Rita Von Hunty, persona de Guilherme Terreri, é educadora, atriz e drag queen. Utiliza a arte drag como potente ferramenta pedagógica para abordar temas complexos como história, filosofia, política e questões sociais.
Em 20 de dezembro de 2022 já recorríamos à Rita como pré-texto - o texto nós fazemos - para nossas reflexões. A seguir um trecho desse nosso post:
Rita diz, ou melhor, nosso SBCense diz: PARA NADA! ... se entendermos "servir" como "ser útil" ao consumo, ou seja, a arte não deve ""se submeter", ser subserviente a uma cultura do consumo, a uma sociedade onde o dinheiro ganha vida e nós nos transformamos de sujeitos a objetos (consumistas: que só consomem - e se deixam consumir). Por outro lado, a ARTE pode (e deve) servir para ajudar a causar perplexidade, estranhamento, para abrir perguntas e incitar o raciocínio - e ação - transformadores. Aí a arte cumpre com seu papel: o de ser, sempre, um LEVANTE contra a servidão.
E a Rita abriu nossa conversa da semana. Em seguida veio Caetano:
E chegamos ao acontecimento da semana, a condenação dos "líderes" da trama golpista, o primeiro deles, o inominável. E, entre tantos comentários sobre nosso resgate enquanto nação soberana, destacamos a figura da nossa ministra mineira Carmem Lúcia:
Que País É Este?
1
Uma coisa é um país,
outra um ajuntamento.
Uma coisa é um país,
outra um regimento.
Uma coisa é um país,
outra o confinamento.
Mas já soube datas, guerras, estátuas
usei caderno "Avante"
— e desfilei de tênis para o ditador.
Vinha de um "berço esplêndido" para um "futuro radioso"
e éramos maiores em tudo
— discursando rios e pretensão.
Uma coisa é um país,
outra um fingimento.
Uma coisa é um país,
outra um monumento.
Uma coisa é um país,
outra o aviltamento.
(...)
2
Há 500 anos caçamos índios e operários,
há 500 anos queimamos árvores e hereges,
há 500 anos estupramos livros e mulheres,
há 500 anos sugamos negras e aluguéis.
Há 500 anos dizemos:
que o futuro a Deus pertence,
que Deus nasceu na Bahia,
que São Jorge é que é guerreiro,
que do amanhã ninguém sabe,
que conosco ninguém pode,
que quem não pode sacode.
Há 500 anos somos pretos de alma branca,
não somos nada violentos,
quem espera sempre alcança
e quem não chora não mama
ou quem tem padrinho vivo
não morre nunca pagão.
Há 500 anos propalamos:
este é o país do futuro,
antes tarde do que nunca,
mais vale quem Deus ajuda
e a Europa ainda se curva.
Há 500 anos
somos raposas verdes
colhendo uvas com os olhos,
semeamos promessa e vento
com tempestades na boca,
sonhamos a paz da Suécia
com suíças militares,
vendemos siris na estrada
e papagaios em Haia,
senzalamos casas-grandes
e sobradamos mocambos,
bebemos cachaça e brahma
Joaquim Silvério e derrama,
a polícia nos dispersa
e o futebol nos conclama,
cantamos salve-rainhas
e salve-se quem puder,
pois Jesus Cristo nos mata
num carnaval de mulatas.
(...)
Publicado no livro Que país é este? e outros poemas (1980).
Uma coisa é um país,
outra um ajuntamento.
Uma coisa é um país,
outra um regimento.
Uma coisa é um país,
outra o confinamento.
Mas já soube datas, guerras, estátuas
usei caderno "Avante"
— e desfilei de tênis para o ditador.
Vinha de um "berço esplêndido" para um "futuro radioso"
e éramos maiores em tudo
— discursando rios e pretensão.
Uma coisa é um país,
outra um fingimento.
Uma coisa é um país,
outra um monumento.
Uma coisa é um país,
outra o aviltamento.
(...)
2
Há 500 anos caçamos índios e operários,
há 500 anos queimamos árvores e hereges,
há 500 anos estupramos livros e mulheres,
há 500 anos sugamos negras e aluguéis.
Há 500 anos dizemos:
que o futuro a Deus pertence,
que Deus nasceu na Bahia,
que São Jorge é que é guerreiro,
que do amanhã ninguém sabe,
que conosco ninguém pode,
que quem não pode sacode.
Há 500 anos somos pretos de alma branca,
não somos nada violentos,
quem espera sempre alcança
e quem não chora não mama
ou quem tem padrinho vivo
não morre nunca pagão.
Há 500 anos propalamos:
este é o país do futuro,
antes tarde do que nunca,
mais vale quem Deus ajuda
e a Europa ainda se curva.
Há 500 anos
somos raposas verdes
colhendo uvas com os olhos,
semeamos promessa e vento
com tempestades na boca,
sonhamos a paz da Suécia
com suíças militares,
vendemos siris na estrada
e papagaios em Haia,
senzalamos casas-grandes
e sobradamos mocambos,
bebemos cachaça e brahma
Joaquim Silvério e derrama,
a polícia nos dispersa
e o futebol nos conclama,
cantamos salve-rainhas
e salve-se quem puder,
pois Jesus Cristo nos mata
num carnaval de mulatas.
(...)
Publicado no livro Que país é este? e outros poemas (1980).
Escritor, cronista, ensaísta e jornalista Affonso Romano de Sant'Anna teve papel fundamental na promoção da poesia popular e social e na modernização da Biblioteca Nacional. Nasceu em Belo Horizonte em 1937 e nos deixou a pouco tempo, ainda nesse ano. Sua obra "Que país é este" é um símbolo de mobilização popular e reflete a luta conta a opressão e a busca por identidade nacional.
E terminamos com a magnífica interpretação de Elis Regina de música do também grande Mineiro João Bosco com seu parceiro Aldir Blanc:
Viva Minas Gerais! E viva o Brasil!!!
E viva o S B C !
Bora, juntas e juntos, construir um país melhor, mais justo, mais distributivo... Com poesia...e com arte!
Santuza TU
Maravilha de publicação!! Bravo!!
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