quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Carnaval 2019... vamo ki vamo!!!



NOSSO SÉTIMO DESFILE!!!
TERCA FEIRA DE CARNAVAL 2019.
5 DE MARÇO A PARTIR DAS 14 HORAS
Rua Vila Rica esquina com Francisco da Veiga - Bairro Caiçara - Belo Horizonte
14 H: CONCENTRAÇÃO
16 H: INÍCIO DO DESFILE
(vocês sabem, o SBC gosta mais de concentração e dispersão... portanto o desfile só vai "rudiar" o quarteirão: Rua Vila Rica, vira a direita na Apolo, vira a direita na Henrique Gorceix, direita de novo na Francisco da Veiga e chega a Vila Rica...
Previsão de uma hora de desfile... depois ...
DISPERSÃO... ATÉ AS 20 H
(tudo mais ou menos)

Nossa Bateria é aberta e inclusiva, como o próprio SBC. Traga seu instrumento e sua alegria.

O SBC é também ecológico. Neste anos estamos confeccionando confetes de revistas velhas e de folhas secas. Abaixo uma pequena amostra:


Como devem saber, o SBC lança a cada ano um tema a ser trabalhado no carnaval. Nesse anos Teremos o Tema: SOLTE SEU BICHO!!!
É só uma sugestão... de fantasia, de música... qualquer coisa... de repente vai que aparece uma inspiração né? Vejam no blog nosso post de 22.11.2018:

 "Revolução dos bichos... Solte o seu..."

Aproveitando a deixa e a pedidos, publicamos a seguir nossos estandartes nesses sete anos. Cada ano confeccionamos um estandarte, com inspiração no tema. Todos os estandartes desfilam todos os anos, carregados pelxs nossxs porta estandartes (mulheres e homens maravilhosxs!!!












2014: Preconceito Não! Liberdade sim!!! Também da Janaina Lages




2015: Neste ano quem fez a arte foi o grande Olavo Neves, designer gráfico.
           Tema: Morcego: Vendo a Vida de cabeça pra baixo!






2016 - Tema: Tecnologia: Tudo que me salva pode me matar, Estandarte artesanal da nossa querida Aretuza



2017 - Tema: Mulheres do Brasil!!! estandarte artesanal confeccionado pela grande artista SBCense Cibele Seixas



2018 - Tema: "Amor e Política, na cama e no mundo..." Dessa vez nosso estandarte foi confeccionado por lindas velhinhas que amamos...


E chegamos a 2019, com o tema:
SOLTE SEU BICHO!!! 
Estandarte também confeccionado por lindas velhinhas...
Ela aí de novo:

LINDÍSSIMO!!!
LINDÍSSIMOS!!!

Como é nosso carnaval...

Beijos a todxs, até lá...

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Conversas SBCenses sobre o filme "A ESPOSA"

Enquanto viaja para Estocolmo com o marido, que receberá o Prêmio Nobel de Literatura, Joan questiona suas escolhas de vida. Durante os 40 anos de casamento, ela sacrificou seu talento, sonhos e ambições, para apoiar o carismático Joe e sua carreira literária. Assediada por um jornalista ávido por escrever uma escandalosa biografia de Joe, agora Joan enfrentará o maior sacrifício de sua vida e alguns segredos há muito enterrados finalmente virão à tona.  Esta é a sinopse do filme "A Esposa", de 2017, direção do Sueco Bjorn Runge.


Não custa recordar que o SBC é um grupo aberto, inclusivo, anárquico, democrático, ecológico... e feminista... não nessa ordem, pois o SBC está cada vez mais feminista, pela pura convicção de que quanto mais feministas formos mais estaremos construindo um mundo mais bonito. E ser feminista, todxs nós, mulheres e homens, significa acima de tudo não negar que vivemos numa sociedade patriarcal e machista e que todxs nós reproduzimos o machismo. Em vez de negar devemos desenvolver a humildade necessária para reconhecer essas reproduções e superá-las. Tenho muito medo de pessoas que dizem não serem machistas... porque elas não veem onde e como estão reproduzindo e não são capazes de superar... é muito triste.

E digo isto porque foi o primeiro assunto levantado na nossa conversa pós filme. Pois o SBC adora reunir uma turma e assistir um filme e depois fazer roda de conversa sobre o mesmo (tomando uma cerva fica melhor...). Vocês não imaginam o quanto isso é rico, gera crescimento, pois a conversa, para além da compreensão do filme, é sobre nossos afetos, sobre o impacto que o filme nos causou... e é isso que faz crescer. Sou grata aos  amigxs que me proporcionam esse crescimento.

Estávamos em sete pessoas, mulheres e homens, de 20 a 70 anos, tínhamos um casal de namorados e um casal agora separados há uns 15 anos e que ficaram casados uns 20 anos e agora são amigos... uma relação conquistada (e complicada).

E, a partir dessa primeira colocação sobre o feminismo, todas as pessoas foram falando sobre o impacto causado pelo filme e as reflexões provocadas. Eu que sou escutadeira preciso escrever sobre o que ouvi pra me ajudar a organizar minhas reflexões e continuar trocando essas ideias e crescendo com x outrx (e vice versa, pois é isso o que de melhor existe no humano...). Ai vão as reflexões (com spoiler... ou pressupondo que já tenham assistido ao filme):

- Primeira coisa: posso estar sendo romântica com o final que eu faria, mas fiquei indignada com aquele final do filme! eu terminaria o mesmo naquela cena em que ele está passando mal, ela chama a ambulância e fica conversando com ele... ele pergunta se ela o ama e ela diz que sim... aí, quando o socorro chega, ela sairia discretamente... e a última cena, pra mim,  seria ela na rua andando livre, leve e solta... senti que ela ficando ali e vendo aquele final, mais uma vez se confirma a coisa da culpa nos movendo, as relações sendo muito menos por amor na liberdade e muito mais por amor\culpa. Freud já dizia isso no livro "O mal estar da civilização", um dos melhores livros que já li.

- Continuando a nossa "costura", eu que  já tenho 65 anos, vi no filme o retrato de um casal da segunda metade do século passado. Me lembro anos 70 ou 80, quantas vezes ouvimos (e internalizamos) uma espécie de "mantra": "por traz de um grande homem existe uma grande mulher". Essa frase estava no nosso sangue, na nossa alma! e, acho que anos 80, começávamos a nos livrar dela... me lembro de uma camiseta que eu comprei, na frente "por traz de um grande homem existe uma mulher..." e nas costas: "... cansada"... era uma tentativa de protesto contra este papel. E não me digam que isso não existe mais! Quantas mulheres conheço, na faixa dos 30 anos, bem sucedidas profissionalmente e que, romanticamente, ainda "largariam tudo" por um "grande amor"...

- Eu que tenho pouco menos de 65 anos, me lembrei de uma aula que tive, acho que num curso de filosofia, há trocentos anos... que dizia sobre o tanto que praticamos (e o tanto que nos prejudica na vida) o pensamento mágico (ou pré lógico ou pré racional)... e a professora contava, pra ilustrar: o homem das cavernas provavelmente se sentia indefeso e temeroso, fraco, impotente ... em relação aos outros animais e a natureza. Quando ele não morria devorado pelo leão, e conseguia mata-lo, ele tirava a pele do leão e se vestia com aquela pele... aí ele se sentia o próprio leão, ele achava que possuía as qualidades do leão que ele queria para si. Este é o pensamento mágico, muito comum em crianças (que também se veem indefesas em relação ao mundo, e o pensamento mágico é necessário na infância)... porém, muito ruim no adulto, infantil, dificultador do crescimento.  Olha como vi isso no filme e na minha vida: nosso sentimento de impotência era muito grande! lembra daquela cena em que uma mulher (acho que num evento) vira pra ela (a Joan), quase em tom de gozação e diz que se ela quisesse ser escritora precisava se preparar para o anonimato, e aponta uma estante e diz o tanto de escritoras mulheres que estavam ali e não eram lidas, umas pouquíssimas tinham alguma projeção. Daí, diante do nosso sentimento de impotência, o pensamento mágico de "se realizar através do outro"... foi o que ela fez... e quantas de nós não fizemos isso? claro, por algum tempo... ou pela vida inteira (vida esta pela metade né?)... E a frustração vai crescendo, junto com a menos valia...




- Já ouvi isso mesmo da minha terapeuta, de um jeito um pouco diferente. Ela fala de "relações simbióticas" mais ou menos assim: tal como temos plantas que crescem uma agarrada na outra, a samambaia por exemplo, algumas vezes sem prejudicar a outra, mas outras vezes matando aquela planta onde ela se suporta... também fazemos isso. Uma pessoa se apaixona por outra justamente naquela característica dx outrx que ela quer para si, por exemplo uma pessoa tímida se apaixona por uma outra pessoa aberta, exuberante... ai pode acontecer, tragicamente, essa pessoa vai "sem querer" destruindo na outra justamente aquele característica que foi o que fez ela se apaixonar... então, no exemplo, a pessoa vai minando, destruindo a exuberância, transformando aquele ser objeto do seu amor num ser apagado, domável... doido né? a saída é tentarmos perceber isso e se esforçar no trabalho de construção daquela característica que me causa inveja nx outrx... e isso acontece com mulheres e homens, claro...




- Enfim, a saída é fazer o esforço necessário para deixar se "ser através do outro"... isso não existe! ZERO a esquerda não significa nada! Se dar ao trabalho da construção da sua identidade: quem sou eu? meus objetivos ideais, valores, projetos de vida, desejos... esta é a tarefa (árdua e prazerosa) de cada uma (e cada um)

 - E o tanto que ouvíamos "Rainha do lar"... só algum tempo depois é que a gente descobre que o "Rainha do lar" é para nos aprisionar nele. Vocês repararam que o marido, quando quer alguma coisa dela, a elogia, incensa, faz ela se sentir querida, amada, importante... mas quando ela faz o movimento no sentido da liberdade, o que ele diz? arrasa com ela, diz que ela não é capaz, o que ela vai fazer sem ele, não dá conta da própria vida, o por aí vai... Ai, meu Deus... me lembro demais de quando eu estava começando o me movimentar para a autonomia ele me chamou de egoísta!!! e como isto me feriu... justamente ele!!! que deveria me incentivar no meu crescimento! isso era o que eu esperava... e foi nessa hora que ele me puxou o tapete, este foi meu sentimento. Claro! o incentivo só vinha enquanto meu crescimento não significasse ameaça pra ele, ameaça no sentido de qualquer rompimento, por menor que fosse, com os meus papéis, cumpridos de maneira tão "perfeita". Nessa época uma amiga me ensinou uma espécie de oração, aquelas falas que a gente reza pra se empoderar: "Todos os que dizem me amar querem me prender... só tu, oh Pai, que verdadeiramente de ama, me deixa livre...". Rezei muito para o meu Deus dentro de mim...

- E eu, que nasci nos anos 80, primeiro tenho muito a agradecer a vocês que viveram boa parte da vida de 1950 para 2000, casaram, tiveram filhxs... e lutaram bravamente pela nossa autonomia, digo, das mulheres... autonomia de pensar, de sentir, de agir... que passa necessariamente pelo bolso, pela autonomia financeira. Não que ela seja determinante, vejo ainda muitas mulheres da minha idade que tem autonomia financeira, porém a cabeça (e a alma, o espírito), continua submisso. A primeira pergunta que me fiz saindo do cinema foi: o que mudou? o que falta mudar? E uma resposta (provisória): o filme mostra que na segunda metade do século passado, o que mudou foi a tomada de consciência... e uma decisão pessoal de se livrar daquela "armadilha". Foi o que ela tentou fazer no final do filme que, se não me engano, se passava nos anos 90. Então, dessa época até agora, ou melhor, da tomada de consciência até agora pouca coisa mudou no sentido da ocupação, pela mulher, dos espaços de poder. Porque, eu penso, estaremos caminhando para um mundo com relações mais simétricas, um mundo mais bonito, mais prazeroso, quanto mais ocuparmos os espaços de poder... nas empresas, na politica, nas comunidades... e, ao mesmo tempo, abrirmos mão definitivamente, do poder "no lar", nos espaços íntimos, este poder é pra ser dividido, compartilhado. E podem ter certeza, vejo isso todo dia: essa ocupação dos espaços de poder não ocorre de maneira fácil, vocês acham que os homens que estão ocupando esses espaços vão abrir mão disso de maneira fácil? de jeito nenhum! eles vão agarrar até quando não mais poderem esse "osso". 

- Outro dia um amigo super esclarecido, que se diz "um machista em desconstrução", numa conversa soltou essa "pérola": vocês não acham que a gente sofre também? nós sofremos demais com essa sociedade machista! Sim, querido, claro, vejo seu sofrimento por exemplo quando você 'atola' no seu papel de provedor, quando você não consegue ser pai no sentido afetivo da palavra. Mas, enxergando por outro lado, chega a ser ridículo, uma estratégia do dominador para se manter... e mais, uma violência, enfim...  você comparar os sofrimentos! Aliás, não vejo bem por aí, nem penso em comparar sofrimento, gostaria de nos comparar na luta por um mundo melhor... não no sofrimento. Porque, realmente, o sofrimento do dominado (no caso, nós, mulheres), visto de uma maneira ampla, não tem comparação. Somos nós que estamos morrendo quando afirmamos nossa liberdade. E são vocês que estão matando para afirmar a posse, quando se nos objetaliza, a nós, mulheres.



- É verdade... mas eu ainda não vejo como dizer de outro modo,  me vejo como um 'machista em desconstrução', fazendo força para ouvir vocês e tentar entender empaticamente um mundo que não é o nosso, realidades que não fazem parte da nossa, dos homens. Vi o cara do filme incensando a mulher quando interessava e arrasando com ela quando se sentiu ameaçado. De uma forma sutil fazemos isso sim... e é triste dizer isso. Fica mais fácil negar. E me vejo, algumas vezes, fazendo o "feminista fake" e reivindicando "biscoito", como diz uma amiga. Fico puto quando ela diz isso... e tenho medo de admitir e me humilhar... árdua também é a tarefa de distinguir entre humildade e humilhação. É difícil demais dizer isso aqui num grupo de sete pessoas, a maioria mulheres. Mas, ao mesmo tempo, me sinto aliviado... e esperançoso... obrigado... resta o riso, rir de nós mesmos quando nos pegarmos nessas armadilhas da conservação... Rir é produtivo, faz a gente se perdoar e reiniciar o esforço para ser melhor...

- E nessa altura da roda de conversa aconteceu o diálogo mais inusitado. Me causou perplexidade e tento reproduzi-lo,  pois precisamos aprender com isso. Ocorreu entre o casal de amigos que já foram casados. Foi mais ou menos assim:

H: me chamou muita atenção a cena em que a "esposa" estava trabalhando, provavelmente "revendo" o livro do marido. E o filho (uns 7 anos) chegou e queria a presença dela e gritava "mamãe, mamãe"... e ela estava concentrada no trabalho e não atendeu... a babá chegou e pegou o menino e o tirou dali... e ela continuou no trabalho. Pois bem, essa cena me lembrou muito minha filha com meu neto. Eu percebo que ela está muito envolvida com as coisas dela e que tem dado muito pouca atenção a ele, tenho muita preocupação com ele...

M: meu sentimento em relação ao que você acaba de falar é de injustiça. Sua filha (que também é minha) escolheu ter um filho sozinha, cuidou dele sozinha (sem um pai, com nossa ajuda, mas sozinha)... e ele demonstra ser uma criança feliz, bem cuidada... sinto esse seu juízo como bastante injusto... até mesmo uma violência. Será que você não percebe que, no fundo, você está fazendo a tentativa de coloca-la no "seu lugar", naquele lugar definido culturalmente? Daquelas violências sutis, que muitas vezes a gente nem vê (pois são naturalizadas... parece até uma preocupação com o neto, um ato de amor...). Mas mesmo sem a gente perceber a violência entra pelos nossos poros... e quando a gente consegue perceber é que sente o tamanho da violência... 

H: concordo com você e sempre digo que ela é uma ótima mãe. Mas eu não posso deixar de considerar minha percepção, meu sentimento! Vocês colocam tudo na categoria de "violência", e não conseguem enxergar o outro lado. Eu não sou machista, não me coloque neste lugar! Estou apenas expressando meus sentimentos, minhas preocupações... Até seu outro filho também me fala sempre como é difícil conversar com sua irmã e com você...

M: Olha, nós passamos 20 anos casados e quando acontecia algo semelhante ao que está acontecendo agora eu, a princípio, fazia um exercício de argumentação, eu achava que este exercício era interessante... depois de um certo tempo não existia mais exercício, era uma canseira, minha sensação era de estar fazendo um esforço enorme para te mostrar o óbvio... enquanto você se defende dizendo sobre "um outro lado" que a gente precisa também ver... Pois bem, eu te digo que, em se tratando de violência, não existe a possibilidade de "outro lado", não existe a "compreensão possível", ou melhor, essa compreensão possível é a ideologia do diabo, o tudo compreender para tudo perdoar, pra ficar tudo do jeito que está, para se perpetuar o machismo e a violência, traduzida desde as formas mais sutis até o feminicídio!. E você percebe que quando coloca o nosso filho nessa conversa, quando remete a ajuda dele pra se expressar no seu machismo, você está, mais uma vez, me ofendendo, praticando uma violência sutil do tamanho da patada de um elefante? Enfim, não é possível o diálogo com pessoas fakes... Só me resta ficar muito triste e me sentir enganada... e, ao mesmo tempo, me sentir aliviada de não estar mais na sua companhia. 

E ela saiu para um lado, e ele saiu pelo outro. E nós outrxs ficamos ali, perplexos. Tristes com a reprodução. Uma pessoa comentou: O inferno está mais perto do que a gente pensa... E a outra: o céu também... Ao mesmo tempo, felizes com o crescimento, com as reflexões... provisórias... que nunca param.

E depois foram aparecendo nos zaps da vida outras pessoas impactadas com o filme. E eu fiquei de escrever para levar ao grupo MULHERES DE MARILIA (uma brincadeira, ou melhor, uma metáfora).Esperando aparecerem outras reflexões que servirão para crescermxs. Amém, Assim seja...

SantuzaTU