quinta-feira, 23 de março de 2023

Uma imagem, uma prosa, um poema

 


O que eu vejo?

O que eu vejo me define? ou me rotula? 

Ou me abre oportunidades de refletir... sobre mim mesma... sobre o outro... sobre a vida...

Vejo possibilidades:

- Teria esse homem encontrado o colo de Drummond, que o acolheu, para chorar um amor perdido?

"Um coração rasgado, uma dor que não tem nome...

Um colo, mesmo que frio...

Vou chorar até morrer, 

Essa emoção que me mata..."

- Vejo, também, um homem cansado, chorando suas dores... e as dores do mundo...

"A vida é um soco no estômago", diria Clarisse...

Carolina de Jesus disse: "Escrevo a miséria e a vida infausta dos favelados. Eu era revoltada, não acreditava em ninguém. Odiava os políticos e os patrões, porque o meu sonho era escrever e o pobre não pode ter ideal nobre. Eu sabia que ia angariar inimigos, porque ninguém está habituado a esse tipo de literatura. Seja o que Deus quiser. Eu escrevi a realidade".

E Drummond? o que ele diria?
Talvez "A noite dissolve os homens"

"A noite anoiteceu tudo… O mundo não tem remédio…Os suicidas tinham razão"


Entretanto ele poderia, também, ter lembrado da AURORA:

"Aurora, entretanto eu te diviso,
ainda tímida, inexperiente das luzes que vais ascender
e dos bens que repartirás com todos os homens.

Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
adivinho-te que sobes,
vapor róseo, expulsando a treva noturna.

O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos,
teus dedos frios, que ainda se não modelaram mas que avançam
na escuridão
como um sinal verde e peremptório.

Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.

O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes
se enlaçam,
os corpos hirtos adquirem uma fluidez, uma inocência, um perdão
simples e macio…

Havemos de amanhecer.
O mundo se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces, aurora".


- Esses dias a Juíza  Karla Aveline de Oliveira, da 4a Vara do Juizado da Infância e Juventude de Porto Alegre, na sentença 'inocentando' um adolescente por tráfico de drogas, citou o poeta Sérgio Vaz:

“Esses dias tinha um moleque na quebrada com uma arma de quase 400 páginas na mão. Uma minas cheirando prosa, uns acendendo poesia. Um cara sem nike no pé indo para o trampo com o zóio vermelho de tanto ler no ônibus. Uns tiozinho e umas tiazinha no sarau enchendo a cara de poemas. Depois saíram vomitando versos na calçada. O tráfico de informação não para, uns estão saindo algemado aos diplomas depois de experimentarem umas pílulas de sabedoria. As famílias, coniventes, estão em êxtase. Esses vidas mansas estão esvaziando as cadeias e desempregando os Datenas. A Vida não é mesmo loka?”


Obrigada Drummond! Obrigada poetas... que nos mobilizam para a luta por um mundo mais justo e mais bonito...


E você? O que vê? o que sente?       

Todos nós somos poetas... de um mundo caduco... e de um mundo em construção...


Santuza TU



 


4 comentários:

  1. Muito bom! Parabéns 👏👏👏

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  2. A foto de Drumond "aconchegando" esta pessoa, que parece um adolescente me fez lembrar minha própria experiência de vida.
    Vim pra BH aos 18 anos e como toda estudante passamos muito "perrengue" na capital. Principalmente quando viemos sozinha pra trabalhar e estudar.
    Bem, um dia, sentei no banco da praça Afonso Arinos, com fome, triste , com saudades de casa e comecei chorar. Chorei por um bom tempo.
    Ninguém veio me "aconchegar".
    Nem Drumond! Ele estava lá no Rio.... Chorei, chorei.... aí já que não vinha ninguém mesmo pensei: bem, vou embora pra casa né. E fui.
    Ainda bem que pelo menos casa eu tinha. Naquele dia dormi com fome, mas acordei mais forte do que no dia anterior.
    ANTONIETA SHIRLENE

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  3. Eu vejo alguém com a alma ferida procurando um colo!

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  4. Tem dias que necessitamos tanto de um abraço, de um colo cheio de poesia mesmo gelada para aquecer nossas almas.

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