terça-feira, 28 de junho de 2016

Conversas SBCenses: das dificuldades da vida a dois

Conversas SBCenses entre casais: dificílimo tentarmos compreender - sermxs empáticxs - com o sexo oposto e, ao mesmo tempo, superar tais dificuldades a fim de construirmos uma relação mais justa, mais harmoniosa...

. Nossa gente! eu ainda sou do tempo que se falava: meu marido é muito legal... ele até AJUDA em casa!!!

. Querida! isso não tem muito tempo não! prá falar a verdade, essa ideia ainda existe, e muito, entre os casais. A história não é linear. Falávamos que o "meu marido ajuda muito em casa" no tempo em que estávamos saindo do lugar de "belas, recatadas e do lar", procurando entrar no mercado de trabalho, ganhar o mesmo que "o meu marido"... e esse movimento vinha com o que uma amiga me dizia: o quarto turno era "estupro"... explico: turno cuidar da casa, turno cuidar das crianças, turno trabalho... voltar prá casa, repetir primeiro e segundo turno... e aí vinha o marido - que tinha trabalhado e... descansado - querendo sexo!!! - este seria o quarto turno...

. Isso... o modelo anterior era o dos papéis bem definidos: marido provedor; mulher dona de casa, mãe... e esposa. Superamos este modelo, nós mulheres, fomos à luta, nos equiparamos com os homens no que diz respeito à grana... mas os papéis... não foram redistribuídos! e isso pesa muito na relação... prá nós e prá eles...

. Mas porque? onde está o nó? isso é muito triste! não consigo viver assim! eu gosto muito dele, mas nossa relação está desgastada! Tenho muita raiva... e não consigo ver uma saída!

. Olha... eu vejo alguma coisa que quero mostrar a nós, mulheres e homens... porque precisamos ver as duas partes que nos cabem de "responder por..." nesse conflito: 

Primeiro veja nossa parte, das mulheres: gente!!! mas estão muuuiiiito enraizadas algumas características femininas, que são culturais... mas parece que estão gravadas a ferro e fogo no nosso espírito! e precisamos ver... não negar... para superar... pois se queremos a participação deles! quais sejam: nosso perfeccionismo, nosso nível de exigência, nosso "querer que as coisas dentro de casa estejam do NOSSO jeito"; enfim, querer que o outro seja "do jeito que eu quero" e não do jeito que ele é... e sabem porque estão tão enraizadas tais características? justamente para que continuemos com o nosso "domínio", o do lar... como ao mesmo tempo queremos o compartilhamento sem abrir mão do nosso domínio? e não era este o nosso papel? Pois é... mas assim não tem jeito, cria-se um impedimento invisível do tamanho de uma patada de elefante... olha só: e estou dizendo isso sem nenhuma atribuição de "culpa" a nós por este estado de coisas, pelo contrário, somos nós que topamos romper com aqueles padrões... e topamos porque eles nos escravizavam "numa gaiola de ouro" como me disse uma vez uma SBCense que não está aqui agora...

. Agora segundo né: a "responsa" MASCULINA... abre o ouvido e o coração para receber a fala deste SBCense que se diz "machista em desconstrução": gente!!! preciso muuuiiiito da paciência e compreensão de vocês... e também da "cobrança", tenham paciência... um pouquinho a mais vira tolerância e não sairemos do lugar... ou melhor... chegaremos no ponto do rompimento... pois é isso que percebo quando penso sobre essa questão... e fico muito triste... parece uma coisa tal que ambos sofremos e fazemos sofrer o outro com o nosso jeito de ser... quero muito ver a minha parte e me fortalecer para romper com este "circulo vicioso"... mas... pensando na cultura masculina... vejo como primeira característica nossa a ACOMODAÇÃO... pois historicamente estávamos numa posição "confortável" não é? e vejo também uma tentativa, um esforço para quebrar esse "domínio do lar" de vocês... acho que esse esforço está sendo pequeno e mal sucedido, o que reforça o nosso "retorno ao estado inicial de acomodação"... olha que merda!!!

. Queridxs!!! vocês podem não acreditar mas eu fico muuuuiiiito feliz com essa conversa!!! até a pouco tempo nem conversávamos sobre isso! conheço casos de separação de casais em que, se não foi este o motivo, era o pano de fundo... tem um caso emblemático de uma amiga que conta: estávamos nesse processo de divisão de tarefas e ele parecia convicto da importância disso... aí eu disse: precisamos trocar o chuveiro e dedetizar, o que você prefere fazer? o chuveiro, disse ele... então eu cuidei da dedetização... passa um mês, dois... no terceiro mês fui "cobrar" dele o combinado... sabe o que ele me disse: eu concordei mas não pensei em fazer... você é muito autoritária! HEEEIIIMMM... foi aí que pensei sobre o autoritarismo do submisso, aquele que finge que concorda mas não internaliza... não tem uma proposta de mudança... "finge" que está indo mas não vai... fica na sua posição cômoda... isso é o pior... e é o caso dos homens... claro... as mulheres desejam mudança e os homens resistem... 

. Este estado de coisas deve mudar: os homens precisam perceber "vantagens" na mudança... a principal: relações afetivo/sexuais mais livres, mais sujeito/sujeito, mais prazerosas... ou vocês "ainda" desejam nos transformar em objetos?... dá trabalho a relação sujeito/sujeito... mas ouso dizer que é a BONITA... o sentido estético faz parte do humano.

. E as mulheres: desenvolver a humildade, combater a onipotência que nos faz acreditar que só nós sabemos cuidar da casa, das crianças... e, por fim, a arrogância que nos escraviza, nos desumaniza... 

. Trabalho diário de diálogo... entre nós... como este... sorte a nossa de estarmos construindo um mundo melhor... em todos os níveis de relação.

Abraços carinhosos a todxs...

Santuza TU

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