quarta-feira, 9 de outubro de 2013

22 de setembro em Santa Tereza

Foto: Feliz é o homem, feliz a mulher, o jovem ou a criança que sabe ser agradecido e que encontra uma forma de celebrar esse agradecimento. 
“Escreva suas mágoas em areia, sua gratidão em mármore”
Gratidão hoje e sempre! 
Ate a próxima!!!

Algumas experiências de vida são importantes de serem registradas, compartilhadas, validadas. Por isso escrevo...
Chego de viagem no sábado 21 de setembro, estava em São Roque de Minas, fui tão bem acolhida...dei um curso para cooperativa, estava preocupada pois tinha deixado minha mãe deprimida, triste... ela tinha me confessado estar "não gostando dela mesma, impaciente com as pessoas, grosseira...", uma pessoa especialmente está transformando-a no "pior de si mesma"... todo mundo tem seu lado B... e penso que a arte de viver e relacionar é extrair o melhor de si mesmo e das pessoas... claro que nem sempre isso acontece. Prometi tentar ajudá-la a recuperar o melhor de si mesma e voltei com esse propósito.

Tinha ficado sabendo pelo Face de uma feira que ia acontecer na Praça Santa Tereza, a Feira da Gratidão, acho que é assim que se chama, o convite para o evento dizia mais ou menos: leve qualquer coisa que você queira doar, ou nada... e vá disposto e receber, mesmo um abraço ou um sorriso. Juntei umas roupas que não usava e uns livros numa sacola, passei pela sua casa e lá fomos nós.

Que surpresa bonita! Todas as pessoas da feira pareciam iluminadas! Primeira grande experiência: uma moça linda segurando uma caixa de papelão com um buraco de "cofrinho", um bloquinho e uma caneta... e uma bandeja de brigadeiro, dizia: Faça um exercício de desapego: escreva nesse papel o que você gostaria de se desapegar, uma coisa, uma emoção, um sentimento ruim... coloque aqui no cofrinho e troque por um brigadeiro! Pois não é que ela se dispôs a fazer isso! e escreveu muuuiiiito... e saiu comendo contente seu brigadeiro... logo depois lhe ofereceram uma massagem... e ela se entregou... enquanto isso, uma senhorinha se aproximou de mim com um saco preto, desses de lixo... me olhou nos olhos e disse: acho que tenho uma coisa aqui prá você! e, com uma mão ela segurou uma ponta do saco,  enfiou a cara toda dentro dele e com a outra mão pegou uma coisa lá dentro... e tirou de lá um filme, antigo... "O óleo de Lorenzo". Trata-se da história de um menino de cinco anos com uma doença terminal. Mesmo com tal diagnóstico os pais se lançam para salvar o filho, enfrentando médicos, cientistas e grupos de apoio que relutam em incentivar o casal na busca de uma cura. O esforço inesgotável dos dois testa a resistência de seus laços de união, a profundidade de suas crenças e os limites da medicina convencional. Com esse filme aprendi a resignificar a palavra "arrogante": numa discussão com uma pessoa de um grupo de apoio, essa disse ao pai que ele estaria sendo arrogante... ao que ele respondeu: arrogante? sim! me arrogo ao direito de lutar pela cura do meu filho!!! então... aprendi que arrogância (se arrogar ao direito de...) até combina com humildade (noção de tamanho).

E com isso vieram outras lembranças: me lembrei de uma amiga, agora distante por circunstâncias de vida, que também gostava de escrever e que tem um texto que me marcou muito que falava sobre o dar e receber. Nossa cultura, de maneira distorcida, valoriza o dar em detrimento do receber, quando na verdade o receber antecede o dar, aprender a receber é que gera o dom de dar, o dar genuíno, aquele "dar" que, ao mesmo tem, já estou recebendo... não o dar distorcido que, muitas vezes, é prá controlar, submeter o outro. Nietzsche dizia: ingrato é quem não se rende aos meus favores... Deus me livre...



Me lembrei também de "Gentileza gera gentileza": Houve um homem, José Datrino, chamado de Profeta Gentileza (1917-1996). Por mais de vinte anos circulava pela cidade do Rio de Janeiro com sua bata branca cheia de apliques e com seu estandarte, pregava nas praças e colocava-se nas barcas entre Rio e Niterói anunciando sem cansar: "Gentileza gera Gentileza". Só com Gentileza, dizia, superamos a violência que se deriva do "capeta-capital". Inscreveu seus ensinamentos ligados à gentileza em 56 pilastras do viaduto do Caju, à entrada da cidade. Gentileza foi homenageado na música pelo compositor Gonzaguinha, nos anos 1980; e também pela cantora Marisa Monte, nos anos 1990. As duas canções levam o nome Gentileza.

A canção de Gonzaguinha mostrava uma homenagem ao profeta: "Feito louco / Pelas ruas / Com sua fé / Gentileza / O profeta / E as palavras / Calmamente / Semeando / O amor / À vida / Aos humanos". A canção de Marisa Monte, além de incentivar os valores pregados pelo profeta (no trecho "Nós que passamos apressados / Pelas ruas da cidade / Merecemos ler as letras / E as palavras de Gentileza"), retrata os danos ocorridos contra os murais, como diz o trecho: "Apagaram tudo / Pintaram tudo de cinza / Só ficou no muro / Tristeza e tinta fresca."

As 56 pilastras foram recuperadas sob a orientação do prof. Leonardo Guelman que lhe dedicou um rigoroso trabalho acadêmico, acompanhado de vídeo e um belíssimo CD-ROM com o título Universo Gentileza: a gênese de um mito contemporâneo. Grande SBCense, mais um prá nossa galeria.

Pois bem, como alguns SBcenses já sabem, eu funciono de maneira invertida... explico: quando não bebo esqueço mais as coisas do que quando bebo... quando bebo lembro de tudo nitidamente depois... se não nitidamente, eu invento... foi o que aconteceu: não tinha bebido, não me lembro!!! se conheci a pessoa, se ela estava na feira, se recebi um cartão da mesma ou outra pessoa me deu seu cartão, se essa pessoa seria a organizadora da feira... não me lembro da aparência física dessa pessoa, acho que não a conheci... mas o fato é que a encontrei no face e ela se tornou minha amiga. Trata-se de Alcione Kolanscki, a sua foto no face é uma flor branca, linda!

Foto: “Lembremo-nos sempre: somente quando se é capaz de compartilhar é que se enriquece de verdade; tudo aquilo que se compartilha se multiplica!”(Do discurso do papa Francisco nesta quinta-feira, 25, de manhã na favela Varginha, zona norte do Rio)

Então, agora pergunto a vocês: esse projeto não é a cara do SBC? não pensei em criar outro evento imitando, e sim participar efetivamente desse, o SBC (as pessoas...)  ir juntando coisas e estar em peso no próximo encontro da Feira da Gratidão, com porta estandarte e tudo... violão, pandeiro, chocalhos... cantando, dançando e praticando a gentileza e o desapego... É este o meu convite...Bora gente?

SantuzaTU