sábado, 25 de novembro de 2023

Conversas SBCenses: FAÇA AMOR, NÃO FAÇA GUERRA

Make love, not war  - Faça amor, não guerra,  slogan pacifista associado com o movimento de contracultura da década de 1960. Este movimento refere-se a um fenômeno cultural  anti-establishment  que se desenvolveu primeiro nos Estados Unidos da América e no Reino Unido, e depois se espalhou por grande parte do mundo ocidental, entre o início dos anos 1960 e meados dos anos 1970, sendo o foco das atividades da contracultura. O movimento ganhou impulso agregado, junto com o movimento dos direitos civis afro-americano que continuou a crescer, e se tornaram  revolucionários com a expansão da intervenção militar do governo dos EUA ao Vietnã.

"Enquanto a década de 1960 avançava, as tensões sociais generalizadas também se desenvolveram relativas a outros assuntos, e tendiam a fluir ao longo das linhas geracionais em relação à sexualidade humana, os direitos das mulheres,  os modos tradicionais das autoridades, a experimentação com drogas psicoativas, e interpretações divergentes do 'sonho americano'."

Nossa reunião começou com esse slogan: Faça amor não faça guerra. E o SBC é geracional: temos gente desse século e gente do século passado. E praticamos o que existe de melhor no humano: crescer uns com os outros. 

E temos velhinhas e velhinhos que viveram intensamente e adoram contar essa história da segunda metade do século passado. Também adoram serem chamadas de "velhinhas(os)"... "se acham" velhinhas(os) gostosas(os)!!! - e são...

Vamos à história:

Guerra do Vietnã também conhecida como Segunda Guerra da Indochina, chamada no Vietnã de Guerra de Resistência contra a América - no caso, contra EUA, ou simplesmente Guerra Americana, foi um grande conflito armado que aconteceu no Vietnã, Laos e Camboja de 1955 até à queda de Saigon em 30 de abril de 1975. Foi oficialmente travada entre o Vietnã do Norte e o governo do Vietnã do Sul. O exército norte-vietnamita era apoiado pela União Soviética, China  e outros aliados comunistas, enquanto os sul-vietnamitas eram apoiados pelos Estados Unidos, Coreia do Sul, Austrália, Tailândia, e outras nações anticomunistas  pelo. Neste cenário, o conflito no Vietnã é descrito como uma "guerra por procuração" no auge da guerra fria.
Guerra Fria, sacam? pós segunda guerra mundial, EUA X UNIÃO SOVIÉTICA,  
Capitalismo x Comunismo... e nós aqui na América 
do Sul, "aprendendo" (através dos meios de comunicação incipientes, TV principalmente)
 que "comunistas comiam criancinhas" - e a gente, crianças ainda, morríamos de medo dos 
"comunistas". 
A Europa perdendo a hegemonia no mundo ocidental, os EUA "crescendo" no capitalismo, no "American 
Way of Live", a indústria bélica se aprumando cada vez mais. E, para isso, era necessário  
"criar guerras". 

O governo do Vietnã do Norte e os Viet Congs estavam lutando para unificar o país. Eles viam o conflito como parte de uma guerra colonial e uma continuação direta da Primeira Guerra da Indochina, contra as forças da França e depois dos Estados Unidos. Já o governo americano lutava para evitar que o Vietnã do Sul se tornasse mais uma nação comunista. Isso fazia parte da chamada "teoria do dominó" -  usada pelos Estados Unidos para justificar a sua intervenção em países que estavam sob a ameaça do comunismo durante a Guerra Fria. A teoria dizia que se um país se tornasse comunista, os seus vizinhos também se tornariam, como se fossem peças de dominó que caem uma após a outra.

Essa guerra começou em 1955, mas em 1965 se expandiu rapidamente: unidades de combate americanas começaram a chegar em peso na região,  atingindo o Laos e o Camboja, que passaram a ser intensamente bombardeados pela a partir de 1968, o mesmo ano que os comunistas lançaram a grande Ofensiva do Tet. Esta ofensiva falhou no seu objetivo de derrubar o governo sul-vietnamita e iniciar uma revolução socialista por lá, mas é considerado o ponto de virada da guerra, já que a população americana passou a questionar se uma vitória militar seria possível, com o inimigo capaz de lançar grandes ataques mesmo após anos de derramamento de sangue. 

Informações distorcidas, mentiras, fake news, já eram comuns.

 

 “Na guerra, a verdade é a primeira vítima” foi dita pelo dramaturgo grego Ésquilo cerca de 500 anos a.C.

Havia uma grande disparidade entre o que a imprensa americana e o governo falavam, com os dados apresentados por ambos geralmente contrastando. Nos Estados Unidos e no Ocidente, a partir do final dos anos 60, começou um forte sentimento de oposição à guerra como parte de um grande movimento de contracultura

No começo dos anos 70, os EUA começaram a retirar suas tropas do Vietnã. O que se seguiu, em janeiro de 1973, foi a assinatura do Acordos de Paz de Paris, porém isso não significou o fim das hostilidades.

O envolvimento militar americano direto na Guerra do Vietnã foi encerrado formalmente em 15 de agosto de 1973. Não demorou muito tempo e na primavera de 1975, os norte-vietnamitas iniciaram uma grande ofensiva para anexar o Sul de uma vez por todas. Em abril de 1975, Saigon foi conquistada pelos comunistas, marcando o fim da guerra, com o Norte e o Sul do Vietnã sendo formalmente unificados no ano seguinte. 

O custo em vidas da guerra foi extremamente alto para todos os países envolvidos.  Para os EUA, a Guerra do Vietnã resultou numa das maiores confrontações armadas em que o país já se viu envolvido, e a derrota provocou a Síndrome o Vietnã" , causando profundos reflexos na sua cultura e na arte - na música, no cinema, etc.

Nessa guerra - como em todas, ou quase todas - também houveram golpes de estado e assassinatos: Analistas políticos em Washington concluíram que o presidente (do Sul) Ngo Dinh Diem era incapaz de derrotar os comunistas e até em conseguir algum acordo com Ho Chi Minh (o comunista, o poeta...  já falamos muito dele no nosso blog, vejam post de  . Ngo parecia preocupado apenas em evitar um golpe de estado contra si e seu governo. Durante o verão de 1963, autoridades norte-americanas começaram a discutir a possibilidade de uma mudança no regime. A maior das mudanças propostas pela política norte-americana era a remoção do poder do irmão mais novo do presidente Ngo chefe da polícia secreta do país e o homem por trás da repressão contra os monges budistas do Vietnã. Como conselheiro mais poderoso de Ngo Diem, seu irmão se tornou uma figura odiada no Vietnã do Sul e sua influência contínua era inaceitável para o governo Kennedy, que acabou eventualmente concluindo que o presidente não o substituiria. Assim, a CIA entrou em contato com os comandantes militares sul-vietnamitas que planejavam depor o presidente e lhes fez saber que os Estados Unidos não se oporiam à ação. Em 1 de novembro de 1963, Diem foi deposto e executado no dia seguinte junto com seu irmão, dentro de um blindado nas ruas de Saigon, a caminho do quartel-general do exército. 


Em seguida ao golpe, o caos se instalou no  Vietnã do Sul. O país entrou num período de grande instabilidade política, com governos militares sendo substituídos uns pelos outros em rápida sucessão.  aumentou mais ainda o número de militares no país, O governo Kennedy aumentou mais ainda o número de militares no país... e dizia de todos os esforços na pacificação e em "conquistar os corações  e mentes" da população.




John Kennedy foi assassinado em 22 de novembro de 1963, três semanas após Ngo Dinh Diem. Foi substituído pelo vice-presidente Lyndon Johnson, que reafirmou o apoio norte-americano ao Vietnã do Sul e aumentou a ajuda militar ao país para US$ 500 milhões no fim do ano.



Outra coisa em que se parecem todas as guerras - como os bombardeios realizados pelos EUA no Japão em 1945, primeiro momento na história em que armas nucleares foram usadas em guerra e contra alvos civis :  apesar de proscritas pelas Convenções de Genebra armas químicas foram fartamente usadas pelos EUA, durante a Guerra do Vietnã. A mais conhecida delas foi o napalm, uma mistura de gasolina com uma resina espessa da palmeira que lhe deu o nome e que, em combustão, gera temperaturas a 1 000 °C. Se adere à pele, queima músculos e funde os ossos, além de liberar monóxido de carbono, fazendo vítimas por asfixia.

                                  Foto de   Nick Ut

Além do napalm, o exército norte-americano despejou sobre o Vietnã, desde 1961 (com a aprovação do presidente John Kennedy) até 1971, cerca de 80 milhões de litros de herbicidas. Entre eles, o mais utilizado, devido à sua terrível eficácia, foi o agente laranja, que é uma combinação de dois herbicidas: o 2,4-D e o 2,4,5-T, sendo que a síntese deste último gera um subproduto cancerígeno, a Dioxina tetraclorodibenzodioxina, considerada uma das substâncias mais perigosas do mundo.

O impacto ecológico do uso dessas armas químicas foi catastrófico para a cobertura vegetal e para a população que habitava a região. Até os dias de hoje a dioxina produzida pelo agente laranja continua biologicamente ativa. E, atualmente, as concentrações encontradas em várias regiões do Vietnã superam em 400 vezes o limiar de toxidade, conforme evidenciado pela Canada Hatfield ConsultantsA dioxina foi culpada pela alta incidência de doenças de pele, malformações genéticas, câncer, incapacidades mentais e outros problemas que afetam a população vietnamita (e ex-militares dos EUA). Milhares de crianças nasceram com problemas de pais que não foram expostos ao herbicida durante a guerra, mas que comeram alimentos contaminados por ele. A maioria das vítimas pertenciam à famílias mais pobres. Em 2005, a Associação Vietnamita do Agente Laranja moveu uma ação judicial contra as companhias químicas norte-americanas produtoras do Agente Laranja. Mas o juiz federal, Jack Weisntein, não acolheu a queixa, alegando que não havia, nos autos do processo, "nada que comprovasse que o Agente Laranja tenha causado as doenças a ele atribuídas, principalmente pela ausência de uma pesquisa em larga escala". Desse jeito... Daí perguntamos: A justiça está a serviço de quem?


E mais um pouco de história, agora a história da resistência, a reação contra a guerra e a contracultura: Uma das vertentes da contracultura foi o movimento hippie, iniciado na Califórnia, com "as crianças das flores" (flower children), quando gente jovem lançou o movimento "Paz e Amor" (Peace and Love), rejeitando o projeto da "Grande Sociedade" do presidente Lyndon Johnson. Data também dessa década de 1960 a afirmação do feminismo e o surgimento dos Panteras Negras (The Black Panthers) que, abandonando a não violência pregada por Martin Luther King Jr (assassinado em 1968), propunha o confronto aberto com a cultura racista do país.

O repúdio à guerra foi também um dos estopins da revolta que explodiu nas Cidades Universitárias, particularmente em Berkeley e na Universidade de Kent, em 1970,  onde vários jovens morreram num conflito com a Guarda Nacional. Passeatas e manifestações espalharam-se por todo o país, irradiando-se para outros continentes.

Enquanto o morticínio vitimou, massivamente, os "piolhos humanos" (assim eram chamados)  asiáticos, a opinião pública norte-americana apoiou a luta "em defesa da liberdade e da democracia". Mas quando uma quantidade cada vez maior de jovens americanos passou a retornar dentro de sacos fúnebres, a guerra foi se tornando antipática e os protestos cresceram. Ao lado disso, a divulgação de atrocidades praticadas pelos soldados americanos no Vietnã - bombardeios indiscriminados, uso de napalm e outros agentes químicos, instituição de Campos de Concentração (eufemisticamente chamados de "aldeias estratégicas") e massacre de civis, sobretudo camponeses (dentre os quais o de Mi Lay tornou-se emblemático): Assassinato em massa de civis Sul-vietnamitas desarmados por tropas dos Estados Unidos, considerado um crime de guerra dos EUA - em março de 1968 cerca de 504 civis sul-vietnamitas, sendo 182 mulheres (17 grávidas) e 173 crianças, foram executados por soldados do Exército dos EUA no maior massacre de civis cometido por tropas americanas durante a Guerra do Vietnã.


Tudo isso fez com que surgisse uma crescente rejeição à guerra, inserida no contexto maior do grande movimento da contracultura, que revolucionou a década de 1960, na maior parte do mundo ocidental.



O movimento hippie foi um comportamento coletivo de contracultura dos anos 1960.  A célebre máxima "paz e amor" (em inglês, "peace and love"), que precedeu a expressão "ban the bomb" ("proíbam a bomba"), a qual criticava o uso de armas nucleares. As questões ambientais, a prática de nudismo e a emancipação sexual eram ideias respeitadas e difundidas por estas comunidades.

O termo derivou da palavra em inglês hipster, que designava as pessoas nos Estados Unidos que se envolviam com a cultura negra, como Harry The Hipster Gibson. A eclosão do movimento foi antecedida pela chamada Geração Beat, os beatniks, uma leva de escritores e artistas que assumiram os comportamentos que viriam a ser copiados posteriormente pelos hippies. Com a palavra "beat", John Lennon, transformado em um dos principais porta-vozes pop do movimento hippie, criou o nome da sua banda -  The  Beatles

Optaram por um modo de vida comunitário, a um estilo de vida nômade e à vida em comunhão com a natureza. Negavam as guerras e abraçavam aspectos de religiões orientais como o budismo e o hinduísmo,  e o Xamanismo indígena norte-americano. Estavam em desacordo com valores tradicionais da classe média americana e das economias capitalistas. Enxergavam o patriarcalismo, o militarismo, o poder governamental, as corporações industriais, a massificação, o capitalismo, o autoritarismo  e os valores sociais tradicionais como parte de uma instituição única sem legitimidade.

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Aqui entre nós, cantávamos a versão da música italiana  C'era un ragazzo che come me amava i Beatles e i Rolling Stones, um single de Gianni Morandi, lançado em  1966. A letra em português foi escrita por Brancato Júnior, empresário da banda OS INCRÍVEIS, primeiro single da banda, lançado em julho de 1967. Em 1990 a banda Engenheiros do Hawaii regravou,  segunda faixa do disco "O Papa é POP". 


E nos perguntamos - e conversamos, nós, os velhinhos e velhinhas que viveram essa história que foi contada aqui, e os jovens que nos ouviram  com tanta atenção... e  estão|estamos vivendo, agora,  tamanha crueldade, tamanho cinismo, distorções da verdade... e tudo mais que envolveu recentemente - e ainda - a guerra Rússia x Ucrânia (leia-se EUA), e essa guerra cruel Palestina x Israel (leia-se EUA): 

- são bastante óbvias as semelhanças dessa guerra Israel x Palestina com a guerra do Vietnã, como podemos ver;

- o que aprendemos com essa breve história da segunda metade do século passado sobre guerras, imperialismo, dominação, hegemonia... essas coisas;

- como se tornará possível a emergência, como ouvimos muito atualmente, de um mundo multipolar, que poderá se opor à polarização do pós segunda guerra mundial, cujas consequências podemos avaliar como super danosas, como a corrida armamentista para a manutenção do poder, do domínio;

- como também podemos aprender com aquela|essa geração da segunda metade do século passado: sobre  visão de mundo; sobre consciência de classe, sobre luta, sobre conscientização do nosso poder, o poder das massas;

- como nos transformar de objetos - meros reprodutores do pensar, consumidos pelos sistemas de comunicação tradicionais - em sujeitos - pensantes, percebedores (e buscadores) de outras explicações e outras realidades possíveis - e sujeitos que agem - se juntam para a construção de um mundo mais justo?

Tantas perguntas... e terminamos com elas, possivelmente serão orientadoras para, talvez, nos apropriando da história, construirmos um jeito de pensar diferente do que nos é imposto...


E nossas conversas não terminam ... até a próxima...

Abraços esperançosos a todas as pessoas SBCenses









quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Conversas SBCenses: sobre ressignificações


Na semana que passou e nessa semana participamos de rodas de conversa sobre violências... Curioso ter sido logo depois de uma semana em que conversamos sobre o amor. Curioso e instigante, claro:  o que se faz - e o que se sofre - de violências, na cama e no mundo, talvez seja na mesma medida que se faz e se sofre também em todos os níveis de relação "em nome do amor". 

Ou seja, o conceito de amor que recebemos e internalizamos e reproduzimos na nossa sociedade nos parece tão distorcido! Parece que já vem carregado da naturalização da violência ... Desde as mais sutis, imperceptíveis, costumamos dizer "sutis do tamanho de uma patada de elefante", até "o direito a matar pelo simples fato dela ser mulher... E aqui já canalizamos para a violência contra a mulher... E fomos conversando nesse movimento do particular para o geral e para o particular... e assim por diante.

Pois percebemos que nossa sociedade é extremamente violenta, alimenta nas pessoas as "piores" emoções possíveis, a pior delas o desejo de exterminar o diferente... o que significa que queremos o outro(a) como NÓS queremos que ele (ela) seja... e só amamos nossos semelhantes, qualquer diferença deve ser exterminada. 

Mas voltando à reprodução desse "conceito" (de amor e de violência) nos níveis de relação pessoal e íntimo, começamos a fazer exercícios de ressignificação de algumas palavras que vem junto com o "amor":

- Você está sendo EGOISTA! ... AI... Quantas vezes ouvimos isso, principalmente pelas pessoas mais próximas, as que mais nos amam. E aprendemos o conceito de egoísmo de uma maneira super ruim, quem gosta de ser chamada de egoísta? Claro, ninguém... Dá vergonha... imediatamente a nossa autoestima vai lá embaixo, nos sentimos a pior pessoa do mundo e, ato contínuo, procuramos saber o que o outro quer de nós para sairmos do egoísmo... processo de "sairmos" de nós mesmas e nos tornar escravas, nos submeter ao que o "outro quer que eu seja"... e, enfim, reproduzir o modelo de relação aprendido, conhecido, o "dominador-dominado(a)". 

Pois bem, aprendemos a ressignificar esse conceito: olha só, quando alguém te chamar de egoísta, veja se você está no seu rumo, está "sendo quem quer ser" e o outro, não satisfeito com isso, acha a palavra certa pra te "puxar o tapete", te tirar do seu rumo. Que beleza é descobrir essa possibilidade de ressignificação. Com isso  abre-se caminho para a difícil construção de relações simétricas - sujeito-sujeito, que são as prazerosas, as que ensejam o crescimento mútuo, as boas trocas. Uma vez uma pessoa muito querida me ensinou uma "oração": "Todos aqueles que dizem me amar querem me prender... Só tu, ó Pai, que verdadeiramente me ama, me deixa livre". Me parece que esse Pai da oração não seria o Pai que aprendemos e internalizamos na religião católica, pois este é visto como um Pai punitivo, poderoso, autoritário. Porém, a oração de ajudou a "rezar" procurando um Pai - ou um Deus - dentro de mim... que me dá força para ser o que quero ser.


- Outro conceito a ser ressignificado: Você é LOUCA! (violência psicológica); ou Aquela mulher está LOUCA! (violência moral - querer te destruir para as outras pessoas, no público). Pois não seria bastante interessante ressignificarmos este conceito de LOUCA? Primeiro, do ponto de vista da pessoa que diz isso da outra, me parece que quando falta qualquer argumento pra "falar mal", destruir a outra pessoa, essa primeira pessoa inventa a fala "ela está louca"... claro, com a intenção de arrasar com a outra. Agora, do ponto de vista do recebedor - geralmente recebedora, né? - devemos criar um antídoto: o riso... e a arte: MAIS LOUCO É QUEM ME DIZ, QUE NÃO É FELIZ, EU SOU FELIZ! Vamos combinar: o mundo é louco, a normalidade dos padrões desejados nos provoca loucura e infelicidade... Então, sejamos loucas, loucos e loucas, bora sair dos padrões e construir um jeito mais bonito de ser e estar no mundo! Lembrando postagem de 1 de março de 2016: "Conversas SBCenses: o machismo nosso de cada dia", quando o SBC já conversava sobre as micro violências, alguns termos em inglês "derivados" da palavra GASLIGHT (à meia luz), título de filme de 1944 em que o marido consegue "enlouquecer" a mulher, para pegar sua grana.  Leiam o post, vale a pena...



- terceira palavra, por hoje: VACA... sim, vaca. Claro que se trata de uma violência! No entanto, fiquei sabendo de uma história sobre a vaca: trata-se de único animal que "não sabe a força que tem"; calma, pachorrenta, submissa, se essa mesma vaca se encontrar numa situação de stress como defender seu bezerro ou ser ameaçada, não tem cerca que a prenda, ela derruba qualquer cerca para se libertar ou libertar sua cria. Foi um fazendeiro que me contou. Gostei muito da metáfora MULHER-VACA. E me lembrei de musica do século passado, um grupo de humoristas Casseta e Planeta, cantava, se não me engano regravando uma música do Roger, da banda Ultraje a Rigor, ele tinha umas músicas tão interessantes - Vou invadir sua praia, A gente somos inútil - depois debandou pro machismo, entre outras atitudes "direitosas":

Mãe é mãe, paca é paca! Mãe é mãe, paca é paca! Mãe é mãe, paca é paca! Mãe é mãe, paca é paca!

Mas mulher, mulher, não!
Mulher é tudo vaca!
Mas mulher, mulher, não!
Mulher é tudo vaca!

E a letra continua falando da mulher que não se apresenta "do jeito que eu quero que ela seja", e isso me dá o direito à violência - na forma de humor:

Se você quer namorar
Ela quer ser sua amiga
Se você telefona aí é que ela nem te liga
Mas se você joga duro
Quando cruza por ela
Finge que não vê
Aí ela fica de quatro
Te beija o sapato
Quer casar com você

E tem uma mais recente, de uma cantora, que parece uma resposta a esta anterior. Mas nos dá a triste impressão de uma "cobra que morde o rabo", ou seja, uma repetição do modelo. Trata-se de JonJon O BAILE feat. A letra reforça o estereótipo das mulheres competindo entre si e "a serviço" do macho.


Por último, temos VACA PROFANA, música que Caetano fez pra Gal, primeira faixa do álbum Profana, lançado em 1984.

Respeito muito minhas lágrimas
Mas ainda mais minha risada
Inscrevo assim minhas palavras
Na voz de uma mulher sagrada
Vaca profana, põe teus cornos
Pra fora e acima da manada
Vaca profana, põe teus cornos
Pra fora e acima da man...
Ê!
Dona das divinas tetas
Derrama o leite bom na minha cara
E o leite mau na cara dos caretas
Na continuação Caetano presta uma homenagem à Espanha. Mas esses primeiros versos dizem da Gal Costa, uma mulher da segunda metade do século passado que ressignificou sua vida, que ressignificou o amor... Vejam o filme, é maravilhoso, principalmente para as mulheres dessa época, mas também podem - e devem - servir de inspiração para as mais novas. 

E a cena mais forte do filme é ela interpretando DIVINO MARAVLHOSO, em 1968, terceiro lugar no 4o Festival de MPB da TV Record. Uma força, uma potência... de VACA !
Enfim, refletimos que a violência permeia todos os níveis de relação, do íntimo ao público... o amor também... e pode ser outra "qualidade" de amor, o amor bonito, das boas trocas, difícil de construir, mas que vale a pena.
E terminamos com a produção artística da semana: uma foto, um poema:

Mais uma vez, obrigada pela inspiração querido Junior...

Abraços carinhosos a todas as pessoas que nos leem...
SantuzaTU



segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Sarau SOBRE O AMOR

 



"Palco" montado, a espera dos(as) convidados(as) ...

Vocês não imaginam o espaço gostoso que é a COMUNA CULTURAL. Só quem vai sente e confirma.

Somos recebidos pelo Café CUNCUN, um pão de queijo recheado que é a maior delícia... os chopes do SARUÊ, do pilsen (mais leve) ao ipa (mais forte), pra todos os gostos... a drinqueria ANDARILHO... e o MARIA Cozinha Brasileira, entre tantos pratos deliciosos, a LÍNGUA é de "comer de joelhos"... pra quem gosta de língua (molhadinha)... a Iza não gosta, gosta de outras coisas...

Enfim, as primeiras convidadas, queridas Rita e Mari. Rita cantou e Mari estreou numa performance de "profissa"...



Mas, antes, abrimos nosso sarau, com o tema AMOR (acho que já é o quarto sarau do SBC sobre esse tema, e são sempre ótimos) fazendo referência à teoria SBCense sobre o AMOR: pois as emoções são, também, "aprendidas" - ou internalizadas, e reproduzidas, culturalmente - e: "nossa sociedade não deseja nem alimenta pessoas que andem de cabeça erguida, pessoas livres, sujeitos"... Portanto, nós do SBC pensamos que o conceito de amor que internalizamos - em todos os níveis de relação - servem para reproduzir relações assimétricas, de dominação, de senhor-escravo. Dito isso, ufa... "ainda bem!" pois se esses conceitos são culturalmente internalizamos, podemos mudá-los! Podemos  - e devemos - nos colocar como sujeitos, não apenas objetos (reprodutores) da cultura, mas, também e fundamentalmente, como construtores - de relações mais bonitas, simétricas, de sujeitos-sujeito - e de um mundo mais bonito e mais justo. Ou seja, a submissão não faz parte da natureza feminina, tampouco o "servir"...

Nessa toada é que o SBC realizou uma "pesquisa antropológica" sobre a arte enquanto reprodutora,  como, também, a arte enquanto impulsionadora dessa construção enquanto sujeitos. Particularmente a música e a poesia REPRODUZ conceitos de amor sofrimento, amor idealização, "só sei viver se for por você", aí... detesto Djavan nessa música! ... e por aí vai...

Nossa "pesquisa antropológica" categorizou músicas e poemas:

- de lama: de falta de amor, de perda, de amor, do amor (íntimo) como única via de prazer e trocas nas relações... "Aí, como esse bem demorou a chegar, eu já nem sei se terei no olhar, tanta ternura que eu quero lhe dar" (Dolores Duran); porém, esse tipo de literatura (e de música) tem um papel interessante: a gente canta até rir da gente, daí cria-se a possibilidade de superação, de enxergarmos outras possibilidades, outros níveis de relação que são prazerosos e também dão sentido à vida;

- "PIROPA": é diferente de lama, "canta" um amor mais alegre, aliás, trata-se de importação de palavra espanhola - aprendemos com Chico Buarque - na Espanha se diz PIROPO, que pode ser cantada do tipo assédio, ou cantada "gostosa", aquela que é correspondida: "Você voltou, meu amor, alegria que me deu, quando a porta abriu, você me olhou, você sorriu, ai... você se derreteu e se atirou..." (Vinicius de Moraes, segundo Chico nosso melhor piropeiro. Ainda segundo ele, nosso melhor representante de "lama" é o Lupicínio Rodrigues. 

- A Fatinha gosta de lama, e adorou a ideia de que lama serve para caminhamos para a superação, o que chamamos de "Arte Libertadora", que a outra Iza - que gosta de língua -  também adora:

                                                             


E os prints acima são  manuscritos da nossa querida Antonieta Shirlene, que não iria mas mandou esses dois poemas libertadores, ou seja, que falam da relação simétrica, do amor entre sujeitos. 
Mas ela foi, e falou o poema de sua autoria, que tem para nós o tema AMOR E POLÍTICA (visão de mundo), pois o SBC acredita que fazemos AMOR E POLÍTICA na cama e no mundo:

Obrigada querida Antonieta...

E recebemos a honrosa visita da Carmélia, grande poeta do Vale do Jequi, que recém lançou seus livros, e foi dizer pra nós alguns poemas dos mesmos:


Por fim - só uma pequena resenha ... gente! nada como a presença e a participação presencial - o capixaba Junior Fornazi, grande fotógrafo e publicitário já SBCense, nos apresenta a grande Maria Antonieta Tatagibaprimeira poetisa Capixaba a lançar um livro. A poeta alcançou na década de 1920 um sucesso inimaginável para uma escritora.

Nascida em São Pedro de Itabapoana, Mimoso do Sul, em 1895, foi autora de produções poéticas, sob o título “Frauta Agreste” elogiado pela crítica literária, suas obras eram publicadas em jornais e revistas do Espírito Santo e também do Rio de Janeiro. 
Com a morte do pai ela teve que assumir as responsabilidades financeiras da família, fazendo com que desistisse de seguir carreira na medicina, sua vontade inicial, voltando-se às letras e ao magistério. Seu nome consta no quadro de “Honra ao Mérito - Intelectualidade Feminina Espírito-Santense” publicado na revista “Vida Capixaba” em 1928.
Maria Antonieta, morreu aos 31 anos de idade em 13 de março de 1928, vítima de tuberculose. O corpo de Antonieta foi sepultado em São Pedro do Itabapoana.
 

Do querido Junior Fornazi, uma foto muito bacana minha, dizendo um poema da Maria Antonieta:

MORRER MOÇA


“Os amados dos deuses morrem novos” – Byron

Que bom morrer quando se é moça e amada!
Indiferente, forte,
Triunfar de quimeras enganosas
E ir dormir entre rosas
Frias rosas na face macerada
O alvo Sonho da Morte!
Morrer quando se é moça é dita imensa
Às eleitas cabida…
A ventura é perfume que se evola
E quase não consola…
Tão ligeira, tão leve, não compensa
Os espinhos da vida.
Morrer moça é morrer quando se deve!
É ser no último arranco

Da alma que foge, um lindo sol de estio E, bem longe, o sombrio
Espetro da velhice a triste neva
Sobre o cabelo branco.
Morrer moça… É assim que vou morrer!
É a boca que, fremente,
Beijaste em horas de Paixão e Sonho
Num túmulo tristonho
Breve irá se ocultar no florescer
Do verão mais fulgente.

E terminamos com lindo poema, que fala sobre o amor entre sujeitos, os "bons encontros", de Gibran Kalil Gibran, poeta Libanês... Líbano, país do Médio Oriente que faz fronteira com Israel. Convidando a conhecermos mais sobre essa região, sua cultura e seu modo de vida:

O SBC agradece à COMUNA CULTURAL, e a presença de todos e todas...




Até nosso próximo sarau, provavelmente ainda em novembro.