sexta-feira, 10 de março de 2023

Conversas SBCenses: sobre 8M

 

Quantas vezes temos que repetir: NÃO É UM DIA ROMANTICO! É UM DIA DE LUTA!!!

Levantamento Datafolha realizado em janeiro desde ano,  a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que TODAS as formas de violência contra a mulher aumentaram no Brasil em 2022. Os dados apontam um cenário preocupante: diariamente, mais de 50 mil mulheres sofreram algum tipo de violência em 2022. As maiores vítimas são mulheres pretas, com baixo grau de escolaridade, com filhos e divorciadas, entre 25 e 34 anos. Entre as formas de violência empregadas contra as mulheres, houve uma piora em todas elas, seja física, como tiros e esfaqueamentos, ou insultos, humilhação e xingamentos.

Três condições podem ter ocasionado esse aumento da violência, diz o estudo:

1. Desmonte das políticas públicas  de enfrentamento à violência. Nos últimos quatro anos o corte da verba para essas políticas foi de 90%;

2. A pandemia COVID-19, que comprometeu o funcionamento de serviços de acolhimento às mulheres em situação de violência;

3. O crescimento no alcance do discurso de extrema-direita.

O Monitor da Violência traz, mais uma vez, os dados sobre violência de gênero no Brasil, mostrando que os casos de feminicídio continuam aumentando na maior parte dos estados brasileiros. Olhando para os dados históricos desde a promulgação da Lei 13.104|15, que qualifica como feminicídio o homicídio de mulheres pela sua condição de gênero, ou seja, pelo fato de serem mulheres, os registros aumentam ano a ano, indo na contramão da tendência de queda dos homicídios em geral. Isso mostra que "as mulheres ainda não conquistaram o direito à vida".  

E por falar em leis, o conhecimento sobre as leis que podem nos proteger e nos amparar é o primeiro passo para a mudança no sentido da nossa luta por direitos e para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A seguir algumas leis que toda mulher deve saber ( do insta da globonews):

E por falar em luta por direitos, tivemos em Belo Horizonte, nesta semana, dois encontros importantes, de luta:

O primeiro deles na Assembléia, dia 6 de março, temas importantíssimos sobre nossa saúde.

E, no dia 8 de março, sob a batuta da nossa querida Dirlene Marques, estivemos nas ruas defendendo pautas históricas do movimento feminista. algumas delas;
. Revogação de todas as contrareformas - da previdência, trabalhista, do ensino médio e do teto de gastos - para avançar na retomada e conquista dos nossos direitos;
. socialização do trabalho doméstico, ampliação de creches, lavanderias e restaurantes populares, rumo à construção de um novo modelo de cuidados;
. combate à violência institucionalizada, à política de encarceramento em massa e à violência policial que aprisiona mulheres e seus familiares, especialmente nas periferias;
. organização das mulheres trabalhadoras, consolidando o trabalho do movimento feminista nos territórios proletarizados da cidade;
.aborto legal, seguro e gratuito pelo SUS;
. moradia  digna, trabalho justo, mesa farta, folhos na escola, todas vacinadas; ............

Sabemos que o feminicídio é a última etapa de um processo de violência que já vem acontecendo, algumas "naturalizadas" e "quase imperceptíveis", "sutis como uma patada de elefante"... e considero que precisamos muito conversar sobre essas micro violências, a fim de reconhecê-las e combatê-las. O Conselho Regional de Psicologia lançou em março de 2021 um conjunto de folderes sobre MICROMACHISMOS.

O material foi produzido pelo CRP-MG por meio da Comissão de Orientação Mulheres e Questões de gênero, e aborda os micromachismos a partir da seguinte tipificação:

Parte 1 - Coercitivos

]Parte 2 - Encobertos

Parte 3 - De crise

Cada folder se dedica a uma dessas categorias e relata situações que permite identificar como os micromachismos ocorrem no cotidiano.

O material define os micromachismos da seguinte maneira: "São práticas de dominação que ocorrem na vida cotidiana, por meio de ações interpessoais e que perpassam as relações de forma quase imperceptível. Os micromachismos são compostos por manobras utilizadas para controlar as mulheres, tanto nas relações de intimidade quanto fora delas.

O micromachismos têm consequências diretas na autonomia das mulheres e funcionam como aliados da ordem social, validando as visões conservadoras e ignorando esse tipo de violência. Portanto, produzem efeitos na subjetividade, tornando-se necessário desvendar esses mecanismos como primeiro passo para neutralizá-los".

Quanto aos efeitos dos micromachismos, o folder III nos diz: que os mesmos tendem a ser visíveis a longo prazo. "... geralmente produzem sentimentos relacionados a derrota e impotência. Impactos na autoestima, produzindo inseguranças, que podem acarretar em perdas significativas do próprio desenvolvimento subjetivo das mulheres. São acompanhados por sentimento de culpa pelos desgastes produzidos na relação, pelos quais ela se sente responsável.

Nos homens se observa que ocorre a busca de uma preservação da posição dominante, que lhes é socialmente atribuída. Isso ocasiona, ao mesmo tempo, os sentimentos de superioridade e desconfiança, visto que a obtenção do poder não irá garantir o afeto.

Portanto, as relações passam por um frequente desequilíbrio, ocasionado pela constante tentativa de manutenção da hierarquia de poder, e isso pode ocasionar aberturas para espaços que podem ser atravessados por abusos e violência".

Os textos desses três folderes, com os tipos de micromachismos (coercitivos, encobertos e de crise), e exemplos dos mesmos, podem ser acessados em:

crpmg.org.br/micromachismos

Vale muito a pena lê-los... todas, todas e todes nós ...



Ao mesmo tempo que o trabalho de conscientização da luta por direitos tem evoluído, passamos - ainda - pela tristeza e revolta de ouvirmos relatos como o de uma criança de 12 anos vivendo angustia, depressão, e se comportando de maneira acuada, depois de ser chamada de "marmita" por toda a turma, seus colegas meninos e meninas, pelo fato dela ter se recusado a "ficar" com o "bam bam bam" da sala.

Outro caso que gera tristeza e indignação é a ameaça de morte sofrida por uma comediante, Livia La Gatto,  que usa sua arte como denúncia a grupos machistas e misóginos que estão nas redes fantasiados de coach de masculinidades. 


Um deles, o RED PILL. Em português, a pílula vermelha faz alusão ao filme Matrix, de 1999, em que o protagonista tem diante de si dois caminhos: tomar a versão azul e seguir em seu mundo de ilusões ou justamente optar pela vermelha, que lhe trará a compreensão nua e crua da realidade. E, para os integrantes do Red Pill, autointitulados coaches ou influencers da masculinidade, o cenário de hoje, que enxergam “com consciência e sem firulas”, é injustamente dominado pelo sexo oposto. O mais espantoso é que eles tenham tamanha audiência e consigam disseminar livremente o seu manual não só nas mais conhecidas redes sociais (que justificam não os banir por não considerar que eles espalhem o ódio) mas também em cursos, palestras e livros, como o Antiotário, de Rafael Aires, um dos expoentes brasileiros dessa turma de mente reacionária.

Leia mais em: https://veja.abril.com.br/comportamento/movimento-red-pill-revela-a-face-cruel-e-reacionaria-do-machismo/

Outro movimento é o MGTOW Men Going Their Own Way um estilo ou filosofia de vida baseado na crença de que o homem deve quebrar o paradigma de estar destinado a ter relacionamentos. Existem comunidades que unem diversos adeptos ao MGTOW em sites além da atual presença de homens que se identificam com este estilo de vida nas mídias sociais como parte do que foi apelidado de "manosfera" (esfera do homem), uma coleção de sites antifeministas e comunidades online que também inclui o movimento pelos direitos dos homens, incels (Celibatários Involuntários)e artistas da sedução (em inglês: Pickup artist (PUA). Originalmente libertária, a comunidade mais tarde começou a se fundir com a direita alternativa neo reacionária e o nacionalismo branco. Adeptos do MGTOW defendem o separatismo masculino e acreditam que a sociedade foi corrompida pelo feminismo. Afirmam que o feminismo tornou as mulheres perigosas para os homens e que a auto preservação masculina exige uma dissociação completa das mulheres. Os níveis de envolvimento no MGTOW variam desde a conscientização da "pílula vermelha", a rejeição de relacionamentos (incluindo "greves de casamento"), até o desmembramento econômico e social.

Pois é, esses movimentos, creiam, estão se ampliando e se fortalecendo nas redes. Mas sabemos que a história não é linear... e que precisamos de humildade para a leitura da realidade, e de força e coragem  para a construção de um mundo mais bonito...

Ao mesmo tempo vemos a  mensagem de força e alegria da Manoela D'Ávila no Instagram, que lembra muito o conceito de luta de grande feminista do passado, Emma Goldman: "Se não houver dança não é a revolução que queremos". Aqui um trecho da mensagem da Manu|:

Escrevo e apago. Escrevo e apago.
É oito de março mais uma vez, o dia de luta daquelas que lutam todos os dias para (sobre)viver.
Os textos e as fotos se parecem todos os anos. Em luta.
Escolhi uma foto feliz, acompanhada da minha menina. É o que desejo para todas as minha companheiros: que nossas lutas nos permitam uma existência livre, uma existência digna. uma existência feliz.







E terminamos com a bela mensagem de Betânia:

https://www.instagram.com/reel/CphhqdeAV-Z/?igshid=MDJmNzVkMjY=

Até a próxima... abraços carinhosos













6 comentários:

  1. Muito bom o texto, Santuza! Informações preciosas para mulheres e homens que desejam construir um mundo melhor.

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  2. Muito show todas essas considerações.

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