terça-feira, 31 de agosto de 2021

Projeto ARTES NA PANDEMIA: FEIJÃO PRETO

...Esta é Claudete Coutinho, pedagoga, psicopedagoga, psicanalista, além de escritora. Ex-professora e vice-diretora de escola pública. Trabalhou como pedagoga num presídio de segurança máxima, onde fez trabalho voluntário por cerca de 6 anos, 25 anos num instituto de serviços sociais |(INECC - Instituto de Educação e Construção da Cidadania) para menores em situação de risco, com o programa de liberdade assistida e, mais tarde, no serviço do Centro Social e Educativo de Divinópolis.

 



E esta é a CLAUMACOU, (in english: CLOWN), tradução: PALHAÇA, figura que, através da leveza e do riso, "planta",  no nosso espírito (traduzindo: nas nossas cabeças, corações e mãos, pensar sentir e agir), possibilidades de reflexões e tomadas de consciência importantíssimas para a vida.




O SBC adooraaa essas pessoas múltiplas: SOMOS MUITAS!!! E DAMOS VOZ A TODAS ESSAS QUE EXISTEM EM NÓS!!!

E ela nos presenteia com o belíssimo texto a seguir. Nossa gratidão a essa (ou essas) mulher(es) maravilhosa(as), grande aquisição do SBC. Nos tempos sombrios que estamos vivendo, precisamos muuuiiito dessas trocas.

Debulharam o baguinho de feijão preto que era sua família

Maria, antes de sair, olha uma vez mais os três filhos.

Camas feitas entre os caixotes. Corre o olhar entre os seres  que abrigam debaixo do viaduto.

Seu mais velho, já quase um adulto, vai ser nego bonito

forte, alto, carinhoso.

Mas o olhar triste da agonia é visível:

- Porque nasci dessa cor da morte?

Maria trabalhadora, do serviço não foge.

Na semana, ainda bem, que a patroa vai aceitando,  um dia a falta, pelo filho doente, fila no posto, outro dia é ela que  acompanhou José nos dois goles.

Enquanto eles, burgueses, brindam em vinho, aqui é dois goles da garrafa  de pinga.

Os outros, embriagados, inebriados, se entregam na cama larga,

 com lençol clarinho, cheiroso, que eu lavei e passei.

 José e eu vamos fazer mais  barulho, ao nos entregarmos, que eles

 Nós no papelão, mas na cumplicidade em linha direta com a lua e as estrelas.

Não temos teto entre eles, é o nosso amor.

Hoje ela sai, não sabe dizer se mais feliz ou mais agonia.

Passa mão no ventre  e sente um sobressalto, vou ter outro filho.

Adeus casa da patroa, vamos mesmo é trabalhar, família unida.

Catar latinhas, papelão, recicláveis perto do Mercado Central.

Vender água nos sinais.

Vender bala na estação do metrô.

Seu filho mais velho quer vender bala na feira.

Não pode, a lei não permite.

O filho começa a roubar, a cheirar.

Debulharam o baguinho de feijão preto, que era sua família.

Cada um toma um rumo.

Só ela persiste, barriga grande, arrastando os dois menores.

Ser mãe, dignidade e vaidade, andando com a  fome e a calamidade.

Maria chora, rasgada pela dor do coração.

 A bolsa rebentou, é chegada a hora dela.

O carro do socorro nunca chega a tempo.

Sirenes e apitos não sabem o que é miséria.

Mas uma negra procriadora  morta, é vitória. Maria expirou.

Salvo o pirralhinho.

Ele resistiu, deu o sinal do primeiro lamento.

Agora são três para enfrentar a vida,

os empregos bárbaros, a violência sanguinária,  que cresce, a justiça perseguidora, a desigualdade preconceituosa, racista.

Reclamam da violência?

Quem a pratica? Todo dia são tantas Marias,   que suportam a mesma dor.

São crucificadas pelo  peso da cruz,

que carregam no tempo, a cor.

O ontem, o hoje, será que no futuro, não vão sentir mais nas entranhas? Marias, negras,  nas ruas, mulheres, mães,

os gemidos perplexos, respingados de lágrimas e sangue.

Será que não vão escutar na ressonância da voz  um eco de vida e liberdade? Ou  vão abafar como nos porões dos navios  negreiros?

Claumacou





sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Apreciação do lançamento do projeto: ARTE, PROSA E SAMBA (e convite para nosso próximo encontro)

Foi no domingo passado, dia 22 de agosto de 2021, no Botequim Madureira, da nossa querida SBCense Adriana. Ficará na memória de todo SBCense: FOI LINDO!!!

Nessa conjuntura triste que estamos vivendo, o que mais queríamos era nos encontrar, nos abraçar, conversar, fazer novas amizades, ou seja, praticar o conceito de BEM VIVER SBCense que, embora tenhamos durante toda a pandemia praticado de maneira virtual, sentíamos realmente muita falta do presencial, do calor, do abraço, do olhar, essas coisas... com os cuidados necessários recebemos nossos amigos, os de longa data e os recentes, pois, como sabem, o SBC é aberto, inclusivo, anárquico, democrático, ecológico e feminista... em qualquer ordem de valor que queiramos. 

Praticamos intensamente nossos conceitos, que sempre merecem ser lembrados: o RISO, que desoxida talentos (para a criação, para as trocas humanas e, principalmente, para a vida); o valor das AMIZADES (o nível de relação que o SBC considera mais precioso para o bem viver); e a prática do SENTIDO ESTÉTICO, do belo, do bom pra vida, para além do sentido moral, do certo errado. Consideramos que a vida orientada por esses valores amplia consideravelmente a qualidade. Outros valores vão sendo construídos/acrescentados, a partir destes, e é sobre isso nosso projeto ARTE, PROSA e SAMBA, uma construção constante do BEM VIVER e BEM RELACIONAR.

Gratidão da "diretoria" do SBC a todas as pessoas que foram nos assistir, às pessoas que participaram espontaneamente do projeto, apresentando suas performances poéticas e musicais, todas muito pertinentes ao nosso tema, que faz uma crítica leve na forma e, ao mesmo tempo, profunda no conteúdo, desse sentimento tão cantado em verso e prosa: O AMOR, e de como a arte, enquanto representante da cultura, exerce o duplo papel de nos fazer internalizar e reproduzir conceitos ideológicos de uma época, assim como também permite nos abrir as cabeças e corações para nos transformarmos em sujeitos construtores de uma cultura mais livre, mais bonita, mais simétrica nas relações humanas em todos os níveis: AMOR E POLÍTICA FAZEMOS NA CAMA E NO MUNDO!!! e podemos (e devemos) construir e praticar novos conceitos de amor (e de política!).

Este é o "conceito" do nosso projeto, ou seja, a cada mês trabalharemos (na arte, na prosa e no samba) um tema diferente. Nosso próximo encontro será sobre o tema A AMIZADE, e será no mesmo botequim MADUREIRA no domingo dia 19.setembro.2021. Reservem a data e "preparem seus tamborins" (um texto, uma música, um poema, autoral ou de outro artista, assim como podem levar seus instrumentos e participar conosco), o que cada um animar de fazer, onde o "olho brilha". Assim somos, nós do SBC. 

E queremos registrar, também, que este projeto, vitualmente e/ou presencialmente,  já está sendo realizado em outros ambientes: instituições públicas e privadas, escolas, centros comunitários, coletivos (de mulheres, de homens, outros), sindicatos, praças... rsrs... (praças ainda não, mas é uma boa ideia), para públicos de todas as idades a partir da juventude. Assim como "na garagem, na beira do fogão, na calçada ou na varanda" (essa é uma dica para nosso próximo projeto de conversas SBCenses, começando aqui mesmo, no blog)...     Enfim, trata-se de projeto que "abre cabeças e corações" para a reflexão e uma nova visão de mundo e das relações.  Não tem jeito... para ir melhorando nossa visão de mundo e nossa qualidade relacional temos que desenvolver relações dialógicas, abrimos para conversar, sempre, e muuuiiiitoooo... só desse jeito! De outro jeito vamos nos fechando em nossas "verdades"... tristes verdades, sem nenhuma construção. E, acreditem, conversar e ir construindo novos jeitos de ser, de relacionar e de elaborar um mundo mais bonito pode ser muito prazeroso. 

Para quem não foi no domingo, uma pequena amostra do projeto, no elaboração do tema AMOR:


Essa apresentação fez parte do belíssimo SARAU ARTÍSTICO do I CONGRESSO CRIM: GÊNERO FEMINISMOS E VIOLÊNCIA, do Curso de Psicologia da UFMG, que encerrou neste sábado 28. agosto.2021.  Parabéns às organizadoras e todxs os participantes!

Enfim... Não percam nosso próximo encontro: Sobre a  AMIZADE...

A seguir o convite da nossa querida SBCence Antonieta, "montada" de Angel, conversando com Rochelle, duas "SBCences famosas" (performances divertidíssimas)...


Até lá... saudações SBCenses...



 





quarta-feira, 18 de agosto de 2021

lançamento do novo projeto SBCense: ARTE, PROSA E SAMBA

No domingo passado a Angel e a Rochelle foram tomar uma cerva. E conversar. Lembrando: as duas são super SBCenses, da diretoria do SBC. Cumpridas as pautas de sempre, visão de mundo e relações humanas, outros assuntos vieram a baila. 

E a Angel lembrou do tema: origem de alguns termos que usamos frequentemente e nem imaginamos o porquê dos mesmos, da onde vem o significado. Nossa, como vivi sem essas informações até então! disse Rochelle. Angel ficou com raiva, mas continuou:




Por exemplo PÃO DURO:  você sabe como essa expressão surgiu? conta-se que na Idade Média havia o costume das pessoas levarem pão para serem benzidos na missa. Pessoas de posses,  a burguesia em ascensão. Ao saírem da missa, com seus pães benzidos, elas davam um pedaço de pão a um senhor na porta da igreja, ele sempre os colocava num saco e levava pra sua mulher. Juntava muito pão e o mesmo ficava duro... Aí ela teve uma grande ideia: fazer pudim. E assim ela fazia o pudim, e ele, na semana, ia vender o pudim nas redondezas. Era muito pão... e muito pudim... e o casal fui ficando rico, eles não gastavam o dinheiro, colocavam debaixo do colchão. Quando os dois se foram, a casa ia ser demolida, e os trabalhadores perceberam que tinha muuiiito dinheiro na casa!!! Daí a expressão "pão duro"... pessoa acumuladora.

 


A outra história interessante é a que deu origem a "fulano DEU O CANO no outro": durante as grandes navegações, o Fernão de Magalhães saiu numa viagem para provar que a terra era redonda, "viagem de circunavegação". O Fernão despediu-se da sua jovem e linda esposa e, na  viagem ocorreu uma guerra entre a expedição e os nativos de  umas ilhas do Pacífico. E o Fernão faleceu nessa guerra. O navegador que continuou a viagem foi o Sebastião Del Cano. Ao concluir a viagem Del Cano recebeu honras e glórias e acabou se casando com a linda esposa do Fernão. Aí se criou o ditado: fulano DEL CANO no sicrano, ou seja, passou o outro pra trás. Enfim, disse a Rochelle, por isso temos grandes historiadoras no SBC, as histórias partem, no mínimo, do século XV, quando não dos grandes filósofos de oito séculos antes de Cristo!


E assim foi a dúzia de chopp, com umas empadas para acompanhar... deliciosas...



Quando foi na segunda feira, a Rochelle, pra pagar os tripudiamentos que fez com a Angel no domingo, recebeu uma ligação da Dri, do Botequim MADUREIRA: Olha só, temos liberado o domingo dia 22.agosto. O projeto Arte, Prosa e Samba! podemos fechar nesse dia!!!???. Ai a Rochelle ficou que nem cachorro que corre atrás do carro. Era tudo que ela (e outrxs SBCenses) queriam!!! Aí, quando aparece a oportunidade, a gente "amarela", acha que tem que combinar tudo, que ainda não está "amarrado", essas coisas... 


Vocês sabem a origem do termo "ficou que nem cachorro que corre atrás do carro"? Foi o cachorro do Bozo (o palhaço) que me contou: todo cachorro corre atrás do carro, mas quando (ou se...) o carro para, ele, o cachorro,  estatela  (paralisa), e não sabe o que fazer!!! 

Por pouco tempo a Angel ficou assim. Mas, passados, no máximo,  10 minutos, ela liga pra diretoria do SBC. E o povo anima! Claro que dá pra fazer! eu ligo pra Dri e combino com ela a parceria, você se encarrega da parte de marketing, já temos o conteúdo gente!!! Há quatro anos vimos desenvolvendo esse "conceito SBCence", como podemos, agora, abandonar a oportunidade! BORA!!!


Ai a Angel ficou que nem PINTO NO LIXO!!! significa "desorientada" de tanta alegria... mas não sabemos a origem dessa expressão... sei lá, entende...

E fizemos reunião no dia seguinte... e fechamos tudo:

O SBC tem a alegria de apresentar o projeto:

                            ARTE, PROSA E SAMBA

Trata-se de conversarmos sobre um tema, através das artes plásticas, da poesia, da prosa, e da música... tudo isso com o espírito de elaborarmos uma crítica à arte e à cultura, percebendo o que temos de "reprodução" de conceitos que não servem mais para o bem viver e só servem para a dominação, assim como o que temos de conceitos na arte que servem como ferramenta para a transformação do mundo e das relações... para mais livres, mais bonitas, mais inclusivas. É isso...

Pretendemos, após o "lançamento" do projeto, apresentar um tema a cada mês, com arte, com riso e alegria, que servem enormemente para abrir cabeças e corações para a possibilidade de criticar o que internalizamos e reproduzimos, assim como construir novos conceitos orientadores da nossa ação transformadora do mundo, em todos os níveis de relação, do íntimo ao público, porque: AMOR E POLÍTICA SE FAZ NA CAMA E NO MUNDO, é um "slogan" do SBC.

Nosso primeiro tema será: O AMOR, o que é? o que poderá ser? seremos capazes de "ir construindo" um novo conceito de amor? mais bonito, mais libertador?



Dia: 22.agosto.2021

Botequim MADUREIRA. Rua Madureira 293 - Bairro Aparecida, Belo Horizonte - MG

a partir das 13 horas. Começaremos nossas conversas as 15 horas. Será uma Roda de Conversa, participativa... Levem seus poemas, músicas, textos, etc., sobre o tema.

Até lá...






quinta-feira, 12 de agosto de 2021

na mesma mesa...

 As mesmas cinco pessoas SBCenses... vocês sabem, o SBC é, para além de um grupo de amigos que realiza projetos sócio culturais, um conceito de BEM VIVER, onde se inclui a valorização dxs amigxs e dos bons encontros. Além de estarmos sempre conversando e construindo o que chamamos de VISÃO DE MUNDO E DAS RELAÇÕES HUMANAS, ou seja, POLÍTICA, num sentido amplo do conceito.

Passou o Marcelo vendendo bombons. Ele é de uma cidade próxima a Cumuruxatiba, no extremo sul da Bahia, perto de Prado. E como você veio parar aqui em BH minino? - Eu quero estudar direito... e, onde moro não existe nenhuma possibilidade de "crescer". Ai decidi sair de lá com uma mão atrás e outra na frente... e cá estou... já morei na rua, mas agora, com a venda de bombons, estou alugando um quartinho. Cara! Você é muito corajoso! - Com a graça do meu bom Deus que está lá em cima... Como assim? não seria graças ao deus que existe dentro de você? - Oxente! são os mesmos! ...e a conversa terminou por aqui, ele continuou vendendo seus bombons... e, na mesa, alguns concordaram com ele de que são os mesmos, outros preferiram o sentido do "deus dentro" que, na sua origem, significa "entusiasmo".

E, na continuação do tema "capitalismo - uma compreensão crítica", um dos SBCenses à mesa comentou sobre dois filmes recentes na Netflix que ele havia visto: o norueguês "22 de julho" e o polonês "Rede de ódio". Ambos "contam como a extrema direita destrói e mata". "A incitação que ela faz na internet não é tagarelice aloprada e, por isso, inócua. Seu objetivo é organizar o emprego da força, levar a cabo atentados terroristas". 


"22 de julho" foi dirigido por Paulo Greengrass, da trilogia Bourne, e "Rede de ódio" é de Jan Komasa, indicado ao Oscar de  melhor filme estrangeiro por Corpus Christi. Nos dois filmes os protagonistas são psicopatas, e vão até as últimas consequências... ou sociopatas, os dois distúrbios, apesar de diferentes, guardam algumas semelhanças importantes: desrespeito pelas leis e costumes sociais; assim como pelos direitos das pessoas em geral; a falta de empatia, de remorso ou culpa; e a tendência a mostrar comportamento violento.. E nosso amigo SBCense,  disse: o que me impressiona muito é que são características, de uma certa forma, "alimentadas" pelo nosso sistema, que alimenta o individualismo, o levar vantagem a qualquer custo, a insensibilidade às dores das outras pessoas... isso me assusta muito!

O filme "22 de julho" é um "docudrama" colado na realidade, como comentou Mário Sergio Conti na "Folha" em 23 de julho 2021. Com minúcia aflitiva, reconstitui o massacre na ilha de Utoya, na Noruega, em julho de 2011.  O direitista Anders Breivik primeiro detonou uma bomba na frente da sede do governo, matando oito pessoas. Com o caos em Oslo, ele seguiu para a ilha de Utoya, onde quase 600 adolescentes participavam de um acampamento da Liga dos Jovens Trabalhistas, o braço juvenil do PT de lá. Disfarçado de policial, Breivik gritava ao atirar "marxistas, vocês hoje vão morrer!". Matou 69 adolescentes.

O filme, além de Breivik, tem outros dois protagonistas: o jovem que levou cinco tiros, um deles na cabeça, e teve um pé estraçalhado; e o advogado que, por dever de ofício, defende o homicida. E Breivik, o fanático. Eles simbolizam as vitimas, as instituições e a extrema direita. E Breivik não é um doido manso. Ele baba ódio. Vê o mundo como um amálgama de conspirações. Fantasia um passado delirante. Não quer uma nova sociedade, e sim destruir a existente, derramando o sangue que for necessário.


"Rede de Ódio" é uma ficção que expõe o modus operandi da extrema direita, ainda segundo Mario Sérgio Conti, como relata nosso SBCense: Seu protagonista, Tomasz Giemza, é expulso da Universidade de Varsóvia por plágio. Marqueteiro e hacker, ele se emprega num gabinete do ódio, dedicando-se a enxovalhar inocentes. Tomasz compartilha com a extrema direita a raiva de intelectuais, que puniram sua fraude arrivista. O ressentimento com os liberais que o olham de cima. O rancor provinciano contra os que se dão bem na metrópole. O uso da tecnologia de ponta para embalsamar o arcaico.

Tomaz, em resumo, é  ardiloso, manipulador, dissimulado e vingativo. Ele só se opõem na estampa. Manipula e chantageia para os seus fins - finge que é homossexual para embaraçar um liberal, chantageia um mafioso - que induz um maníaco por games a realizar uma carnificina no comício de um candidato a prefeito, matando dezenas de pessoas, inclusive o político. Nesse sentido o filme foi premonitório: dias depois do fim das filmagens, o prefeito de Gdansk, Pawel Adamowicz, patrono da parada gay da cidade e saco de pancadas dos direitistas, foi morto num comício. A estreia do filme foi adiada devido à polarização da Polônia.

Os dois filmes mostram como o radicalismo reacionário se espalhou pelo planeta. E como "...ele é produto do modo como o mundo - capitalista em todos os quadrantes - gira em falso e gera catástrofes".

O comentário do nosso SBCense é semelhante ao do crítico da folha: "Nenhum país é uma ilha, mas todos têm suas características próprias. No Brasil, a concentração do capital arrebenta pequenas empresas. A desindustrialização e a tecnologia desempregam e subempregam.  Agora mesmo, nessa semana que acaba, enquanto todos comentavam sobre o desfile dos tanques em Brasília, algumas horas antes da Câmara dos Deputados enterrar o projeto do "voto impresso", a mesma Câmara aprovou o texto base de uma nova reforma trabalhista que diminui direitos nossos, dos trabalhadores, já conquistados historicamente, como a redução do pagamento de horas extras de categorias com horário reduzido (telemarketing, por exemplo); FGTS menor para quem for demitido; fiscalização trabalhista sem multa e com "orientações" para escravagistas (sim!!! o trabalho escravo ainda existe, e muito, no Brasil e, em vez de ser combatido, está sendo dificultada a sua fiscalização); e a criação do Regime Especial de Trabalho Incentivado (REQUIP), que estabelece uma espécie de "trabalhador de segunda classe", sem direitos, ou seja, legaliza o subemprego, permite a contratação sem vínculo trabalhista, sem férias, FGTS ou 13o salário.  O argumento, como sempre, é o de criar novos empregos, e o resultado é o jogo perde-ganha, perdem o trabalhadores e ganham os empregadores, o capital. O risco de super exploração dos trabalhadores foi enormemente aumentado. Essa Medida Provisória já está no Senado, para ser analisada até 9 de setembro. 

Lembramos, mais uma vez, da necessidade de buscarmos mais informações e desenvolvermos nosso senso crítico... e conversarmos muuuiiito!!! para entender o mundo: o capitalismo, desde o século XVIII, trouxe a ideia de mobilidade social... trouxe (e|ou potencializou), também, o racismo, o classismo, o sexismo, a meritocracia... o nazismo, o fascismo... a destruição do meio ambiente em função do lucro...  E, também, ensejou a necessidade de novas ideias, novas concepções sobre um mundo mais justo, mais bonito... precisamos entender mais o que acontece na China, em Cuba... o socialismo... o comunismo. 

Como disse o nosso crítico da Folha: "O fascismo saiu da latência e late... Sair do colapso será duro. Antes de tudo, porém, o mais urgente é barrar os atentados e mortes que a extrema direita articula."

E terminamos recordando música dos anos 80: Divino Maravilhoso, de Gil e Caetano, gravada por Gal em 1968 (ano da nossa Constituição!) e agora regravada por Iza e Caetano. A arte também nos faz refletir e buscar na história novas informações, que nos empoderam. 

À luta!!! é preciso estar atento e forte!!!


Santuza TU



terça-feira, 3 de agosto de 2021

ARTES NA PANDEMIA: Rio da vida

 

Esta é Antonieta, ou Tunieta, ou Tutu.



Esta é a Shirlene, também Shir, para xs íntimxs.



E esta é  Angel...  vulgo Gegê...



Parecem a mesma pessoa... e são... mas, ao mesmo tempo, são pessoas diferentes. Uma é doce, outra é ácida, outra é amarga... uma é ressentida, outra perdoa, enquanto a terceira jamais esquece. Uma é alegre, outra é inconformada, a terceira é inteiramente romântica. De vez em quando elas se encontram numa só pessoa. Principalmente na poesia. As três são poetas.  Eu adoro as três. 


RIO DA VIDA


Se a vida é como um rio

Ele passa por nós levando tudo

Tristezas, decepções e até mesmo alegrias.

Então, aproveite os momentos alegres e aprenda com as decepções.

Pois, como o rio, a vida corre e muda suas águas a cada instante.

Antonieta Shirlene

30.07.21


Diálogos entre Angel e Rochelle... com testemunhas

Continuando... é muito tricô...

Estávamos, cinco SBCenses, tomando umas e conversando num buteco na beira calçada e, como sempre, adoramos conhecer pessoas... bacanas. Primeiro passou o Tony, que é fabricante de semi joias. Tony achou que tinha na mesa um casal gay de mulheres, porque uma delas - vendo que ele tinha nas suas amostras uma tornozeleira com detalhe nas cores do reggae -  perguntou se ele faria uma com as cores do arco íris,   símbolo LGBTQIA+.  |Ele não fazia. Continuamos a conversar e, na despedida, ele disse pra uma de nós: linda, sua esposa. Rimos, porque não existia este casal na mesa. E ainda aconteceu uma piropa: "não é porque não quer, amor..." Um de nós contou que, há pouco tempo, presenciou uma cena triste: um homem hetero se ofender por causa de uma cantada de um gay. Comentamos que uma análise possível dessa "ofensa" poderia ser a falta de liberdade do homem hetero que escolher, ou seja, dizer não... ou SIM, talvez... e acontece também com as mulheres que se ofendem, no caso nossa SBCense até se sentiu lisonjeada.

Daí passou a Angel Rochelle... vendendo Halls... uma pessoa trans, simpatissíssima. Caímos no papo com ela também. E, em homenagem a ela, nós resolvemos que, daqui pra frente uma de nós se chamaria Angel e a outra Rochelle. Só de brincadeira. esse casal. Uma, na mesa, lembrou que, há algum tempo, quando de uma viagem em quatro mulheres a Guarapari, tinha um lugar bacanérrimo, música ao vivo, e muita paquera. Não sabíamos, ainda, do termo PIROPA, ele não tinha sido incorporado ao SBC naquela época. E quanto acontecia uma paquera chata, indesejável, "a gente, pra despistar, dava a mão uma pra outra e ia ao banheiro de mãozinha dada... nunca mais na semana toda o cara chegava... ainda bem...".

E, no tema piropa, nosso assunto mudou para piropas virtuais: "Gente! as pessoas estão desaprendendo a nossa língua? não tá dando pra entender as mensagens nos sites de relacionamento! Primeiro, não existe ponto de interrogação! então você não sabe se a pessoa está perguntando!. Depois, a letra D foi abolida e não me contaram? tipo: tô chegano... Outra: Vc quer que leve auguma coisa? (isso quando a piropa já estava evoluindo para um encontro...  e assim por diante... nossa língua está sendo massacrada!". Ai ocorreu a consideração de SBCense na mesa: "Gente, considerem o fato de que, no Brasil, pouquíssimas pessoas tiveram e têm acesso à educação formal. Os erros de português refletem a falta que da educação num país como o nosso. Milhões de pessoas são "educadas" de uma maneira bem rude, bem elementar. Poucas pessoas têm acesso a educação que permite a escrita, digamos, correta. A elite, na verdade. E, outra coisa, não saber escrever direito não corresponde a falta de inteligência, pois a inteligência emocional se situa para além de "escrita correta"...".

E as mulheres à mesa perceberam que precisavam pensar mais, talvez sobre o que poderia estar por trás desse "preconceito" com os homens que "não estão sabendo escrever". Pensamos que temos expectativas que possamos conversar, nós, mulheres e homens. Nós temos "tesão intelectual",  queremos, sim, conversar sobre "visão de mundo", sobre "política" na cama e no mundo. Se não dá pra fazer isso perdemos o tesão. "Como outra dia numa conversa tinderiana, o cara queria conversar mas só dizia bom dia, boa tarde, boa noite. Aí eu disse: se vc quiser conversar, abra um assunto!. Ai ele respondeu: "vc é mto inteligente!" e pronto! não conversou mais...".

E um homem na roda colocou sua percepção sobre o masculino: "Do que conheço sobre nós, pouquíssimos homens gostam de conversar. Infelizmente, ainda hoje, a maioria de nós permanece no "Cala a boca e beija". Triste..."

Daí, falamos sobre o amor: "tá vendo, ele termina o namoro e continua te mandando foto e mensagens... é porque ele ainda te ama..." . E ouvimos uma resposta certeira: "Não acredito! pra mim, o amor é uma emoção construída, amor não é isto que a gente aprende, no meu entendimento. As emoções são artefatos culturais, a gente aprende o que é amor... e o que a gente aprende sobre o amor é muito distorcido! Amor é construção, dá trabalho! Não está fora da gente, nós não sofremos o amor, nós somos ativos no amor! Ele está dentro da gente! Mas gente aprende a nos ver como passivos, como "sofrendo" o amor. Mas o amor é ativo... dá trabalho, como disse.  E pouca gente se interessa por isso!"

E o assunto se ampliou: "Um nível de consciência próximo ao senso comum não dá! Porque este nível de consciência reproduz machismos, racismos, preconceitos, dominação, exploração... tudo isso próprio de uma cultura capitalista. Precisamos conversar muuuuitooo sobre isso, de uma maneira simples, coloquial, que atinja pessoas "educadas", que saibam escrever bem mas apresentam uma visão de mundo "distorcida", "empobrecida"; e pessoas que não sabem escrever direito e também reproduzem essa visão de mundo. Precisamos compreender historicamente o mundo que vivemos, o capitalismo, e como ele afeta nossas vidas e nossas relações...". "Outro dia mesmo conversei com uma pessoa que sabe escrever direitinho! essa pessoa tem mais de 50 anos... e ela ainda acha que o comunismo vai confiscar seus bens, sua "propriedade" (leia-se "seu ap"); que comunista "come crianças"!!! (pros mais jovens, essa era uma ideia disseminada nos anos 50 e 60, pós 2a guerra, quando a "guerra fria" era o confronto EUA x URSS; hoje esse confronto é com a China... precisamos buscar mais informações sobre a China... e sobre outros países "comunistas"...  que o comunismo vai confiscar seus bens, sua "propriedade" (leia-se "seu ap")...

E uma grande SBCence na mesa tinha acabado de ver um filme sobre e assunto e compartilhou conosco: "Vocês conhecem Michael Moore? Michael Francis Moore é um documentarista e escritor norte americano, conhecido pela sua postura crítica, sobretudo em relação à violência armada da sociedade americana, às grandes corporações, às desigualdades econômicas e sociais e à hipocrisia dos políticos, tendo sido particularmente crítico a George W. Bush e à invasão do Iraque em 2003". 



Eu o conheci com o filme Tiros em Columbine, de 2002, quando ele tenta descobrir por que a busca da felicidade americana está cheia de violência,  explorando os acontecimentos que resultaram na tragédia na Columbine High School em 1999. Foi o Oscar de melhor documentário em 2003.

E,  em 2009 ele faz o filme documentário "CAPITALISMO: UMA HISTÓRIA DE AMOR",  que vimos agora, atualíssimo... Já sabemos que crises econômicas não se limitam aos aspectos financeiros, afetam a vida da maioria dos cidadãos e cidadãs... e podem despertar nxs mesmxs os questionamentos sobre o próprio sistema econômico. Moore faz uma análise do sistema capitalista neste seu filme, bem como os fundamentos econômicos que sustentam o regime capitalista e as consequências terríveis da sua expansão irrefreada. Várias cenas do filme documentário suscitam reflexões muito pertinentes a respeito da lógica do regime capitalista.





E perguntamos: o que ficou de marcante no filme para este SBCense? o que mais te afetou? 

E a resposta:

. O capitalismo é um sistema que dá e tira... tira mais do que dá;

. O capitalismo tira proveito dos infortúnios dos outros... tudo dentro da "legalidade" (isso significa que o direito está a serviço do capitalismo, ou seja, dos ricos ficarem mais ricos às custas da exploração dos pobres, que ficam cada vez mais pobres);

. O capitalismo é um sistema baseado na livre iniciativa; na motivação do lucro; e na competividade;

. Mas no capitalismo temos a "democracia", temos "liberdade" para "vender" nossa força de trabalho. Mas vender a que preço? a valores de mercado, lógico! então: liberdade para nada!...

. Quando um empreendimento é entregue à iniciativa privada, as pessoas se transformam em OBJETO (de lucro);

. Fica elucidado, no filme, como algumas empresas, no capitalismo, se beneficiam com a morte das pessoas;

. O capitalismo é injusto: vai contra o bem comum; a solidariedade, a compaixão... vai contra valores cristãos... é perverso, obsceno, imoral;

. Mas a repetição vai incutindo nas nossas cabeças que é bom, que é justo, que é desejável!

E, se esse filme nos causou impacto e reflexões, e ele foi realizado há mais de 10 anos, nós "atualizamos" com o Oscar de melhor filme deste ano, NOMADLAND, que também, no nosso entendimento, trata-se de uma denúncia importante feita a esse sistema em que nós vivemos e que, de alguma forma, nos aliena e nos faz reproduzi-lo. 

Chloé Zhao é a diretora do filme, a segunda mulher (e primeira asiática) a ganhar a categoria de direção, e Frances McDormand se tornou a primeira pessoa a ganhar o Oscar tanto como produtora quanto como atriz do mesmo filme. O filme conta a história de Fern, uma mulher de 60 anos que, após colapso econômico na sua cidade na zona rural de Nevada nos EUA, entra na sua Van e parte para a estrada, vivendo uma vida fora do "sistema" (que a explora até a "inutilidade" e depois a "joga fora", a exclui)c. E foi como uma nômade que ela encontra amigxs,  esperança e liberdade, além da solidariedade que existe nas comunidades, para além da competitividade e da individualidade reforçadas no sistema capitalista. Fica, ao final do filme, a sensação de que um modo de vida incomum, eu diria, mais humano,  foi apresentado com louvor, sem romantizá-lo ou demonizá-lo.

E, ao final do nosso encontro, fica a sensação de urgência de  mais conhecimento que nos faça criticar o mundo em que vivemos, como nós o reproduzimos através dos nossos preconceitos, racismos, machismos, misoginias, polarizações... e como a arte pode nos ajudar... outros filmes virão... livros... poemas... que nos ajudarão a criticar e nos instrumentalizar para conversarmos e caminharmos na construção de um mundo melhor, relações mais bonitas.

E, pra fechar, uma pessoa na roda apresentou post do insta que foi, mais ou menos, a síntese do nosso encontro:



Até...

SantuzaTU