quarta-feira, 26 de março de 2014

Tristezas de um Carnaval





 Carnaval, desengano
Deixei a dor em casa me esperando
E brinquei e gritei e fui vestido de rei
Quarta-feira sempre desce o pano

Carnaval, desengano
Essa morena me deixou sonhando
Mão na mão, pé no chão
E hoje nem lembra não
Quarta-feira sempre desce o pano




Pois é... Tem o Chico Buarque prá ajudar a gente a transformar as tristezas e desenganos em poesia... e jamais perder a capacidade de nos indignar... a pedidos e com a permissão da pessoa denunciamos mais uma vez o machismo estrutural que permeia nosso mundo. Porque tem que ser denunciado, sempre... é tão sutil que abre uma ferida de todo tamanho e ainda por cima fica a sensação de que estamos ou exagerando, muito sensíveis, ou interpretando mal, ou doidas, que mulher nunca se sentiu assim?

Então, relato o fato como me foi contado: ela tinha, há uns meses atrás, pegado um fogo daqueles, estava em sua casa com amigos... no outro dia acordou sem memória... mas com um sentimento muito estranho, o de ter sido violentada. Ficou sabendo que todos tinham ido embora e tinha ficado uma pessoa, um amigo. Procurou essa pessoa: Queria conversar com você sobre o que aconteceu, podemos? ele respondeu se esquivando, quando você quiser, pode marcar... ela não teve mais coragem de falar com ele, embora quisesse muito desvendar: teriam transado? ela teria permitido, gostado? Resolveu elaborar por conta própria, evitar se sentir culpada... não conseguiu ter raiva da pessoa, apenas um certo cuidado com ela... talvez um dia conversassem e pudessem até rir juntos, afinal eram amigos...

Pois bem... não é que na terça de carnaval, numa situação também de todo mundo de fogo, estava até acontecendo uma cena de piropagem entre ela e uma outra pessoa, quando ela vai ao banheiro e é abordada pelo cara na porta dizendo: sabe aquele dia? você queria conversar comigo, né? pois fique tranquila que eu fiz o teste de HIV e tá tudo ok.

O quê? como? foi aí então que a ficha caiu... eu a encontrei em prantos, entre perplexa, indignada, estarrecida, envergonhada... sentimentos fortes se conflitando, segundo ela me disse... Verdade!!! na hora até eu pensei: não teria sido cuidado da parte dele? veja como a gente fica!!! É bem provável que ele, e inúmerxs outrxs (o X serve para homens e mulheres), digam isso, sem perceberem de imediato a violência em dobro (ou potencializada).

Gente! o machismo estrutural tem que ser denunciado todo dia!!! Precisamos todxs criar cada vez mais consciência e agir para que possamos viver um mundo melhor. Creio que não existe, ainda,  nenhuma mulher que não tenha uma ferida do machismo estrutural, mesmo que ela não tenha consciência a ferida está lá.

Todxs nós sofremos e reproduzimos o machismo estrutural, comecemos por admitir isso, já disse e repito, tenho medo de pessoas que dizem não ser machistas, não ser preconceituosas... essas são perigosas, pois reproduzem o pior mal, o da alienação, o mal fica "banalizado", tomando emprestado o termo da Hanna Arendt em outro contexto. É o mal da ignorância, do não pensar, ao não pensar reproduzimos... e podemos reproduzir crueldades que, segunda ela também, tem a ver com mediocridade.

E ter consciência disso nos faz responsáveis... sim... responsáveis pela reprodução ou pelo combate... vamos escolher o combate? vale a pena... e continuamos a vida, pois vIDA é ida, nos perdoando como humanos que somos e lutando... sempre.


Era uma canção, um só cordão
E uma vontade
De tomar a mão
De cada irmão pela cidade

No carnaval, esperança
Que gente longe viva na lembrança
Que gente triste possa entrar na dança
Que gente grande saiba ser criança


Abraços carinhosos a todxs...

TU

sexta-feira, 7 de março de 2014

PRECONCEITO NÃO!!! LIBERDADE SIM!!!

 

Começamos nosso desfile exatamente às 15 horas (coisa raríssima pro SBC) do memorável dia 4 de março de 2014, com nosso hino de Paz (porque guerreamos pela paz). Foi cinco vezes PRECONCEITO NÃO!!! e cinco vezes LIBERDADE SIM!!! com a maior energia... E em seguida: Liberdade, liberdade! Abre as asas sobre nós! E que a voz da igualdade, seja sempre a nossa voz!... e se ouviu o rufar dos tambores e o nosso carro de som (guiado por SBCenses ilustríssimas!!!) saiu ao som do nosso Hino: Agora é hora! é a hora do SBC...

E todo mundo participava, já tinham sido distribuídos os nossos chocalhos ecológicos, esse ano envolvidos pelos adesivos que ficaram MARAVILHOSOS!!! Todo mundo faz parte da bateria do SBC e se sente da diretoria, esse é o espírito SBCense, todo mundo (e cada um...) é importantíssimo!!! Somos pessoas importantes, estamos fazendo história!!!
Foto: Bloco SBC Coletivo no Padre Eustáquio


E com garra, força e raça rodamos algumas ruas do Padre Eustáquio, ao som de marchinhas e marchas-rancho, sendo muito bem recebidos pelos moradores, alguns jogavam água com a mangueira e era uma delícia... até a Praça Sagrados Corações, onde fizemos o prometido: o resgate da tradição do carnaval, o Entrudo, guerra de cheiros (no nosso caso cheiro bom), que foi proibido por Jânio Quadros depois que um doido jogou alguma coisa que queimava... SBC é cultura e história... enfim, algumas pessoas não gostaram mas a maioria adorou, era um cheiro delicioso de capim cidreira (até me pediram a receita: compra-se no Mercado Central, tem prá mais de 40 cheiros, os cítricos são os melhores, e se dilui em água com um álcool especial que tem na mesma loja das essências). Ah!!! E teve gente que, ao receber o saquinho de chup chup com a água cheirosa (que era prá estourar o saquinho nas outras pessoas) estourou o mesmo com o dente e bebeu!!! Ninguém foi entrevistado prá saber se era bom o gosto...

E da praça voltamos para o Bar do Bolão do Choro, onde já nos esperavam um montão de gente que tinha ficado lá ou chegado depois e estavam também ao som de banda super bacana, tocando também marchinhas e marchas rancho (e samba ótimos  claro...). Fizemos o percurso em 3 horas, como previsto, a idéia de sair e voltar pro mesmo lugar foi excelente, mas me parece que a maioria ainda reclamou da volta meio longa, sabem como é, o SBC é "de mamando a caducando...". Pensaremos numa volta menor no ano que vem, rsrsrs, tem gente que acha que devia ser só uma voltinha ao redor de si mesmo... Todo mundo agora dando a sua volta!!!! kkkkk


E as fantasias? Ótimas, super criativas, até as camisetas, tinha uma assim: tem paciência comigo porque eu tô TONTO!!!
Pode? este mesmo da camiseta batizou a fantasia da outra (que fazia uma homenagem às empregadas domésticas, uma classe que sofre muito preconceito no nosso país): "hoje o patrão me dá um aumento"!!! rsrsrs... na sexta, no nosso pré carnaval, a mesma fantasia se chamava: "você quer me contratar prá ver s'eu cuzinho?"... s'eu lavo... passo... kkkk... 

Por falar em sexta, no nosso pré carnaval, enquanto estávamos nos juntando na praça encontramos com um bloquinho que tinha vindo também ensaiar... aí veio o carinha barbudo e com um tomara que caia lindinho que ele tinha que levantar toda hora pois tinha esquecido dos limões, então estava caindo... rsrsrs... Muito prazer, nós somos do bloco “O pior bloco do mundo”! O prazer é todo nosso! Nós somos do SBC,  o “segundo pior bloco do mundo”! Claro que ficamos amigos de todo mundo do PIOR BLOCO DO MUNDO, nos identificamos imediatamente... rsrsrs... e eles distribuíam pequeninos adesivos de uma bostinha, sim, um cocozinho!!! Tipo esse bloco é uma bosta!!! Lindxs, todxs... amamos... 




E tem o neguim lindo que adora se fantasiar de Marilyn Monroe, seu sonho... ao final ele toma duas caipirinhas feitas com os limões (os peititos), e mais algumas cervejas... e se diverte com sua namorada lindona, quebrando preconceitos e beijando na boca (ou vice versa).
Foto


E ficamos por alí, no quarteirão fechado da Vila Rica, tomando umas e ouvindo as marchinhas e conversando, e piropando, lógico... nosso post do carnaval de 2012 (5 de março de 2012)... sobre níveis de alcoolismo, foi bastante lembrado... rsrsrs... isso foi  até mais ou menos dez horas, acho que foi essa hora que eu fui...

E os jornais da quarta feira, todos engrandecendo essa grande “festa popular” que é o carnaval da nossa cidade. Realmente, esse ano fizemos uma grande apropriação do nosso espaço, do espaço do cidadão, as ruas. Vale a pena um trecho do Editorial do jornal O tempo: “Enquanto foi administrado pelo poder público, Belo Horizonte não teve Carnaval. Foi preciso que o governo demonstrasse sua incapacidade para que a comunidade assumisse o encargo, se é que a festa seja uma carga. Como refletiu um antropólogo, quando o Estado ou o mercado conduz o Carnaval, a festa perde sua originalidade e vira espetáculo. O exemplo mais acabado disso são as escolas de samba do Rio e São Paulo. ... O Carnaval de rua, resultado de uma vontade coletiva e espontânea, transforma o espaço público de lugar da utilidade em lugar da invenção. Por uns dias, a cidade recupera a memória, o afeto e a cordialidade.” 

Também citando outro antropólogo: “O resgate do espaço público é o resgate de uma consciência coletiva da grandeza de construir e apropriar da sua história, da auto-estima de um povo, da consciência de que somos nós que fazemos o país”. Grande!!!

E o músico Pablo Castro também escreveu bonito a acertadamente: “Não deixa de ser uma expressão de inconformismo, de ousadia e de perspicácia a maneira como o carnaval belorizontino hoje se confunde com as lutas sociais, promovendo, através dessa catarse dionisíaca coletiva, uma outra forma de se estar na cidade”. É isso!!!
 

Claro que houve também os casos tristes, de perdas, de homofobias, de machismo estrutural, como sempre... e não é que a vida é assim? E, a cada dia, escolhemos combater essas coisas (sem alienação), e, ao mesmo tempo, viver a vida no que ela nos oferece de melhor...

Desses casos conversaremos em outro post...

E quem tiver mais fotos ou filmes postem aí no blog ou no face Sbc coletivo... aguardamos e obrigada a todxs

Beijos carinhosos e abraços oxitocinados!!!

SantuzaTU