quinta-feira, 23 de março de 2023

Conversas SBCenses: Comunismo e Felicidade

 


No ano de 2012 Assembleia Geral da ONU aprovou por unanimidade uma resolução proclamando a nova data, que se soma ao calendário da ONU de dias internacionais: dia 20 de março, dia da FELICIDADE.

"A busca pela felicidade é um objetivo humano fundamental", diz a resolução, aprovada por consenso pelos 193 membros da assembleia. Ela pede que se observe "o Dia Internacional da Felicidade de forma apropriada, incluindo por meio de atividades educativas e de conscientização pública".

A comemoração teve como inspiração o reino do Butão, onde a felicidade é considerada o sentimento mais importante do PIB (Produto Interno Bruto) que foi substituído pelo o de Índice de FIB (Felicidade Interna Bruta) na década de setenta. 

No nosso post de 6 de março de 22 conversávamos sobre filmes; e um deles era sobre um filme do Butão:


Certamente no Butão o conceito de FELICIDADE não se parece com o nosso. Pois a primeira ideia que nos ocorre é a de que, na nossa sociedade ocidental, o conceito de felicidade tem sido difundido de uma maneira alienante e tóxica. 

Wander Pereira, professor e pesquisador do assunto na Universidade de Brasília,  alerta que a constante busca por "algo que é a felicidade" pode ser ruim e danosa. Para ele a felicidade é um empreendimento coletivo. "É uma experiência coletiva porque ela surge da necessidade de trabalhar e viver juntos, o ser humano desenvolveu essa necessidade na história evolutiva". "Felicidade é encontrar coisas que estejam presentes na sua vida e isso passa muito pelas construções sociais, pelas redes que a gente faz, pelos relacionamento que a gente tem ao longo da vida", diz o professor.

E dessas considerações é que passamos a conversar sobre o conceito de felicidade tóxica,  que nada mais é que a ideia de que pensamentos positivos devem estar acima de quaisquer outras emoções consideradas "negativas"., ou seja, a busca exacerbada pela felicidade e a negação das emoções. 

Essa prática em excesso pode comprometer nossa saúde mental . "O ponto é que quando um sentimento é ignorado, isso não significa que ele deixou de existir ou parou de te afetar. Na verdade, se você não aceitar que suas emoções existem e que vão surgir no dia a dia, nunca vai aprender a lidar com elas".
Daí, pensando sob o ponto de vista cultural,   podemos concluir para a felicidade tóxica é ..."um subproduto da atual cultura, que sobrevaloriza o individualismo, a competição e o sucesso", ou seja, a felicidade tóxica é um subproduto do capitalismo. 
E, na mesma semana em que se comemora o  dia da felicidade, sai pesquisa IPEC:
Quase metade (44%)  dos brasileiros veem ameaça comunista no governo Lula.
(mesmo que, na mesma pesquisa, para 41% dos brasileiros este governo seja bom ou ótimo)
Segundo Leonardo Sakamoto, a palavra "comunismo" retirada de seu sentido original, de propriedade comum dos meios de produção e da ideologia por ela sustentada, se tornou no Brasil um simples comando para o linchamento digital, independentemente de quem esteja do outro lado. O objetivo é tirar a credibilidade e destruir, muitas vezes para servir de exemplo. E, consequentemente, esse processo tornou a palavra depositária do "mal". E um grande mal é sempre temido e vira uma ameaça.
Para muitos de nós que nascemos no século passado, depois da segunda guerra mundial, segunda metade do século, desenvolvendo-se o imperialismo americano, a guerra fria EUA X União Soviética, o que ouvíamos era que "comunista comia criancinhas"... isso nos aterrorizava. 
Já na Ditadura começávamos a desenvolver uma visão crítica do mundo, perceber o que estava acontecendo no Brasil, a censura, o medo, a repressão, a falta de liberdade de conversar, criticar, nossos artistas, poetas - nossas referências -  'fugindo' do Brasil... mas tínhamos Dom Helder:

Enfim, faz sentido para nós entender a FELICIDADE como um EMPREENDIMENTO COLETIVO.

E pensar: para que - e para quem - serve a manutenção da ignorância?
E terminamos nos inspirando na arte, para pensarmos sobre o mundo... e nós no mundo... enquanto sujeitos...
Vendo um filme: Já era hora, comédia dramática italiana sobre um homem que trabalhava demais
Cantando Tom e Vinícius:

E lembrando Drummond - eterno: Uma Hora e mais outra, do livro "A rosa do povo"

“Há uma hora triste
que tu não conheces.
Não é a tua tarde
quando se diria
baixar meio grama
na dura balança;
não é a da noite
em que já sem luz
a cabeça cobres
com frio lençol
antecipando outro
mais gelado pano;
e também não é a
do nascer do sol
enquanto enfastiado
assistes ao dia
perseverar no câncer,
no pó, no costume,
no mal dividido
trabalho de muitos;
não a da comida
hora mais grotesca
em que dente de ouro
mastiga pedaços
de besta caçada;
nem a da conversa
com indiferentes
ou com burros de óculos,
gelatina humana,
vontades corruptas,
palavras sem fogo,
lixo tão burguês,
lesmas de blackout
fugindo à verdade
como de um incêndio;
não a do cinema
hora vagabunda
onde se compensa,
rosa em tecnicolor,
a falta de amor,
a falta de amor,
A FALTA DE AMOR;
nem essa hora flácida
após o desgaste
do corpo entrançado
em outro, tristeza
de ser exaurido
e peito deserto,
nem a pobre hora
da evacuação:
um pouco de ti
desce pelos canos,
oh! adulterado,
assim decomposto,
tanto te repugna,
recusas olhá-lo:
é o pior de ti?
Torna-se a matéria
nobre ou vil conforme
se retém ou passa?
Pois hora mais triste
ainda se afigura;
ei-la, a hora pequena
que desprevenido
te colhe sozinho
na rua ou no catre
em qualquer república;
já não te revoltas
e nem te lamentas,
tampouco procuras
solução benigna
de cristo ou arsênico,
sem nenhum apoio
no chão ou no espaço,
roídos os livros,
cortadas as pontes,
furados os olhos,
a língua enrolada,
os dedos sem tato,
a mente sem ordem,
sem qualquer motivo
de qualquer ação,
tu vives; apenas,
sem saber pra quê,
como para quê,
tu vives: cadáver,
malogro, tu vives,
rotina, tu vives
tu vives, mas triste
duma tal tristeza
tão sem água ou carne,
tão ausente, vago,
que pegar quisera
na mão e dizer-te:
Amigo, não sabes
que existe amanhã?
Então um sorriso
nascera no fundo
de tua miséria
e te destinara
a melhor sentido.
Exato, amanhã
será outro dia.
Para ele viajas.
Vamos para ele.
Venceste o desgosto,
calcaste o indivíduo,
já teu passo avança
em terra diversa.
teu passo: outros passos
ao lado do teu.
O pisar de botas,
outros nem calçados,
mas todos pisando,
pés no barro, pés
n´água, na folhagem,
pés que marcham muitos,
alguns se desviam,
mas tudo é caminho.
Tantos: grossos, brancos,
negros, rubros pés,
tortos ou lanhados,
fracos, retumbantes,
gravam no chão mole
marcas para sempre:
pois a hora mais bela
surge da mais triste.”

Enfim, a arte nos faz refletir... e nos salva ...

Abraços carinhosos...





Uma imagem, uma prosa, um poema

 


O que eu vejo?

O que eu vejo me define? ou me rotula? 

Ou me abre oportunidades de refletir... sobre mim mesma... sobre o outro... sobre a vida...

Vejo possibilidades:

- Teria esse homem encontrado o colo de Drummond, que o acolheu, para chorar um amor perdido?

"Um coração rasgado, uma dor que não tem nome...

Um colo, mesmo que frio...

Vou chorar até morrer, 

Essa emoção que me mata..."

- Vejo, também, um homem cansado, chorando suas dores... e as dores do mundo...

"A vida é um soco no estômago", diria Clarisse...

Carolina de Jesus disse: "Escrevo a miséria e a vida infausta dos favelados. Eu era revoltada, não acreditava em ninguém. Odiava os políticos e os patrões, porque o meu sonho era escrever e o pobre não pode ter ideal nobre. Eu sabia que ia angariar inimigos, porque ninguém está habituado a esse tipo de literatura. Seja o que Deus quiser. Eu escrevi a realidade".

E Drummond? o que ele diria?
Talvez "A noite dissolve os homens"

"A noite anoiteceu tudo… O mundo não tem remédio…Os suicidas tinham razão"


Entretanto ele poderia, também, ter lembrado da AURORA:

"Aurora, entretanto eu te diviso,
ainda tímida, inexperiente das luzes que vais ascender
e dos bens que repartirás com todos os homens.

Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
adivinho-te que sobes,
vapor róseo, expulsando a treva noturna.

O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos,
teus dedos frios, que ainda se não modelaram mas que avançam
na escuridão
como um sinal verde e peremptório.

Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.

O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes
se enlaçam,
os corpos hirtos adquirem uma fluidez, uma inocência, um perdão
simples e macio…

Havemos de amanhecer.
O mundo se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces, aurora".


- Esses dias a Juíza  Karla Aveline de Oliveira, da 4a Vara do Juizado da Infância e Juventude de Porto Alegre, na sentença 'inocentando' um adolescente por tráfico de drogas, citou o poeta Sérgio Vaz:

“Esses dias tinha um moleque na quebrada com uma arma de quase 400 páginas na mão. Uma minas cheirando prosa, uns acendendo poesia. Um cara sem nike no pé indo para o trampo com o zóio vermelho de tanto ler no ônibus. Uns tiozinho e umas tiazinha no sarau enchendo a cara de poemas. Depois saíram vomitando versos na calçada. O tráfico de informação não para, uns estão saindo algemado aos diplomas depois de experimentarem umas pílulas de sabedoria. As famílias, coniventes, estão em êxtase. Esses vidas mansas estão esvaziando as cadeias e desempregando os Datenas. A Vida não é mesmo loka?”


Obrigada Drummond! Obrigada poetas... que nos mobilizam para a luta por um mundo mais justo e mais bonito...


E você? O que vê? o que sente?       

Todos nós somos poetas... de um mundo caduco... e de um mundo em construção...


Santuza TU



 


sábado, 18 de março de 2023

PSIU POÉTICO NO ASA DE PAPEL... SBC PRESENTE!!!

 

Antonieta Shirlene

Na quinta feira dia 16 de março tivemos um lindo encontro no ASA, o PSIU POÉTICO!

Eu não estava presente só porque estava viajando, mas o SBC estava super bem representado pelo nossa  querida Antonieta, que nos mandou resenha e fotos. Obrigada TONTON!!!



Rômulo, nosso anfitrião no ASA







Aroldo Pereira, criador do PsiuPoético 
Helena Soares, também criadora do PsiuPoético

Encontrar com amigos, é muito bom.
Encontrar com poetas , é ótimo.
Encontrar com amigos e poetas é excelente.
Entretanto, encontrar com amigos poetas não tem preço.
E foi isso que aconteceu no Asa de Papel nesta quinta-feira dia 16 de março.
O Psiu Poético BH , movimento literário que nasceu há 37 anos na cidade de Montes Claros - MG, idealizado pelo poeta João Aroldo Pereira e que hoje chega em várias cidades de Minas e do Brasil é uma realização primorosa de valorização da poesia e das artes em geral.
A noite do dia 16 foi mais que especial. Com apresentações primorosas de vários poetas e poetisas. 
France
                                      

Brenda 
Um momento pra lá de especial foi a declamação da poetisa Brenda Marques. A mesma fez uma poesia lindíssima e necessária homenageando à querida Marielle Franco.

Sementes
Sementes! Sementes, nós somos sementes!
Quando o corpo de Marielle foi tombado ao chão
Brotou ali, novas sementes.
Somos sementes de Marielle!
Quem mandou matar Marielle?
Quem mandou matar Marielle?
 A programação do Psiu Poético segue neste sábado e domingo:
Sábado:
Mercado Central de BH
HORA: 9:30
Casa da Floresta
Rua Silva Ortiz,78 Floresta
HORA: 14:00

Nos encontramos lá!

Poetize-se!

Antonieta Shirlene



Sim!!! Com certeza, com cerveja, com cerejas... nos encontraremos lá!!!

Até lá então... abraços...




quinta-feira, 16 de março de 2023

Sobre o "amor movimento"


Asa de Papel Café&Arte R. Piauí, 631 - Santa Efigênia, Belo Horizonte - MG

Chamamos a nós mesm@s de ALADOS... Trata-se de uma "mini livraria", uma "mini galeria de arte" também .Um bom lugar para tomar um capuccino ou uma cerva, acompanhando um quiche ou um pão de queijo. Eventos de todo  tipo: um quarteto de jazz, uma noite de autógrafos, vernissage, oficinas e palestras... Tudo em pequena escala, mas de ótima qualidade. Se falta espaço o evento se espalha pela pracinha em frente. E os saraus, às quartas, de quinze e quinze dias.

Nosso encontros - saraus -  na ASA  são lindíssimos... cada vez mais gente, de todas as idades - cada vez mais gente se destravando e dizendo um poema, uma crônica,  cantando uma música - ou também recitando a letra, fica lindo, como um poema!

E os bons encontros, as grandes amizades... disso é feita a vida.

Costumamos dizer: "Na horizontal é prosa; na vertical é poesia...nem sempre... mas sempre cantando... ou piropando..."


Dia Nacional da Poesia, nosso grande poeta Drummond diz tudo, poesia é vida, a poesia está nas coisas, nas emoções, nas relações...nas descobertas, não nas coisas prontas e acabadas... 

Com todas as emoções podemos (e precisamos...) fazer poesia. Inclusive com os amores mais contraditórios, mais paradoxais. Aliás, alguns poetas e filósofos já apontam, desde algum tempo, o paradoxo do amor: agonia e êxtase - porque o amor é o encontro da terra e do céu, do conhecido e do desconhecido, do visível e do invisível. "O amor é uma corda esticada entre duas polaridades" (Osho). E, ampliando a grande filósofa Hannah Arendt, "Toda dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história"... ou se, sobre ela, pudermos fazer poesia...

Já temos, também, explicações científicas para essa emoção: A ocitocina é chamada de "hormônio do amor" e, quando uma pessoa está sofrendo por alguém, os níveis dessa substância caem drasticamente, A dopamina, por sua vez, é responsável pela sensação de prazer.

Nossa prosa foi sobre tentar compreender o amor para vivê-lo melhor. O que nos leva imediatamente ao perigo de compreender para "encaixar o amor num quadrado". Pois quando isso acontece nós o perdemos, nos distanciamos da nossa capacidade de senti-lo. Francesco Alberoni, filósofo italiano, nos diz sobre petrificação - leia nosso post de 30 de janeiro.2023. E outra coisa que ele diz que nos elucida bastante é a diferenciação entre ENAMORAMENTO, o que nós costumamos dizer 'estar apaixonadx' - que é, necessariamente, um ESTADO NASCENTE, ou seja, evolui (com todas as consequências nas nossas vidas e nas nossas emoções) para o desenamoramento, a petrificação (que costumamos confundir com o amor)  ou o AMOR - um movimento constante, uma construção, a dois, para a vida toda.

Pois bem, a paixão, como conversamos, é esse estado nascente de agonia e êxtase...e aí a gente tenta "encaixar" e petrifica. De outra forma, se "suportamos" o paradoxo "agonia e êxtase" criamos a possibilidade do "amor movimento", onde tudo está por se construir o tempo todo. Alberoni diz também de outro modo: quando estamos apaixonados corremos o risco de ultrapassar o "ponto de não retorno" e darmos - e pedirmos, exigirmos, do outro - o que ele chama de "provas de amor". E daí é que "encaixamos" - ou petrificamos, o amor... e, tragicamente, ele deixa de existir. 

De outro modo, como podemos desenvolver a sabedoria do amor "movimento constante"? 

A frase acima é do filósofo Allain de Boutton, citada pela escritora Paula Gicovate em live com a youtuber Carol Tilkian (a esquerda), do @_amorespossiveis, ela faz ótimas entrevistas sobre o tema com pesquisadorxs top da área, Viviane Mosé, Fabricio Carpinejar, Regina Navarro, entre outrxs.

Vale a pena ler os dois livros, da Paula Gicovate e do Allain de Boutton:



E já verificamos outra contradição possível, quando pensamos na perspectiva de gêneros: isso vale, funciona,  em 'mão dupla' na nossa sociedade patriarcal, machista e misógina? Esse pressuposto pode, também, ser usado  como ferramenta de manipulação e uso do poder, principalmente por homens que se dizem em "desconstrução"? Como diz Alberoni, no livro "Enamoramento e amor", quando no 'estado nascente' procuramos dar e receber 'provas de amor', não é raro o homem transformar "aquele ser esplendoroso" objeto do seu desejo num ser "domável" e "inexpressivo". A inveja, outra emoção potente que pode estar misturada com o amor, quando é negada, reprimida, não elaborada, pode destruir x outrx, o amor e a si mesmx.


Conversamos sobre um filme "A Liberdade é Azul", de 1993, do Diretor Krzysztof Kieslowski. O titulo do filme é acompanhado da citação: o mito da liberdade, e da frase: aprendemos a viver como se, ao vivenciarmos o amor, tivéssemos que abrir mão da liberdade. 
E essa "aprendizagem" ocorre de maneira diferente para homens e mulheres, parece que as mulheres abrem mão da liberdade (e de si mesmas) em função do amor, enquanto os homens aprendem a se apegar à liberdade.
Enfim, ruim pra todos os gêneros,  não aprendemos a lidar com os paradoxos e vivenciar de uma maneira bonita e alegre o amor.
Contudo, o que "não aprendemos", porque não faz parte da nossa cultura maniqueísta, precisamos "aprender" ... para caminharmos no sentido da construção de novas formas de amar.


Grandes temas: amor, liberdade... e arte. Grande filósofo, psicanalista e músico Vladimir Safatle, no seu livro mais recente, Em um com o impulso: experiência estética e emancipação social, diz: "a experiência estética é fundamental para a organização de nossas expectativas de liberdade", e mais: "é pelo contato com a arte que aprendemos a ser livres"... e a amar de um jeito mais bonito, acrescentamos. 

E sobre o amor ao tempo e a vida: a seguir dois poemas, da Viviane Mosé e do Pablo Neruda:


E fragmentos dos nossos saraus:

Intertextualidades: CONTRADIÇÕES DE UMA MULHER  - com Rosa e com Vivi:

Ontem eu resisti a você... a seus beijos, a seu carinho...

Resistir, no nosso campo progressista, é uma virtude de pessoas guerreiras...

Aqui é um estereótipo, uma construção histórico cultural do nosso gênero:

Aprendemos que, para sermos desejadas, precisaríamos ser difíceis... que merda...

Viver e perigoso: a mesma coisa que me salva pode me matar, já dizia G. Rosa.

Fui uma tonta... devia ter te comido... e me deixado comer

Como diria a Vivi: ... "me olhando nos olhos e com o meu consentimento"

Só assim é gostoso...

Ele se diz um homem feminino

Sabe lavar, passar, cuidar da casa, fazer comidinhas gostosas...

Com isso ele me desafia...e eu entro em contradição... e entro em competição com ele!

Mas me pego fazendo outras perguntas:

Eu quero um homem feminino? um homem que saiba tudo que eu aprendi e ainda acha que faz melhor?

ou eu quero um homem masculino que tenha aprendido todos essas tarefas femininas

e que queira fazer junto

Ai... meu Deus... como é difícil superar estereótipos!

Homens meigos são sedutores

Mulheres meigas são "meigalinhas"... principalmente as auto afirmativas

Mulher resolvida pode querer ser 'mulherzinha'... diminuitivo afetivo, não diminuitivo estereotipado.

Assim como pode também ser 'ridícula' no amor... não me desumanize...  vamos rir juntos...

Acordo com seu cheiro, ao meio dia te deleto, a tarde te recupero, a noite durmo e sonho com você... Te devoro... Te espero...

Depois desses fragmentos cantamos Nana Caymmi, composição de Dorival Caymmi e Ana Terra, "Meu menino":


E terminamos com dois poemas da nossa ALADA Márcia Leão:


Terminamos... por enquanto. O assunto continua... sempre.

Abraços carinhosos, e mais uma ideia: "SOLTAR O CONTROLE PARA DESCOBRIR O FLUXO"... E ESTARMOS ATENTOS E ATENTAS... E FORTES!  NA CONSTRUÇÃO...







sexta-feira, 10 de março de 2023

Conversas SBCenses: sobre 8M

 

Quantas vezes temos que repetir: NÃO É UM DIA ROMANTICO! É UM DIA DE LUTA!!!

Levantamento Datafolha realizado em janeiro desde ano,  a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que TODAS as formas de violência contra a mulher aumentaram no Brasil em 2022. Os dados apontam um cenário preocupante: diariamente, mais de 50 mil mulheres sofreram algum tipo de violência em 2022. As maiores vítimas são mulheres pretas, com baixo grau de escolaridade, com filhos e divorciadas, entre 25 e 34 anos. Entre as formas de violência empregadas contra as mulheres, houve uma piora em todas elas, seja física, como tiros e esfaqueamentos, ou insultos, humilhação e xingamentos.

Três condições podem ter ocasionado esse aumento da violência, diz o estudo:

1. Desmonte das políticas públicas  de enfrentamento à violência. Nos últimos quatro anos o corte da verba para essas políticas foi de 90%;

2. A pandemia COVID-19, que comprometeu o funcionamento de serviços de acolhimento às mulheres em situação de violência;

3. O crescimento no alcance do discurso de extrema-direita.

O Monitor da Violência traz, mais uma vez, os dados sobre violência de gênero no Brasil, mostrando que os casos de feminicídio continuam aumentando na maior parte dos estados brasileiros. Olhando para os dados históricos desde a promulgação da Lei 13.104|15, que qualifica como feminicídio o homicídio de mulheres pela sua condição de gênero, ou seja, pelo fato de serem mulheres, os registros aumentam ano a ano, indo na contramão da tendência de queda dos homicídios em geral. Isso mostra que "as mulheres ainda não conquistaram o direito à vida".  

E por falar em leis, o conhecimento sobre as leis que podem nos proteger e nos amparar é o primeiro passo para a mudança no sentido da nossa luta por direitos e para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A seguir algumas leis que toda mulher deve saber ( do insta da globonews):

E por falar em luta por direitos, tivemos em Belo Horizonte, nesta semana, dois encontros importantes, de luta:

O primeiro deles na Assembléia, dia 6 de março, temas importantíssimos sobre nossa saúde.

E, no dia 8 de março, sob a batuta da nossa querida Dirlene Marques, estivemos nas ruas defendendo pautas históricas do movimento feminista. algumas delas;
. Revogação de todas as contrareformas - da previdência, trabalhista, do ensino médio e do teto de gastos - para avançar na retomada e conquista dos nossos direitos;
. socialização do trabalho doméstico, ampliação de creches, lavanderias e restaurantes populares, rumo à construção de um novo modelo de cuidados;
. combate à violência institucionalizada, à política de encarceramento em massa e à violência policial que aprisiona mulheres e seus familiares, especialmente nas periferias;
. organização das mulheres trabalhadoras, consolidando o trabalho do movimento feminista nos territórios proletarizados da cidade;
.aborto legal, seguro e gratuito pelo SUS;
. moradia  digna, trabalho justo, mesa farta, folhos na escola, todas vacinadas; ............

Sabemos que o feminicídio é a última etapa de um processo de violência que já vem acontecendo, algumas "naturalizadas" e "quase imperceptíveis", "sutis como uma patada de elefante"... e considero que precisamos muito conversar sobre essas micro violências, a fim de reconhecê-las e combatê-las. O Conselho Regional de Psicologia lançou em março de 2021 um conjunto de folderes sobre MICROMACHISMOS.

O material foi produzido pelo CRP-MG por meio da Comissão de Orientação Mulheres e Questões de gênero, e aborda os micromachismos a partir da seguinte tipificação:

Parte 1 - Coercitivos

]Parte 2 - Encobertos

Parte 3 - De crise

Cada folder se dedica a uma dessas categorias e relata situações que permite identificar como os micromachismos ocorrem no cotidiano.

O material define os micromachismos da seguinte maneira: "São práticas de dominação que ocorrem na vida cotidiana, por meio de ações interpessoais e que perpassam as relações de forma quase imperceptível. Os micromachismos são compostos por manobras utilizadas para controlar as mulheres, tanto nas relações de intimidade quanto fora delas.

O micromachismos têm consequências diretas na autonomia das mulheres e funcionam como aliados da ordem social, validando as visões conservadoras e ignorando esse tipo de violência. Portanto, produzem efeitos na subjetividade, tornando-se necessário desvendar esses mecanismos como primeiro passo para neutralizá-los".

Quanto aos efeitos dos micromachismos, o folder III nos diz: que os mesmos tendem a ser visíveis a longo prazo. "... geralmente produzem sentimentos relacionados a derrota e impotência. Impactos na autoestima, produzindo inseguranças, que podem acarretar em perdas significativas do próprio desenvolvimento subjetivo das mulheres. São acompanhados por sentimento de culpa pelos desgastes produzidos na relação, pelos quais ela se sente responsável.

Nos homens se observa que ocorre a busca de uma preservação da posição dominante, que lhes é socialmente atribuída. Isso ocasiona, ao mesmo tempo, os sentimentos de superioridade e desconfiança, visto que a obtenção do poder não irá garantir o afeto.

Portanto, as relações passam por um frequente desequilíbrio, ocasionado pela constante tentativa de manutenção da hierarquia de poder, e isso pode ocasionar aberturas para espaços que podem ser atravessados por abusos e violência".

Os textos desses três folderes, com os tipos de micromachismos (coercitivos, encobertos e de crise), e exemplos dos mesmos, podem ser acessados em:

crpmg.org.br/micromachismos

Vale muito a pena lê-los... todas, todas e todes nós ...



Ao mesmo tempo que o trabalho de conscientização da luta por direitos tem evoluído, passamos - ainda - pela tristeza e revolta de ouvirmos relatos como o de uma criança de 12 anos vivendo angustia, depressão, e se comportando de maneira acuada, depois de ser chamada de "marmita" por toda a turma, seus colegas meninos e meninas, pelo fato dela ter se recusado a "ficar" com o "bam bam bam" da sala.

Outro caso que gera tristeza e indignação é a ameaça de morte sofrida por uma comediante, Livia La Gatto,  que usa sua arte como denúncia a grupos machistas e misóginos que estão nas redes fantasiados de coach de masculinidades. 


Um deles, o RED PILL. Em português, a pílula vermelha faz alusão ao filme Matrix, de 1999, em que o protagonista tem diante de si dois caminhos: tomar a versão azul e seguir em seu mundo de ilusões ou justamente optar pela vermelha, que lhe trará a compreensão nua e crua da realidade. E, para os integrantes do Red Pill, autointitulados coaches ou influencers da masculinidade, o cenário de hoje, que enxergam “com consciência e sem firulas”, é injustamente dominado pelo sexo oposto. O mais espantoso é que eles tenham tamanha audiência e consigam disseminar livremente o seu manual não só nas mais conhecidas redes sociais (que justificam não os banir por não considerar que eles espalhem o ódio) mas também em cursos, palestras e livros, como o Antiotário, de Rafael Aires, um dos expoentes brasileiros dessa turma de mente reacionária.

Leia mais em: https://veja.abril.com.br/comportamento/movimento-red-pill-revela-a-face-cruel-e-reacionaria-do-machismo/

Outro movimento é o MGTOW Men Going Their Own Way um estilo ou filosofia de vida baseado na crença de que o homem deve quebrar o paradigma de estar destinado a ter relacionamentos. Existem comunidades que unem diversos adeptos ao MGTOW em sites além da atual presença de homens que se identificam com este estilo de vida nas mídias sociais como parte do que foi apelidado de "manosfera" (esfera do homem), uma coleção de sites antifeministas e comunidades online que também inclui o movimento pelos direitos dos homens, incels (Celibatários Involuntários)e artistas da sedução (em inglês: Pickup artist (PUA). Originalmente libertária, a comunidade mais tarde começou a se fundir com a direita alternativa neo reacionária e o nacionalismo branco. Adeptos do MGTOW defendem o separatismo masculino e acreditam que a sociedade foi corrompida pelo feminismo. Afirmam que o feminismo tornou as mulheres perigosas para os homens e que a auto preservação masculina exige uma dissociação completa das mulheres. Os níveis de envolvimento no MGTOW variam desde a conscientização da "pílula vermelha", a rejeição de relacionamentos (incluindo "greves de casamento"), até o desmembramento econômico e social.

Pois é, esses movimentos, creiam, estão se ampliando e se fortalecendo nas redes. Mas sabemos que a história não é linear... e que precisamos de humildade para a leitura da realidade, e de força e coragem  para a construção de um mundo mais bonito...

Ao mesmo tempo vemos a  mensagem de força e alegria da Manoela D'Ávila no Instagram, que lembra muito o conceito de luta de grande feminista do passado, Emma Goldman: "Se não houver dança não é a revolução que queremos". Aqui um trecho da mensagem da Manu|:

Escrevo e apago. Escrevo e apago.
É oito de março mais uma vez, o dia de luta daquelas que lutam todos os dias para (sobre)viver.
Os textos e as fotos se parecem todos os anos. Em luta.
Escolhi uma foto feliz, acompanhada da minha menina. É o que desejo para todas as minha companheiros: que nossas lutas nos permitam uma existência livre, uma existência digna. uma existência feliz.







E terminamos com a bela mensagem de Betânia:

https://www.instagram.com/reel/CphhqdeAV-Z/?igshid=MDJmNzVkMjY=

Até a próxima... abraços carinhosos













quinta-feira, 2 de março de 2023

Da série: CONHECENDO O(s) VALE(s)

Fronteira dos Vales no mapa de Minas Gerais
A história do lugar tem início  por volta de 1891, com a chegada à região de dois irmãos que procuravam se esconder devido a um crime que haviam cometido. Eles usavam um código com duas pancadas em pedras sobre pedras produzindo a sonorização de 'Pam-pam...'. A eles juntam-se familiares e logo se forma um arraial chamado de Córrego do Pampã.  Em 1938 o arraial passa a Distrito de Teófilo Otoni, com o nome de São José do Pampã. Emancipa-se em 1963, com o nome de Pampã e, posteriormente, recebe a denominação atual de Fronteira dos Vales, por estar situada entre os vales do Mucuri e Jequitinhonha.  Está distante 740 km de Belo Horizonte, tendo acesso pelas rodovias BR-381, BR-116, BR-367, MG-105. 

Pois não é que existia mesmo a cidade com esse nome?

Mas  nosso caso começa em Virgem da Lapa, também uma cidade do Vale. Antes, porém, vamos falar de algumas cidades envolvidas no caso: 


Virgem da Lapa: O nome da cidade é uma referência a Nossa Senhora da Lapa, cuja imagem atribui-se ter sido encontrada por garimpeiros da região. O topônimo (ou "nome geográfico") foi uma sugestão do então presidente da Câmara Municipal Vicente Paulino Murta (mais conhecido pelo apelido "Seu Doce"), juntamente com outros representantes do recém-criado município. Virgem da Lapa foi fundada em 1948, em decorrência da emancipação político-administrativa do arraial de São Domingos do Arassuahy.


Viram? "pertim" de Araçuaí (como se escreve agora), o "logo ali" de mineiro, ainda mais de "baianeiro", os mineiros dos Vales, Jequitinhonha e Mucuri. 

O Município de Araçuaí está localizado no Nordeste de Minas Gerais, no Médio Jequitinhonha, a uma distância de 678 Km de Belo Horizonte. Sua emancipação política ocorreu em 1871. Mas a história de Araçuaí teve início por volta de 1830, quando Luciana Teixeira, proprietária da Fazenda Boa Vista da Barra do Calhau, deu abrigo aos emigrantes da Barra do Pontal (canoeiros e meretrizes expulsas pelo Padre Carlos Pereira de Moura, da Aldeia do Pontal (hoje Itira) localizada a alguns quilômetros abaixo, na confluência dos rios Araçuaí e Jequitinhonha. O Arraial que então se fundou chamou-se "Calhau", devido à grande quantidade existente no local de pedras lisas e arredondadas, esculpidas pela correnteza das águas. O Arraial de Calhau foi elevado à categoria de sede de Distrito em 1857. A instalação sob a denominação de Vila de Arassuay deu-se em 1871, para finalmente a 21 de setembro de 1871 ser elevada à categoria de cidade, por força da lei nº 1870, com o nome de Araçuaí. Esse nome é de origem indígena, e quer dizer Rio das Araras Grandes.

E Araçuaí é "pertim", também, da minha terra: Salinas, 116 km de Araçuaí a Salinas.

                                    Vista aérea de Salinas-MG

A grande investida por estas paragens principiou em 1554, quando o desbravador Francisco Bruzza Espinosa partiu de Porto Seguro/BA e percorreu toda essa região do Norte de Minas, chegando até o Jequitinhonha, Rio Pardo, Serra das Almas, Itacambira etc.

Um século depois, em 1663 o famoso Conde da Ponte iniciou a ocupação desta região. Por volta de 1698, o bandeirante Antônio Luiz dos Passos estabelecia uma fazenda de criação de gado às margens do Rio Pardo, e daí percorreu toda essa região, a procura de riquezas. Numa dessas incursões chegou às margens de um rio pouco caudaloso e encontrou ricas jazidas de salgemas. Os índios que habitavam esta região eram os Tapuias da Nação G.

Em 1833 era emancipado o distrito de Rio Pardo, pertencente a Minas Novas/MG, e o distrito de Salinas era incorporado ao município de Rio Pardo. Em 1838, era realizado um recenseamento, onde habitavam no Arraial de Santo Antônio de Salinas, 248 pessoas. Em 1880 A Vila foi elevada à categoria de Arraial de Santo Antonio de Salinas. Em 1855, Dona Ana Maria de Araújo, proprietária da fazenda Ribeirão, doou um pedacinho de terra para que nela fosse construído um cemitério coberto com casas precisas para este fim.

Em 1923, é mudada a denominação de Santo Antônio de Salinas para SALINAS / MG, e no ano de 1932 tomou posse o nosso primeiro prefeito municipal (nomeado), Dr. Clemente Medrado Fernandes.

Ultima cidade envolvida no nosso caso: Joaíma era um distrito criado em 1911 e subordinado ao município de Arassuaí (hoje ARAÇIAÍ) e mais tarde São Miguel Jequitinhonha (hoje JEQUITINHONHA). Em 1943 é elevado à categoria de município com a denominação de Joaíma. Os primitivos habitantes foram índios botocudos, chefiados pelo cacique Joahima. Com a colonização, vieram os portugueses. Em 1892, chegou ao pequeno povoado Cypriano de Souza, acompanhado de numerosa família, vindo de Santa Rita (depois Medina); esse novo morador deu incremento à vida do lugar, iniciando amplas plantações e construindo, sob a orientação do Padre Emereciano Alves de Oliveira, a primeira Capela, onde, em 1900, foi celebrada a primeira festa do Senhor do Bonfim, padroeiro do lugar. Por essa época, chegou ao povoado o gaúcho Manoel Luiz, chefiando cerca de duas centenas de brancos e indígenas, que se atiraram aos trabalhos da lavoura e se radicaram na foz do Ribeirão Anta Podre, consolidando de vez, o arraial.

O primeiro nome de Joaíma foi "Quartel" ou "Quartel de Água Branca", nome do córrego às margens do qual foi instalado um Quartel da 7ª Divisão Militar de São Miguel. Com o crescimento da aldeia, foi necessário criar mais um Quartel e o lugar passou a denominar-se "Quartéis do Bonfim", em homenagem ao Padroeiro do local, Nosso Senhor do Bonfim. Em 1911 o povoado foi elevado à categoria de Distrito, do recém criado município de São Miguel de Jequitinhonha, com o nome de Bonfim de Joahima. Com a emancipação política, em 1948, o município recebeu o nome de Joaíma, em homenagem ao chefe indígena Joahima.



Depois do conhecimento histórico dessas cidades lindas do Vale - ou dos Vales - e "dum gulim de cachaça" - a melhor do Brasil, vamos à história de PAM PAM, que envolve todas elas:

Ela nasceu em Virgem da Lapa, morava em Araçuaí e se casou com um Salinense, teve um casal de filhos, se mudou para Belo Horizonte, e agora é uma senhorinha "biza" muito da serelepe. 

Numa situação triste da família, situação de perda, ela recebia, em sua casa, irmãs de outra cidade. E, como tudo na vida, ela também estava feliz revendo as irmãs. Conversando de sábado pra domingo, até de madrugada -  na verdade ela queria "raiar o dia" conversando -  lembrando coisas da infância e juventude passadas por aquelas bandas do Vale. 

Mas uma das irmãs disse: Gente, precisamos dormir um pouco pois viajaremos de volta daqui a pouco, ou seja, bem cedinho de domingo. 

- "fazer o que", concordou a senhorinha... mas não sem antes fazer PAM PAM... ela se lembrou de um parente de Joaíma que "garrava" na prosa - e 'nuns gulim' de cachaça - e, numa certa altura da conversa, quando não tinha mais jeito, ele se levantava e dizia: AGORA VOU PRA PAM PAM... isso significava "fim de prosa"... Inclusive ele ficou com a apelido de PAM PAM.

Sei que o PAM PAM era um sujeito muito alto, tinha umas pernas muito grandes ... e quando ele levantava para "fazer PAM PAM" (ou ir pra PAM PAM), ele meio que passava uma perna por cima da mesa, parecendo um gesto - ou um golpe - de capoeira. 

Pois essa senhorinha, naquela altura da conversa com as irmãs, disse: Ok, vamos dormir, mas não sem antes fazer PAM PAM... e se levantou do sofá e foi passar a perna por cima da mesinha do centro da sala, imitando o PAM PAM... 

A pessoa ficou em uma perna só... perdeu o equilíbrio... caiu por cima da irmã... as duas caíram no chão...  a senhorinha bateu a cabeça no chão... 

Claro... ficaram até o amanhecer do dia fazendo compressas de gelo... todas preocupadíssimas ...  e, ao mesmo tempo,  rindo muito  do PAM PAM. 

Dia seguinte: hospital, exames... uma delas trincou a bacia... e a do PAM PAM, apesar do galo na cabeça, não foi visto nada mais grave nos exames. 

"Entre mortos e feridos" salvaram-se todas... e resgataram a memória de PAM PAM, a cidade - agora FRONTEIRA DOS VALES , e dessas outras cidades dos vales do Jequitinhonha e Mucuri que tanta alegria nos trazem nas nossas memórias. 

Passado o sufoco, este é um caso pra rir... de uma senhorinha linda, na "flor da idade", cheia de vida, exemplo para toda a família... e pra mim, sua filha...


Em tempo: a pesquisa das histórias das cidades foram feitas nos sites das mesmas.

Ainda em Tempo: continuamos com nossos projetos, SOBRE O VALE... e o projeto SOBRE A AMÉRICA LATINA... quem quiser mandar seus texto, suas memórias, encaminhe para o e-mail:
tusantuza@gmail.com.

Abraços carinhosos a tod@s