quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Semana de Arte Moderna: Patrícia Galvão

 


Esta é Iza... Izabela Miranda. Mestra em Educação, feminista, educadora social,  advogada e dançarina,

Co-fundadora da @indomitascoletivafeminista - Coletiva  Feminista Indômitas

izabelafmbh no Instagram.

Revolucionária e transgressora. Como a Pagu, que a inspirou. E exigente consigo mesma. me lembra meu mestre de capoeira, Agostinho: ele faz a gente repetir o exercício inúmeras vezes... e quando perguntamos "igual, Mestre?", ele responde "Não, melhor!"

No seu processo de humanização, Iza e eu estamos aprendendo juntas o orgulho pessoal pelo que já conquistamos ...e a humildade necessária de nos ver repetindo modelos  que não queremos mais, que lutamos contra e, no entanto, vira e mexe repetimos, nos submetemos. Pois processo de humanização está longe da fala "agora superamos esses modelos"  e próximo do riso que nos faz enxergar a repetição... e caminhar na direção que queremos construir, individualmente e coletivamente.

Desafiada a pesquisar e falar sobre PAGU, ela nos mandou o primeiro vídeo acima. E eu já escrevendo sobre ela neste post e aguardando o texto, quando ela me manda um vídeo "melhor"... junto com o texto sobre essa figura inspiradora de mulher que  também participou da Semana de Arte Moderna, invisibilizada. A seguir o segundo vídeo, vale a pena ver os dois.


E o texto:

“(...)

Sou rainha do meu tanque
Sou Pagu indignada no palanque
Hi! Hi!
Fama de porra louca, tudo bem!
Minha mãe é Maria Ninguém
Hi! Hi! Eh! Eh!”

 

Pagu, Patrícia Galvão, uma apelido que eu vim a saber que ela não gostava pois decorrente de uma confusão relacionada ao seu sobrenome. Nasceu em 1910, dentro de uma família de classe alta do interior de São Paulo.

“Fama de porra louca”, o que quer dizer apenas que ela foi uma mulher que tentou ser livre, o quão livre possível para o contexto em que vivia.

Jornalista, escritora, poetisa, aos 15 anos já era colunista.

Uma mulher muito à frente do seu tempo. Muito nova, desde os 12 anos já andava entre intelectuais da Semana da Arte Moderna e dentro da cena cultural do país. A ela foi dado até o título de Musa da Semana da arte moderna, um título a se questionar... O que é uma musa??? Sexismo a vista

Pagu foi Uma mulher notada e descrita por várias pessoas, mas muitas vezes sua auto descrição foi deixada de lado. Suas cartas, seus dizeres, são de outra natureza. Suas palavras trazem angustia, ela se lança no seu corpo angustiado, existindo no mundo. Existia em Pagu a tentativa de se fazer viva.

Ela engravidou aos 14 anos de um homem casado (casado era ele né?) e é deixada sem que ele saiba da gravidez. Seu pai, por sua vez, a espanca e a joga contra as paredes. Ela fica 1 ano acamada, sem poder mexer os braços e as pernas e sem poder escrever.

Pagu se envolve com um outro aí, famoso intelectual, e engravida dele aos 18 anos. Grávida ela se joga no rio Tietê e perde esse emaranhado de células que alguns dirão que era uma criança.

Dizia Pagu, “Eu não tive infância.... Eu sempre fui, sim uma mulher-criança. Mas mulher.”

“Não tive precocidade sexual. Praticamente, só fui sexualmente desperta depois do nascimento de Rudah. E não por precocidade mental que entreguei meu corpo aos doze anos incompletos.... Nesse dia eu devia encontrar meu parente Ismael Guilherme ,para uma volta de avião. Deixei a aula, indo procurar na Gazeta, Olympio Guilherme, que me ia levar ao campo. Quando chegamos, assistimos ao desastre. A poucos metros da morte, fui possuída. Não houve a menor violência de Olympio, nessa posse provocada por mim.”

Veja aí uma mulher que aprendeu perfeitamente que seu corpo e sexualidade poderia ser utilizados para conseguir as coisas. Ser livre, o quão livre quanto possível. Afinal, cada uma joga com as cartas que tem e, convenhamos, em uma sociedade patriarcal, fundada na cultura da pedofilia, nada mais genial que uma adolescente “pra frente”.

Ela não era uma criança, mas era uma criança também. Uma mulher acima de tudo e que queria existir... Quem há de julgar?

Aos 18 anos ela engravida novamente e nasce Rudah, que ela amava muito, mas não do jeito que o patriarcado manda amar. Ela amava do jeito dela, reconhecendo as limitações dela...

É difícil compreender Pagu, é difícil desvendar Pagu. Ela se comportava “mal”, fumava na rua, falava palavrões e usava roupas pouco convencionais, acabava com casamentos (quem acaba com casamento é quem casa né?).

Pagu inicialmente não tinha domínio teórico sobre comunismo, confessou que achava esse povo até muito chato. Mas ela sentia que tinha que estar ao lado dos trabalhadores e trabalhadoras. Pagu sente, Pagu vive.

Mais tarde acaba militando no Partido Comunista e se torna a primeira mulher presa política no Brasil. Foi presa mais de 20 vezes, torturada.... O que nos choca é que ela quase não falava sobre isso.

Pagu teve câncer de pulmão e morreu em 1960, aos 52 anos. Ela não conseguia viver acamada, ou aceitar esse destino. Imersa em uma profunda depressão, tentou tirar a própria vida com um tiro. Sobre o episódio, escreveu no panfleto "Verdade e Liberdade": "Uma bala ficou para trás, entre gazes e lembranças estraçalhadas".

Quem lutou tanto para ser livre, avança o suficiente para decidir sobre as prisões que quer estar. Uma vida acamada, não era uma vida para Pagu e eu sou da opinião que é preciso muita coragem para tramar a própria morte. Quem gosta da agonia, que viva. Liberdade é se lançar no desconhecido é conseguir desapegar do próprio corpo, esse aqui, físico, que a gente conhece. E Pagu, assim como muitas de nós, teve um corpo marcado pelas violências do mundo dos homens.

Pagu me inspira. Pagu me humaniza. Pagu me traz a constatação de que eu posso fazer minhas escolhas e que não existe o certo. Existe o que me liberta.

Obrigada Pagu, por sua vivência que me faz hoje mais viva.


E nós do SBC agradecemos imensamente a você, querida Iza.

Abraços carinhosos



domingo, 23 de janeiro de 2022

Continuando: SEMANA ARTE MODERNA: ANNITA MALFATTI

 

Queridos amigos do SBC, meu nome é Nilmara Castro tenho 29 anos e sou formada em Artes Cênicas pela UFOP, trabalho com teatro, arte educação e adoro contar histórias. Foi um prazer estar aqui contando um pouco da história da Anita Malfatti que eu tanto admiro pelo protagonismo feminino na história da arte moderna no Brasil. Forte abraço repleto de luta, coragem, liberdade e sonhos realizados.


Protagonismo de Anita Malfatti 

                                                        (Nilmara Aparecida de Castro)

 Antes de apresentar  essa ilustre artista modernista que é Anita Malfatti, iremos entender o que é protagonismo e como a mulher aqui citada estava à frente do seu tempo, pois ser protagonista é ser figura principal, o primeiro, lutador ou competidor.

 Anita Malfatti foi a primeira modernista a fazer uma exposição no Brasil, antes mesmo de qualquer figura masculina e apesar das críticas ao seu trabalho artístico ela não desistiu e acabou impulsionando outros artistas para defender os ideais do movimento e assim a sociedade foi provocada por um movimento artístico completamente novo no Brasil.


A história de vida de Anita é muito interessante e nós faz entender como arte sempre foi sua missão de vida. Aos 13 anos ela sofria porque não sabia que rumo seguir na vida e tentando entender melhor sobre sua sensibilidade e qual era sua personalidade, resolve então submeter a uma estranha experiência de sofrer a sensação da morte. Ela saiu de casa e foi para estação de Barra Funda e esperou o trem passar por cima dela e nesse instante ela sentiu uma revelação onde saiu e voltou decidida a se dedicar à pintura.

 Essa mulher revolucionária seguiu em frente aos seus sonhos e foi estudar artes e pintura na Europa, onde ficou durante quatro anos em Berlim, Alemanha (1910 – 1914), na Academia Imperial de Belas Artes. Suas obras de arte têm como uma das principais características cores puras e vibrantes para expressar sua sensibilidade.


A semana de Arte Moderna foi um dos acontecimentos mais importantes do modernismo no Brasil e ocorreu entre os dias 11 a 18 de fevereiro de 1922 e chocou grande parte da população, pois tinha como intuito apresentar uma nova estética pautada na liberdade e na brasilidade onde as mulheres foram reconhecidas como importantes para história cultural do país.

Sabemos que as mulheres sempre tiveram que lutar por seus direitos e conquistar espaços em meio a varias dificuldades históricos, econômicos e sociais, mas é sempre bom ouvir mulheres como Anita que romperam barreiras, preconceitos, revolucionou seu tempo e marcou história.

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O SBC é um grupo ABERTO, INCLUSIVO, ANÁRQUICO, DEMOCRÁTICO, ECOLÓGICO E FEMINISTA... não necessariamente nessa ordem... Assim o descrevemos. E quando nos perguntam como fazer parte do SBC nós  dizemos que já faz parte a pessoa que, ao ouvir ou ler sobre o nosso coletivo, se identifica com nossos conceitos: o riso, o valor das amizades, o sentido estético na vida... 


O SBC... e a vida...  são feitos de bons encontros: eu estava em Ouro Preto no dia 05 desde mês, na fila do Teatro Municipal, pra ver a peça "Galanga Chico Rei" com o maravilhoso Tizumba. Uma chuvinha fina naquela hora... e uma sombrinha grande. Ofereci um "pedaço" da sombrinha pra uma menina linda atrás de mim, que estava também na fila, esperando seu namorado. Foram uns cinco minutos de conversa. E fiquei conhecendo a Nilmara... e ela a mim.... e ao SBC. E foram encantamentos recíprocos... abriram a porta do teatro, entramos correndo e nos desencontramos. Só alguns dias depois nos encontramos, graças à tecnologia... obrigada Whatsapp, por reaproximar as pessoas...

Obrigada minha querida Nilmara, pela sua contribuição à nossa pesquisa sobre a Semana da Arte Moderna. O prazer que você demonstra no seu vídeo foi o mesmo nosso ao vê-lo... Acho que vou pintar meu cabelo de verde...




terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Continuando... Semana da Arte Moderna


 
Como Santuza destacou, todo movimento artístico reflete o período que os artistas e escritores estão vivendo. Com a semana de 1922 não foi diferente. O Brasil, como um país periférico que era, e é, reflete também os acontecimentos externos. Por isso, farei um pequeno giro pelo mundo nesse início do século 20. Destacarei três polos principais :  Estados Unidos, a Europa ocidental e a recém criada a União Soviética. 

Em 1922 estamos no período entre guerras e os Estados Unidos viviam a chamada "Era dos loucos anos 20". Nestes anos Estados Unidos tornou-se uma das grandes potências econômicas do mundo. Como Europa estava totalmente destruída, pós primeira guerra, foram os Estados Unidos os grandes exportadores de produtos industrializados para aquele continente. Esta "aceleração econômica" terá uma forte queda com a crise de 1929, quando houve a quebra da bolsa de valores de Nova York.

Enquanto isso a Europa ocidental estava se recuperando dos efeitos da primeira guerra. Nesse período, penso ser importante destacar a ascensão do fascismo, na Itália de Benito Mussolini. Esse regime ditatorial, mais tarde, vai se estender por outros países europeus, até chegar na Alemanha com o nazismo de Adolf Hitler. 

E o que acontecia na Europa Oriental? Em 1922, após a Revolução Russa de 1917, os bolcheviques, vitoriosos na guerra civil russa, criaram a união das repúblicas socialistas soviéticas. 

Todos esses acontecimentos externos se refletem no Brasil. A década de 20 aqui é marcada principalmente por 4 acontecimentos importantes: 

Primeiro, o surgimento de uma emergente burguesia industrial que começava a ganhar força no cenário político econômico brasileiro. Segundo, o grande crescimento urbano e desordenado, principalmente nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Terceiro, na década de 20 acontecem no Brasil os chamados movimentos tenentistas com destaque para a revolta do Forte de Copacabana. Nessa revolta, militares de baixa patente marcharam na praia de Copacabana, reivindicando a deposição do Presidente Arthur Bernardes e o fim das fraudes eleitorais no Brasil; e eram, também, contrários às políticas governamentais, que atendiam os interesses econômicos das oligarquias rurais.



 E o quarto acontecimento que quero destacar, e o último mas não menos importante:  na década de 20 verificamos o crescimento das ideias anarquistas e comunistas nas grandes cidades brasileiras. Estas ideias eram trazidas para cá principalmente pelos imigrantes italianos. Destaca-se nesse período, a criação do PCB, em março de 1922, no Rio de Janeiro. 

Esses acontecimentos, externos e internos, serão refletidos em maior ou menor parte na Semana de Arte Moderna através das obras de seus artistas. Quero concluir esse breve "giro" pelo Brasil e pelo mundo, ressaltando uma  obra de Anita Malfatti na semana de 22. 

Anita Malfatti (1889-1964)

A obra, é o quadro - O Homem Amarelo. A tela, apresentado por Anita, foi motivo de polêmica pela sociedade elitista da época. O Homem Amarelo, é um retrato, segundo a própria Anita, de um homem pobre, excluído e desconhecido. Um imigrante italiano que lhe pediu que ela o pintasse com uma  "expressão desesperada".

Atualmente a obra faz parte do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo.
                                                                 O homem amarelo











                                                                        Antonieta Shirlene




segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Comemorando a SEMANA DA ARTE MODERNA


Uma coisa que o SBC gosta de fazer é RESIGNIFICAR. Vamos, então, agora resignificar a palavra COMEMORAR: Comemorar tem dois sentidos, no mínimo... um, comemorar: festejar, celebrar... o mais comum;
e o outro: comemorar, lembrar e apropriar da história... e fazer história... aprendemos com Frei Beto.

Em dezembro passado, em lançamento do livro sobre a China do Elias Jabbour (China, o socialismo do século XXI) na Livraria Don Quixote, conversando com o camarada Gilson Reis, ele nos disse dos 100 anos da Semana da Arte Moderna. E falamos da importância da comemoração enquanto apropriação da história.

Então, já naquele dia, nós nos fizemos perguntas:

O que levou àquela reunião de grandes artistas brasileiros a época?

Qual era o contexto histórico-social do Brasil?

E o que estava acontecendo no mundo?

E, como sabemos,  a arte se coloca  tanto como reprodutora das ideologias como construtora de novas ideias...

Esses questionamentos nos instigaram. O SBC é assim...

Então, "encomendamos" a pesquisa às nossas duas grandes personagens SBCenses,  Angel e Rochelle, que se meteram a jornalistas investigativas. E o resultado foi bastante interessante, e queremos compartilhar com vocês:

Eu vou começar compartilhando a pesquisa, especificamente sobre a semana.

E a Antonieta, que é historiadora, vai falar depois pra gente, sobre o contexto histórico e politico do Brasil e do mundo naquela época.

 A Semana de Arte Moderna aconteceu no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922, tendo como objetivo mostrar novas tendências artísticas, diferentes da arte clássica. Esta nova forma de expressão não foi compreendida pela elite paulista, que era influenciada pelas formas estéticas europeias mais conservadoras. O idealizador deste evento artístico e cultural foi o pintor Di Cavalcanti.

Em um período repleto de agitações, os intelectuais brasileiros consideraram que precisavam abandonar os valores estéticos antigos, ainda muito apreciados em nosso país, para dar lugar a um novo estilo completamente contrário, e do qual não se sabia ao certo o rumo a ser seguido. No Brasil, o descontentamento com o estilo anterior foi bem mais explorado no campo da literatura, com maior ênfase na poesia.

E como foi a Semana? Realizada entre 11 e 18 de fevereiro de 1922, foi uma 'explosão' de ideias inovadoras, que aboliam por completo a perfeição estética tão apreciada no século XIX e início do século XX. Os artistas brasileiros buscavam uma identidade própria e a liberdade de expressão. Com este propósito, experimentavam diferentes caminhos, sem definir nenhum padrão. Isso resultou na incompreensão e na completa insatisfação de todos que foram assistir a este novo movimento. Logo na abertura, Ronald de Carvalho, ao recitar o poema Os Sapos, escrito por Manuel Bandeira, foi desaprovado pela plateia através de muitas vaias e gritos. 

A Semana de Arte Moderna só foi adquirir sua real importância ao longo do tempo. A arte continuou a expandir-se principalmente  pelo Movimento Antropofágico. Mais tarde, em 69, temos o filme Macunaima (o herói sem nenhum caráter), baseado no livro de Mário de Andrade. Link do youtube:

Versão em melhor definição: https://youtu.be/8IEeG7adLZQEnglish subtitles availableLeyendas en español disponiblesSous-titres français 

Principais artistas que participaram da Semana de Arte Moderna de 1922:

(Destaque pra Mário de Andrade, escritor (1893-1945), um dos principais nomes da Semana de 22)


















Nas Artes Plásticas: Anita Malfatti (pintora); Di Cavalcanti (pintor); Vicente do Rego Monteiro (pintor); Inácio da Costa Ferreira (caricaturista, desenhista e ilustrador);  John Graz (pintor);  Alberto Martins Ribeiro (pintor) ; Oswaldo Goeldi (pintor); Victor ||Brecheret (escultor);  Hidelgardo Leão Velloso (escultor); Wilhelm Haarberg (escultor).

Na Literatura: Mário de Andrade (1893-1945): um dos principais nomes da Semana; Oswald de Andrade (escritor); Sérgio Milliet (escritor, pintor e poeta);  Plínio Salgado (escritor); Menotti del Picchia (escritor); Ronald de Carvalho (poeta e político); Álvaro Moreira (escritor);  Renato de Almeida (escritor); Guilherme de Almeida (escritor); Ribeiro Couto (escritor). 

Na Música:  Heitor Villa-Lobos; Guiomar Novais; Frutuoso Viana;  Ernâni Braga .

Na Arquitetura: Antônio Garcia Moya;  Georg Przyrembel.

Outros destaques de artistas, ou que participaram da semana ou estavam presentes à época, ou antes ou depois, principalmente mulheres, as (tantas vezes) invisibilizadas:
 
- Tarsila do Amaral, pintora e desenhista do modernismo,  seu quadro Abaporu, de 1928, inaugurou o movimento antropofágico nas artes plásticas. Nosso camarada Gilson deve falar sobre ela...



 
- Pagu 

Patrícia Galvão. Escritora, poetisa, diretora, tradutora, desenhista, cartunista, jornalista, e militante comunista.
 
 
- Eugênia Álvaro Moreyra (atriz e diretora de teatro).



Duas curiosidades sobre a Semana de Arte Moderna de 22, pesquisadas pela dupla Angel e Rochelle:

Uma delas foi a leitura do poema "Os Sapos", de Manuel Bandeira (leitura feita por Ronald de Carvalho), o público presente no Teatro Municipal fez coro e atrapalhou a leitura, mostrando desta forma a desaprovação. A seguir o poema:

Outra curiosidade: no dia 17 de fevereiro, Villa-Lobos fez uma apresentação musical. Entrou no palco calçando num pé um sapato e em outro um chinelo. O público vaiou, pois considerou desrespeitosa tal atitude. Depois, foi esclarecido que Villa-Lobos entrou desta forma, pois estava com um calo no pé.

 



Cartaz do último dia da Semana de Arte Moderna de 1922, quando ocorreria o show de Heitor Villa-Lobos.


E, nessa altura da pesquisa, tivemos a ideia desse projeto:

 ... que é um convite:

- escolha uma pessoa, artista da semana da arte moderna e faça um pequeno texto e grave um vídeo sobre este ou esta artista. Dizendo um pouco sobre ele ou ela e mostrando um pouco da sua arte... poema, música, quadro, etc.  Publicaremos no nosso blog e no nosso canal do Youtube.

BORA SBCenses!!!

 


Veja nosso vídeo sobre o projeto no YOUTUBE... e aproveita também pra se inscrever no nosso canal do youtube ... e no nosso blog também, viu?  pra receber e comentar sobre os vídeos desse projeto... e  outros vídeos... vai ser bacana...

... e, dando sequência à pesquisa, nossa SBCense historiadora Antonieta Shirlene vai gravar e escrever pra nós sobre o contexto histórico-politico-socuial do brasil e do mundo na época da Semana.

 - Aguardemos...

 


Abraços carinhosos...



sábado, 8 de janeiro de 2022

Conversas SBCenses: Não olhem para cima, olhem para todos os lados!!!

Começamos o ano de 2022 vendo o filme "Não olhe para cima", super "badalado" como se dizia no século passado.



Sinopse: Não olhe para cima conta a história de Randall Mindy (Leonardo di Caprio) e Kate Dibiaswky (Jennifer Lawrence), dois astrônomos que fazem uma descoberta surpreendente de um cometa orbitando dentro do sistema soar que está em rota de colisão direta com a terra. Com a ajuda do Dr. Oglethorpe (Rob Morgan), Kate e Randall embarcam em um tour pela mídia, que os leva ao escritório da Presidente Orlean (Meryl Streep) e de seu filho Jason (Jonah Hill). Com apenas seis meses até o cometa fazer o impacto, gerenciar o ciclo de notícias de 24 horas e ganhar a atenção do público obcecado pelas mídias sociais, antes que seja tarde demais, se mostra chocantemente cômico.







Inúmeros comentários,  desde as comparações   'mais ou menos óbvias'  de 'lá de cima', do capitalismo imperialista estadunidense, para o 'quintal' (que somos nós aqui nesse Brasil)... 





...até comentários bonitos (e utópicos, no sentido de "tratar o impossível como se fosse possível") sobre o final do filme, onde, com a chegada inevitável do cometa à terra, não restava outra alternativa àquele grupo que teria feito tudo para que isso não tivesse acontecido, do que se juntarem numa 'comemoração', não celebração ou festejo, mas a comemoração da vida quando ela está prestes a terminar ou, quem sabe, uma outra vida prestes a começar...

                                  
... passando pelos comentários interrogativos: "não sei ainda porque a presidência está representada por uma mulher!!!???" ; e de perplexidade: "impressinadx com o termo 'treinamento midiático' que foi usado se referindo à cientista, quando ela 'surtou' na frente das câmeras. A justificativa foi: ela não recebeu 'treinamento midiático'! ou seja, ela não está preparada para "tudo de 'fabricado' que vem a ser a 'mídia capitalista'!!!"

 ... e recebendo artigo da querida SBCense  Edna Aparecida Lisboa Soares: Doutora em Língua Portuguesa e Lingüística;  Professora em cursos de graduação e pós-graduação. Consultora educacional e empresarial, publicado no site "sala de Cultura".

"... Não só temas como o negacionismo, a crise climática e a pandemia de covid-19 subiram ao palco das discussões, como também o bullying sofrido por mulheres, o jornalismo leve e espirituoso, o oportunismo, as fake News, a pseudociência, a espetacularização e a distorção do real, a falência da escuta e do diálogo, a inversão de prioridades, a ignorância e a imbecilidade humanas, dentre muitos outros...
Toda essa abundância de temáticas inevitavelmente me fez reiterar a óbvia, mas comumente renegada crença de que qualquer situação, fato ou questão precisam ser observados a partir de vários ângulos e perspectivas...
Tal obra cinematográfica parece nos convidar a olhar em todas as direções, exceto para o próprio umbigo ou para baixo, em atitude de subserviência. Considero, portanto, que o filme conseguiu, de forma eficaz, tecer críticas a várias situações e questões essenciais da atualidade, embora, paradoxalmente, para tal, tenha lançado mão do humor e da leveza, algo bastante ironizado, ao longo de 2 horas e 22 minutos, a partir da construção caricatural de cada personagem. Mas talvez tenha sido esse o melhor recurso encontrado pelo diretor e roteirista Adam McKay, como estratégia certeira de captação da atenção do público, na esperança de sensibilizá-lo para a urgência de certas reflexões, tomadas de consciência e mudanças de postura. Afinal de contas, como o próprio filme denuncia, parece que hoje não se consegue conversar com o público se o entretenimento e a leveza forem desbancados pelo incômodo, mesmo em se tratando de questões que não comportam leveza nem tão pouco diversão".
                        
Fazendo o exercício sugerido de olhar em todas as direções, nos deparamos com texto no facebook, da querida amiga Dirlene Marques, economista, professora na UFMG, grande feminista e política. Seu texto, realmente, nos traz uma perspectiva mais ampla e pertinente de pensar o filme:

  "Olho para fora e vejo muita chuva. Fico feliz pois ajuda a recuperação da natureza. Mas, acompanho o que a população pobre (fundamentalmente) está passando: inundações, pessoas morrendo, moradias construídas com grande esforço sendo destruídas. Populações inteiras sendo desalojadas. E, autoridades e imprensa sempre sugerindo que a responsabilidade é a quantidade de chuva. De forma sutil, levanta a responsabilidade de governantes, algumas vezes das empresas, algumas vezes da natureza, algumas vezes das pessoas que são irresponsáveis e moram em locais inadequados. Continuam desvinculando a forma predatória do desenvolvimento do capitalismo com as tragédias que ocorrem: rompimento de barragens, secas, incêndios, mortes.
   Esta é a mesma lógica de como tratam o desemprego, o subemprego, a precarização. E responsabilidade das pessoas que não tem qualificação. A famosa “empregabilidade”. Vários economistas já falaram e agora o pesquisador Piketty mostrou, com os dados mundiais disponíveis, que no mundo desenvolvido em torno de 30% da população é desnecessária. No Brasil, fica em torno de 40%. Portanto, para continuar o processo de acumulação de exploração, o capital não precisa de 40% de nosso povo. Podem morrer (619 mil pessoas mortas pela covid, não é problema. E solução para o capitalismo pois a maioria são velhos, negras e negros e pobres), são descartáveis.
   Toda esta percepção do mundo vi refletido no filme Não Olhe para Cima... um filme hollywoodiano. Sutilmente, mostra que os monstros são a presidenta, a imprensa, a tecnologia, controladas por um capitalista. Onde todos ganham pessoalmente. A imprensa mais audiência. A presidenta apoio para a reeleição. O capitalista, mais lucro. E ainda colocam uma mulher na presidência, um negro como locutor (distorção? Claro que não. Mostra que todas as pessoas são iguais). Mostrando que as pessoas é que são ruins, independentemente de serem mulheres ou negras. E precisam é de um grande líder para salvar o mundo. Mantem assim intocado o sistema capitalista. Só trocar um líder mau por um líder bom. Projeto? Para que?
   A forma cada vez mais predatória do capitalismo não é sequer tocado em nenhuma situação. Vai criando uma situação em que mesmo as pessoas que tem alguma humanidade, que tem alguma sensibilidade com o que está ocorrendo ao seu redor com os seres animais humanos e não humanos, com a natureza prefere não ver a essência do problema. É melhor ficar na superficialidade e não questionar o sistema. Razoes? São várias. Desde o não entendimento da dinâmica do capitalismo e acreditar em sua reforma, na construção de um capitalismo humanizado até as pessoas que não querem ver pois teriam de repensar seu modo de vida, de repensar suas opções políticas".

Dirlene se diz pessimista na análise e otimista na ação. E conta do seu investimento na organização social, nas lutas das opressões, nas lutas ambientais, mas sempre ... sempre mostrando que nada disto resolve se não substituirmos o sistema capitalista, cujo objetivo é o lucro... a qualquer custo. E continua dizendo:   "Acredito nas lutas. Acredito no povo trabalhador. E tenho um norte: a sociedade socialista".


E finaliza seu texto citando Rosa de Luxemburgo.

Obrigada querida Dirlene!

Também acreditamos e lutamos. "Nosso rumo é o socialismo", como disse nossa  SBCense Antonieta Shirlene.

Nos vemos na luta...




Mas não paramos por ai... continuamos a olhar para todos os lados... e vimos mais uma publicação que merece nossa atenção: artigo de Mariana Bastos, diretora e roteirista brasileira, publicado pela Revista Jacobin e no Portal Vermelho (link abaixo pra quem quiser ler o artigo todo)
Ela faz a seguinte pergunta: "Seria Hollywood capaz de empregar uma montanha de dinheiro similar em uma narrativa em que o poder popular se insurgisse coletivamente contra essa minoria que nos leva ao colapso, e instituísse uma nova ordem política, social, ambiental e econômica mais justa, que nos salvasse do cometa no filme e da crise climática na vida real? Provavelmente muitos dirão que não usando uma pretensa verossimilhança como argumento, justamente porque, com a nossa imaginação amputada pela mentalidade neoliberal, "é muito mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo"...  citando Mark Fisher (1968-2017)

É sobre isso que Mark Fisher fala em seu livro REALISMO CAPITALISTA, escrito em 2009. O filósofo britânico usa esse termo para descrever um tipo de ideologia que propaga a sensação generalizada de que não apenas o capitalismo é o único sistema político-econômico viável, como também é impossível imaginar uma alternativa coerente a ele. Neste livro, o autor cunhou o termo “impotência reflexiva”, que serve bem para descrever a sensação de apatia coletiva retratada no filme diante de um apocalipse iminente. Trata-se de um fenômeno no qual as pessoas até reconhecem a incapacidade do capitalismo de lidar com os graves problemas sistêmicos que enfrentamos, mesmo assim são incapazes de imaginar mudanças drásticas, apostando apenas em reformar o sistema. Segundo Fisher, essa inação leva a uma profecia autorrealizável, assim como a uma deterioração da saúde mental.

Mariana Bastos
O realismo capitalista brasileiro consegue ser tão aterrorizante  quanto o filme da Netflix, diz Mariana. No Brasil, ela analisa,  este "realismo" tem sido especialmente eficiente em criar um espantalho comunista que é evocado sempre que a direita e a extrema direita querem abocanhar o poder. A autora cita recente pesquisa doo Datafolha, que  perguntou sobre o medo da população em relação a uma fantasiosa ameaça comunista após a próxima eleição. 44% dos entrevistados disseram que temem que isso aconteça, mas eu duvido muito que, antes de serem questionados sobre isso, uma parcela grande tenha tido alguma reflexão mais profunda a esse respeito. "Curiosamente, o mesmo instituto não se deu ao trabalho de perguntar se a população brasileira teme que o Estado seja amplamente dominado pela milícia, uma realidade bem mais palpável".
Muitas pessoas acham que o filme serve para uma "tomada de consciência coletiva". Também consideramos essa hipótese, mas somente se o filme servir de pretexto para muuuita conversa, muuuuita reflexão e muuuita elaboração. De outra forma pode apenas servir para reforçar a alienação e manter intacto o sistema. 
E Mariana nos propõe olharmos para outros lados, contra o fim do mundo. E ela (e nós também), olhando para outros lados, vemos gente como Ailton Krenak, que "ao longo dos últimos anos tem feito um esforço imenso para nos ajudar a imaginar novos mundos possíveis". 

“Nós não podemos nos render a essa narrativa de fim de mundo. Essa narrativa é para nos fazer desistir de nossos sonhos", diz Krenak no vídeo "Cartografias para adiar o fim do mundo". 

E Mariana termina: "Existem muitas formas de olhar para o lado, seja doando dinheiro para os atingidos pelas chuvas... seja para alguma iniciativa que ajude a alimentar a metade da população brasileira atingida pela insegurança alimentar. Mas uma forma mais contundente de enfrentar o colapso é doar tempo para se organizar de forma coletiva".

"Todo tempo doado para a organização coletiva é um tempo roubado do capitalismo".

E nos lembramos do grande brasileiro, jurista filósofo do direito marxista, ALYSSON LEANDRO BARBATE MASCARO, 



... que nos fala de uma maneira explêndida do grande filósofo do marxismo estrutural LOUIS ALTHUSSER (1918-1990), principalmente no seu livro em parceria com Vitttorio Morfino "Althusser e o materialismo aleatório", da Editora Contracorrente.
   Althusser critica o capitalismo pós segunda guerra que, segundo ele, 'sofistica os mecanismos de dominação' e 'permite a exploração'... através da IDEOLOGIA.
   Para Althusser,  qual o sentido da palavra IDEOLOGIA?
ideologia se traduz na imposição da hegemonia de uma classe sobre as demais, ou seja, na capacidade que a classe dominante tem de tornar predominantes seus interesses e necessidades, por meio do Estado ou da mídia, na medida em que os aparelhos ideológicos difundem os ideais e os pensamentos dominantes.
   E o que são 'aparelhos ideológicos'? 
Althusser afirma que a ideologia compreende uma existência material pois “uma ideologia sempre existe em um aparelho, em sua prática ou de práticas.” Ela sempre se manifesta através de ações, que estão inseridas em práticas, por exemplo, rituais, comportamentos convencionais etc Todos os aparatos ideológicos do Estado, sejam eles quais forem (família, educação, religião,...), contribuem para o mesmo resultado: a reprodução de relações de produção, isto é, relações de exploração capitalistas.

E o Alysson Mascaro completa dizendo do 'diálogo' entre Althusser e a psicanálise, que a IDEOLOGIA, constitui a nossa subjetividade, o nosso inconsciente, nossos desejos, domina toda a nossa compreensão de mundo... o que permite a exploração.

E, portanto, será preciso superar a constituição ideológica do capitalismo e criar a possibilidade da construção de outros aparelhos ideológicos, outra ideologia que criaria o desejo "do povo se levantar para mudar o mundo".  E ele nos dá a dica: a construção de CENTROS SOCIALISTAS, a partir de encontros para conversar sobre VIDA E POLÍTICA, em espaços que podem ser a calçada, a rua, a garagem, em torno do fogão a lenha... como são alguns encontros do SBC já relatados aqui no nosso blog (vejam, por exemplo, post de 15 de dezembro de 2021: Na calçada: conversando sobre maniqueísmo (e mais um pouco sobre democracia...s).
Enfim, precisamos nos organizar, olhar para todos os lados, enfrentar e construir a transformação social necessária a um mundo melhor, mais justo, mais bonito... como ensinam Mark Fisher, Ailton Krenak, Mariana,  Dirlene, Mascaro, Edna, Althusser... e muitxs outrxs...

Gratidão a todas e todos...