem: - A melhor maneira de ser um escritor é começar a escrever... Não tenho peça favorita... Admiro meus colegas igualmente... e creio que mulheres devem interpretar papéis femininos...
Aí o admirador diz: - eu só queria saber como você sabia? - De que? pergunta ele. - De tudo!
- Amigo, eu sequer sei como livrar as alceas das lesmas!

E o admirador: - Não há um canto deste mundo que não tenha explorado. Nenhuma geografia da alma que não saiba navegar... Como?
Shakespeare responde: - O que eu sei, se é que sei, e não estou dizendo que sim, eu imaginei!
O admirador: - Mas dizem que você saiu da escola com 14 anos e nunca viajou. Imaginou de onde?
- De mim! responde ele.
- De você???!!!
- SIM!!! Tudo o que fiz, tudo o que vi, todos os livros que li, todas as conversas que tive, incluindo (Deus me ajude) esta... Se quiser ser um escritor e falar aos outros ou pelos outros, fale primeiro por si. BUSQUE DENTRO! Considere o conteúdo de sua própria alma, sua compaixão. E, se for honesto consigo mesmo, então, o que quer que escreva, TUDO É VERDADE.
- Então... porque parou de escrever? questionou o admirador.
Shakespeare não soube responder e deu ADEUS ao moço. Provavelmente, - pensamos nós - ele estava exatamente nessa busca... pois ela é para a vida toda... 
E uma SBCense completou essa reflexão com uma lembrança de 'trocentos' anos anos atrás, do seu filho adolescente àquela época: - eu encontrei no lixo todo amassado um papel com um poema: "A verdade, que você quer saber, sempre esteve, dentro de você..." E esse "poema" foi, pra mim, uma 'virada de chave'. Pra ele eu não sei... ele cresceu, virou adulto e talvez tenha se 'enquadrado' aos papéis que, se por um lado o fizeram realizado, por outro o frustraram, disso eu sei... e sei, ainda, que até hoje ele não começou ainda a construir a resposta "quem sou eu", de uma forma mais livre dos papéis...

Imagina quantxs de nós, de todas as idades, vivemos este conflito e, quase sempre, o 'abafamos'...  ou mesmo durante a vida toda ... refletiu outro SBCense... 

Este movimento exige esforço, completou outrx SBCense... e quase sempre, também, estamos tão "ocupadxs" com o "desempenho" que não nos dedicamos a esse "trabalho" de "ser quem eu quero ser"...


Daí lembramos do grande SBCense... o homenageado: GILBERTO GIL...

Primeiro, a música DRÃO, um grande TAP  - o movimento Teoria, Afeto Prática que conversamos acima -, uma lindíssima ressignificação do AMOR... um movimento de 'sair' desse conceito de amor que aprendemos e internalizamos, o amor romântico, idealizado, que nos tiram nossa humanidade e a dx outrx,  e que nos causam tantos sofrimentos... e a construção, para a vida toda, do "AMOR QUE TEM QUE MORRER PARA GERMINAR..."


E então entramos no nosso tema: GIL E O CINEMA:



A história de Gil nos cinemas começou ao compor a trilha sonora do pouco lembrado “As Cariocas” (1966), adaptação dos contos do livro homônimo escrito por Sérgio Porto/Stanislaw Ponte Preta dirigido pela dupla Fernando de Barros e Roberto Santos. Dois anos depois, ele trabalhou em “Balada de Página Três”, de Luiz Rosemberg Filho. Foi em 1970, o baiano reuniu nomes fundamentais da Tropicália como Gal Costa e Rogério Duprat para a trilha de “Copacabana, Mon Amour”, de Rogério Sganzerla.

Depois de “Copacabana, Mon Amour”, Gilberto Gil fez a trilha do documentário “Passe Livre” (1974) e voltou aos longas de ficção em “Terra dos Milagres” (1977), do mestre Nelson Pereira dos Santos. Para este trabalhou, o artista compôs a bela “Babá Alapalá”. Ainda trafegando pela música africana, ele compôs a trilha de “Quilombo” (1986), de Cacá Diegues, e voltou a firmar parceria com o diretor de “Rio 40 Graus” no projeto “Jubiabá”.


Para “Um Trem Pras Estrelas”, Cacá Diegues resolveu chamar novamente Gil para compor a trilha sonora. Na canção-tema do longa, o mestre da Tropicália contou com a colaboração de um gigante do Rock Brasil dos anos 1980, Cazuza. A música chegou a ser regravada pelo ex-líder do Barão Vermelho no disco Ideologia de 1988..

Com a crise do cinema brasileiro devido ao fim da Embrafilme na Era Collor, Gilberto Gil também deu um tempo na sétima arte. O retorno aconteceu 13 anos depois, ao trabalhar na trilha sonora de “Eu, Tu, Eles”. E para essa volta,  no filme de Andrucha Waddington, ele compôs a já clássica “Esperando na Janela”.


E terminamos nosso encontro com o segundo homenageado do dia: o grande SBCense RONALDO LEÓN, pessoa amiga e generosa que, por sua vez, homenageia seu grande ídolo, o Gil, com a música BraGil, letra de Júlio Costa Val, uma das classificadas na segunda eliminatória do 9º  @premiodemusicaminas que aconteceu em Divinópolis - MG no sábado dia 23 de julho. 


 O SBC aguarda essa grande final, dia 02 de setembro no TEATRO SESC PALLADIUM, em Belo Horizonte,  para torcer pro nosso querido León...

Agraços carinhosos a todas, todos e todes...




domingo, 7 de agosto de 2022

Mais uma homenagem do SBC a grande cinéfilo


Ai... o cinema francês...

Começamos nosso post com o prazer de compartilhar mais um grande filme do festival Varilux deste ano de 2022, encaminhado por amigo SBCence, segundo ele,  o melhor do festival:

O filme: GOLIAS, direção de Frédéric Tellier, filme de 2021, baseado em fatos reais. "Os mistérios do poder se misturam em um filme emocionante e fascinante do início ao fim", segundo a France Info Culture

Sinopse: Em Golias, na França, France é professora de esportes durante o dia, trabalhadora à noite, é uma ativista contra o uso de pesticidas. Patrick, um obscuro e solitário advogado parisiense, é especialista em direito ambiental. Mathias, lobista brilhante e apressado, defende os interesses de um gigante agroquímico. Seguindo o ato radical de uma pessoa anônima, esses três destinos, que nunca deveriam ter se cruzado, se acotovelam, colidem e se inflamam.

Trata-se de um filme denúncia, segundo nosso SBCense. E o personagem que mais o impactou foi o Mathias, interpretado por Pierre Niney. "Mathias é o lobista da indústria... aquele que passa os seus dias defendendo o que o filme denuncia como indefensável: a renovação da aprovação de um fitossanitário que parte da sociedade denuncia como cancerígeno, isso enquanto o business defende como medida fundamental para garantir a subsistência da agricultura no país.

"O que Golias tem de melhor é a forma praticamente didática com a qual desmonta o discurso dos gigantes da área agroquímica. E para isso é imprescindível que Mathias seja um dos protagonistas. O lobista tão habilidoso quanto desprovido de consciência é visto deturpando fatos, dialogando de modo cortês com políticos, sendo convidado às mesas de discussão – e essa representação não é equivalente àquela conferida aos pequenos agricultores. Além disso, ele é agressivo na utilização de militância cibernética direcionada (trolls, bots, etc.) e se vale das ferramentas da publicidade para criar slogans posteriormente repetidos por autoridades. Esse conjunto deixa muito evidente que toda a defesa dos produtores de agrotóxicos está bem alicerçada em lógicas que nada têm a ver com o bem comum. Os negócios querem a manutenção das lucratividades polpudas, mesmo se isso significar sacrifícios de vidas humanas"... nosso SBCense cita Marcelo Müller Jornalista, crítico de cinema e membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema).

Feita mais essa indicação de filme francês, passamos à nossa promessa do post  anterior, de 29 de julho: Chico Buarque, música e cinema. Quem acompanha o SBC  do início, desde 2010 pelo menos, já sabe das inspirações que esse grande brasileiro nos traz. Lembramos de post de 26 de janeiro de 2012: Era uma vez um romance... The end com o Chico. Nele contamos o caso do "tórrido romance" da SBCense e da 'herança' do mesmo, uma coleção de DVDs do Chico... e um deles, especial, com depoimentos e passagens de suas músicas em filmes brasileiros.

A relação de Chico Buarque e o Cinema é muito intensa. Desde 1972 com a música Quando o carnaval chegar, para filme com o mesmo titulo... passando por participação em filmes como ator (ele se considera péssimo ator, concordamos discretamente), pequenas participações, também desde o Quando o carnaval chegar, Vai trabalhar vagabundo, entre outros ... e com seus livros adaptados para o cinema, como Benjamim, Budapeste, Estorvo ... 
Fizemos um resumo das mais significativas músicas para o SBC, assim como os filmes, sem deixar de recomendar os livros, pois "como ator ele é um ótimo escritor".

O primeiros deles, na nossa memória afetiva,  a música que o Chico fez para o filme Joanna Francesa, em 1973.  Dirigido por Cacá Diegues, um grande parceiro de Chico no cinema, o filme tinha no elenco Jeanne Moreau no papel título, que foi dublada por ninguém menos do que Fernanda Montenegro.  Uma curiosidade sobre esse filme e sua música, é que Chico é fã incondicional de Jeanne Moreau, e para poder facilitar a vida da atriz, Chico fez uma música com muitas frases em francês. Ficou linda ...
Também de 1973,  o clássico Vai Trabalhar, Vagabundo!, de Hugo Carvana. O filme conta a história de Secundino Meirelles (Hugo Carvana) um malandro carioca que é colocado em liberdade depois de um longo tempo na prisão e dedica seus primeiros momentos a admirar as maravilhas do Rio de Janeiro. Preocupado com seu futuro, ele planeja uma grande virada utilizando seus talentos para trambiques. O filme, que foi premiado no Festival de Gramado de 1974, foi embalado por uma trilha sonora escrita por Chico Buarque e Roberto Menescal, inclusive a trilha foi premiada no Festival de Messina, na Itália. A música tema do filme Vai Trabalhar, Vagabundo! é um dos grandes clássicos da carreira de Chico.

Em 1976,  Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Bruno Barreto. Baseado na obra de Jorge Amado o filme, pra quem não conhece, conta a história de Flor (Sônia Braga) uma professora de culinária que se casa com Vadinho (José Wilker) um verdadeiro malandro, morreu num dia de carnaval. Após ficar viúva Flor se envolve com o farmacêutico Dr. Teodoro (Mauro Mendoça),  trabalhador e recatado. Eles se casam, mas como Teodoro não consegue satisfazer Flor, Vadinho volta. Mas apenas Flor o vê. O filme durante 34 anos foi a maior bilheteria do Brasil e ganhou vários prêmios, incluindo Melhor Trilha Sonora no Festival de Gramado. A trilha do filme foi composta por Francis Hime e Chico Buarque, que escreveu para o filme as três variações da música O Que SeráAberturaÀ Flor da Pele e À Flor da Terra. Com o Chico e Milton Nascimento essa música é simplesmente maravilhosa...

Em 1980 outro clássico do cinema nacional 
Bye, Bye Brasil. Com José Wilker e Beth Faria no elenco, o filme conta a história de três artistas itinerantes, Salomé (Betty Faria), Lorde Cigano (José Wilker) e Andorinha que cruzam o país juntamente com a Caravana Rolidei, fazendo espetáculos para o setor mais humilde da população brasileira e que ainda não tem acesso à televisão. A eles se juntam o sanfoneiro Ciço (Fábio Jr.) e sua esposa, Dasdô (Zaira Zambelli), e a Caravana cruza a Amazônia até chegar a Brasília.  A trilha sonora do filme foi composta Chico, Menescal e Dominguinhos. Mas a grande que entrou para história do cancioneiro brasileiro, é a inesquecível Bye, Bye Brasil.

Pulamos a década de 80, quando o cinema nacional entrou em crise e na década de 90 quase foi extinto. Por esse motivo Chico Buarque parou de compor para o cinema. Mas suas músicas apareceram em um filme ou outro. 
Em 98 Walter Lima Jr. pediu para o Chico escrever uma música  para seu filme, A Ostra e o Vento.  O filme, que é a estreia de Leandra Leal nos cinemas, conta com uma valsa instrumental criada por Chico e era usada pelo mesmo para ninar seu neto.


Lembramos de homenagear, junto com o Chico, o grande  JÔ SOARES: Em 2001 temos a trilha musical do filme O Xangô de Baker Street, de Miguel Faria Jr,. O filme é baseado no livro homônimo do Jô e  a trilha foi composta por Edu Lobo. Chico escreveu junto com ele a música Forrobodó, um delicioso maxixe, pouco conhecido dessa dupla. 


Em 2002 temos o filme LARA, direção de Ana Maria Magalhães, baseado nos livros autobiográficos de Odete Lara, narra as desilusões e as alegrias da atriz ao longo das décadas de 1930, 40 50 e 60. Lara relembra o suicídio dos pais, sua vida amorosa e o ingresso no mundo artístico. 

E um destaque sobre a participação do Chico no cinema brasileiro: o filme de 2006 ZUZU ANGEL dirigido por Sérgio Resende, conta a história da estilista Zuzu Angel que teve seu filho morto durante a Ditadura Militar. No filme Chico Buarque é citado de forma bem contundente, pouco antes de “sair para a morte” Zuzu (Patrícia Pillar) recebe um pacote com uma fita cassete enviado por Chico. Na fita está a gravação de Apesar de Você, um hino contra a repressão da ditadura. Quando ocorre o fatídico acidente, ela está ouvindo a música o que é quase um recado,  um grito de liberdade, em especial na cena. Ao final dessa cena, o filme acaba e toca a música Angélica, escrita por Chico Buarque e Edu Lobo em homenagem a Zuzu Angel.

Voltando a nossa história do DVD Chico e o Cinema, temos abaixo um  depoimento do mesmo ao final desse documentário dizendo que o Chico é de confiança mas "o compositor não é de confiança", pode tentar fazer mas "não sair mais", como na década de 70. E temos, ao final, a linda música ELA FAZ CINEMA, para coroar nossa conversa sobre esse grande cinéfilo.


E depois de um tempo dedicado à literatura Chico nos presenteia com a música    QUE TAL UM SAMBA
Como “Apesar de Você”, em 1970, “Que Tal um Samba?” é em 2022 ao mesmo tempo um samba eterno, popular, mas essencialmente histórico, político. Política aí no sentido contemporâneo: vivida nas ruas, na praia, no futebol (“Fazer um gol de bicicleta/Dar de goleada”), no amor e na arte (“Deitar na cama da amada/Despertar poeta/Achar a rima que completa o estribilho”)... e a receita do samba como remédio para o estrago" do Brasil de 2022, para "juntar os casos", ir à luta" e "zerar o jogo".


Nos divertimos e nos encantamos com essa homenagem. Obrigada Chico! E até nosso próximo encontro...