quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Encerrando a Semana de Arte Moderna

 

Enfim, dia 18 de fevereiro de 2022, 100 anos do
último dia da Semana de Arte Moderna em São
Paulo, um de águas no panorama artístico brasileiro.

Dedicado à música, Villa-Lobos se apresentou com
um pé calçado e outro 
com chinelo, porque estava
com um 
calo no pé. Mas o público achou
desrespeitosa tal atitude e vaiou nosso maior
compositor.


E nós, do SBC - Samba, Bobagem, Cerveja, esse
grupo de amigas e amigos e amiges que se junta
para conversar sobre "bem-viver", usando como
pré-texto a ARTE, encerra nossa série de postagens
sobre o tema relatando nossa comemoração da 
Semana em São Paulo, a convite da ABLAM,
que ocorreu no sábado passado dia 12.02.2022. 


O relato a seguir é 

da nossa SBCense 

Antonieta Shirlene, 

com ilustrações de 

fotos e vídeos que 

recebi de nossxs 

amigxs SBCenses:









 











E chegou o dia de irmos para São Paulo. Saímos de Belo 
Horizonte com a certeza de que teríamos uma missão 
a cumprir: festejar a Semana de Arte Moderna. 
Ao chegarmos a São Paulo nos deparamos novamente 
com a Paulicéia Desvairada de Mário de Andrade. 
São Paulo parece, realmente, desvairada.  Mário de 
Andrade tinha toda razão. A capa do seu livro já nos 
mostra uma São Paulo totalmente diversa. Pelos 
losangos coloridos que representam os milhares de 
paulistas e imigrantes que formam a população daquela 
cidade. Cada um com sua cultura e seus valores. 
Passeando pela cidade, me lembrei do livro de Edgar 
Allan Poe - O homem na Multidão - onde ele retrata o 
indivíduo se tornando invisível numa grande metrópole 
todas as consequências advindas desta triste realidade. 
Em Sampa realmente a gente se sente apenas parte da 
multidão e é muito importante lembrarmos o nosso eu 
pessoal para que não nos deixemos ser sugados pelo 
desvario paulistano. 












Nossa apresentação na Oficina Oswald de Andrade 
foi recheada de significados: estávamos na cidade onde 
aconteceu a Semana de 22, na Oficina Oswald de Andrade,
 no dia12 de fevereiro (início da Semana ) e entre pessoas 
com os mesmos objetivos - o de valorizar os Modernistas e 
não deixar esquecidas suas contribuições à cultura 
brasileira.

Na oportunidade muitos membros da ABLAM - ACADEMIA 
BRASILEIRA DE LETRAS E ARTES MINIMALISTAS ,
promotora do evento que estávamos participando, realizou 
uma importante divulgação de livros dos seus participantes 
e de outros escritores, como foi o livro de  nossa SBCense 
Santuza TU. 

Depois desta exitosa atividade fomos passear por São Paulo.
Tendo como guia nosso amigo Andy, conhecemos os melhores 
lugares que a cidade possa oferecer. Inclusive almoçamos num 
simpaticíssimo restaurante grego com comidas tipicamente 
preparadas e com preço justo. Ficamos ali por um bom tempo 
refletindo sobre o que estávamos vivendo e o que representou 
a Semana de Arte Moderna de 22 para o Brasil para o mundo. 
E como em todo o restaurante grego que se preze, ao 
terminarmos nossos almoços, não  nos esquecemos de 
quebrar os pratos, como faz parte da tradição grega. 

Saímos pela cidade com a sensação de dever cumprido: 
festejamos a Semana de Arte Moderna, relembrando os 
nossos importantes artistas que participaram daquele 
evento reafirmando o espirito contestador 
do mesmo. São Paulo continuará sendo uma Paulicéia 
desvairada com os seus contrastes e sua beleza 
inigualável. 

Muito bem!!! missão cumprida! Obrigada Antonieta... Obrigada Antônia... Obrigada Andy...

Quero acrescentar ao relato da Antonieta algumas lembranças:

1. Duas novas marcas de cerveja ficamos conhecendo em São Paulo: a CACILDS









E a BIRUDÔ... cerveja japonesa!!! Ambas deliciosas...


Além do maravilhoso chopp "com borbulhas de amor" do Jacinto, melhor garçom do mundo, direto do Piauí.

2. A exposição MEDITAÇÔES ZZ, no Centro Cultural Oswald de Andrade, onde ocorreu o evento de comemoração dos 100 anos da Semana e 1 ano da ABLAM:



3. O Livro Cantilenas & Mineirices, do Rogério, Presidente da ABLAM


4. E os dois livrinhos lindinhos do carioca Fábio Carvalho, onde selecionamos dois poeminhas (poetrix...) que tem tudo a ver com o SBC:



5. A teoria psicanalítica antropofágica... elaborada a partir do post do nosso querido SBCense Francisco Savoi sobre o Oswald e o movimento antropofágico, de 5.de fevereiro. Explico: estava elaborando uma reflexão sobre o filme "a filha perdida", que trata das relações mãe-filha/filha-mãe e sobre a construção de nossa identidade feminina, completamente imersa nos meus afetos em relação a estas duas relações (enquanto mãe e enquanto filha), quando recebi vídeo e texto do Chico. Então pensei: pois o Freud não usou de metáfora do Édipo para falar sobre identidade (Édipo, a vida toda, buscou respostas à pergunta "quem sou seu"); assim como o Jung, que também usou da metáfora da banda de Mobius para interpretar a estrutura do aparelho psíquico ? 

Nós usaremos da metáfora antropofágica para explicar/entender a relação mãe/filha e a formação/construção da identidade feminina. Digo formação me referindo ao que está posto culturalmente, e construção seria tudo que podemos/devemos fazer, a partir do que "fizeram conosco", ou seja, de maneira autônoma. Para esta construção é que "descobrimos" a metáfora antropofágica: "eu te engulo e te vomito e me torno eu mesma". Conversaremos mais sobre essa pauta nos nossos próximos posts, quando aprofundaremos sobre o filme "A filha perdida"... fazendo parte do nosso projeto SBC CINECLUBE. Aguardem... 

6. E para encerrar MESMO... conversando sobre o mundo da época e semelhanças com o mundo (e o Brasil) atual, lembramos do filme O OVO DA SERPENTE:

de 1977, do grande diretor Ingmar Bergman. O filme que se passa em 1923 na Alemanha.  Abel Rosenberg é um trapezista judeu desempregado, que descobriu recentemente que seu irmão, Max, se suicidou. Logo ele encontra Manuela, sua cunhada. Juntos, eles sobrevivem com dificuldade à violenta recessão econômica pela qual o país passa. Sem compreender as transformações politicas em andamento, eles aceitam trabalhar em uma clinica clandestina que realiza experiências em seres humanos.

Utilizado como termo para expressar o "prenuncio de mal" ou o "mal em gestação", O ovo da serpente é um dos mais impressionantes filmes do Bergman, que, como ninguém, retratou em linguagem cinematográfica a república de Weimar ou os anos que antecederam o advento da Alemanha nazista.

Bergman, ao exibir situações do cotidiano presentes na história daqueles tempos, demonstrou, com precisão matemática e habilidade artística invejável que, a um observador atento, já era possível vislumbrar nos acontecimentos que se desenvolviam nos anos 20 o nascimento do Nazismo. Nas inesquecíveis palavras do Dr. Vergerus, personagem capital da trama, "é como o ovo da serpente. Através das finas membranas, você pode claramente discernir o réptil já perfeito". 

E comentamos: "É preciso estarmos atentos e fortes... a história não vai se repetir, nem como farsa, tampouco como tragédia!".


E assim nos despedimos, agradecendo a todas as pessoas que participaram desse lindo projeto 100 ANOS DA SEMANA DA ARTE MODERNA NO BRASIL... 

Abraços carinhosos...













Antes do encerramento: as mulheres invisibilizadas da Semana


Esta é Fátima Carvalho, uma grande mulher... geógrafa, professora... e membra do MPM - Movimento Popular da Mulher. E ela nos ajudou, hoje, antes de encerrarmos as comemorações dos 100 anos da Semana de Arte Moderna, a lembrar as mulheres invisibilizadas daquela época... e lembrar, também, da nossa ação hoje, em defesa de todas nós e a favor do nosso empoderamento.


A Semana de 22 foi revolucionária para a sociedade da época, mas apenas duas mulheres entraram para a história do evento: Tarsila e Anita, já contempladas no nosso projeto aqui no blog.  Segundo a professora do Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB), Vera Pugliese, Tarsila nem no Brasil estava na data do festival. Em fevereiro de 22 ela estava em Paris. A pintora paulista foi, de fato, umas das principais modernistas do país, mas não participou da Semana de Arte Moderna. Nenhuma de suas obras esteve presente no festival artístico.
Então, corrigindo a história, segundo os registros, apenas quatro mulheres participaram da Semana de Arte Moderna: as artistas visuais Anita Malfatti, Gomide Graz e Zina Aita; e a pianista Guiomar Novaes.










A artista plástica Tereza Aita, conhecida como Zina, nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1900, e estudou desenho, pintura e cerâmica na Itália dos 14 aos 18 anos.

Quando retornou ao Brasil, em 1918, teve contato com o modernismo por meio, principalmente, dos amigos Anita Malfatti e Mário de Andrade.
Apesar de ser considerada precursora do modernismo em Minas Gerais por causa de uma exposição individual feita na capital mineira em 1920, Laudanna aponta que a lacuna sobre a obra de Zina no Brasil é enorme. "Ainda hoje, pouco se sabe e quase nada se conhece dos trabalhos de Zina Aina", diz Laudanna. "Ela basicamente foi esquecida por falta de pesquisas (no Brasil) e por se localizar pouquíssimas obras suas". Depois da Semana Zina voltou para a Itália, tendo permanecido no país até a sua morte, em 1967, trabalhando preferencialmente com a cerâmica. "Sua produção permanece pouco conhecida, e grande parte de suas obras não é datada", afirma trecho de sua biografia na enciclopédia do Itaú Cultural.

Regina Gomide Graz

 

A pintora, decoradora e tapeceira Regina Gomide Graz nasceu em Itapetininga (SP) em 1897. Após estudar em Genebra, na Suíça, Graz retornou ao Brasil em 1920, se aproximou dos modernistas e expôs sua obra em tapeçaria na Semana de Arte Moderna. Foi pioneira no interesse pela tradição indígena brasileira, tendo estudado a tecelagem indígena do Alto Amazonas para compor parte de sua obra.

A artista é considerada uma das mais produtivas do Modernismo brasileiro entre 1920 e 1940, mas sua obra foi reduzida pela história como "colaboradora" do marido John Graz e do irmão Antônio Gomide. Em livros, Regina é descrita como "esposa" e "irmã" de artistas, quase nunca como "autora".

Guiomar Novaes

Nasceu em São João da Boa Vista, interior paulista, em 1894. Começou a tocar piano aos 4 anos e, aos 15, se mudou para a Europa para estudar música. Teve uma sólida carreira internacional, tendo se apresentado para personalidades como a Rainha Elizabeth 2ª e o presidente americano Franklin Roosevelt. Ela já era uma das pianistas mais prestigiadas do Brasil quando se apresentou na Semana de Arte Moderna. Novaes se apresentou na terceira noite do evento em um recital com obras de Debussy e Villa-Lobos. Teria sido a única artista daquela noite no Teatro Municipal a ter uma plateia em silêncio durante a sua apresentação e, em seguida, receber aplausos calorosos do público. Apesar do sucesso entre o público, Novaes deu uma entrevista na época afirmando estar triste com "peças satíricas à música de Chopin" que marcaram a segunda noite de apresentações. A pianista teria se sentido ofendida, uma vez que Chopin era a sua especialidade.

Bem... com este resgate histórico estamos (quase) completando nossa galeria das grandes mulheres da Semana da Arte Moderna de 1922. Junto com Annita Malfatti (lembrada pela nossa querida Nilmara no post de 23 de janeiro) e com a Tarsila (no post de ontem dia 15, da querida Juliana) Graz, Novaes e Aita formam nossa galeria. Isso não esquecendo uma outra grande mulher, a Pagu, Patrícia Galvão, homenageada pela nossa querida Izabela no post de 26 de janeiro, que não participou diretamente mas viveu essa época e relacionou com artistas da Semana. Grande Pagu! 

Mas, como não homenagear, também, outra grande mulher, que não participou diretamente da Semana, mas do Movimento Modernista: Eugenia Álvaro Moreyra, mineira de Juiz de Fora.


Nasceu em 1898 e morreu em 1948, Eugênia foi uma jornalista, atriz e diretora de teatro brasileira. De personalidade anticonvencional e transgressora, foi uma das pioneiras do feminismo e uma das líderes da campanha sufragista no país. Ligada ao movimento modernista brasileiro e defensora de ideias comunistas, foi perseguida pelo governo Vargas, chegando a ser presa acusada de participação na Intentona Comunista. Casada com o poeta e escritor Álvaro Moreyra, desempenhou com ele papel importante na renovação do setor teatral brasileiro, organizando campanhas culturais de popularização e trabalhando como atriz, diretora, tradutora, declamadora e posteriormente presidente do sindicato dos profissionais de teatro.

Enfim, todas essas mulheres são referências para nós, na luta pelo nosso protagonismo. 

Agora sim, podemos passar ao nosso encerramento da Semana: amanhã, dia 17... aguardem...

E fechamos por hoje com o vídeo da nossa  querida Fátima, que nos convida a este protagonismo:



Este vídeo está no nosso youtube. Aproveitem para se inscrever no canal e dar o seu "like". Será muito bom pra nós.

A Fátima, nossa gratidão. E até amanhã, com nosso encerramento.


Abraços carinhosos a todxs...




terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Ultimos homenageados da SEMANA: TARSILA e MENOTTI

 


E como o SBC se parece com os MODERNISTAS de 22 no que diz respeito à regra: "A regra é não ter regras", a nossa querida SBCense Juliana Teixeira do Carmo (grande JU) não quis fazer vídeo (como era nossa sugestão) mas fez um belíssimo power point (que tivemos que transformar em imagens para publicar aqui) sobre a MUSA do Modernismo, uma das grandes mulheres participantes da Semana de Arte Moderna de 22, TARSILA DO AMARAL: 































Ficou lindo JU! Grande homenagem... Viva TARSILA!!!



Estamos no terceiro dia da Semana de Arte Moderna, que aconteceu do dia 13 ao dia 18 de fevereiro de 1922. Este foi o dia de destaque para a poesia e a literatura. Segundo alguns historiadores, foi o mais "ardente" da Semana. A "atração" da noite foi a palestra de Menotti Del Picchia sobre a arte estética. Menotti apresentou os escritores dos novos tempos e surgiram vaias e barulhos diversos (miados, latidos, grunhidos, relinchos...) que se alternavam e se confundiam com aplausos.

 


Não poderíamos deixar, também, de homenageá-lo: Paulo Menotti del Picchia foi um jornalista, ensaísta, contista, poeta, pintor, político, cronista e romancista brasileira. É considerado um dos principais escritores da Primeira Geração do Modernismo Brasileiro. Foi também um dos principais nomes da Semana de Arte Moderna de 1922. Ocupou a cadeira número 28 da ABL (Academia Brasileira de Letras). 

Claro que outros e outras grandes artistas dessa SEMANA não apareceram no nosso apanhado histórico. Mas já estamos nos encaminhando para o final ... e fica como sugestão, ou incitamento, a cada um e cada uma de vocês que estão nos acompanhando: procurem no google algo sobre a semana, sobre algum artista da semana que faltou aqui, sobre o Brasil nessa época, assim como também o mundo... e tragam para o que estamos vivendo na atualidade. Este exercício, nós garantimos, é super produtivo para nos conhecermos e conhecer nossa história... e nos transformarmos em sujeitos da mesma.

Nosso próximo post será sobre o "encerramento" da SEMANA... aguardem...


Abraços carinhosos a todxs...

Santuza TU



terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Grande VILLA-LOBOS!!!

 


Heitor Villa-Lobos (Rio de Janeiro1887 — 1959) foi um compositormaestrovioloncelistapianista e violonista brasileiro, descrito como "a figura criativa mais significativa do Século XX na música clássica brasileira", e se tornando o compositor sul-americano mais conhecido de todos os tempos. Compositor prolífico, escreveu numerosas obras orquestrais, de câmara, instrumentais e vocais, totalizando cerca de  mil obras.
E, como no SBC a regra é quebrar regras,  é transgredir, Villa-Lobos foi comtemplado por três grandes SBCenses:
Primeiro, a Antonieta Shirlene nos manda um poema acróstico em homenagem ao Villa-Lobos:
En seguida a Angel Mateus nos manda um texto super bacana sobre esse grande representante da Semana da Arte Moderna. Somente o texto, ela também, como a Rochelle, não quer "expor sua imagem", e não mandou o vídeo. Apreciem: 

Quando a gente começa um projeto muitas vezes não sabe exatamente onde ele vai dar. Às vezes esse projeto cresce e também nos faz crescer juntos. Como o projeto SBCense sobre a Semana de Arte Moderna no Brasil não foi diferente. Muitos de nossos amigos e amigas já participaram, mas o projeto nos leva a querer enriquecê-lo cada vez mais.

E foi com esse espírito que eu me vi encorajada a escrever sobre Heitor Villa-Lobos. Falar sobre o nosso maestro que participou ativamente da semana é sempre um grande prazer.

Heitor Villa-Lobos foi o mais importante e reconhecido maestro brasileiro. Além de maestro, ele foi compositor e sua figura teve grande importância no período do Modernismo no Brasil. Seu talento foi essencial para trazer à tona aspectos de uma música brasileira com foco na cultura popular e regional. 

A influência musical do maestro foi direcionada pelo pai, que o ensinou a tocar clarinete e violoncelo. A família morava então, no estado de Minas Gerais. Na mesma época, sobre a influência da tia Pércula, começa a ouvir as composições de Sebastian Bach. A obra do compositor alemão é importante inspiração para o trabalho de Villa-Lobos e sua carreira em geral. Esta característica é beneficiada nas 9 peças de Bachianas Brasileiras, uma de suas mais importantes composições. A segunda peça da obra é denominada Trenzinho Caipira. 

De volta ao Rio de Janeiro, Villa-Lobos é seduzido pelo choro. O estilo de música popular não era aprovado pelos pais e o rapaz passa estudar violão escondido. A transgressão resulta em uma série de 14 obras, "Choros". 

Já reconhecido compositor, é convidado por Graça Aranha a integrar a Semana de Arte Moderna. E apresentou alguns espetáculos durante os três dias, entre eles  "Danças Africanas". 

Na Europa 

A ampliação do conhecimento e atuação musical de Villa-Lobos ocorrem em sua primeira temporada em Paris. O maestro brasileiro chegou a capital Francesa em 1923, com apoio financeiro da Câmara dos Deputados.  Na cidade, é influenciado diretamente pela obra do Russo Igor Stravinsky. Antares, Villa-Lobos recebe também o apoio de artistas brasileiros, Como Tarsila do Amaral. Em 1924 retorna ao Brasil e só volta a Europa Em 1927 onde  permanece por 3 anos. É nessa fase que recebe o reconhecimento internacional. De volta ao Brasil, em 1930, inicia um ousado projeto de educação musical a partir de São Paulo. Sua ação resulta na criação, no âmbito do governo federal, do Conservatório Nacional de canto orfeônico. A inauguração do espaço ocorreu em 1942. Villa-Lobos também atua nos Estados Unidos, onde gravou obras e fechou um ciclo de reconhecimento internacional. Heitor Villa-Lobos morreu em  1959 no Rio de Janeiro, aos 72 anos.

 Principais obras:

Entre as cerca de mil  composições do maestro Heitor Villa-Lobos é possível destacar :

- Cantilena 

- O Trenzinho Caipira 

- Uirapuru

- Choros n° 1

- Choros n° 5

Obrigada pela oportunidade
,
Angel Mateus


Nós do SBC é que agradecemos Angel...
E, por último e tão maravilhoso quanto todxs os nossos colaboradores, nosso querido Ronaldo Leon, nosso Villa-Lobos SBCense, nos manda um vídeo lindo do "Trem Caipira"! Publicamos no Youtube e linkamos aqui, entrem e curtam ... e se inscrevam...
Ronaldo Leon, Cantor, violonista, intérprete, compositor, arranjador e produtor. Mineiro, natural de Belo Horizonte. E uma das pessoas mais generosas que conhecemos.  Aproveitem para ouvir a belíssima canção de sua autoria "Meu terreiro", que faz parte de álbum do mesmo titulo. Melhor... entrem também no seu canal no Youtube e ouçam todo o álbum! vale a pena...

Enfim, nossa gratidão às amigas e aos amigos SBCenses, que tornam nossos projetos tão bonitos...

Quem será a próxima pessoa da Semana a ser contemplada?
Até a próxima, abraços carinhosos,
Santuza TU




E, na sequência, Mário de Andrade

Como dissemos no post anterior sobre o Oswald, eles não tem nenhum parentesco, ficaram até inimigos. Mas provavelmente foram as duas pessoas que mais expressaram o "espírito" do modernismo. E foi depois do post sobre o Oswald que a Rochelle, nossa grande SBCense, animou de pesquisar sobre o Mário! Mas só mandou o texto, disse que não mostra sua imagem...

Como no SBC a regra é não sermos rígidxs com regras  (justamente por isso o SBC se identifica com os modernistas...), claro que aceitamos. E ficou belíssima a pesquisa da Rochelle sobre o Mário! 

 A seguir:

Mineira que somos, primeiro gostaríamos de apresentar um pouco do "Mário Mineiro". E colhemos trechos no Jornal Estado de |Minas, que conta das suas visitas ao nosso Estado e seu poema dedicado à Belo Horizonte recém construída:

Escrevia brasileiro. Diferentemente dos intelectuais dos anos 1920, Paris não o seduzia. Queria rasgar o território continental, afundar-se na cultura popular, nas lendas e no folclore, mitos e deuses do Nordeste e do Norte amazônico. Percorrendo a literatura das tribos taulipang e arejuná, que habitavam a região da fronteira tríplice Brasil, Venezuela e Guiana, arrancou daquelas entranhas inspiração para Macunaíma, o herói sem identidade. Tradições, superstições, falares regionais, nessa miscelânea literária apresentou o Brasil aos brasileiros, unificando pela cultura essa terra de oligarquias, terra que se fizera República, mas ainda vagava sem encontro marcado com o seu espírito.

Em Minas Gerais, quis afundar-se na arte religiosa barroca de Aleijadinho, que, em suas deformações, lembrava-lhe os artistas modernos. Saindo da Central do Brasil num trem-leito até chegar às cidades históricas de São João del-Rei e Tiradentes; e de lá, numa maria-fumaça cuspindo fuligem, sacolejando e cortando serras desembarcou em Belo Horizonte. Naquele então jovem coração de Minas plantou nova semente do Modernismo: conheceu Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Martins de Almeida e Emílio Moura. Numa explosão épica da lírica urbana, compôs o Noturno de Belo Horizonte, um de seus melhores poemas de uma obra oceânica, consagrando uma de suas marcas sustentadas na cultura popular, internacional e no folclórico-nacional.


"Fortuna inviolável
O casco pisara em falso.
Dão noiva e cavalo um salto
Precipitados no abismo.
Nem o baque se escutou.
Faz um silêncio de morte.
Na altura tudo era paz...
Chicoteando o seu cavalo,
No vão do despenhadeiro
O noivo se despenhou.


E a serra do Rola-Moça
Rola-Moça se chamou.
Eu queria contar as histórias de Minas
Pros brasileiros do Brasil..."

Esse é Mário de Andrade ...Mário Raul de Moraes Andrade (São Paulo, 9 de outubro de 1893 — São Paulo, 25 de fevereiro de 1945) poeta, escritor, crítico literário, musicólogo, folclorista, ensaísta brasileiro. Um dos nomes mais importantes do Modernismo Brasileiro. Ao lado de Oswald de Andrade e Manuel Bandeira compôs a célebre tríade modernista, que revolucionou o jeito de fazer poesia no Brasil.

A fase heroica, como também é conhecida a primeira geração modernista, propôs uma renovação das artes, o abandono da tradição clássica e apresentação uma grande preocupação em criar uma literatura identificada com a cultura brasileira.

Filho de família aristocrática paulista, desde cedo Mário estudou piano e, posteriormente estudou no renomado Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, onde seria, anos depois, professor. Afastou-se da música, sua primeira paixão, por conta de fortes tremores nas mãos. Aproximou-se então da literatura, e publicou seu primeiro livro sob o pseudônimo de Mário Sobral:  Há uma gota de sangue em cada poema, publicado no ano de 1917, com  forte influência do Parnasianismo, escola literária que viria a ser, mais tarde,  alvo de duras críticas do escritor.

Além de músico e escritor, Mário foi também grande pesquisador da cultura popular brasileira, realizando diversas expedições pelo interior do país para observar e documentar os hábitos de seu povo. Dessa pesquisa etnográfica surgiram as diretrizes do movimento modernista, que eclodiu com a realização da emblemática Semana de Arte Moderna no ano de 1922. No mesmo ano publicou um de seus mais importantes livros, Pauliceia Desvairada, livro de poemas considerado a base do modernismo brasileiro.

Em 1927 publicou Amar, verbo intransitivo, obra que causaria espanto entre as tradicionais famílias paulistanas, uma vez que tocava em um assunto controverso: a obra trata da história de uma aristocrática família paulistana que contrata os serviços de uma governanta alemã para iniciar o filho na vida sexual e amorosa, uma prática corriqueira entre as famílias abastadas daquela época.

Em 1928, à convite do amigo Oswald de Andrade, passa a integrar o corpo de escritores da Revista de Antropofagia, e ainda nesse  ano surge sua obra máxima: 

Macunaíma

O que quer dizer Macunaíma? É “o herói sem nenhum caráter”. ... Uma leitura possível é a de que o povo brasileiro não tem um caráter definido e o Brasil é um país grande como o corpo de Macunaíma, mas imaturo, característica que é simbolizada pela cabeça pequena do herói.

Macunaíma nasce à margem do Uraricoera na Floresta Amazônica e já manifesta uma de suas características mais fortes: a preguiça. Escrita em seis dias e publicada em 1928, a obra tem como uma de suas características a renovação da linguagem brasileira, ao tratar tempo e espaço como entidades arbitrárias. Macunaíma é o resultado de uma visão própria do momento que o Brasil vivia: a negação de nossas tradições literárias, a redescoberta da identidade brasileira em um patamar de extrema transparência e sobretudo sem o maniqueísmo romântico. Pense num personagem preguiçoso e sensual, a um só tempo índio, negro e branco. Esse é o nosso herói, Macunaíma, símbolo de um povo.


,Autor não só da obra-prima Macunaíma, mas também de Pauliceia desvairada (1922), de Amar, verbo intransitivo (1927), para citar algumas das inúmeras obras que marcaram inflexão na literatura nacional. Colaborador de publicações como A Gazeta, A Cigarra, O Echo, Papel e Tinta, Klaxon, Diário Nacional, Folha de S.Paulo e Diário de São Paulo, tem o nome carimbado ao movimento modernista brasileiro: foi o seu principal mentor intelectual. Multifacetado, não à toa é definido como um “enigma” para aqueles que o conheceram, e, sobretudo, também para si: “Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,/ mas um dia afinal eu toparei comigo.../Tenhamos paciência,/andorinhas curtas,/Só o esquecimento é que condensa,/E então minha alma servirá de abrigo”

Também exerceu os cargos de diretor do Instituto de Artes da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e de professor de História da Música no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Faleceu no dia 25 de fevereiro de 1945, vítima de um ataque cardíaco, aos 51 anos.

Palavras do biógrafo Jason Tércio, ao descrever conferência proferida por Mário de Andrade na Casa do Estudante do Brasil (CEB), em 1942, quando completava 20 anos da Semana da Arte Moderna: “Durante hora e meia, Mário fez reflexão teórica ao apresentar os três princípios básicos do Modernismo (direito à pesquisa estética, atualização da inteligência artística, e estabilização de uma consciência criadora), lançou hipóteses controvertidas (‘O espírito revolucionário modernista, tão necessário como romântico, preparou o estado revolucionário de 30 e diante’), praticou memorialismo afetivo (‘Fomos realmente puros e livres, desinteressados, vivendo numa união iluminada e sentimental das mais sublimes’) e se expôs em confissões sinceras (‘Abandonei, traição consciente, a ficção em favor de um homem de estudo que fundamentalmente não sou’)”.

Para descrever os derradeiros momentos de vida de Mário de Andrade – de todos os tempos, o escritor brasileiro mais retratado, desenhado e caricaturado –, Jason Tércio recorreu, entre um conjunto, a diversas fontes, à poeta Oneyda Alvarenga (1911-1984), amiga próxima que o visitara horas antes. Ali, em seu quarto – em casa que considerava o seu “útero” –, sentindo dores no peito, recusou que lhe chamassem o padre amigo para a extrema-unção. Sentia-se “em paz com Deus”. O gênio de saúde frágil, que pela vida lidou com as consequências do que hoje se acredita ter sido uma pleurodinia, pediu um cigarro ao amigo Luiz Saia, a quem acabara de entregar o prefácio sobre Shostakovich. Com a xícara de chá numa mão, Mário deu algumas tragadas. Sentiu falta de ar, uma fisgada profunda. Estendeu o braço entregando ao amigo a taça. Curvou-se para a frente. Encantou-se. Não foi aos 50, como anunciara aos amigos. Mas aos 51 anos e quatro meses.

A vida passou, a obra fica. E para você conhecer um pouco do universo desse grande escritor, selecionamos quatro poemas para você viajar pela estética modernista. Boa Leitura...

Aceitarás o amor como eu o encaro?…

… Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.

Tudo o que há de melhor e de mais raro
Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.

Não exijas mais nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.

Que grandeza… a evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.


Descobrimento

Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.

Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus!
muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.

Esse homem é brasileiro que nem eu.


Ode ao Burguês

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangue de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os “Printemps” com as unhas!

Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o êxtase fará sempre Sol!

Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi!
Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!
“— Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
— Um colar… — Conto e quinhentos!!!
Más nós morremos de fome!”

Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! Oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante!

Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!

Fora! Fu! Fora o bom burguês!…


O Poeta Come Amendoim

Mastigado na gostosura quente de amendoim…
Falado numa língua curumim
De palavras incertas num remeleixo melado melancólico…
Saem lentas frescas trituradas pelos meus dentes bons…
Molham meus beiços que dão beijos alastrados
E depois remurmuram sem malícia as rezas bem nascidas…
Brasil amado não porque seja minha pátria,
Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der…
Brasil que eu amo porque é o ritmo do meu braço aventuroso,
O gosto dos meus descansos,
O balanço das minhas cantigas amores e danças.
Brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada,
Porque é o meu sentimento pachorrento,
Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de dormir.

Obrigada SBC pela oportunidade... e termino com um Mário super SBCense:

 

Rochelle Rodrigues


Nós é que agradecemos imensamente, grande Rochelle!

Abraços carinhosos a todxs e até nossa próxima personagem da SEMANA...

SantuzaTU