Enfim, dia 18 de fevereiro de 2022, 100 anos do último dia da Semana de Arte Moderna em São Paulo, um de águas no panorama artístico brasileiro. Dedicado à música, Villa-Lobos se apresentou com um pé calçado e outro com chinelo, porque estava com um calo no pé. Mas o público achou desrespeitosa tal atitude e vaiou nosso maior compositor. E nós, do SBC - Samba, Bobagem, Cerveja, esse grupo de amigas e amigos e amiges que se junta para conversar sobre "bem-viver", usando como pré-texto a ARTE, encerra nossa série de postagens sobre o tema relatando nossa comemoração da Semana em São Paulo, a convite da ABLAM, que ocorreu no sábado passado dia 12.02.2022. O relato a seguir é da nossa SBCense Antonieta Shirlene, com ilustrações de fotos e vídeos que recebi de nossxs amigxs SBCenses:
E chegou o dia de irmos para São Paulo. Saímos de Belo Horizonte com a
certeza de que teríamos uma missão a cumprir: festejar a Semana de Arte Moderna. Ao chegarmos a São Paulo nos deparamos novamente com a Paulicéia Desvairada de Mário de Andrade. São Paulo parece, realmente, desvairada. Mário de Andrade tinha toda razão. A capa do seu livro já nos mostra uma São Paulo totalmente diversa. Pelos losangos coloridos que representam os milhares de paulistas e imigrantes que formam a população daquela cidade. Cada um com sua cultura e seus valores. Passeando pela cidade, me lembrei do livro de Edgar Allan Poe - O homem na Multidão - onde ele retrata o indivíduo se tornando invisível numa grande metrópole e todas as consequências advindas desta triste realidade. Em Sampa realmente a gente se sente apenas parte da multidão e é muito importante lembrarmos o nosso eu pessoal para que não nos deixemos ser sugados pelo desvario paulistano. Nossa apresentação na Oficina Oswald de Andrade foi recheada de significados: estávamos na cidade onde aconteceu a Semana de 22, na Oficina Oswald de Andrade, no dia12 de fevereiro (início da Semana ) e entre pessoas com os mesmos objetivos - o de valorizar os Modernistas e não deixar esquecidas suas contribuições à cultura brasileira. Na oportunidade muitos membros da ABLAM - ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS E ARTES MINIMALISTAS , promotora do evento que estávamos participando, realizou uma importante divulgação de livros dos seus participantes e de outros escritores, como foi o livro de nossa
SBCense Santuza TU. Depois desta exitosa atividade fomos passear por São Paulo. Tendo como guia nosso amigo Andy, conhecemos os melhores lugares que a cidade possa oferecer. Inclusive almoçamos num simpaticíssimo restaurante grego com comidas tipicamente preparadas e com preço justo. Ficamos ali por um bom tempo refletindo sobre o que estávamos vivendo e o que representou a Semana de Arte
Moderna de 22 para o Brasil para o mundo. E como em todo o restaurante grego que se preze, ao terminarmos nossos almoços, não nos esquecemos de quebrar os pratos, como faz parte da tradição grega. Saímos pela cidade com a sensação de dever cumprido: festejamos a Semana de Arte Moderna, relembrando os nossos importantes artistas que participaram daquele evento reafirmando o espirito contestador do mesmo. São Paulo continuará sendo uma Paulicéia desvairada com os seus contrastes e
sua beleza inigualável.
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Muito bem!!! missão cumprida! Obrigada Antonieta... Obrigada Antônia... Obrigada Andy...
Quero acrescentar ao relato da Antonieta algumas lembranças:
1. Duas novas marcas de cerveja ficamos conhecendo em São Paulo: a CACILDS
E a BIRUDÔ... cerveja japonesa!!! Ambas deliciosas...
Além do maravilhoso chopp "com borbulhas de amor" do Jacinto, melhor garçom do mundo, direto do Piauí.
2. A exposição MEDITAÇÔES ZZ, no Centro Cultural Oswald de Andrade, onde ocorreu o evento de comemoração dos 100 anos da Semana e 1 ano da ABLAM:
3. O Livro Cantilenas & Mineirices, do Rogério, Presidente da ABLAM
4. E os dois livrinhos lindinhos do carioca Fábio Carvalho, onde selecionamos dois poeminhas (poetrix...) que tem tudo a ver com o SBC:
5. A teoria psicanalítica antropofágica... elaborada a partir do post do nosso querido SBCense Francisco Savoi sobre o Oswald e o movimento antropofágico, de 5.de fevereiro. Explico: estava elaborando uma reflexão sobre o filme "a filha perdida", que trata das relações mãe-filha/filha-mãe e sobre a construção de nossa identidade feminina, completamente imersa nos meus afetos em relação a estas duas relações (enquanto mãe e enquanto filha), quando recebi vídeo e texto do Chico. Então pensei: pois o Freud não usou de metáfora do Édipo para falar sobre identidade (Édipo, a vida toda, buscou respostas à pergunta "quem sou seu"); assim como o Jung, que também usou da metáfora da banda de Mobius para interpretar a estrutura do aparelho psíquico ?
Nós usaremos da metáfora antropofágica para explicar/entender a relação mãe/filha e a formação/construção da identidade feminina. Digo formação me referindo ao que está posto culturalmente, e construção seria tudo que podemos/devemos fazer, a partir do que "fizeram conosco", ou seja, de maneira autônoma. Para esta construção é que "descobrimos" a metáfora antropofágica: "eu te engulo e te vomito e me torno eu mesma". Conversaremos mais sobre essa pauta nos nossos próximos posts, quando aprofundaremos sobre o filme "A filha perdida"... fazendo parte do nosso projeto SBC CINECLUBE. Aguardem...
6. E para encerrar MESMO... conversando sobre o mundo da época e semelhanças com o mundo (e o Brasil) atual, lembramos do filme O OVO DA SERPENTE:
de 1977, do grande diretor Ingmar Bergman. O filme que se passa em 1923 na Alemanha. Abel Rosenberg é um trapezista judeu desempregado, que descobriu recentemente que seu irmão, Max, se suicidou. Logo ele encontra Manuela, sua cunhada. Juntos, eles sobrevivem com dificuldade à violenta recessão econômica pela qual o país passa. Sem compreender as transformações politicas em andamento, eles aceitam trabalhar em uma clinica clandestina que realiza experiências em seres humanos.Utilizado como termo para expressar o "prenuncio de mal" ou o "mal em gestação", O ovo da serpente é um dos mais impressionantes filmes do Bergman, que, como ninguém, retratou em linguagem cinematográfica a república de Weimar ou os anos que antecederam o advento da Alemanha nazista.
Bergman, ao exibir situações do cotidiano presentes na história daqueles tempos, demonstrou, com precisão matemática e habilidade artística invejável que, a um observador atento, já era possível vislumbrar nos acontecimentos que se desenvolviam nos anos 20 o nascimento do Nazismo. Nas inesquecíveis palavras do Dr. Vergerus, personagem capital da trama, "é como o ovo da serpente. Através das finas membranas, você pode claramente discernir o réptil já perfeito".
E comentamos: "É preciso estarmos atentos e fortes... a história não vai se repetir, nem como farsa, tampouco como tragédia!".
E assim nos despedimos, agradecendo a todas as pessoas que participaram desse lindo projeto 100 ANOS DA SEMANA DA ARTE MODERNA NO BRASIL...
Abraços carinhosos...