segunda-feira, 2 de março de 2015

Reflexões SBCenses: as pessoas e os LPs


Olha que imagem bacana!!!
 
Estava escrevendo este post quando fui tomar uma cerva no LA PUTTANESCA LOUNGE CAFÉ, com meu querido amigo Edu. Lá conheci o Mauro, que me mandou a foto de uma parede do lugar, o que eu precisava para ilustrar nosso post. Obrigada, queridos novos amigos!!! Então, vamos às considerações sobre as pessoas e os LPs...

O disco de vinil, conhecido simplesmente como vinil, ou ainda Long Play (LP) é uma mídia desenvolvida no final da  década de 1940 para a reprodução musical, que usa um material plástico chamado vinil (normalmente feito de PVC), usualmente de cor preta, que registra informações de áudio, que podem ser reproduzidas através de um toca-discos. Possui microssulcos ou ranhuras em forma espiralada que conduzem a agulha do toca-discos da borda externa até o centro no sentido horário. Trata-se de uma gravação analógica, mecânica. Esses sulcos são microscópicos e fazem a agulha vibrar. Essa vibração é transformada em sinal elétrico. O sinal elétrico é posteriormente amplificado e transformado em som audível (música).

O vinil é um tipo de plástico muito delicado e qualquer arranhão pode tornar-se uma falha, a comprometer a qualidade sonora. A poeira é um dos piores inimigos do vinil. Os discos precisam constantemente ser limpos e estar sempre livres de poeira, ser guardados sempre na posição vertical e dentro de sua capa e envelope de proteção (conhecidas, vulgarmente, como capa de dentro e de fora).

Entre a década de 1970 e meados da década de 90, o cassete era um dos dois formatos mais comuns para a música pré-gravada, junto aos discos de vinil. Eu contava a duração das minhas viagens não em tempo ou em quilometragens, mas em quantas fitas cassetes eu precisava para chegar ao destino. A venda de conjuntos integrados (no Brasil 3 em 1) com receptor FM, toca-discos para vinil e gravador cassete fizeram com que houvesse uma tremenda difusão nas fitas gravadas domesticamente, cada um podia fazer a sua seleção de músicas das rádios ou dos discos.

 

Durante a década de 1980, a popularidade do cassete se manteve como resultado dos gravadores portáteis de bolso e os reprodutores pessoais como o Walkman da Sony, cujo tamanho não era muito maior do que o do próprio cassete e que permitia a música ser levada "dentro do seu bolso".

À parte dos avanços puramente técnicos dos cassetes, estes também serviram como catalisadores para o câmbio social. Sua durabilidade e facilidade de cópia ajudaram na difusão da música underground e alternativa bem como no intercâmbio musical entre o então "Ocidente" e a "Cortina de Ferro" (países socialistas) trazendo a música underground rock e punk e levando o rock ocidental.

A partir do final dos anos 80 e início da década de 1990, a invenção dos compact discs (CD) prometeu maior capacidade, durabilidade e clareza sonora, sem chiados, fazendo os discos de vinil ficarem obsoletos e desaparecerem quase por completo no fim do Século XX.

No Brasil, o LP começou a perder espaço em 1992. Em 1993 foram vendidos no Brasil 21 milhões de CDs, 17 milhões de LPs e 7 milhões de fitas cassetes.

A partir de 1995, as vendas do LP declinaram acentuadamente. Apesar disso, alguns audiófilos  (não conhecia essa palavra!!!)  ainda preferem o vinil, por acreditarem ser um meio de reprodução sonora bem mais fiel que o CD. Ainda existe o forte aspecto lúdico que os discos de vinil proporcionam segundo os seus defensores, já que a embalagem comercial do LP proporciona um espaço muito maior de exposição em relação ao CD por exemplo; onde costuma-se inserir artes e posters em tamanho muito superior, e de fato vários vinis lançados ao longo dos seus anos dourados (e atualmente também) possuem em suas embalagens verdadeiras obras de arte, muito apreciadas por entusiastas que as manuseiam durante a audição dos discos. Nós já falamos sobre isso (veja nosso post de 24.jan.2013), quando citamos a capa do disco TODOSOSOLHOS, do Tom Zé, de 1973, plena ditadura e o cara coloca na capa um olho (olha lá no post, vale a pena). O ritual próprio de desembalar, manusear cuidadosamente o disco, apreciar a arte dos grandes encartes, virar manualmente os lados quando estes acabam é muito apreciado pelos defensores desta mídia analógica, representando uma melhor apreciação do som e do produto mercadológico oferecido pelo artista.

Por estes motivos até hoje se fabrica LP e toca-discos em escalas consideráveis, bem como intensa procura e troca de novos e usados, que são objetos de relíquia e estima para audiófilos e entusiastas de música em geral.
 
Feita nossa pesquisa GOOGLELÍSTICA... (no google, gente!) vamos à nossa PESQUISA ANTROPOLÓGICA SBCense: a comparação das pessoas com o LPs é riquíssima e provocou inúmeras reflexões, conversas, descobertas... tudo de bom... não me perguntem quem me sugeriu tal comparação, não me lembro... só sei que apropriei e fui trocando ideias com todo SBCense que encontrava... e aí vão elas, quem quiser que aproveite... para o autoconhecimento, para a vida e as relações: 
  • A primeira vista todo SBCense dizia: ah, eu quero ser o lado B, é muito mais interessante! pensando mais um pouco chegávamos à reflexão que esta é uma conclusão rasa, superficial... tem muito mais coisa a se pensar...
  • Vamos às perguntas: comparando com o vinil, o que seria o lado B das pessoas? e o lado A ? Como tal metáfora e as reflexões sobre a mesma me/nos enriqueceriam?
  • E às elaborações: o LADO B, segundo elaborações de SBCenses famosos, é o nosso lado "eu mesmo", o nosso lado mais autêntico, mais livre, mais sentimentos, emoções; já o LADO A é aquele que depende da aprovação, do reconhecimento dos outros, portanto, o lado que incorpora os padrões aceitos socialmente, o lado "bonzinho", o lado que "aparece mais no social".
  • Captada a metáfora, vamos visualizar: imaginem uma pessoa em que predomina o Lado A... imaginaram? conhecem? aff... não sei se essa pessoa faz mais mal a ela mesma ou às suas relações... vou tentar descrever, do que ouvi: primeira coisa, é muito fake essa pessoa, fabricada, não conhece seu lado B, foge dele, talvez por medo.  Deve ser rígida, auto controladora, assim como deve ser também uma pessoa que quer controlar, submeter, "comprar" os outros. E, convenhamos, é uma prisão terrível ser não aquilo que somos mas o que o outro gostaria que fôssemos. E mais, uma pessoa "adaptada" pode representar um perigo muito grande, a si mesma a às pessoas ao seu redor.
  • Ouvi também o seguinte: TU, eu percebo que meu lado A em excesso me faz mal, sinto que seria uma pessoa muito melhor se eu desse mais abertura ao meu lado B, sinto que seria mais leve... mas fui educado muito Lado A e o resultado é um medo que apareça o Lado B. Olha que lindo!... essa pessoa já fez uma reflexão do tipo meio caminho andado para enfrentar "o trabalho que dá viver uma vida autenticamente vivida".
  • Já as pessoas longe disso são aquelas Lado A "racionais". Estas merecem nosso temor, são elas as mais fakes... mas, no fundo, são terrivelmente tristes e solitárias essas pessoas. Imagino a auto estima dessas pessoas oscilando entre a sensação de  serem Deus e, outra hora, serem o nitrato do pó da bosta do cavalo de Napoleão. E essa oscilação dificulta ainda mais para essas pessoas se encontrarem na sua humanidade.
  • Agora, o outro lado, o Lado B... o excesso desse lado... aí, sabe aquela pessoa que diz assim: "porque eu sou uma pessoa autêntica, eu digo a verdade"... e, em nome dessa "verdade" a pessoa fere, se torna agressiva... este é somente um exemplo do exagero do Lado B.
  • Tem aquela pessoa que se deixa dominar pelas emoções, então, quando está triste, arrebanha todo mundo ao seu redor e vai puxando todo mundo para a sua tristeza, ela é o umbigo do mundo... Lado B...
  • Pensando relacionalmente, quando, na relação, está aparecendo mais o lado B da pessoa... queridx!... já está na hora de estabelecer um distanciamento cortez (se for o caso de uma relação de amizade) ou um tempo mesmo (se for uma relação íntima); e, se for no trabalho, dê um jeito de procurar outro trabalho (se for com o chefe, então, procure rapidinho). É bom você pensar também o que em você está suscitando o lado B da pessoa. Penso que sentimentos e emoções "inconfessáveis" podem "dominar" a pessoa e ela começa a agir tomada pelas mesmas mas, sem consciência e sem saber administrar esses sentimentos e emoções. Alguns deles: inveja, ciúme, desejo de submeter x outrx... e por aí vai... Dá sim, prá tomar consciência e até "transformar" essas emoções, crescer com elas. A inveja, por exemplo, é uma ótima dica para o desejo, quando tomo consciência das minhas invejas posso ver o que o outro tem (ou é...) que eu também quero ter (ou ser...), e aí cresço com isso... mas quando a inveja é negada, reprimida ela aparece no lado B, de uma forma auto e hetero destrutiva. Agora, quando você percebe que pode estar sendo objeto de inveja, cuidado com esse lado B do outro. Se cuide, não entre em arrogância de achar que sabe lidar com isso.
  • Então TU, a conclusão SBCense é que devemos buscar o equilíbrio entre lado A e lado B? Não, não acho... melhor, detesto essa palavra "equilíbrio", tenho uma sensação de "desumanidade" nessa palavra, do tipo, em sendo humanos não somos equilibrados!!! a busca do equilíbrio me parece mais a preponderância do lado A. Acho que devemos procurar outra coisa: talvez primeiro conhecer melhor os dois lados, procurar ver em que cada lado nos faz bem e nos faz mal ("Viver é perigoso, pois a mesma coisa que me salva pode me matar"); conhecer também os ambientes em que faço parte, acho que esses dois movimentos (prá dentro e prá fora) são fundamentais para o amadurecimento... e então "estar sempre aprendendo" a articular bem cada um dos lados. Me lembro de um livro que foi muitíssimo importante prá mim na época em que li (e até agora... e sempre)...
Primeiro, a gente resignifica o conceito de "Representação": Aprendemos a contrapor o significado de representação com autenticidade, tipo quem está representando não é uma pessoa autêntica. Besteira. Aprendemos a "ser" representando... o papel de filhx, irmão, irmã... e por aí vai... o papel de "homem" e o papel de "mulher" nessa nossa sociedade machista... A questão, portanto, não é essa. A questão é procurar tomar consciência das nossas representações e verificar se elas são escravizadoras (não combinam com o que quero ser) ou libertadoras (é representando que vou aprendendo a ser quem eu quero ser, por exemplo, quero ser uma palestrante e tenho timidez... mas vou fazer o maior esforço para representar " uma boa palestrante", até que essa representação seja internalizada e eu consiga "ser", a representação passa a fazer parte da minha identidade. 
 
Outra questão aprendida com esse livro: conhecer as "máscaras" que uso, as representações que faço, e saber prá que elas estão servindo... e, cada vez mais, construir relações em que eu tenha menos necessidade de máscaras, esteja mais livre para o lado B (neste caso B de Bacana)... Uma das dificuldades para este movimento, processo ou esforço na nossa vida, é um outro conceito distorcido, mas bastante internalizado, um mito (no sentido de "verdade" que aprendemos e orientamos nossas vidas e nossas relações e, muitas vezes, são desorientações porque empobrecem a vida): o mito de que "a intimidade gera desprezo", o que leva ao medo do nosso Lado B  e às mascaras empobrecedoras do Lado A, enfim, a uma vida e  a relações pouco livres, pouco coloridas.
 
É verdade que a intimidade pode gerar desprezo, quando aprendemos a nos mitificar e mitificar as pessoas. Mas super verdade também que a intimidade pode gerar respeito, admiração, amor, isso somente se nos humanizarmos (a nós e aos outros), se buscarmos sempre conhecer e usar bem nossos dois lados.
 
E viva a vida!!!
 
Abraços carinhosos a todxs...
 
SantuzaTU
 
 
Quem quiser mandar reflexões teórico/práticas, casos, pesquisas antropológicas,  sobre Lado A, Lado B, sintam-se à vontade, só nos enriquecerá. Eu vou adorar... Mandem pelo FACE, por mail (tusantuza@gmail.com), por comentário aqui no blog, pessoalmente... como acharem melhor. Mas, por favor, me deixem publicá-las... obrigada...