sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Sobre Diários: do Ho Chi Minh e do SBC

«Quando Ho Chi Minh saiu da prisão e lhe perguntaram como conseguiu escrever versos tão cheios de ternura numa prisão tão desumana ele respondeu: «Eu desvalorizei as paredes».


Ho Chi Minh (1890 a 1969), seu nome significa “aquele que ilumina”, pode ser considerado um dos mais importantes comunistas da história contemporânea. Sua dedicação à libertação do Vietnã das garras imperialistas e sua lucides revolucionária guiaram o povo vietnamita à vitória contra os Estados Unidos. Seus ensinamentos singelos servem, ainda hoje, para os princípios básicos de boa convivência e gentileza com o próximo. Frases como “não estrague a terra ou as colheitas”, “faça os camponeses se sentirem livres” e “mantenha a palavra” são super atuais. 
Li seus dois livros “Diário de Prisão” e Poemas do Cárcere”. São pequenas poesias do tipo haikai, escritos na prisão, dizem que ele ganhou a guerra desse lugar, escrevendo para seus soldados mensagens de otimismo e amor à vida... grandes ensinamentos, como já disse. Mas me lembro de uma delas, não da poesia, mas da ideia: é justamente quando quero muito alguma coisa que preciso andar bem devagarinho... pra dar certo o que eu quero.
E foi essa ideia e a sua imagem que encheram minha alma nesta última quinzena de dezembro: eu estava muito fissurada pra lançar nosso livro “Diário do SBC”  os amigos SBCenses me perguntando sobre, eu cobrando da nossa linda diagramadora (Natasha, fotógrafa, artista e atualmente grande SBCense, da diretoria, parceira de vida e de trabalho do Alessandro, eles tem um cachorrinho que se chama Samba, falta o Bobagem e a Cerveja... rsrsrs... não podia perder a piada), a Editora me cobrando... aí estávamos (Natasha e eu)  no último dia proposto pela Editora como prazo máximo para mandarmos o material para que ela entregasse no dia 15... aí respiramos fundo... e ela me disse: se você quiser acabo hoje e te mando... mas... quem sabe a gente faz com calma e deixa pra janeiro¿
Pronto... Resolvido... deixamos para final de janeiro princípio de fevereiro... aí passaremos todo o ano de 2017 fazendo lançamentos e divulgações do “Diário do SBC”... por que... Gente!!! Tá lindo!!! Vocês vão adorar... quem conhece o SBC e nossa trajetória, nossa construção enquanto grupo e enquanto “conceito” de bem viver... e quem ainda não conhece esse grupo bacana demais... vai entender porque falamos com tanto entusiasmo do SBC e, claro, vai se incluir no grupo.
Enfim... tenham um pouquinho de paciência... O SBC deseja uma ótima passagem de ano ...no possível:
desvalorizem as paredes!!!
E guardem um dinheirinho para comprar alguns exemplares do nosso livro... um pra você e outros pra você dar de presentes para seus amigos, ok¿

Abraços carinhosos a todxs...

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Encontro SBCense: de enquete sobre o SBC até as conversas filosóficas de sempre

Diante da pergunta: Desculpem minha ignorância, mas o que é SBCense? Logo respondida pelo nosso grande Diretor musical Carlitos Brasil : Pessoa que se identifica com o SBC.

E o que é SBC? Ai ele resolveu fazer a seguinte enquete:
O que significa SBC?
Samba Bobagem e Cerveja
Suor,batuque e cerveja
Sistema Brasileiro de Carnaval
Somos Bons Camaradas!
sonhos brincadeiras e carnaval
Sofá Bebida e Churrasco
Suco Bolo e Café

  • E ainda apareceu esta lá no dia do encontro:
  • Sabão Bão pra Cachorro... que quase ganhou!!! quase tivemos que mudar !!! 
Mas, enfim... ganhou SAMBA BOBAGEM CERVEJA ...  e mantivemos nosso nome original.

OK... o SBC é um grupo:

1. aberto (por isso vc, que ainda não conhece o SBC, está sendo convidado)...
2. inclusivo... vc está sendo incluído num grupo de amigos...
3. anárquico... neste grupo todo mundo é da diretoria... ninguém corre o risco de ser impichado... só se vc quiser vc sai...
4. democrático... ixi... ainda precisamos mto aprender sobre isso......
5. ecológico... 
6. feminista... sim, sim...
Temos um bloco de carnaval, um blog (sbccoletivo.blogspot.com) onde escrevemos os casos, as conversas sbcenses... são preciosas...e fazemos (tentamos) projetos sócio culturais... mas o principal objetivo de nos reunirmos é conhecer pessoas, fazer amigxs...

Enfim... o SBC vem a ser um conceito de vida, uma filosofia, ou melhor... um estilo de vida...
Venha, então, conversar mais sobre isso... pois não está pronto... está sempre em construção... como tudo no humano...

Nossa bateria brilhou... super brilhou!!! comandada pela exigente, primorosa, "sangue no olho" prá ficar do melhor jeito possível... e LINDA!!!   S O L !!!!!   a mais linda comandante de bateria do Brasil!!!


Esta aí bem no centro... Grande SOL!!!

O cara tava tocando agôgô do lado dela (desafinado, lógico... no SBC tem muita gente assim... por isso vai pro SBC...) aí ela só deu uma olhada 024 prá ele e o mesmo saiu de fininho e veio chorar comigo: vou precisar de uns dois anos de terapia por causa desse olhar de repressão!!! vai não querido!!! trata-se de um olhar de aperfeiçoamento! não deixe de continuar tentando... 

Lembrei do caso da mãe que dizia pro filho: vai lavar louça! vai limpar o chão! seu pinto não vai cair por isso não!!! e esse cara agora é marido de uma grande amiga... um super marido, um homem bacana... que, em muito, superou e continua superando o machismo naturalizado...enraizado na nossa cultura...


E tem o caso da pessoa que perguntou prá outra: você bebe todo dia!?!? e recebeu a resposta SBCenses: NÃO!!! só bebo a noite!!! de dia eu trabalho!!! kkkkk... é muito boa...

E tem o outro caso da pessoa que só bebe meio copo!!! sim, durante todo o evento ela só bebe meio copo!!! Ow dó... e ela mesma diz que trata-se de um mecanismo de auto engano que dá certo (às vezes, quando não são muitos meios copos)... no que ela recebe a esplêndida reflexão SBCense: querida! não se preocupe... você está enganando somente a você mesma... e a que bebe só meio copo está até agora filosofando sobre isso: sim... enganar a si mesma... e até saber disso... a gente sabe, no fundo... não causa mal a ninguém, a não ser a mim mesma... e às vezes nem isso... precisamos de um pouco de auto engano para viver mais levemente... rir... até (ou só...) da gente mesmx... com certeza!!! a vida não é prá ser levada muito a sério... 

O ruim... muito ruim... e enganar o outro... e a si mesmx e ao outrx... sim, já conversamos sobre isso no SBC, trata-se de uma das formas de auto-engano e enganar o outrx: e demos um nome a isso: síndrome de RR... isso acontece, geralmente, com pessoas que tem como características uma certa arrogância e uma resistência em admitir problemas, quase uma desumanização de si mesma e do outro, então ela não se vê... e isso tem como consequência uma distorção, um distanciamento entre o discurso e a ação... a pessoa tem um discurso perfeito, politicamente corretíssimo, inserido, de esquerda, de atenção para as questões sociais... e tudo mais... e, na prática, nas relações, de repente a pessoa se mostra extremamente preconceituosa, racista, e por aí vai... e o triste é que ela não vê isso... e também não vê o mal que causa ao outrx... e a si mesma... ela sofre e faz sofrer o outrx com esse jeito de ser... essa contradição entre a teoria e a prática... 

E atenção a isto: quando falamos dessa síndrome falamos de todxs nós, somos todxs susceptíveis... é muito bom prestar atenção... ver quando isso acontece com a gente e fazer o corte e o reencaminhamento para a sintonia... na cultura oriental existe a busca constante da PERÍCIA... que é mais que competência... significa não existir a distância de um fio de cabelo entre o que eu penso, sinto e ajo ou pratico... nos sabendo humanxs, nossa busca da perícia deve ser prá vida toda... e essa busca nos faz seres humanos melhores...

E, na mesma linha, a pessoa sofrendo por não conseguir dizer à outra: olha, era tudo que eu queria que me acontecesse, um "bom encontro" no sentido emocional, melhor dizendo, afetivo-sexual... uma pessoa que eu sinta que se envolveu e eu também tenha me envolvido com ela... e aí isso acontece, mas não de uma forma inteira, tá faltando uma coisa essencial, a química... a vontade... e a pessoa até tenta... mas não consegue e não consegue dizer à outra... e isso causa muita angustia...

Só podemos torcer para que as coisas caminhem, que você consiga ser clarx sem machucar, mas que você tem que topar correr o risco, haaa... isso tem... 

Abraços carinhosos a todxs, até a próxima...

Santuza TU


sábado, 27 de agosto de 2016

conversas sbcenses: quando me deixo ser afetadx vou transformando minha vida

Nos nossos riquíssimos encontros aprendemos tanta coisa boa prá vida!
Uma delas é rir... rir desoxida talentos... outra é fazer pesquisas antropológicas... já sabem de que se trata? No SBC não fazemos fofoca, somos contra... fazemos boas pesquisas antropológicas... rsrs

Mas hoje quero falar do exercício de compartilhar coisas que "mudam a vida", por exemplo, a musica da minha vida, o filme da minha vida, o livro da minha vida... e assim por diante.

Então, tenho a compartilhar "a metáfora da minha vida": ouvi do nossa grande educador Rubem Alves, ele disse: essa estória não é minha, meu é só o jeito de contar... e eu também começo assim, já com o meu jeito de contar... não dizem que "quem conta um conto aumenta um ponto"? pois é... cada vez que conto essa metáfora acrescento uma coisa diferente, até personagem (a do médico...) já acrescentei... isso porque cada vez que conto recebo também referências para novas reflexões TAP (conto mais tarde o que é isso...) ... e assim vamos exercitando a arte relacional que é crescer com a troca... crescer com as reflexões do outro, assim como oferecer ao outro as minhas reflexões.

Vamos à metáfora: não se sabe porque... se um acidente, uma experiência científica... não sabemos os antecedentes... o fato é que a estória começa com o ovo de uma águia indo parar num galinheiro... junto com os ovos de uma galinha... a galinha veio, sentou em cima dos ovos, chocou... e nasceram alguns pintinhos... e a águia... a galinha nem percebeu e começou a criar seus pintinhos... e a águia foi crescendo no galinheiro... e foi aprendendo o jeito de ser de galinha... aprendeu a dormir em poleiro, comer milho, cacarejar... e foi crescendo... águia adolescente... super complexada... o bico foi ficando torto, as pernas grandes demais... estava tão complexada que resolveu ir num médico... no galinheiro só tinha medico do SUS (não os cubanos... e também não generalizando)... 3 minutos de consulta... sabe o profissional que vê parte e não vê todo? o médico que vê o braço e não vê a pessoa, o engenheiro que vê a arvore e não vê a floresta... pois é... este nem olhou para a águia esquecida... já foi dando um monte de pedido de exames... volte quando estiverem todos em mãos... a pobre águia esquecida saiu pior do que entrou... mas foi fazer todos os exames, pois queria saber o que ela tinha! pois ela acreditava que estava com uma perturbação hormonal ou coisa parecida... tudo que ela queria era que o cocô dela tivesse o cheiro certo de cocô de galinha, até isso ela achava que estava errado (segundo o Rubem Alves, que me contou essa parte da estória).
Pois bem... uma semana depois a águia esquecida voltou e apresentou ao médico todos os exames... novamente ele só olhou os exames... e disse: trata-se de uma doença rara: acromegalia... tudo grande demais... é não tem solução... o jeito é você ir se acostumando... e só... Ô dó!!! a pobre águia esquecida saiu ainda pior... mas fazia um grande esforço para se adaptar, afinal tinha alma de galinha...
Um dia apareceu no galinheiro um alpinista... uma pessoa que conhecia os lugares mais altos do mundo e o voo orgulhoso das águias... e então aconteceu o seguinte diálogo inusitado:
- o que você está fazendo aqui?
- como assim!!! eu nasci aqui... sou uma galinha!!!
- que isso!!! você não é uma galinha!!! é uma águia!!!
- de jeito nenhum!!! sou uma galinha!!! durmo no poleiro, como milho, cacarejo...
- Não!!! você é uma águia! eu conheço águias!!! você é o pássaro que voa mais bonito no mundo!!!
- De jeito nenhum!!! nem voar eu sei!!! na verdade nem quero... a altura me dá vertigem... é mais seguro ir andando, passo a passo...
E não houve argumento que mudasse a cabeça da águia esquecida...
Então o alpinista, vendo aquela coisa triste (nada contra galinhas...mas um ser transformado em outro ser...) ficou pensando o que ele poderia fazer para ajuda-la, para que ela se descobrisse. E teve uma ideia radical... e resolveu colocar sua ideia em prática imediatamente... agarrou a águia e enfiou a mesma num saco e "roubou" a águia do galinheiro... e já começou a escalar a montanha mais alta que ele conhecia... com o saco nas costas... subiu... subiu... subiu... chegou no pico mais alto da montanha... sentou, descansou... segunda metade do plano... abriu o saco... a águia cacarejava de pavor... mas ele não teve compaixão... chegou na beira do precipício e jogou a águia no vazio do abismo.
E foi então que uma coisa muito esplêndida aconteceu: a águia começou a cair... a princípio em pânico, batendo as asas de maneira totalmente descompassada... ela não sabia que sabia voar... pouco a pouca, ainda na queda, como se memórias morassem em seu corpo, as asas foram adquirindo estabilidade... e, em vez de esparrachar lá no chão ela fez um rasante...como se memórias morassem no seu corpo...  ela voou... esplendidamente...
Foi seu primeiro voo... e ela descobriu que seu nome não era galinha... era águia... e descobriu aquele espaço enorme que lhe tinha sido roubado... e encontrou outras águias que voaram junto com ela lá no céu...
E o alpinista ficou ali vendo essa cena... um ser se descobrindo... e se sentindo feliz de ter contribuído prá isso...


Agora o TAP: começando por Goethe: de resto abomino tudo que me inspira sem me impulsionar diretamente para a ação... Isto significa que qualquer coisa que já existe (um filme, um livro, uma música, uma metáfora) é o resultado de um processo do autor... e só vai me servir de pretexto (ou pré-texto) eu sou sujeito do conhecimento, eu construo minhas teorias, minhas metáforas e tudo que passa por dentro de mim, pelos meus afetos, me provoca reflexão e alguma mudança de ação em qualquer nível de relação (íntimo, pessoal, social e/ou público)... explicando melhor: o movimento para uma transformação na vida e a produção de conhecimento vivo é este: TAP - AT - AP e assim a vida toda... teoria é tudo que já existe pronto que foi o processo de reflexão de alguém... mas essa teoria só vai me servir, mudar minha vida, se eu fizer o exercício de AFETO, de ser afetadx pela teoria, a mesma passar por dentro de mim e me provocar reflexões... aí eu me proponho a mudar alguma ação, alguma prática de vida (em qualquer nível de relação)... e quando eu vejo isso, a minha prática transformada... isso passa de novo pelos meus afetos e eu faço novas teorias, ou seja, eu conto aquela estória já com o meu olhar... e assim vai... TAP - AT - AP... é um movimento para a vida toda.

Então... não é a estória que muda a vida... é o movimento... é se deixar afetar... quantas vezes a gente fica super sensibilizada com um filme, por exemplo... e três dias depois já esqueceu... não mudou nada na vida... ou seja, não apropriou... não fez o TAP... não cresceu...

E eu conto como a estória da águia me mudou... e que ferramentas eu usei para isso. A primeira delas:  abrir perguntas: o que essa estória me diz?... como eu me vejo? ... entre outras...
Depois eu criei uma escala invisível para fazer uma auto avaliação diária: de 0 a 10, em cada nível de relação, que nota eu me dava a cada dia, sendo que 0 seria o estado de "engalinhada" e 10 o estado "águia"... e o que eu poderia fazer para melhorar minha nota... a cada dia... de preferência naquele dia mesmo...

E, prá mim, a vida ... sempre... todo dia... é um caminhar para o estado de águia, me descobrir águia, construir relações com outras águias... assim como construir um mundo de águias... mais bonito... mais autêntico, no definição de autenticidade que vi num filme do Almodóvar: "autenticidade é quanto mais você se aproxima daquilo que sonhou prá você mesmx"... dá trabalho... mas VALE A PENA...



Abraços carinhosos...

Santuza TU

domingo, 7 de agosto de 2016

Macarrão SBCense: política, narcisismo e outros casos


Nosso macarrão de sábado dia 30.julho.2016. Banquete Suiá: um antropólogo (não me lembro o nome – a brincadeira sbcense é, quando não lembramos, dizer “pergunta o nome para o Luiz... sabe tudo!!!”... mentira... ele é pior do que eu, não lembra nada... rsrs) conta sobre a sua pesquisa numa tribo Suiá. Nas duas primeiras semanas ele quase morreu de fome até descobrir o conceito Suiá de banquete: havia uma mesa enorme cheia de coisas gostosas, mas participava do banquete quem compartilhava alguma coisa na mesa, aí podia comer de tudo... não fazendo isso a pessoa só recebia uma ração mínima...


Engraçado o banquete Suiá SBCense: eu compartilhei oito latonas de cerva... e o macarrão... no outro dia abri minha geladeira e tinham 12 latonas de cerva!!!!! Rsrsrs.

Bem... o primeiro tema, como não poderia deixar de ser: política...

- Política é um conceito muito amplo e não podemos entendê-la apenas como política partidária. A política está em todos os níveis de relação...

- Política feminina: Ora... tem que ser no mundo prá ser na cama... sejamos sujeitxs no mundo!!!

- Política no Brasil: não estamos isolados do resto do mundo... vamos olhar um pouco mais amplamente para entender o que está acontecendo aqui conosco: o capitalismo passa por um retrocesso conservador, olha a França, por exemplo... olha os EUA, tem base esse candidato a presidente por lá¿ é um absurdo!!!

- Uma coisa boa que está acontecendo por aqui é, diante do estado de perplexidade de algumas pessoas, o movimento para a busca de um conhecimento mais amplo para tentar compreender e tomar partido. Isso é ótimo, conheço muitas pessoas fazendo esse movimento...

- Agora, o que de ruim está acontecendo: o facismo... tanto de pessoas que se colocam na “direita” quanto daqueles que se dizem de “esquerda”... em vez de aumentarmos o diálogo, aparece a agressão, a falta de empatia, de educação mesmo.

- Caracteristicas do facismo, entre outras (além do fanatismo e do radicalismo empobrecido):

Ataque ao espírito crítico; medo da diferença, racismo e ataque à diversidade; não há luta pela vida,  mas a vida é vivida pela luta; desprezo pelos mais fracos; levado pelo heroísmo e pela guerra, o facismo universal reforça o sentimento machista; populismo seletivo, dando a impressão de que o povo tem voz, enquanto é governado com mão de ferro; “novilíngua”: empobrecimento do vocabulário e da sintaxe para limitar o pensamento e se fechar em “verdades” (ou está comigo ou está contra mim...).

- Citado o livro “Como Conversar com um Fascista” - da Marcia Tiburi:  “ela propõe várias coisas para enfrentarmos esse contexto político hipócrita, fascista, misógino, racista, midiático. ... diz que só com diálogo poderemos mudar esse analfabetismo político de nosso país. Sei que tem gente que vai responder que não adianta conversar com os fascistas, mas tudo nessa vida tem que ser enfrentado, até mesmo, e talvez principalmente o fascismo, o patriarcado, o machismo, a cultura do estupro que aliás tem contado com avanços importantes. Com a atuação forte do feminismo houve alteração recente no conceito de estupro, agora a intenção sexual já é considerada estupro. As feministas estão comemorando esse grande passo e eu como atualmente declarada feminista também. Viva os passos importantes de formiga, pois ainda vivemos na barbárie”.

- Continuando o enfrentamento: Três noções são básicas para a compreensão de uma relação dialógica: amigo, adversário, inimigo. Amigo considerado aqui aquele que está a meu lado e a quem consinto o “não”; adversário, o que se opõe e diverge da maneira como estou percebendo e enfrentando a realidade; e inimigo, o que quer minha submissão a ele e não à realidade, demolindo-me como alteridade.

“A condição para uma relação dialógica é que ela se exerça entre homens livres, portadores, portanto, de autonomia reflexiva. O objetivo da relação é a busca da realidade. Por isso mesmo, quando não há concordância entre as ideias defendidas e a realidade, essas pessoas são capazes de se tornarem adversárias, comprometendo-se a fazer aparecer as divergências e a exigir oposições. A relação dialógica é aquela que consente a presença do outro como diverso e rompe a noção de unidade, enquanto coesão coerente entre pessoas, para concebê-la como pluralidade que converge em interesses e objetivos comuns - os fundamentos da cooperação.

Entretanto, o que temos observado cotidianamente no Brasil é a confusão de identidades entre adversário e inimigo. Essa transformação da relação dialógica em apenas dois polos, que se comportam em contraposição antagônica e exclusiva, resulta em nova identidade para os elementos. O amigo torna-se aquele que se encontra incondicionalmente a meu lado e sempre me diz “sim”, passando a ser, portanto, meu escravo; o adversário, aquele que está apenas numa posição contrária à minha, passa a ser imediatamente o inimigo, a encarnação do mal.

Nas concepções tanto de amigo - cúmplice quanto de amigo - contato, amigo - fã, não se distingue adversário de inimigo. Em qualquer grupo humano em que adversário é confundido com inimigo este assume o papel de bode expiatório e de portador do mal, contra o qual o grupo luta. O mal passa a ter, então, o sentido de tudo aquilo que não acordo com os interesses do grupo. Essa ambiguidade da noção de adversário mostra que nossa concepção de mundo proíbe divergência e oposição, que acabam sendo interpretadas como sinais de perigo e de destruição de nossa identidade.”

- E, concluindo nosso primeiro assunto: publicado no facebook pelo presidente da rádio inconfidência Flavio Henrique: “desejo indignação sempre, resignação jamais. É necessário lembrarmos todas as manhãs que precisamos lutar diariamente, com ternura e fibra, para restabelecer a ordem democrática, combater a desinformação, alienação e o ódio, cultivando o diálogo, o respeito, a arte, a cultura e principalmente o amor.”  Este é o espírito SBCense que se transforma em prática de vida, todos os dias e em todos os níveis de relação, do íntimo ao público, passando pelas relações de amizades, trabalho, família...


........................................................................................................................................



Segundo tema: conversas tinderianas...

- Sim!!! O SBC conversa com o Tinder!!! Tem até casal formado no Tinder!!! Não me perguntam qual, mas tem...

- Mas tem também muita reclamação: a maior delas diz respeito à falta de conversa... parece que o povo não sabe mais conversar!!! Do tipo: oi linda, tudo bem¿ bem... e vc¿ bem... é casada¿ ........... prá que vc quer saber isso AGORA¿!¿!¿.... vai querer casar comigo¿¿¿¿¿¿¿¿

Outras... as mais comuns: mora onde¿ gente!!! Lá no Tinder tá dizendo os kms que nos separam... prá que o cara pergunta mora onde¿ ele vai vir na minha casa¿¿¿¿¿

O que vc procura no Tinder¿ .......¿¿¿¿¿¿¿ heim¿ deveria procurar transar sem nem saber quem é a pessoa¿ ... como diz a Rita: gosto de abraçar pessoas, fazer amigos... conversar... kkkkkk

E por aí vai... poucas pessoas conseguem desenvolver uma conversa....

Agora, esta abaixo ganhou de todas... muito boa!!!

.............................................................................................................................................


O moderno e a tradição no SBC


..........................................................................................................................................



Terceiro tema: narcisismo, vaidade, auto estima

Narciso era um jovem dotado de uma beleza singular. No dia de seu nascimento, o adivinho Tirésias vaticinou que Narciso teria vida longa desde que jamais contemplasse a própria figura. Com a sua beleza atraio o desejo de muitas ninfas, entre elas Eco, a qual foi repelida. Desesperada, esta ficou doente e pediu a Deusa Némesis que a vingasse.
Narciso, durante uma caçada, fez uma pausa junto a uma fonte de águas claras. Olhando-as, viu-se refletido nas águas e supôs estar a ver outro ser. Paralisado, nunca mais consegui desviar os olhos daquele rosto que era o seu. Apaixonado por si próprio, Narciso mergulhou os braços na água para abraçar aquela imagem que não parava de se esquivar. Torturado por esse desejo impossível, chorou e acabou por entender que era ele mesmo o objeto do seu amor. Ficou a contemplar a sua imagem até morrer. A flor conhecida pelo nome de Narciso nasceu, então, no lugar onde morrera.







Na tradição grega, o termo narcisismo designa o amor de um indivíduo por si mesmo, por sua própria imagem. “Me amo tal como sou ou sou tal como me amo¿”

Já o amor próprio é o amor que as pessoas têm por si mesmas. É um grande tema da psicologia e da psicanálise. Para ter amor próprio, não significa que a pessoa devam ter sempre seus desejos satisfeitos, ser egoísta ou  pisar nos outros. O amor próprio faz com que as pessoas ajam positivamente, procurem evitar pensar no passado, quando há tristezas ou mágoas, que procurem sempre lembrar que foi mais uma experiência para poder evoluir, procurando tirar proveito daqueles acontecimentos.

Quem se ama de verdade, procura possuir controle emocional, procura compreender as pessoas, estar sempre, ou a maior parte do tempo, de bem com a vida e esquecer a opinião alheia, não guarda raiva, rancor, está sempre disposto a perdoar e ter coragem, confiança e segurança para recomeçar.




Já a VAIDADE: Característica daquilo que é vão; que não possui conteúdo e se baseia numa aparência falsa, mentirosa.
Excesso de valor dado à própria aparência, aos atributos físicos ou intelectuais, caracterizado pela esperança de reconhecimento e/ou admiração de outras pessoas.

Quando a auto estima se transforma em vaidade ou em narcisismo e passa a fazem mal à pessoa e ao seu redor¿ ... Quando o narcisismo “ao ponto” significa amor próprio e faz bem à pessoa e ao seu redor¿ ... muito semelhantes e ao mesmo tempo muito diferentes os conceitos. Talvez a distinção esteja no auto conhecimento, na atitude de humildade e no encaminhamento da vida e das relações para o sentido estético, o sentido do belo, do bom (prá mim mesmx e para ao meu redor...)

...............................................................................................................................

E, por último... que eu me lembre... aliás, esse caso foi posterior ao encontro do macarrão... mas eu achei muito divertido... muito SBCense.

- Pode-se dizer de uma ótima estratégia para chamar a atenção de uma amiga ou um amigo de uma maneira divertida, tipo: Minha avó viveu até os 95 anos... mas ela só cuidava da própria vida... rsrsrs... entenderam¿ nesse caso quando a pessoa está muito fofoqueira... mas é aplicável a TUDO... ou quase:

- Minha avó morreu com 95 anos... mas ela não ficava reclamando da vida...

- Minha avó viveu muito... até os 95 anos... e durante toda a vida ... o que você quiser para brincar com a pessoa que fica monotemática... falando de uma coisa só até enjoar... rsrs

.................................................................................................................................................

E, por último, também não do macarrão... ouvi ontem... e passo prá frente um verbo novo que tem tudo a ver com o que estamos vivendo: ESPERANÇAR... grande Paulo Freire!!! obrigada!!!


Esperar é deixar que os outros resolvam, que o problema se resolva por si só ou o pior de tudo, se anestesiar e deixar que a situação fique cada vez pior por falta de atitude. Já esperançar é agir, é fazer a sua parte, é ser responsável, é dar o melhor de si, é ser um agente transformador da sociedade, é ter um perfil de liderança e correr atrás da realização de muitos sonhos de futuro.


Abraços carinhosos...

TU




terça-feira, 28 de junho de 2016

Conversas SBCenses: das dificuldades da vida a dois

Conversas SBCenses entre casais: dificílimo tentarmos compreender - sermxs empáticxs - com o sexo oposto e, ao mesmo tempo, superar tais dificuldades a fim de construirmos uma relação mais justa, mais harmoniosa...

. Nossa gente! eu ainda sou do tempo que se falava: meu marido é muito legal... ele até AJUDA em casa!!!

. Querida! isso não tem muito tempo não! prá falar a verdade, essa ideia ainda existe, e muito, entre os casais. A história não é linear. Falávamos que o "meu marido ajuda muito em casa" no tempo em que estávamos saindo do lugar de "belas, recatadas e do lar", procurando entrar no mercado de trabalho, ganhar o mesmo que "o meu marido"... e esse movimento vinha com o que uma amiga me dizia: o quarto turno era "estupro"... explico: turno cuidar da casa, turno cuidar das crianças, turno trabalho... voltar prá casa, repetir primeiro e segundo turno... e aí vinha o marido - que tinha trabalhado e... descansado - querendo sexo!!! - este seria o quarto turno...

. Isso... o modelo anterior era o dos papéis bem definidos: marido provedor; mulher dona de casa, mãe... e esposa. Superamos este modelo, nós mulheres, fomos à luta, nos equiparamos com os homens no que diz respeito à grana... mas os papéis... não foram redistribuídos! e isso pesa muito na relação... prá nós e prá eles...

. Mas porque? onde está o nó? isso é muito triste! não consigo viver assim! eu gosto muito dele, mas nossa relação está desgastada! Tenho muita raiva... e não consigo ver uma saída!

. Olha... eu vejo alguma coisa que quero mostrar a nós, mulheres e homens... porque precisamos ver as duas partes que nos cabem de "responder por..." nesse conflito: 

Primeiro veja nossa parte, das mulheres: gente!!! mas estão muuuiiiito enraizadas algumas características femininas, que são culturais... mas parece que estão gravadas a ferro e fogo no nosso espírito! e precisamos ver... não negar... para superar... pois se queremos a participação deles! quais sejam: nosso perfeccionismo, nosso nível de exigência, nosso "querer que as coisas dentro de casa estejam do NOSSO jeito"; enfim, querer que o outro seja "do jeito que eu quero" e não do jeito que ele é... e sabem porque estão tão enraizadas tais características? justamente para que continuemos com o nosso "domínio", o do lar... como ao mesmo tempo queremos o compartilhamento sem abrir mão do nosso domínio? e não era este o nosso papel? Pois é... mas assim não tem jeito, cria-se um impedimento invisível do tamanho de uma patada de elefante... olha só: e estou dizendo isso sem nenhuma atribuição de "culpa" a nós por este estado de coisas, pelo contrário, somos nós que topamos romper com aqueles padrões... e topamos porque eles nos escravizavam "numa gaiola de ouro" como me disse uma vez uma SBCense que não está aqui agora...

. Agora segundo né: a "responsa" MASCULINA... abre o ouvido e o coração para receber a fala deste SBCense que se diz "machista em desconstrução": gente!!! preciso muuuiiiito da paciência e compreensão de vocês... e também da "cobrança", tenham paciência... um pouquinho a mais vira tolerância e não sairemos do lugar... ou melhor... chegaremos no ponto do rompimento... pois é isso que percebo quando penso sobre essa questão... e fico muito triste... parece uma coisa tal que ambos sofremos e fazemos sofrer o outro com o nosso jeito de ser... quero muito ver a minha parte e me fortalecer para romper com este "circulo vicioso"... mas... pensando na cultura masculina... vejo como primeira característica nossa a ACOMODAÇÃO... pois historicamente estávamos numa posição "confortável" não é? e vejo também uma tentativa, um esforço para quebrar esse "domínio do lar" de vocês... acho que esse esforço está sendo pequeno e mal sucedido, o que reforça o nosso "retorno ao estado inicial de acomodação"... olha que merda!!!

. Queridxs!!! vocês podem não acreditar mas eu fico muuuuiiiito feliz com essa conversa!!! até a pouco tempo nem conversávamos sobre isso! conheço casos de separação de casais em que, se não foi este o motivo, era o pano de fundo... tem um caso emblemático de uma amiga que conta: estávamos nesse processo de divisão de tarefas e ele parecia convicto da importância disso... aí eu disse: precisamos trocar o chuveiro e dedetizar, o que você prefere fazer? o chuveiro, disse ele... então eu cuidei da dedetização... passa um mês, dois... no terceiro mês fui "cobrar" dele o combinado... sabe o que ele me disse: eu concordei mas não pensei em fazer... você é muito autoritária! HEEEIIIMMM... foi aí que pensei sobre o autoritarismo do submisso, aquele que finge que concorda mas não internaliza... não tem uma proposta de mudança... "finge" que está indo mas não vai... fica na sua posição cômoda... isso é o pior... e é o caso dos homens... claro... as mulheres desejam mudança e os homens resistem... 

. Este estado de coisas deve mudar: os homens precisam perceber "vantagens" na mudança... a principal: relações afetivo/sexuais mais livres, mais sujeito/sujeito, mais prazerosas... ou vocês "ainda" desejam nos transformar em objetos?... dá trabalho a relação sujeito/sujeito... mas ouso dizer que é a BONITA... o sentido estético faz parte do humano.

. E as mulheres: desenvolver a humildade, combater a onipotência que nos faz acreditar que só nós sabemos cuidar da casa, das crianças... e, por fim, a arrogância que nos escraviza, nos desumaniza... 

. Trabalho diário de diálogo... entre nós... como este... sorte a nossa de estarmos construindo um mundo melhor... em todos os níveis de relação.

Abraços carinhosos a todxs...

Santuza TU

teste.jpg



sábado, 19 de março de 2016

Filosofias SBCenses: o lado A e o lado B da mulher na história




Vocês se lembram do post de 02.03.2015 sobre as pessoas e os LPs?
Leram? Se ainda não, aproveitem agora...
Trata-se de uma riquíssima teoria psicológica SBCense... digo riquíssima pois é uma “teoria aberta”, ou seja, a partir da metáfora podemos ir refletindo e nos vendo e encontrando melhores jeitos de ser no mundo.

É a (divertida, sem deixar de ser profunda...) comparação das pessoas com os LPs... o nosso lado A e o lado B... e não se trata do maniqueísmo de pensar que um lado é o bom e o outro é o ruim, e sim do que tem de bom e de ruim em cada lado, como se apropriar e utilizar cada lado para a vida, para o belo, para o prazer.

Pois bem, a propósito do tema deste mês (mulheres e feminismo) e a partir dessa teoria aconteceu uma outra riquíssima filosofia... reflexão... sobre o que chamamos de Lado A e Lado B da mulher, o lado A construído cultural e historicamente no Brasil a longo do último século até os dias de hoje... e o Lado B, também construído historicamente, pois somos serem históricos, objetos (reprodutores...) e sujeitos (construtores e construtoras...) da história.

Uma grande SBCense levou um texto  da historiadora  Carla Bassanezzi Pinsky, extraído de livro já super recomendado no nosso blog: A Nova História da Mulher no Brasil. Então nos servimos deste texto para “filosofar”, ou seja, elaborar o perfil da mulher forjado ao longo deste último século, que vem a ser a nossa matriz, os modelos que podem determinar a maneira de ser, de pensar, sentir a agir... e que podem nos enriquecer... ou nos condenar, nos aprisionar... assim como as construções contrárias aos modelos... e que também podem nos aprisionar ou nos libertar.

Em outras palavras: como somos e como deveríamos ser. “São muitas as representações que envolvem a figura feminina em todas as épocas. Dentre elas, há as dominantes, tomadas como modelo e referência”. E, além de influenciar os nossos modos de ser, agir e sentir, interferem nos espaços que ocupamos na sociedade e nas escolhas de vida que fazemos. E temos, ao longo da história, rebeldias, transgressões,... que foram desconstruindo esses modelos e, aos poucos, fazendo uma revolução, construindo novas formas de SER mais livres e autênticas.

..................................................................................................................................................

Então... vamos à história: As mulheres foram (e ainda são) identificadas com o seu sexo, confundem-se com ele e são reduzidas a ele. A “pura” e a “puta”; a “santa” e a “pecadora”, vejam aí o lado A e o lado B definindo de forma maniqueísta (ou\ou) as imagens femininas. No Brasil, mesmo com a chegada do século XX, não houveram grandes rupturas, ou seja, permaneceram as heranças europeias e medievais que valorizavam a pureza sexual das mulheres e condenavam as que gostavam de sexo.

Na primeira metade do século XX, não havia dúvidas de que as mulheres eram, “por natureza”, destinadas ao casamento e à maternidade. Este “destino” fazia parte da essência feminina, incontestavelmente. A família era tida como central na vida das mulheres e referência principal de sua identidade. Aí está forjado o lado A.
Um Amor Conquistado o Mito do Amor Materno



Um lado B possível e ótimo como referência: o livro " Um amor conquistado: o mito do amor materno. Para Elisabeth Badinter, feminista francesa contemporânea,  dois fatores estão ligados à formação do "mito do amor materno": a necessidade de assegurar a sobrevivência dos descendentes e a idealização da figura da mãe, a fim de que certa completude se fizesse sentir entre a mãe e a criança. Não se trataria, segundo ela, de "instinto", pois o afeto se formaria da convivência e seria algo "conquistado", como é o caso da paternidade





Badinter em foto de 2003



Mulher de bem, mulher de família, filha obediente, esposa submissa, mãe dedicada, temente a Deus, virtuosa e recatada. O outro lado: mulher da vida, mulher alegre. Ávida, voraz, insaciável (lado B)... ou passiva, frígida, indiferente ao prazer sexual (lado A). Tais modelos rígidos eram marcantes na elite e reproduzidos na classe média. Mas mesmo entre as mulheres trabalhadoras das primeiras décadas do século passado havia adesão aos modelos, na busca por uma maior aceitação social. As noções de honra eram reproduzidas e era senso comum que o homem que roubasse a virgindade de uma “moça honesta” tinha a obrigação de reparar o mal com o casamento.






Lá pelos anos 20 o cinema norte-americano apresentou a figura da vamp... a femme fatale da literatura e do teatro europeu da época. Fazia parte das fantasias masculinas... do Adão pela Lilith (vejam nosso post anterior). Esses fatores contribuíram para alterar padrões da “moça de família” da época. As garotas começaram a aprender a dançar, a pular carnaval, podiam ir sozinhas às compras e à escola. Porém, em vez de contribuir para a autonomia, denotava mais a continuidade da vontade de agradar aos homens e arrumar um “bom casamento”, um “bom partido”. Então, aprimorar os encantos femininos, o poder de sedução, ser “saudável”, passaram  a ser um bom investimento.



Na população pobre o relacionamento dos casais era determinado em grande parte pelas condições concretas de existência e seguiam regras próprias, mais igualitárias. As mulheres em geral trabalhavam e tinham certa independência, então os casais se desfaziam mais facilmente. Tal conduta era diferente dos valores dominantes, então as mulheres eram retratadas como “vadias”, “cheias de vício”, pessoas com “baixos padrões morais”... tudo lado B.

Mas também nas classes sociais mais altas surgiram lado B bastante interessantes, uma minoria de mulheres que teimaram que sua conduta liberada era apenas moderna e não imoral:

 


As "Flappers", no Brasil conhecidas como  “Melindrosas”, foi nos anos 20 um estilo de vida que "desacatavam a tradicional conduta feminina". Vestiam saias curtas, aboliram o espartilho, cortavam o cabelo a moda Chanel, ouviam jazz, tango ou samba  Ansiosas por gozar a vida, apreciadoras do flerte, da dança e do sorriso. Tornaram-se as primeiras mulheres da história moderna a representar o feminino através da indulgência e liberdade. Isto não era simplesmente uma revolução da beleza, era sexual.






As “suffragetes”, reivindicaram direitos políticos e educacionais iguais para todxs (mulheres e homens)

Brasil-feminino-a-mulher-na-constituinte-2


Com a conquista do direito ao voto por países como Inglaterra e EUA, o movimento sufragista ganhou ainda mais força por aqui. O fato de muitas sufragistas fazerem parte da elite política brasileira facilitou a obtenção do voto feminino no Brasil, mais cedo do que a maioria dos países latino-americanos. 

Em 1928, a cidade de Mossoró (RN) tornou-se a primeira cidade no País a autorizar o voto da mulher em eleições, o que até então era proibido (mesmo não constando na Constituição Federal). Foi neste mesmo ano que uma mulher conseguiu liberação judicial para votar — a potiguar Celina Guimarães Viana. Após essa conquista do direito de votar, um grande movimento nacional levou inúmeras mulheres a fazerem a mesma coisa. No ano seguinte Alzira Soriano de Souza elegeu-se prefeita do município de Lajes, no Estado do Rio Grande do Norte, tornando-se a primeira prefeita eleita no Brasil. 


Com a tomada de poder por Getúlio Vargas, o governo apresentou-se favorável ao sufrágio feminino. Em 1931, Getúlio concedeu voto limitado às mulheres, ou seja, somente solteiras, viúvas com renda própria ou casadas com a autorização do marido poderiam votar. Grupos feministas continuaram manifestando-se, alegando igualdade de voto entre homens e mulheres. Então, Getúlio Vargas assinou o decreto n.º 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, o qual determinava que era eleitor o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo, alistado na forma do código.


Resultado de imagem para imagens Bertha Lutz

A bióloga Bertha Maria Júlia Lutz foi uma das pioneiras do movimento feminista no Brasil, responsável direta pela articulação política que resultou nas leis que deram direito de voto à mulheres e igualdade de direitos políticos nos anos 20 e 30. Criou, em 1919, a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, o embrião da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino.

Não no Brasil, na Inglaterra, mas foi tema da nossa conversa, citado como "o filme da minha vida", "super atual", "fala muito da gente". As sufragistas (Sufragette), filme de 2015, direção de Sarah Gavron, inspirado no movimento pelo voto feminino do final do século XIX e início do século XX na Inglaterra, retrata a vida de um grupo de mulheres que resistia à opressão de forma passiva, sendo ridicularizadas e ignoradas pelos homens. Elas então decidem se rebelar publicamente e reivindicar seus direitos como mulheres. Conta uma história que se passou há mais de cem anos mas sua carga de urgência e necessidade de mudança é completamente atual. Em uma época na qual igualdade de salários, representatividade e respeito figuram entre os principais objetos de luta das mulheres -  que costumam ser taxadas de "exageradas" pelos preconceituosos de plantão (leiam nosso post "O machismo nosso de cada dia", de 1.3.16) - este filme vem para mostrar que, numa perspectiva histórica, "ontem mesmo", há pouquíssimo tempo, a mesma luta era voltada ao direito ao voto (e,  principalmente, pela dignidade da mulher).




E as artistas e intelectuais modernistas, “afeitas à boemia, ao comportamento sexual mais livre e a formas alternativas de relacionamento afetivo”.


As mulheres tiveram papel tão importante quanto os homens no modernismo. Na foto Pagu, Anita Mafaldi, Tarsila do Amaral, Elsie Houston e Eugênia Álvaro Moreira à frente



_________________________________________________________________

Já nos anos 50... os anos dourados ... o milagre econômico de JK... a industrialização do Brasil. Otimismo pós-guerra... ascensão da classe média... democracia política. O que essa modernidade trouxe de contribuição para a alteração do modelo, da rigidez do lado A para a flexibilização e a possibilidade da construção mais autônoma da nossa identidade?

Nessa época as perspectivas das garotas certamente já haviam se ampliado. A escolaridade da população feminina havia crescido significativamente. Porém, a velha ideia da honra feminina continuava vigorando firme e forte. A Igreja Católica continuava a orientar condutas e impingir modelos. “As garotas desde cedo aprendiam que o casamento feliz coroado pela maternidade e um lar impecável é negado às “levianas”, as que se permitem ter intimidades físicas com homens”. Olha aí de novo os rígidos modelos... lado A e lado B: “Na atualizada classificação moral das imagens femininas, a “leviana” está a meio caminho entre a “moça de família” e a “prostituta”. Pode até fazer sucesso com os rapazes, mas nunca se casa, pois nenhum homem honesto vai querer alguém como ela para “mãe de seus filhos”. Segundo a regra, é o homem quem escolhe a esposa, preferindo as dóceis e recatadas e repudiando as “defloradas” por outro sujeito ou mesmo as de comportamento suspeito, com fama de “emancipada” ou “corrompida, “garota fácil”, “vassourinha” ou “maçaneta” (que passa de mão em mão, namoradeira, promíscua)”. Depoimento de SBCense que viveu sua mocidade nessa época:  “olha que fazíamos uma força danada para viver esse lado B, eu namorada muito, fiz faculdade de psicologia, transei com um namorado por desejo de me desvencilhar do peso da virgindade... mas vivia isso com uma culpa que me corroía, um espécie de ameaça pairava sobre mim, do tipo “você vai ser infeliz pelo resto da sua vida pelas suas escolhas”. Aí, aparecendo o primeiro cara que “me aceitou”, casei rapidamente com ele... e caí de quatro no modelo “in – feliz para sempre”...”

Vamos ao lado A: a “boa esposa” , “esposa perfeita”; a “dona de casa ideal”, a “mulher prendada”, “rainha do lar”. O “espírito materno” foi atualizado. Tudo isso com as facilidades da vida moderna: geladeira, TV, aspirador de pó, entre outros eletrodomésticos que “facilitavam” a vida da dona de casa.
Claro, esse modelo era vivido de forma diferenciada de acordo com a posição sócio-econômica da mulher e da família:  as mulheres de classe alta empregavam com inteligência o orçamento doméstico, era o esperado delas... gastando o necessário (com recepções, festinhas para os funcionários do marido, por exemplo) para uma aparência de distinção; as de classe média dividiam o serviço doméstico com uma empregada e eram encarregadas, além da supervisão das mesmas, de compras da casa, elaboração dos cardápios, embelezamento da casa e costurinhas em geral; já as empregadas domésticas eram representadas de forma nada lisonjeira: “sapeca”, “promíscua”, “debochada”, “burra”... preconceitos raciais tinham grande influência na construção dessas imagens.
Ainda era muito forte nessa época a crença no peso negativo do trabalho fora do lar para a imagem forjada da “mulher ideal”. Tanto que se diferenciou a mulher “trabalhadeira” (expressão elogiosa, desejável para a mulher em todos os grupos sociais... da mulher “trabalhadora” – considerada o oposto da “dona de casa ideal”... “ainda que esta se envolvesse em atividades exaustivas e extremamente relevantes (mas sub-estimadas) para a manutenção dos lares e a construção das economias familiares”. As fábricas eram tidas como antro de perdição. A atividade fabril não é para o sexo feminino, doméstico e maternal por natureza. As oposições sociais diminuíam quando a mulher abraçava uma “profissão honesta”, relacionada a cuidado, assistência e serviço, tipo professora, enfermeira, telefonista, secretária. Diminuíam também quando era por uma “necessidade econômica”, para   “ajudar” o marido... e quando sua profissionalização não comprometesse sua feminilidade. Por outro lado, essas oposições aumentavam quando a mulher argumentava sobre sua escolha de trabalho ser em função de realização pessoal e independência. Pois sua “felicidade” já era definida: O que poderíamos desejar a mais do que ser “a rainha do lar”?

Anos rebeldes... anos 60... o começo da virada, o lado B fazendo história...


jv5



 “Liberdade... autonomia... é a de pensar, sentir e agir... de construir o que queremos ser, nossa identidade... é muito maior do que a do bolso... mas passa por ele”... foi a frase que ouvi de uma espécie de guru lá pelo final dos anos 60... e essa frase internalizada mudou minha vida para sempre... me deu coragem de superar os modelos rígidos, o lado A... e começar a me construir, construir novos valores orientadores para a vida, outro estilo de vida, novas relações fora dos padrões determinados”. Depoimento de SBCense considerada por nós como uma pessoa engajada, contemporânea, plugada no mundo, solteira por convicção, cheia de energia, de amigos, de bem com a vida, feliz (segundo ela “dentro do possível”, a busca é por ser livre, pois buscar “ser feliz” pode nos fazer cair no buraco do lado A, na alienação e na adoção dos modelos prontos e rígidos).

As transformações nos anos 60 (desenvolvimento econômico, industrialização, urbanização, energia elétrica, transporte, comunicações... ampliando o mercado de trabalho, a escolarização dos brasileiros... e brasileiras) ajudaram a modificar os modelos, as imagens da mulher, sua relação com os homens e os significados atribuídos ao feminino. As manifestações estudantis e de segregação racial, a ida do homem a lua, o regime militar no Brasil. E, mais importante dessa época... do século, melhor dizendo... a popularização da pílula anticoncepcional.  Foi com a pílula que a mulher se viu livre da natureza e se apropriou do seu corpo. E "reivindicou o orgasmo".


O movimento hippie trouxe uma nova compreensão da liberdade sexual e do amor




Resultado de imagem para imagem Lamarca e Iara





Apesar de em 1970 as mulheres representarem 50,3% da população e 21% do mercado de trabalho, o papel dela ainda era visto apenas como mãe ou dona de casa. Na imagem: Carlos Lamarca, opositor da ditadura, e Yara Iavelberg treinando tiro, Osasco. (Foto: arquivo histórico)

____________________________________________________________________


Anos 80... 1988... Constituição da República Federativa do Brasil... e o que tem isso a ver com o lado A  e o lado B da Mulher???... TUDO!!! O convite é aprender com a história... para melhorar... resuminho no quadro abaixo da segunda metade do século passado até agora. Olhem bem o ano de 2005... outro dia!!! Pois é... até 2005 no Código Civil e no Código Penal constavam o termo "mulher honesta", ou seja, a mulher ainda era definida "no privado": mulher honesta era (ou é...) aquela fiel, boa mãe, boa dona de casa... reflitam: como se define "homem honesto"? Jamais dessa forma, e sim como bom pagador, que cumpre seus compromissos...


_________________________________________________________________


E em 2006 entra em vigor a Lei Maria da Penha... e o feminicídio continua...

A lei de numero 13.104 altera o Código Penal para prever o feminicídio como um tipo de homicídio qualificado e inclui-lo no rol dos crimes hediondos. O feminicídio é caracterizado quando a mulher assassinada justamente pelo fato de ser mulher. Sancionada no dia 9 de março de 2015 pela Presidenta Dilma Rousseff, a lei do feminicídio pode ser considerada uma vitória para a igualdade entre os sexos.




E ainda ouvimos (MUITO!!!), inclusive entre nós mesmas:

  • Sou feminina... não sou feminista... pois ainda quero casar (uma compreensão do feminismo como um movimento de mulheres CONTRA os homens, mulheres que não gostam de homens... distorcida... )
  • Não sou machista... nem feminista... sou humanista... (heim???)
  • Feministas são mimimi...
E por aí vai...

Lembrando mais uma vez: a história serve prá gente aprender... e melhorar...

Depoimento de grande SBCense: essa história é fundamental prá gente refletir. Fica claro prá mim que é através do trabalho que conseguimos autonomia. Essa é muito maior do que a do bolso... autonomia de pensar, de sentir, de agir... de SER... mas passa pelo bolso. Pois com a do bolso podemos reivindicar o real compartilhamento com os homens na vida privada. Isso pode condicionar todo o resto. Li que nós, mulheres, continuamos assumindo 70% das responsabilidades domésticas, o que inviabiliza nossa equiparação aos homens no mercado de trabalho. "Se o trabalho doméstico for realmente dividido, as mulheres terão condições de ter uma vida melhor."

E prá terminar por hoje... temos ainda muito a conversar e refletir... recebemos como um PRESENTE um filme que retrata a revolução que pode ser realizada pelas mulheres: "A fonte das mulheres", filme lançado em 2011 na França, dirigido por Radu Mihaileanu.



Com uma delicadeza comovente, a mulheres de uma aldeia norte-africana fazem uma revolução democrática e rompem com os papéis  femininos colocados para elas de uma forma "inquestionável" pela tradição; e fundamentados em argumentos religiosos,  que ajudam a manter uma hierarquia social,  onde os papeis femininos e masculinos são especificados e distintos entre si. E imaginem o que elas reivindicavam: água encanada!!! pois eram elas que buscavam água numa fonte nas montanhas, pois a elas competia o papel de cuidar do lar. A maioria das mulheres não sabia ler nem escrever. Leila sabia... e quando Iname (um espécie de sacerdote) tentou legitimar as agressões dos maridos baseando-se nas escrituras do Alcorão, foi baseada no mesmo livro que ela mostrou que, na verdade, era de igualdade e de uma convivência fundada na paz que as leis de Deus falavam. Então, tudo que se mostrasse diferente disso era uma interpretação possível, um "desvio da escritura... por interesses pessoais". E elas fizeram uma "greve de amor" até conseguirem a água encanada. E fizeram política, e mostraram, também, que o conhecimento legitima a democracia.

E assim terminamos (provisoriamente) nossa conversa sobre lado A e lado B... e lado nenhum quando construímos o que queremos, autenticamente ser... assim vamos nos construindo historicamente.

Abraços carinhosos a todxs...

Santuza TU