quinta-feira, 26 de maio de 2022

TERCEIRA OFICINA 'TA CAINDO FLOR': Trabalhar e Conversar sobre Vida e História

 


O espelho ficou, como podem ver, uma verdadeira "obra de arte". Servirá, no nosso evento "TÁ CAINDO FLOR", para as pessoas fantasiadas se verem... e, pós evento, será super bem aproveitado nos chalés de Ouro Preto... porque lá também faremos o evento "TÁ CAINDO FLOR" (vejam nosso post de 20 de abril: Semana Santa em OP). Aliás, "TÁ CAINDO FLOR" está se transformando num "conceito SBCence de vida"... que pode significar, para nós, "liberdade, responsabilidade, com leveza".

E as fantasias! maravilhosas: são saias num estilo cigano... e os adereços para cabeça... lindísssimos


"... é que Narciso acha feio o que não é espelho..." (grande SBCense, Caetano). Não sei  diferenciar muito bem, o que seria narcisismo e o que seria auto estima, disse uma das nossas 'oficineiras'... na dúvida, reforço e tento, sempre, praticar minha auto estima:  digo a mim mesma:  "auto estima ao ponto", nem super metida (arrogante), nem "sub metida" (subserviente). 
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E a oficina vai ocorrendo com conversas sobre arte em geral: músicas, filmes, poemas... e sobre vidas...

Uma oficineira precisava sair mais cedo, pois o marido estava "desconfiado" das suas saídas... Ela relata que ele sempre liga e pergunta: onde você está? e, quase sempre, ela está no sacolão. Daí, ele acha que sacolão é "Ricardão"... e ela retruca: olha, se eu precisasse de um Ricardão, com certeza não iria num sacolão, e sim num hipermercado!  

Todas nós rimos... e nos identificamos... Outra oficineira relata uma lembrança de quando tinha filhos pequenos: eu saia e "esquecia", de propósito, o celular... pois o que eu queria era um mínimo de sossego. 

E a Lyra, querida artista, gravou música para o dia das mães. Ela me mandou o vídeo, que publicamos aqui, está cortado no final... provavelmente, pelo que diz a música, ela foi chamada: MAAAEEEE!!!! 



E daí passamos à conversa sobre filmes e histórias de vida:

Uma de nós citou filme inglês, visto recentemente na Netflix: EDUCAÇÃO, o título já é interessante, já provoca reflexão: de qual educação o filme fala?

 Uma adolescente de 16 anos (Carey Mulligan - belíssima atuação, lembra Audrey Hepburn, em especial quando está com o cabelo preso),vive no subúrbio londrino em 1961. Inteligente e bela, anseia por deixar as garras da família  sofre com o tédio de seus dias de adolescente e aguarda impacientemente a chegada da vida adulta. Jenny sonha em conhecer o mundo, adora lançar frases soltas em francês, é madura para sua idade e estuda, muito, para alcançar seu objetivo: entrar para Oxford. Até que David (Peter Sarsgaard) surge em sua vida. Ele é mais velho, tem em torno de 30 anos. Pode lhe proporcionar momentos até então apenas sonhados, como ir a restaurantes, leilões e conhecer lugares. Pode também lhe tirar do mundo regido por seu pai. 

Só que, em meio à paixão, vem a difícil decisão: o sonho de Oxford permanece? A resposta passa pela situação da mulher na década de 60, período em que o filme é retratado. As alternativas existentes eram basicamente se casar e tornar-se dona de casa ou se formar e ingressar na carreira como enfermeira ou professora. Jenny sabe disto e precisa pesar ambos para definir qual será seu futuro.
 
O roteiro do filme não é novidade. Apresenta uma situação simples e já vista diversas vezes. Porém, o toque delicado da diretora Lone Scherfig nos  remete às nossas histórias de vida, de mulheres brancas, de classe média, da segunda metade do século passado (na Inglaterra e aqui entre nós, no Brasil)., 

E, além de nos remeter às nossas histórias, nos faz, também, refletirmos sobre a atualidade desse tema... como diria Nietsche, "da utilidade da história para a vida e para a ação".

Pois a maioria de nós somos mulheres da segunda metade o século passado, e é útil que conversemos, sempre, sobre nossas histórias e sobre sermos objetos e, ao mesmo tempo, sujeitos, históricos e culturais, ou seja, reprodutoras da cultura, assim como transformadoras da mesma. E foi nessa perspectiva nossa conversa sobre o filme:

. Todas nós ouvimos, principalmente de nossas mães: estuda, minha filha, pra você não depender de marido... Uma contradição: vejam que continuava o padrão "marido"... ou seja, não era pra gente ampliar as possibilidades de escolha.

. Ouvíamos, também, a expressão "bom partido" e, de alguma forma, éramos educadas (observem o título do filme, super apropriado) para desenvolvermos a 'competência' para arrumarmos um "bom partido" ... era, inclusive, muito frequente, a expressão "curso espera marido", se referindo a alguns cursos superiores mais  frequentados por mulheres, aqueles  das áreas humanas.

. O nosso "destino" era casar e ter filhos, não tínhamos escolha. Ainda nos anos 90 do século passado uma mulher que "ousasse"  sair desse padrão recebia a "pecha" de "triste, louca ou má". 

. Reparem, no filme, que "estudar" era internalizado como um propósito de vida percebido como desinteressante, uma vida sem atrativos. A vida "sonhada", de glamour, viagens, passeios, conhecer coisas novas, era, na nossa concepção, somente obtida através do outro (de um homem), de forma alguma nos era transmitido que poderíamos conquistar essa vida por nós mesmas. Daí que aprendemos que tínhamos que esconder nossos desejos, para vê-los realizados através do outro. E, de tanto esconder que éramos seres desejantes, chegamos a nos esquecer mesmo disso... 

. E, junto com os conceitos de amor internalizados (amar é se doar, amar é sofrer, ...) era "fabricado" o padrão feminino de ser, nossa "identidade reflexa", ou seja, tudo que "somos educadas para...". Quantas músicas, quantos romances, quantos filmes reforçando esses padrões e gravando "a ferro e fogo",  nos nossos espíritos, o "sonho romântico que definia a nossa existência". 
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. Mas também, como, na segunda metade do século passado,  aproveitamos as "contradições" inerentes ao próprio modelo, para a construção das nossas identidades de uma forma mais autônoma, mais livre, mais bonita, enfim... Foi daí que lembramos de um outro filme fundamental para nosso próprio reconhecimento enquanto "sujeitas", seres desejantes e "construtoras" da nossa própria vida: 

MARVIN, filme francês,  nos cinemas no Brasil em 2018 no Festival Varilux, incentiva as pessoas a aceitarem as diferenças. Direção de Anne Fontaine, Roteiro de Pierre Trividic e Edouard Louis e título original: Marvin ou La belle éducation. Martin Clement (Finnegan Oldfield), nascido Marvin Bijou, escapou da aldeia onde morava com o pai tirano e a mãe que o renunciava. Apaixonado por teatro, ele junta aliados para conseguir fazer com que seus sonhos virem realidade. 
E, cena final do filme, aberta para cada pessoa que o assiste, 'elaborar' (e apropriar). Nossa 'oficineira' elaborou assim, juntando os dois filmes: "olhar para minha história e me ver agora, o que construí, me faz muito feliz comigo mesma!"   É, realmente, muito gratificante,  E, de alguma forma, é uma responsabilidade de cada uma de nós, tanto individualmente como coletivamente,  fazermos essa construção. 

Vejam que interessante: também a palavra "educação" no título do filme Marvin. Em ambos os filmes que conversamos se revelam as contradições do conceito de educação: educação para a reprodução dos padrões ditados pela nossa sociedade... e a superação, ou seja, a "educação libertadora", como nos ensina grande Paulo Coelho. 

Ainda, sempre nos lembrar do grande Marx, que nos ensina a considerar, nas nossas análises, as contradições inerentes à vida. Assim como as superações dialéticas que fazemos, e que, por sua vez,  já encerram outras contradições... e dessa maneira é o movimento da vida... considerou, de uma maneira simples, uma das nossas 'oficineiras'.



E terminamos (apenas a conversa, pois fechar conversas abrindo para a continuidade da reflexão é próprio do SBC) com grande psicanalista:
Até nosso próximo encontro... abraços carinhosos...


sábado, 21 de maio de 2022

ARTES NA PANDEMIA, agora ARTES ENTRE AMIGOS

Apresentamos mais novo membro do SBC, o camarada Sandro.

Ele mesmo se descreve:

"Meu nome de escritor é Sandro Miler de Alcântara. Eu sou Técnico em processamento de dados, radialista, músico amador, ilustrador. Já fiz cursos de engenharia de áudio, mas não assimilei bem. Fiz curso de edição de áudio, tenho todo o equipamento em casa, mas ficaram obsoletos e eu tive dificuldades em atualiza-los por razões financeiras. Sou solteiro e não tenho filhos. Estou com 51 anos. Apesar de ter meu apartamento eu preferi morar com meus pais, tenho muita afinidade com minha Mãe, que faz mapa astral, numerologia  estuda a cabala."

"Esta é uma foto minha quando tocava contra baixo. Foi uma gravação no estúdio HP. Não existia áudio digital, era tudo analógico". 

A primeira impressão que nos fica é a de uma pessoa humana, demasiadamente humana, como diria Nietzche. E o Sandro, conhecendo o SBC, logo nos mandou um conto da sua época de adolescente, época importante da vida, em que fazemos algumas escolhas, nem sempre muito conscientes das consequências.

E a seguir compartilhamos o conto do nosso caro Sandro, para nossa apreciação... e reflexão:

 


 

A Boemia

Como todo adolescente que começa a dar suas saídas pelas noites, comigo não foi diferente. Frequentava sempre os lugares da moda com pessoas da minha idade. Não me recordo por quais circunstâncias passei a notar outro tipo de ambiente: o dos boêmios ortodoxos. Sim, aqueles que bebem muito, sempre fumam e já maduros usam um figurino de uma época que já passou, além de preferirem as músicas de um outro tempo. Aos poucos fui me infiltrando nessa fauna exótica e após o passar do tempo, já era recebido com carinho pelos homens de olhos melancólicos, modos apurados e prosa inteligente.

Sob as críticas veladas dos meus companheiros e a estranheza da minha família passei a preferir a companhia desses personagens noturnos e na maioria das vezes de vida trágica. 

Havia um desses companheiros em particular que tinha um afeto especial por mim. Era um solteirão que morava sozinho. Numa ocasião ele me convidou para ir ao seu apartamento, aceitei. Entrando na sala percebi que haviam poucos móveis ali. Um sofá surrado, uma poltrona de braços largos onde repousava um cinzeiro, uma mesa de centro onde havia um copo com restos de alguma bebida que não identifiquei, um quadro na parede representando uma paisagem alpina, uma estante com vários livros e uma cortina na janela de gosto duvidoso. Mas a cereja do bolo era “um três em um” Gradiente que brilhava encostado na parede principal da sala. Junto com ele vários discos de vinil.

Meu amigo, percebendo meu interesse pelo aparelho de som, perguntou-me se gostaria de ouvir uma música. Aceitei a sugestão. Ele disse então que colocaria uma coisa muito especial, não as porcarias que minha geração ouvia. Disse isso com uma pitada de sarcasmo. Absorvi a ironia numa boa e fiquei esperando qual seria aquela coisa muito especial.

Os discos de vinil não cabiam no móvel que sustentavam o som, eles se espalhavam encostados na parede. Meu amigo gastou um tempo procurando e dizendo que precisava organizar aquela bagunça. De repente ele deu um grito: “Achei o miserável!!”.

Entusiasmado me mostrou a capa e disse com uma expressão de quem tivesse acabado de encontrar ouro: “Conhece a pérola? Claro que não!!”. Respondendo ele mesmo a pergunta que tinha me feito. Quase encostou o disco na minha cara. Li o nome Dilermando Reis e vi a foto preta e branca de um homem num terno alinhado com um violão no colo. “Agora, disse ele:  senta aí pra você entrar no paraíso!!”

Sentei na poltrona e aproveitando o cinzeiro que estava no braço, acendi um cigarro. Antes de colocar o disco no prato ele se virou e disse: ”Dilermando Reis interpreta Américo Jacobino, Abismo de Rosas”.

Quando a música começou, ele sentou no velho sofá e deu uma talagada na bebida que estava na mesa de centro. Acendeu um cigarro. Seus olhos ficaram estáticos mirando um ponto qualquer e começaram a marejar.

Quando aquele som preencheu o ambiente meu amigo começou a reger a música com as mãos, parecendo estar em outra dimensão. Na sua face abriu-se um leve sorriso. O êxtase que aquele rosto expressava me dava a impressão que o sujeito visitava distantes lugares no passado. A música saia de um único violão, dedilhado com maestria, nunca tinha ouvido algo parecido.

A melodia de repente me fez lembrar uma foto que havia visto na casa de um tio meu. A imagem era de uma rua em aclive, no meio dela havia trilhos e em cima dos trilhos trafegava um bonde. Os prédios mais pareciam palacetes com várias janelas e muitos detalhes artísticos. As ruas eram agitadas, com homens de terno e chapéu, uns lotavam as calçadas e outros atravessavam as ruas.

De repente ele se levanta, me tirando dos meus devaneios, e encaminha-se para cozinha. Volta de lá com uma garrafa de uísque e um maço de cigarro, os deposita na mesinha do centro, enche seu copo e volta para posição original.

Finda a música, se inicia outra. Ele então diz com ares de especialista: “Brejeiro” de Ernesto Nazareth.”

Deu uma talagada no copo e ascendeu outro cigarro. Não me ofereceu a bebida, eu teria recusado. A segunda música era tão melodiosa e cheias de acordes sofisticados como a primeira.

Percebi que meu amigo se embriagava, seu leve sorriso de antes dava lugar a uma máscara fisionômica tristonha e melancólica. Continuava no seu êxtase e já não notava minha presença ali. Me incomodei e fiz menção de me despedir. Ao proferir as primeiras palavras de despedida meu amigo saiu do transe, deu um pulo do sofá e disse: “Calma, quero te ler um poema, é magnifico!”

Concordei em esperar, mas disse que estava com pressa. Aquela situação começava a me deixar de baixo astral.

Então ele caminhou até a estante onde havia um amontoado de livros, tirou uma folha de dentro de um deles, assumiu uma postura solene e com voz empostada começou a ler o poema:

     


  Terminado o poema ele anunciou: “Augusto dos Anjos!”

Foi como se eu levasse um soco no estomago, o baixo astral terminou de se instalar. Agradeci os momentos agradáveis, fiz um gesto de despedida e sai pela porta pensando se aquela vida era mesmo boa.

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E ainda bem que temos algum tempo na vida, prospectivamente, para rever e refazer nossas escolhas, e direcionar  e redirecionar nossas vidas para o que consideramos, em épocas distintas, que seja "bem viver".  G Rosa diria, agora, mais ou menos: que ótimo que não estamos prontos e acabados, que a vida é esse eterno nos ver e nos reinventar... mas, para isso, o que a vida nos exige é CORAGEM...

Obrigada Sandro! E seja muito bem vindo ao SBC...


quarta-feira, 18 de maio de 2022

segunda oficina SBCense TÁ CAINDO FLOR

 

. Não sei onde eu li ou ouvi sobre nós, mulheres, e nossa ancestralidade (e, talvez, nosso "conceito" de amor, aprendido e internalizado...), mas sei que não inventei o seguinte: 'Dizem' que nas sociedades primitivas as tarefas, ou funções, eram distribuídas (talvez, nessa época, sem nenhuma atribuição de valor maior ou menor a essas funções). Estamos falando da época pré-histórica, período neolítico, cerca de 12 mil anos atrás, quando o ser humano "descobriu"  uma forma nova de obter alimentos, através da agricultura. E, com isso, foi deixando de ser nômade e 'se fixando' a terra (claro que isso não aconteceu de uma hora pra outra numa tarde fria de quarta ou quinta feira). Então, os homens saiam para a caça e às mulheres era destinada a tarefa de colheita e preparo da alimentação, além da fabricação dos recipientes para se preparar a mesma e, também, das tarefas de cuidados com o povo que estava nascendo... E nessas atividades que exigiam ficarem juntas durante algum tempo, as mulheres "aprenderam" a conversar umas com as outras muito mais do que os homens, que saiam à caça e se dispersavam... Isso explicaria o desenvolvimento "ancestral" desse tipo de inteligência entre as mulheres, ou seja, a inteligência verbal ou linguística, junto com a inteligência emocional. 

. Pode parecer muita "puxação de brasa pra nossa sardinha", mas confesso que não vejo falar disso numa reunião entre homens. E é o que acontece entre nós mulheres: com facilidade nós já vamos conversando sobre nossas vidas, nossas relações, nossas emoções, nossas dificuldades... enfim, parece "orgânica" uma troca afetiva... Assim como, para nós, mulheres plugadas no mundo, fazermos o movimento desse nível pessoal para a ampliação de visão, ou seja, para a "política" num sentido mais amplo, para a visão crítica do mundo em todos os níveis de relação, e para a elaboração de ações possíveis... como é o caso dos projetos SBCenses.

. Pois, "emendando" nosso assunto  (este eu sei citar a fonte, disse nossa terceira participante da conversa), acabo de ler um ótimo 'presente' de aniversário: o livro "Por que amamos" de Renato Nogueira, que cita em seu terceiro capitulo, "Amar é contar histórias": a Sherazade salvou sua vida (e a de outras mulheres do reino) contando uma história que não tinha fim ao sultão que desposava as moças do reino e depois da primeira noite mandava matá-las. Essa leitura me lembrou também o saudoso Rubem Alves, que "usou" do mesmo mito para nos dizer que as mulheres podem (e devem) ser 'agressivas' ( no sentido de 'ir de encontro a...", ou assertivas, como queiram) na fala; e que os homens também podem (e devem) ser receptivos, como o sultão, com o ouvido, pois o ouvir é "ativamente receptivo".  Pois bem, voltando ao capítulo 'amar é contar histórias', chegamos ao propósito do SBC, com este projeto TÁ CAINDO FLOR e com todos os nossos projetos, tanto os construídos até agora quanto os que vão se seguir: QUE HISTÓRIA QUEREMOS CONSTRUIR, ou QUE HISTÓRIA DE AMOR, NÓS DO SBC,  QUEREMOS CONTAR? pois este é o nosso propósito! Construir\contar uma história bonita de crescimento humano através das trocas entre amigxs, do enriquecimento mútuo, assim como uma história de ações concretas, somando e multiplicando forças e possibilidades, a partir de competências de cada um|a de nós, no sentido de um mundo mais justo e bonito.

. Tá feio esse mundo injusto e desigual que estamos vivendo não? e, para tal construção, lembrando o Betinho, Herbert de Souza,  irmão do Henfil, quando voltou ao Brasil depois do exílio, final de anos 80 do século passado, que disse não ficar envergonhado se fosse chamado de 'assistencialista', o que ele queria, de imediato, era contribuir para matar a fome de tantos brasileiros à época. E agora estamos em situação parecida, ou seja, precisamos matar fome e frio de muitas pessoas, para criarmos condições de consciência política, consciência de cidadania e luta por direitos.


















. Nesse ponto da conversa (e da produção da oficina, isso tudo fora as folhas do começo do nosso post), surgiu o assunto bastante pertinente: SEDUÇÃO... uma de nós lembra grande brasileiro Celso Furtado, grande economista, fundador da SUDENE (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) e, como Betinho, também refugiado político nos tempos sombrios da ditadura. Depois que ele volta do exílio, escreve dois livros 'contando histórias' da criação da SUDENE, "A fantasia organizada" e do seu exílio, "A fantasia desfeita". Num desses livros ele conta que em 1968 Sartre veio ao Brasil e foi a Recife participar de um encontro entre progressistas da época. Então, o Celso era o único que sabia traduzir o francês, e teve o privilégio de traduzir Sartre, que ele colocou como uma pessoa extremamente sedutora, como são "as pessoas inteligentes".  E eu, mulher e psicóloga que, até então, tinha a sedução como uma característica estereotipada do feminino, tive a oportunidade de resignificar este conceito: pois a sedução indiscriminada é aquele em que o|a sedutor|a, além de não apresentar objetivo claro, deseja o outro como "escravo", submisso|a; já a SEDUÇÃO INTELIGENTE é quando "eu te seduzo e te quero como sujeito dos seus propósitos, objetivos, desejos, nos juntando para escrever e contar um história, HISTÓRIA ESTA QUE SEJA NOSSA, NÃO SOMENTE MINHA NEM SOMENTE SUA, MAS NOSSA. Ou seja, um "bom encontro" de desejos.
                                              Celso Furtado (1920-2004)
. Todxs nós concordamos sobre a beleza dessa ideia,  que está essencialmente ligada ao conceito de POLÌTICA, e que é esta a ideia dos projetos SBCenses, todas e todos e todes aqui se envolvem "onde os olhos brilham"...

. Voltando a nossa oficina:  temos, ainda, a produção de um tanto de flor pendurada, cada uma numa espécie de corda, produção que parece, segundo grande SBCense, meio "tosca" a primeira vista... mas que, juntas, penduradas no teto ou numa outra corda, darão um efeito decorativo lindíssimo no nosso cenário no dia do evento.

. E temos também, abaixo,  alguns "modelitos" para o TÀ CAINDO FLOR, semi prontos, já a partir do nosso estoque SBCense de retalhos em flores:


















. E por falar em AMAR É CONTAR HISTÓRIAS, quem disse que nosso modelo de ''casamento juntividade', esse padrão de morar juntos quando casamos, é bacana, ou seja, é um modelo de amor? Pois não foi nesse ponto que uma de nós contou uma história bacanérrima, que nos fez refletir sobre este assunto? Ela nos contou que conhece um casamento que está muito melhor depois que eles "separaram" geograficamente, por questões práticas, digamos... ou seja, cada um mora numa cidade e, quando um\a vai se encontrar com o\a outro é ótimo! rola "pena pra tudo quanto é lado" , segundo uma pessoa desse casal. Isso não é nada novo, segundo outra de nós, na roda: Lembram do Aluísio de Azevedo(1857-1913)? Aquele do livro 'O Cortiço', livro que todo mundo que fez "vestibular"  leu (ainda recomendam este livro para o ENEM?). Então, muito antes do Cortiço precisamente em 1895, na sua primeira edição, ele escreveu "O livro de uma Sogra", onde teoriza sobre o casamento: O amor pode até durar para sempre, mas é possível amar alguém todo dia?  Aluísio de Azevedo  assegura que não. "Não há estômago que resista a faisão dourado todos os dias; o melhor acepipe, se não for discretamente servido, enfastiará no fim de algum tempo".  

. Continuando no tema AMOR e, como sempre no SBC,  juntando com POLÍTICA, conhecem o padre que vai celebrar nesta quarta dia 18, o casamento da Janja e do Lula?  Don Angélico! Com certeza será um ato POLÍTICO de AMOR! E a frase do dia de Don Angélico:

"AMAI-VOS... NÃO ARMAI-VOS..."
Com essa frase nos enchemos de esperança na construção de um Brasil mais justo e bonito ...



. Por fim, para nos aquietarmos com a notícia de que nosso projeto teria que ser adiado (provavelmente será no primeiro sábado de julho), nos reportamos ao nosso já citado em outros posts (veja nosso post de 28 de abril de 2021), sobre ARTE e POLIÍTICA), uma inspiração do SBC, Ho Chi Minh (1890-1969), que diz que justamente quando eu quero MUITO qualquer coisa é que, em vez de ser tomadx pela ansiedade e correr com as organizações, é que faço bem devagarzinho... para tudo DAR MUITO CERTO. É o que queremos para todos os projetos SBCenses e, particularmente, para este TÁ CAINDO FLOR,  pois TODOS os nossos projetos são elaborados e desenvolvidos por pessoas em que "os olhos brilham"... 

. Ainda a tempo: em virtude dessa onda de frio resolvemos, nós do SBC, doar nosso estoque de roupas do MERCADO DAS PULGAS que estávamos recebendo para usarmos no projeto TA CAINDO FLOR, para o Movimento Nacional dos Moradores de Rua, através da Pastoral de Rua situada a Rua Além Paraíba, 208, bairro Lagoinha Belo Horizonte. Estamos, portanto, fazendo nova campanha de arrecadação de roupas, tanto para o nosso evento TÁ CAINDO FLOR  quanto para continuação do MERCADO DAS PULGAS, assim como, em situações  como a que estamos vivendo, juntarmos tudo e encaminharmos para distribuição  emergencial. Nossa gratidão a todxs que já doaram e nosso pedido de novas doações e compartilhamentos da campanha. 

Abraços carinhosos...






quinta-feira, 12 de maio de 2022

Oficina SBC "TÁ CAINDO FLOR"

Já sabem... no SBC tudo é pretexto para boas conversas, para nos aproximarmos, para crescermos juntxs, compartilhando nossas experiências e reflexões... e para novas  articulações de projetos onde as pessoas se envolvem e desenvolvem... como diz uma de nós: só participe "onde o seu olho brilha".

Já sabem, também, do nosso projeto de carnaval "TÁ CAINDO FLOR"... e estamos promovendo o "engajamento" de pessoas nesse projeto, com oficinas de confecção de flores de todo tipo... pois no SBC temos grandes artistas que nos mandam sugestões lindas...

Fizemos na segunda feira dia 9 de maio nossa primeira oficina... e, claro, acompanhada de conversas super frutíferas ... ou floriferas... rsrs.

Nosso principal tema, que surgiu de uma maneira espontânea, foi sobre a questão do trabalho, uma análise explêndida acerca da história do trabalho, e da crescente exploração do trabalhador na sociedade pós capitalista ou neoliberal.
O cenário era nossa mesa, redonda, com cinco SBCenses que pretendiam produzir flores de papel. Uma delas nos ensinou o processo... reunimos o material e começamos a execução das mesmas.... e daí, de uma maneira espontânea, começamos a realizar cada etapa do processo de acordo com competências individuais... e foi então que surgiu, na forma de brincadeira, o seguinte diálogo:

- Eu só sei cortar as pétalas das rosas... vou ganhar menos que todo mundo?

- Olha, sua colagem não está boa... o chefe vai te cortar o ponto!

- Você está muito lenta... precisamos bater o recorde de produção...

- Mas com o aumento da produtividade vamos ganhar mais?

- Claro que não!!! vai tudo para o patrão, querida...

- Sua montagem da flor tem que passar pelo controle de qualidade!

E por aí, em tom de brincadeira, ia nossa conversa e nossa produção.

Até que essas brincadeiras foram se transformando numa conversa mais séria. E nos debruçamos numa análise do conteúdo da mesma:

- Vocês observaram como, de uma maneira automática e irrefletida, nós "elegemos" uma espécie de "chefe" que nos controlava? Uma de nós quase se acidentou com a tesoura... e o "chefe", incorporado numa outra de nós, disse que tomássemos cuidado pois "acidente de trabalho" era "coisa do passado", a empresa agora não se responsabiliza por isso ...

- E também observem como já estabelecemos uma competitividade entre nós? "de brincadeirinha" nós fizemos isso, ou seja, repetimos o nosso modelo de produção fabril capitalista, 'sem querer' reproduzimos o modelo perde-ganha...

- Assim como, também, ao final, nós perdemos a noção do processo como um todo, e a noção do nosso produto final... quase todas nós não ficamos sabendo, realmente, fazer a flor. Essa fragmentação é o que acontece no esquema fordista de produção. 

- Daí a alienação do trabalhador... o distanciamento da nossa realidade e a não apropriação do que fazemos ... e, da alienação no fazer, é meio caminho andado para nossa cabeça, do trabalhador, "pensar" com  a cabeça do dominador, do explorador... 

- E daí, também, o processo histórico de ampliação e aprofundamento da exploração do trabalho.... ou seja, a 'mais valia' sendo apropriada pelo capital. Pois a produção em série, verdade que traz uma maior produtividade... e esta é completamente "capitalizada" pelo "patrão". 

- E vejam como este processo, aqui no nosso pais (neoliberal), está cada vez mais injusto conosco, trabalhadores: cada vez mais perdemos nossos direitos, consequência da reforma trabalhista, que privilegiou somente o capital. É o que se chama UBERIZAÇAO do trabalho. Cada vez mais os nossos direitos historicamente conquistados vão sendo aniquilados!!!

- Me lembro de um filme chocante: "Você não estava aqui"

Em Você Não Estava Aqui, filme de 2019, após a crise financeira de 2008, Ricky e sua família se encontram em situação financeira precária. Ele decide adquirir uma pequena van, na intenção de trabalhar com entregas, enquanto sua esposa luta para manter a profissão de cuidadora. No entanto, o trabalho informal não traz a recompensa prometida, e aos poucos os membros da família passam a ser jogados uns contra os outros.
As sociedades contemporâneas, tanto ocidentais quanto orientais, se construíram sobre a noção de que o trabalho engrandece o homem, torna-se o pilar de sustentação da família, o orgulho da pátria. Por isso, o desempregado se converte imediatamente no “vagabundo”, o indivíduo sem valores. O novo cidadão é medido por sua capacidade de produção.   No entanto, em pleno século XXI, este modo de funcionamento está falido. Esta constitui a tese central de "Você não estava aqui". uma crítica profunda do diretor Ken Loach  ao que chamamos de "empreendedorismo".


- Voltando à nossa conversa, imaginem a quantidade de pessoas em situação de rua, famílias até, nessa situação de extrema vulnerabilidade. São estas pessoas que o SBC deseja "incluir" com o nosso próximo projeto "TÁ CAINDO FLOR", que será um CARNAVAL temporão, que acontecerá, provavelmente, no final deste mês de maio debaixo do viaduto Santa Tereza. E nossas oficinas estão acontecendo com o objetivo de promover o "engajamento" de amigas e amigos no projeto. 

- Também nessa primeira oficina compartilhamos um "esqueleto" da programação dessa Manifestação Tá caindo FLOR... falamos de "esqueleto" porque, quando as pessoas se encantam com o projeto, quando "o olho brilha"... sentimos à vontade para ir contribuindo com novas ideias que sempre acrescentam e enriquecem o mesmo. Trata-se de um projeto horizontalizado, participativo... 

- E faremos nossa segunda oficina na próxima segunda feira, dia 16.maio... sintam-se convidadxs... para participar entre em contato com o whats 9636 2288 para confirmar presença. Queremos muitas pessoas "engajadas" neste projeto... assim como na continuidade dos nossos projetos SBCenses, pois "A gente não quer só comida..."


Terminando, apresentamos nossa primeira "produção":






Lindíssimas!!! farão parte da decoração do ambiente... e, na primeira parte da nossa Manifestação Cultural, faremos uma oficina de confecção de FANTASIAS 'TÁ CAINDO FLOR' ... detalhes e mais informações na segunda... e, assim que tivermos confirmação definitiva da data, faremos flyer convite para divulgação. Aguardem!!!



Abraços carinhosos... até segunda...



sexta-feira, 6 de maio de 2022

Conversas SBCenses para toda idade: Tuza e Toco

Considero que uma das características mais importantes para o ser humano é a "curiosidade sobre o mundo, as coisas e as pessoas". Esta característica promove a abertura de cabeças e corações (ou afetos) para o novo, o diferente, faz a gente enxergar coisas que, de outra maneira (com a atitude de medo e fechamento diante do novo) nos fogem à percepção... e, neste caso,  tem como consequência o empobrecimento intelectual e a visão restrita (e dogmática) de mundo.

E tenho o prazer de aprender, de 'construir' essa característica, ou talento, com duas pessoas bem distintas (pelo menos no que diz respeito a idade): uma delas é minha mãe, com 92 anos de idade, cheia de amor à vida, cheia de perguntas, o olho brilha para as novidades... e, na outra ponta, meu neto, agora com 10 anos, aprendo com ele sobre este talento talvez desde o seu nascimento... mas particularmente por volta dos 3 ou 4 anos... nessa idade salta aos olhos tal característica: são curiosos sobre tudo ao redor, estão de "butuca" o tempo todo e, já viram isso?... estão brincando e escutam uma palavra nova e entendem o sentido da mesma... daí a pouco usam esta palavra em outro contexto... é incrível. 

Estávamos conversando e uma de nós disse em tom de espanto: Cristo Redentor!... ele ouviu e daí a pouco disse em espanto: Cristo Arrebentou!!! rimos muito... e, daí em diante, a expressão mudou de Cristo Redentor para Cristo Arrebentou entre todxs nós.

Numa outra ocasião, ele estava aprendendo a ler... e queria ler todos os anúncios nos postes no caminho da escolinha para casa. Vó, o que tá escrito no cartaz com o cachorro? O cachorro se perdeu e os donos estão procurando o mesmo, querido... daí a pouco: Vó, e aquele cartaz com um frango assado? o frango sumiu e quem achou botou ele pra assar? a vó não aguentou de rir... O que você tá rindo vó? o cartaz é uma propagando de frango assado, querido!!! riram juntos. Outra: a Biza, que é baiana, fala muito em sair pra rua pra "saracotear"... então, numa ocasião, ele queria usar a palavra aprendida... e disse: Vó, vamos sara... sarirocoar... saracu... e não sabia dizer... dessa vez ficou irritado com as risadas da vó.

E agora, já com 10 anos (e ainda conversando "até espumar o canto da boca", como diz uma amiga... é só você dizer: e aí?... sério?... e então?... que a conversa vai "durando" ...) temos uma caminhada de casa até a escola que dá numa boa conversa... e de como toda conversa se aplica (ou se torna reflexões) sobre a vida e as relações:

Nome do jogo: free fire. É um jogo de matar e morrer.

Credo... sou mais paz e amor!!!

Mas a gente aprende umas coisas interessantes... pro jogo e pra vida...

Por exemplo?

Você precisa desenvolver esses três pilares para conseguir ser um bom jogador:

. sensibilidade: configuração do jogo que faz ser mais rápido ou mais devagar. 

. noção de jogo: pensar dois passos a frente. 

. movimentação: com os dois primeiros pilares você já pode ser um bom jogador. A movimentação vai te ajudar num  certo momento: Quando você está numa "trocação"  de tiro no jogo e está sem parede de gel (uma espécie de proteção)... aí que a movimentação entra para te proteger do inimigo contra os tiros.

 E o que acontece quando eu tenho a parede de gel?

Quando você está com a parede de gel você não precisa se movimentar, você já está protegido ou protegida.

Como consigo a parede de gel?

Depende do modo do jogo. O jogo free fire contém vários modos:

O modo treinamento você já nasce com a parede de gel;

No modo gladiadores também;

Já no modo CS (control squad) você compra o gel;

No modo clássico você pode conseguir a parede de gel

procurando em casas ou caixas espalhadas pelo mapa.

Quando eu coloco o gel?

Quando tem um inimigo te atirando você coloca o gel. 

Para treinar o gel jogue o modo gladiadores e fica dando um tiro um gel.

O que são caixas espalhadas pelo mapa?

São 'air drop', ou caixas amarelas, estão espalhadas pelo mapa.

Por exemplo, tem uma cidade chamada Kota Tua onde encontramos uma caixa amarela. E em outros diversos lugares do mapa.

Quer saber mais sobre Free Fire e esses três pilares? pesquise no

Youtube: Marechal Alone.

Sensibilidade, Movimentação, Noção de jogo: o que tem a ver com a vida e as relações humanas?

Acho que noção de jogo, você pode aprender a 'ter noção'...

Me lembrou uma grande artista brasileira dos anos 70 do século passado, Elis Regina, interpretando uma música do Guilherme Arantes... Ouça:

Movimentação acho que é flexibilidade... para o jogo da vida...

Agora, sensibilidade: na vida real não sei ainda, só sei no jogo...

Acho que poderia ser lentidão ou velocidade para compreender as coisas e para agir.

Talvez uma coisa que precisamos aprender todo dia.

Escutar, cheirar, todos os sentidos, tipo homem aranha.

Uma pessoa sensível tem empatia...

Como você consegue ter a sua própria sensibilidade?

primeiro passo, não pegar sensibilidade dos outros...

Segundo passo: criar sua própria sensibilidade.

Como você consegue ter noção de jogo? primeiro assistir vídeos

(buscar conhecimento sobre a coisa) ...

E botar em prática o que aprendeu ...

Como você consegue ter movimentação? aí precisa ter um 'hud'

personalizado.

O que é hud? o tamanho do botão, vó!😮


Chegamos na escola, querido... depois você me conta mais sobre

este jogo... e eu te conto sobre a vida... e crescemos um com x

outro... boa aula...


Enfim, esta é uma autêntica conversa SBCense, de ótimas trocas

e crescimento mútuo...

Abraços carinhosos aos netos e netas... às filhas e filhos... às mães, pais, avós e avôs ... de todos os gêneros (ou nenhum deles...).

Santuza TU