quinta-feira, 29 de junho de 2023

Sobre nossa HUMANIZAÇÃO

 


“Maio, antes que você me esqueça”, com os atores Maurício Cangussu e Ílvio Amaral, conta a história de um pai acometido pelo "Mal de Alzheimer" visitando seu filho paisagista, num final de semana. A relação dos dois vai da comédia ao drama, emocionando e divertindo a plateia.  O texto da peça foi escrito há mais de 10 anos pelo dramaturgo Jair Raso, que atendeu a um pedido de Maurício e Ílvio, que pretendiam abordar o tema “Alzheimer”.

 

Sinopse:

 

Qual o lugar do afeto, numa relação entre pai e filho, onde pouco coube a intimidade ao longo dos anos? Quando sobra intransigência, falta espaço para o encontro. E nesse contexto as heranças familiares vão muito além da construção de histórias, lugares e bens materiais. O principal legado é o afeto. 

 

Uma doença que fragiliza a memória de uma vida é capaz de construir memórias afetivas entre o pai e o filho. Nesse espetáculo teatral, as memórias, lapsos, ressentimentos e descobertas tecem uma história, que nos lança numa sala, como testemunhas de um encontro dramático. É possível escrever de forma divertida e emocionante sobre um tema tão árduo. 

 


Saímos da peça chorando, principalmente nossa amiga SBCense que perdeu o pai em função dessa doença. Claro, fomos beber e conversar... Sobre como a peça nos mostra da importância da revelação dos afetos, todos eles, sem categorizá-los a priori, como aprendemos... sim, aprendemos a colocar nossos afetos numa prateleira, nos lugares mais "altos" os afetos que "temos que ter", ou fingir que temos, os afetos "nobres"... e vai descendo a prateleira, os afetos "menos nobres", que negamos, reprimimos, fingimos que não os temos... e a tragédia se revela: estamos sendo "comandados" por estes afetos "proibidos de serem revelados" e nem sabemos disso... e são justamente esses afetos que podem estar nos impedindo aqueles outros ditos "afetos positivos". Enfim, nosso "processo de humanização" deve, necessariamente, incluir afetos ditos negativos - raiva, medo, entre outros... para que os "positivos"  (amor, admiração, ...) se manifestem de uma maneira mais autêntica. 


E, junto com os afetos, todos eles, as lembranças da nossa história com pai e mãe... muitas vezes, e a peça nos diz sobre isso, as nossas lembranças - as boas, alegres, bonitas...  e as tristes -  com pai e com mãe, não são as mesmas deles... e, nunca - ou raras vezes, conversamos com eles sobre isso. Você já perguntou pro seu pai ou sua mãe sobre as lembranças deles da sua infância?


E fui pra casa da minha mãe disposta a essa pergunta... e realmente, constatei que minhas memórias não são as mesmas dela... e que podemos - e é bom, foi gostosa a conversa - fazer essa troca de memórias, isso nos aproximou mais - ou melhor, isso nos humanizou...


"Desfile do INSA (Instituto Nossa Senhora Aparecida) na praça principal da cidade, em frente o grupo..... Atrás, a Igreja Matriz da cidade. Você devia ter uns três anos e seu irmão quatro ou cinco. Depois da missa, só eu com vocês dois, seu pai não foi não me lembro o motivo, fomos acender as velas na parte de trás da igreja, no cruzeiro. Seu irmão começou a fazer pirraça porque queria acender outra vela, e você queria ir embora porque estava apertada pra fazer xixi. E eu fiquei nervosa com essa situação, ainda mais quando um vizinho, vendo a pirraça, comentou que "menino com essa pirraça merece é tomar uma surra"... e você disse: mãe, deixa ele acender a outra vela! eu faço xixi na calça... mas eu fiquei ainda mais nervosa e dei um beliscão no seu irmão pra ele parar de fazer pirraça, daqueles beliscões que ficou o roxo no dia seguinte... de raiva do vizinho eu machuquei seu irmão, não sei se de raiva, vergonha, ou me sentindo sozinha com vocês ... e você fez o xixi na calça mesmo..."

"Ai, quando você foi fazer primeira comunhão, sua tia que morava em Belo Horizonte mandou fazer um vestido lindo com uma modista famosa, Dona Fenatti... era um vestido diferente,  todo bordado num tecido grosso... e todas as meninas tinham vestidos de tecido fininho e todo rodado... quando recebemos o vestido você não gostou, ficou decepcionada porque  queria um vestido igual ao das outras meninas!!! Ficou chateada, com a cara emburrada, até na foto a carinha está triste... e nós também ficamos tristes, eu e sua tia..."

"Pois eu tenho outras lembranças... você lembra que eu ganhei uma calça de brim, estilo jeans, da cor amarela? era linda! e eu adorava essa calça! mas toda vez que eu vestia e saia no quintal com a calça, algum bicho - uma galinha, um passarinho, qualquer bicho - cagava na calça.  De algum modo o bicho achava um jeito de cagar, deve ser que eu gostava de pegar o bicho e botar no colo, né? e todo mundo ria quando isso acontecia... e virou um bordão: calça amarela, que o bicho cagou nela... e eu ficava puta, chorava... mas não tinha jeito, acontecia toda vez que eu vestia a bendita da calça..."

Rimos... e choramos... difícil,  e necessário nos humanizarmos... dá trabalho, dá prazer, dá tristeza, vem tudo junto e misturado, todas as emoções... 

Porém, como já dizia Freud, a evitação do sofrimento provoca, também, o "fechamento dos poros"... e não entra o prazer também, vivemos pela metade se evitamos algumas emoções.

Viver dá trabalho... ser humano dá trabalho...  dá prazer ... bora arregaçar as mangas...



E mais: o amor não vem pronto... é uma viagem, uma construção... 
Assim como para a VIDA, o AMOR exige coragem...

Abraços carinhosos... 









segunda-feira, 26 de junho de 2023

BONS ENCONTROS

 

O Movimento do Graal é uma organização internacional de mulheres comprometidas com a transformação do mundo em uma comunidade de justiça e paz. Trata-se de movimento  ecumênico, cultural e social e está presente em mais de 20 países, com status consultivo no Conselho Econômico e Social da ONU desde 1998. 

Fundado na Holanda em 1921  pelo Pe. jesuíta Jacques Van Ginneken, o  Movimento do Graal no Brasil iniciou suas atividades no final dos anos 40,  tendo como elemento central da sua existência a  vida das mulheres, a espiritualidade e a justiça social. 

o Graal cultiva a cultura de cuidados para o nosso planeta e sobretudo para a vida das mulheres. 

Lema: Sempre igual, nunca a mesma.

"Atuamos na mobilização e no fortalecimento da organização de mulheres para que se tornem protagonistas nos diversos espaços em que estão presentes de forma a provocar a transformação das relações sociais tanto no espaço privado quanto no espaço público. Estamos envolvidas também com iniciativas de cuidado e proteção em relação às situações de violência contra as mulheres. A nossa estratégia de atuação está fundamentada na concepção metodológica da educação popular, combinando o processo educativo com as ações de incidência das mulheres sobre o estado e a sociedade. Está alinhada com a luta do movimento feminista, percebendo o patriarcado como um sistema de todas as opressões, que oprime as mulheres, a humanidade e a natureza."

E ontem, domingo, dia 25 de junho, tivemos no Graal a inauguração da Biblioteca Lalá Diniz. Como todo evento desse movimento, tivemos, além das comidinhas sempre gostosíssimas, os bons encontros:

Falamos do SBC, da nossa história e dos nossos projetos, e cantamos... e conhecemos nossa querida CLEU - Cleudes Pessoa, que mora atualmente em Brasília e representa do Graal por lá. 


Ela nos apresenta seu mais novo livro:

... e nos brinda com o poema:


“Arrumação” 
Meus cabelos são ousados... 
Adoro citar o céu azul do Cerrado... 
Todo dia tento “arrumá-los”, mas são teimosos, adoram fitar 
o alto... 
Fico pensando que minhas atitudes no amor, deveriam ser iguais a eles: ousados! 
Fico pensando então, arrumo o cabelo ou o coração? 
Vou arrumar meu coração! 
 Pois cabelos apontam para o alto, para minha afirmação que é negra.


Li o seu livro "Poética da Cura" de "uma sentada só"... e adorei... e colhi mais uma pérola:


Melhor assim... 
Na sexta, Rimos, muito... É assim que me liberto. 
Tem momentos na vida que estamos tão com nós mesmos
que parece latejar, dói, 
Então, me solto em risos, Melhor assim. 
Alguns dias atrás, chorei, muito... 
Procurei desesperada por alguém para me ouvir, me olhar... 
 Achei, O amor cura. 
Melhor assim. 
À volta... 
Olhos se encontrando, o contar de novidades, um brilho,
 ser mãe é viver sentimentos inesperados. 
Melhor assim. 
Tem dias que sou pedra, pesa ser quem sou... 
Tem dias que sou flor, minha leveza se desmancha em gargalhadas... 
Hoje sou poesia, sou verso, não tem volta. 
Melhor assim.





Melhor é ter a sua amizade... Melhor é compartilhar com você, minha querida amiga, desses bons momentos... Melhor é sorver da sua poesia... 
A vida é feita desses bons encontros... Obrigada Cleu... 
Obrigada a todas do Graal... Sigamos de mãos dadas... Até nosso próximo encontro. 








terça-feira, 20 de junho de 2023

Reflexões SBCenses: sobre ampliação da consciência

 Octavio Paz foi um poeta, ensaísta, tradutor e diplomata mexicano notabilizado, principalmente, por seu trabalho prático e teórico no campo da poesia moderna ou de vanguarda. Recebeu o Nobel de Literatura de 1990. Escritor prolífico cuja obra abarcou vários gêneros, é considerado um dos maiores escritores do século XX e um dos grandes poetas hispânicos de todos os tempos.

Seu livro O labirinto da Solidão reflete sobre a identidade do México e os valores culturais que movem os fios de sua história. Escrito  em forma de ensaio e publicado pela primeira vez em 1950, a densidade de suas abordagens o tornou um texto de referência para toda a América Latina. 

"O século XX na América Latina se abre com uma questão nascida de uma independência quase incipiente: a identidade hispano-americana existe, ou em que consiste? Essa questão preocupa também Octavio Paz neste grande ensaio denominado O Labirinto da Solidão, onde o autor se questiona sobre a identidade do ser mexicano especificamente. Sua pergunta principal será "o que torna os mexicanos diferentes?"


José Geraldo de Sousa Junior, atualmente com 76 anos de idade, intelectual e jurista,  professor titular da UNB Universidade de Brasília.

É conhecido por ser um grande protagonista da luta contra o autoritarismo, participando ativamente de diversas iniciativas voltadas à promoção e a defesa da cidadania, do ensino com práticas pedagógicas sensíveis voltadas à efetivação dos Direitos Humanos, da justiça e da democracia.
Possui doutorado em Direito pela Faculdade de Direito da UnB (2008), na qual leciona, e é especializado em Direito, Estado e Constituição.   Já foi reitor da universidade do ano de 2008 a 2012.
Em 1973, fez graduação em Ciências Jurídicas e Sociais pela Associação de Ensino Unificado do Distrito Federal. Ao longo do tempo já realizou diversas publicações de obras autorais como “Da Universidade Necessária à Universidade Emancipatória”, “Para uma Crítica da Eficácia do Direito” e “ O Direito Achado na Rua: Sujeitos Coletivos. Só a Luta Garante os Direitos do Povo!” 
O Direito Achado na Rua (DANR) é uma concepção teórica, desenvolvida a partir das ideias de Roberto Lyra Filho, que tem por objetivo pensar o Direito derivado da ação dos movimentos sociais por meio de uma perspectiva que o entende como uma “legítima organização social da liberdade". Designa também o movimento político-teórico e sociológico-jurídico surgido a partir desta visão, que toma forma na Nova Escola Jurídica Brasileira. E o nosso José Geraldo atua, atualmente, como coordenador desse projeto.

O que  junta o carioca José Geraldo com o mexicano Octávio Paz? e com o SBC?
- O "conceito de vida", a "consciência possível"...  melhor, o movimento constante -  necessário e bonito para a vida - de ampliação da consciência - e a beleza das trocas humanas para o crescimento, tanto do indivíduo quanto da sociedade.

No dia 14 de junho, quarta feira feira passada, José Geraldo, na CPI do MST,  nos presenteou com uma poderosa fala: Em resposta a uma deputada do PL, ele começa citando Octávio Paz, no livro "O Labirinto da Solidão", dizendo que quando Colombo chegou na América nas suas caravelas, os índios olhavam mas não viam as mesmas,"...pois não havia cognição para representar cerebralmente uma imagem que era incompatível com o quadro mental de uma cultura que não tinha elementos para visualizar aquilo"...  Ele acrescenta o conceito grego de TEORIA: teores, que significa "aquele que vê". Isso para dizer da dificuldade de comunicação quando "as visões de mundo são antagônicas"; e, fazendo um exercício de humildade, conclui sobre o esforço necessário para o movimento de compreensão do outro, pois somente com esse esforço ocorrerá a comunicação. 

Essa fala nos provoca reflexões importantes, sobre consciência possível e sobre comunicação e relações humanas:

Em primeiro lugar,  consideramos que "enxergamos o que somos capazes de compreender"...  Usando uma metáfora: "tendemos a enxergar o mundo da janela do nosso quarto". 

Lucien Goldmann (1913-1970), filósofo e sociólogo francês, fala sobre a importância do conceito de “consciência possível”,  fundamental para o estudo da comunicação humana, podendo ser usado na abordagem das possibilidades de transferência da informação em diversos grupos na sociedade.

Em seguida, torna-se necessário conversarmos sobre o exercício da alteridade:

Antes de Goldmann, no século XIX, Arthur Schopenhauer, filósofo alemão,  em sua obra "O mundo como Vontade e Representação" (1819), já nos dizia sobre o esforço necessário para olharmos as coisas de formas diferentes das que estamos acostumados. 

E outro filósofo alemão contemporâneo de Schopenhauer,  Friedrich Wilhelm Nietzsche, no prefácio do seu livro A Genealogia da Moral, nos diz da postura de "paciência diante do que nos é mais antípoda", até mesmo para desenvolvermos a capacidade de argumentação e diálogo com o(s) diferente(s) de nós. 

Estes são alguns autores que nos ensinam o RESPEITO AO DIÁLOGO, como disse nosso grande professor José Geraldo na sua belíssima aula na CPI:  "levar a sério o que o outro diz" cria a possibilidade de algum "furo de bolha"... E a construção da relação dialógica, a construção das "pontes da linguagem" - ou seja, conversar e se entender exige esse movimento - e exige, também, a atitude (ou virtude) da humildade... Sair das nossas certezas. 

José Geraldo cita, também, outro filósofo importante: Roland Barthes  (1915 — 1980), escritor, sociólogo, crítico literário, semiólogo e filósofo francês que fez parte da escola estruturalista. Ele nos diz sobre a importância da "desconstrução das estruturas"... Do nosso jeito de pensar "pronto e acabado", das nossas certezas, para "receber o outro".


E nos reporta à nossa filósofa  Márcia Tiburi, que lançou o livro "Como conversar com um fascista" em 2015... depois foi morar na França pois estava sofrendo ameaças de morte... atualmente está para retornar ao Brasil ... e o seu livro é, ainda, atual e necessário.

"Reflexões sobre o cotidiano autoritário brasileiro: Com sua rara capacidade de explicar temas filosóficos para o leitor comum, Marcia Tiburi alcançou o sucesso de público e de crítica como uma filósofa pop. E nesses tempos de nervos à flor da pele e agressivos embates políticos, Marcia traz em Como conversar com um fascista um propósito filosófico-político: pensar com os leitores sobre questões da cultura política experimentada diariamente, de um modo aberto, sem cair no jargão acadêmico. O argumento principal é como pensar em um método, ou uma postura, para contrapor o discurso de ódio, seus reflexos na sociedade brasileira e repercussão nas redes sociais. A filósofa propõe o diálogo como forma de resistência e analisa notícias recentes e acontecimentos do mundo político para mostrar mais uma vez que é possível falar sobre temas complexos de maneira que todos compreendam". 

E chegamos à reflexão sobre a necessidade do movimento de ampliação da consciência:  um processo que ajuda a responder perguntas sobre autoconhecimento, abertura para o outro e desenvolvimento de visão de mundo. 

A ampliação de consciência, segundo nosso entendimento, é aberta a todos, mas é sutil ... E é necessária uma certa sensibilidade para alcançá-la, ou melhor, desenvolvê-la. Trata-se de algo que precisa ser feito se pretendemos nos situar no mundo de uma forma mais bonita, construir relações mais simétricas, assim como pensar uma sociedade mais justa e mais humana. Não se trata de algo místico ou que somente desenvolveríamos através de meditação. Embora a meditação possa, também ajudar nesse processo, trata-se de algo maior... de uma "disposição interna" para o movimento constante tanto para dentro de nós - o autoconhecimento, quanto para fora de nós, conhecer o outro, pensar a diferença, conhecer o mundo e nos colocarmos enquanto sujeitos transformadores.

E aprendemos, também, com nosso filósofo José Geraldo, que a aprendizagem de tal movimento passa pela semiótica, que é a ciência que analisa todos os sistemas de comunicação presentes numa sociedade:

Mais uma vez nosso professor José Geraldo nos dá exemplos:
. A palavra é OCUPAÇÃO, não invasão... e essa compreensão muda nossa visão:
"A prática de apropriação do MST foi definida como OCUPAÇÃO. Não foi por mim ou pelos meus escritos, foi pelo STJ. Que em acordão escreveu que não pode ser considerado esbulhador* aquele que ocupa da terra para fazer cumprir a promessa constitucional da reforma agrária."
* fútil, insignificante

. Assim como a palavra é INVASÃO e não "descobrimento" do Brasil... no entanto, " des-aprendemos" que o Brasil foi "descoberto", desmerecendo todo o povo que já estava aqui, nossos ancestrais ... e isso também gera distorções, inclusive na construção da nossa identidade de uma forma autônoma enquanto brasileiros e brasileiras.

. Como, também, des-aprendemos sobre a Lei Aurea, o que contribui para a invisibilização de toda a luta histórica, muito antes da Princesa Isabel, do povo escravizado, pela sua libertação.

. Desaprendemos a lutar pelos nossos direitos quando a "religião" nos diz, de uma forma sutil "como uma patada de elefante" que os direitos são dados por um ser superior, que não precisamos lutar por eles no concreto, diariamente nas nossas vidas, tanto de forma individual quanto coletiva.

. Perdemos de vista a importância do uso da linguagem neutra, o sentimento de pertencimento que podemos causar numa pessoa que não pertença ao binarismo masculino-feminino.

. Mais ainda: no movimento de ampliação da consciência vamos compreendendo como o nosso mundo reproduz o machismo, a misoginia, na linguagem e no comportamento. Vejam que:
Homem honesto é entendido como o que paga as contas: mulher honesta é a fiel, recatada...
Homem público é aquele que defende os interesses de uma classe ou um povo; já mulher pública é entendida como mulher da vida, puta...

Pode parecer desatualizado para pessoas que se dizem não preconceituosas, não machistas... porém estas "sutilezas de elefante" estão presentes no nosso cotidiano, desde as relações íntimas até as relações públicas, o exercício da nossa cidadania. E começar a ver isso exige muito a postura de HUMILDADE que, na nossa cultura, também já assimilamos e internalizamos de maneira distorcida, apendemos a confundir humildade com HUMILHAÇÃO, o que gera grandes desencontros na comunicação, na percepção de si mesmo e nas relações, em todos os níveis de relação. E que, ao fim e a cabo, promove a reprodução de uma sociedade assimétrica, autoritária, fascista enfim...

Descolonizar nossas mentes vem a ser um exercício diário de desconstrução de estruturas fascistas, diz nosso professor José Geraldo. Numa entrevista posterior ao depoimento que citamos aqui, ele mesmo nos revela sua insatisfação com o "recorte" que mesmo a mídia alternativa, de esquerda, fez com toda a sua fala durante o depoimento na CPI. Ele comenta que o recorte foi misógino, é revelador da nossa sociedade machista, pois pareceu que ele estava se dirigindo apenas à mulher, à deputada, quando na verdade ele estava falando para todas as pessoas ali presentes. Inclusive outras falas do nosso professor para demais deputados são tão importantes quanto... Assistam os melhores momentos:


Enfim, são dessas "sutilezas" que falamos, que precisamos estar atentos e atentas, que precisamos, com humildade, perceber nossas "reproduções"... que somente percebendo é que "ampliaremos nossas consciências"... e nos tornaremos pessoas melhores... e nos relacionaremos de formas mais livres, mais simétricas e mais bonitas.


Obrigada grande professor, o SBC tem a convicção de que o movimento para a ampliação da consciência é necessário e bonito para a vida e as relações. É a partir dele que desenvolvemos o conhecimento de nós mesmos, do mundo ao nosso redor... descobrimos o que, realmente, nos causa sofrimentos psíquicos... e o que, realmente, gostamos e queremos para nós e para o mundo.
        

Abraços carinhosos a todas, todos e todes...







sábado, 17 de junho de 2023

Viagens SBCenses: Belém... e Cuba

 

Nos dias 8, 9 e 10 de junho, semana passada,  estivemos na 26a Convenção Nacional de Solidariedade com Cuba, na UFPA Universidade Federal do Pará, em Belém, uma realização da MOCAP (Movimento Cabana em Apoio as Lutas pela Autodeterminação dos Povos) e o MBSC (Movimento Brasileiro de Solidariedade com Cuba). 

Gente de todo Brasil, de Minas representantes do CEBRAPAZ (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz) e da Associação Cultural José Martí...  e muita gente de Cuba, destacando o Embaixador desse país, Adolfo Curbelo Castellanos e um herói da República de Cuba, Fernando Gonzalés Llort, presidente do ICAP (Instituto Cubano de Amistad con los Pueblos), um dos cinco heróis cubanos que estiveram presos nos EUA após serem pegos durante missão secreta naquele país. Filme de 2019,  Wasp Network, do diretor francês Olivier Assayas, baseado no livro-reportagem Os últimos soldados da guerra fria, do jornalista e escritor Fernando Morais, fala sobre esse tema.



Com a arte permeando todo nosso encontro, música, dança, cinema... como os vídeos acima, o primeiro, Guantanamera, uma homenagem a José Martí; o segundo BLOQUEIO: A guerra contra Cuba, editado pelo Comitê Carioca de Solidariedade da Cuba... dois temas centrais foram apresentados e discutidos: O Sistema de Saúde em Cuba; e A Educação como pedra angular da Revolução Cubana. 

E, em relação à Educação,  nos ocorre uma "síntese" comparativa entre o Brasil e Cuba: no segundo dia da Convenção tivemos os Grupos de Trabalho. Ao realizar as orientações, entre outros grupos (Brigadas de Solidariedade; Comunicação - imaginário internacionalista e a Revolução Cubana nas redes; Frentes Parlamentares em defesa da Revolução) o coordenador falou de um grupo de educação... e foi aí que muitas pessoas interessadas em discutir sobre EDUCAÇÃO ficaram no auditório, lugar indicado para aquele grupo. Esperamos durante algum tempo, quando então nos foi avisado que foi um engano, não teríamos este grupo de educação, e nos orientaram a juntarmos aos outros grupos já formados. Então, no caminho, ouvi de um jovem ao meu lado: "Assim é o Brasil, a educação sempre está a reboque"... e concluímos: "Essa é a "síntese": quando o Brasil aprender com Cuba sobre Educação, aí a gente vai melhorar muito".  Rimos e constatamos que teríamos vivenciado uma "oficina" ou "grupo de reflexão" ao vivo e a cores.

Continuando no tema Educação, o dado sobre investimento nessa área em Cuba: 25% do PIB, enquanto no Brasil é de 4%... isso é um dos fatores que faz a diferença. Outra questão é sobre "Qual Educação?" ... e aí aprendemos a juntar Martí, Fidel, com nosso Paulo Freire: Freire foi a Cuba em 1987 convidado pela Universidade de Havana. Foi quando ele disse; "Minha alma sempre esteve em Cuba". 

Trata-se da Educação cidadã, da Educação Transformadora! E da Educação dialógica: o professor aprende quando ensina. Uma das ideias que junta Freire e Martí é a "FÉ NO MELHORAMENTO HUMANO", além da decoloniedade..."Nenhum povo é dono do seu destino se antes não é dono da sua cultura". Martí, assim como Freire, falam de uma cultura legitimamente sul americana... do "sentimento de pertencimento"... Da construção da nossa identidade, não da "identidade reflexa", aquele "produzida pelo colonizador", mas da "identidade autônoma", quem somos, nossos ideais, valores, nossa visão (e construção) de mundo. 

Enfim, o bloqueio atinge todas as áreas em Cuba, e já atinge, também a quarta geração naquele país. Apesar disso, a prioridade é a educação e a saúde. 


Assim terminamos nossa Convenção... Depois,  passeio na cidade. Belém, capital do estado do Pará, com história desde princípios de 1600 com a construção do forte do Presépio,  é uma ilha rodeada por rios, entre eles o rio Guamá - que significa "lágrimas que caem". 



Além de visita à Basílica Santuário de Nazaré -  para as pessoas religiosas um ótimo passeio; à feira VER O PESO - carinhosamente chamada de VEROPA pelos nativos;  e à estação das docas - onde comemos o melhor peixe (filhote) com açaí, e bebemos a famosa cachaça de jambu, planta típica da região que, além de anti inflamatório, analgésico, diurético, estimulador do apetite, é afrodisíaco! ...


... Imperdíveis são os passeios de barco ... Principalmente  Ilha de Combu, onde, numa caminhada com o Seu Landi, vimos a riqueza da floresta amazônica, no caso, paraense: 



                                                            UXI - espanta mau olhado


                                             Tronco de castanheira de 300 a 400 anos


                                                                Tucumanzeiro

                                          VimDeCa - dá cheiro na roupa e tem efeito calmante

Essa é uma pequena amostra da riqueza da floresta do Pará. Para além, temos a riqueza do povo dessa região, super acolhedor, segundo nosso amigo vendedor de bombons, o povo do Pará é muito cativo. E perguntamos o que significava cativo... CATIVANTE. Gostamos de andar de ônibus pela cidade, pois nos pontos e na viagem era só puxar conversa que conhecíamos a cultura local contada por eles mesmos. E, não sei se por cuidado com os turistas ou por uma "cultura do medo", o que mais ouvíamos era "tome cuidado", "aqui é muito perigoso", "preste atenção"...  quase nos desencorajando qualquer passeio a pé, o que adoramos fazer e não nos sentimos intimidadas. 

Outro jeito de apreender a cultura local foi através das camisetas:


PAVULAGEM: vaidade, aqui em Minas seria METIDEZA


Veropa, como eles dizem, é a feira... E pitiú é o cheiro do peixe. O interessante é que eles ressignificaram o conceito: para eles não significa "mau cheiro" e sim o cheiro, quando é forte, significa "boa pesca"...  inclusive os urubus, que eles conhecem muito de perto, voam baixo quando sentem este cheiro. 

E, para nós, "ver" a cidade com os olhos deles é o que existe de bonito e gratificante.  Obrigada paraenses, pelo acolhimento! 

E, terminando, o paraense tem um gosto musical super apurado. A gente só ouve música boa: além do samba, do forró de primeiríssima, o CARIMBÓ, que maravilha!!! Aqui lembrando querida Dona Onete,  professora, sindicalista, gestora e diva do carimbó. 


Segundo SBCense presente nessa viagem, todas as paraenses têm "a cara" da Dona Onete.


O SBC agradece - e brinda -  às pessoas companheiras de viagem de todo o Brasil.


 
À vida!!! Às ótimas viagens!!! e Até Vitória !!! no Espirito Santo, daqui a dois anos, nosso próximo encontro... Ou até Cuba, antes disso...

Abraços carinhosos...