quarta-feira, 3 de setembro de 2025

RELAÇÕES DIALÓGICAS NO S B C: sobre VIRGINDADE

Nosso querido SBCense CAN, aquele super Espinozista - vejam nosso post de 20.agosto, onde ele nos incita a recuperar Espinosa e seus conceitos de Deus Natureza - nos manda o vídeo abaixo,  de Porta dos Fundos, canal de humor brasileiro famoso por suas sátiras, paródias e humor ácido, abordando temas como política, religião e sociedade. E ele manda com o seguinte comentário: Da francesa do século XVII à garota do século XXI - perfeito para o SBC. A francesa do século XVII foi aquela que questionou Espinosa sobre a não inclusão das mulheres, leiam o post, vale a pena. 


A sinopse do vídeo: A primeira vez marca a vida de uma mulher. A primeira vez em que ela percebe que alguns homens não lidam bem com direitos iguais, mas aprende como usar isso a seu favor, por exemplo. E inúmeros comentários, de "é uma obra de arte!" até "fiquei chocada", passando por análises antropológica, filosófica, psicológica:

Pra quem não entendeu a crítica: Trata-se do fato de que, normalmente, é muita frescura pros pais deixarem a ''mina'' se relacionar com alguém; Muito diferente do filho homem que muitas vezes chega a ser até incentivado pelo pai. A reflexão está justamente nestes dois extremos: SUPERPROTECÃO de um lado e INCENTIVO do outro para exatamente a mesma coisa.

- Impressionante como a troca de valores faz o povo se chocar.

- Muito bom! Nada melhor do inverter a situação para mostrar que algo está errado, realmente muito bom!

- Eu tinha uma vizinha que dizia "segurem suas cabras que meus bodes estão à solta". Ela só não contava que um dos bodes ia se assumir gay e ir atrás de outro bode.

- Rapaz, a tradicional família brasileira acaba de cair da cadeira, sem entender nada e perguntando: "Isso pode passar na Internet?"

- Crítica à sociedade machista. Para quem está criticando falando que o vídeo incentiva práticas imorais etc, pense primeiro na hipocrisia de quem admite que o homem possa ser promíscuo e tolhe a mulher. Não é um incentivo à promiscuidade, ao contrário, é uma reflexão. Longe de qualquer discurso moralista ou religioso.

Nós ficamos curiosas sobre como mulheres e homens do SBC veem esse vídeo, a partir da perspectiva pessoal, subjetiva, a partir da sua experiência de vida. O SBC é intergeracional, portanto, tínhamos na reunião homens e mulheres de 16 a 70 anos. 

O primeiro depoimento SBCense foi de um homem, falando da violência que ele sentiu quando foi "obrigado" pelo pai a ir no puteiro para a sua primeira vez. E precisamos conversar sobre isso, para criar a possibilidade da mudança de paradigma, pois nem o modelo masculino da primeira vez "asséptica", desprovida de emoções... e nem o romantismo feminino que visa a idealização da mulher com o objetivo do casamento ... servem a uma sociedade igualitária que queremos construir em todos os níveis de relações. Como nosso slogan SBCense: "Amor e política fazemos na cama e no mundo".

E ele, então,  nos suscitou, a nós, mulheres, a falarmos da nossa primeira vez, assim como avaliarmos essa experiência. E as colocações foram desde "esse assunto é tão pertinente como o sexo dos anjos", numa evidente crítica repulsiva ao tema - "não se fala sobre o assunto, é como ele não me afetasse"... até "esse assunto é super atual, pois  meninas estão morrendo por se recusarem a "ficar", ou seja, o machismo se repagina, se "moderniza", e precisamos estar atentos e atentas a isso".

E os depoimentos se seguiram:

- Minha primeira experiência sexual não foi nada prazerosa, penso que para a maioria das mulheres, pois são carregadas de culpa, Estou falando de mulheres do século passado. 

- Para nós, a virgindade vinha a ser a "arma" que tínhamos para "segurar" o homem. O amor idealizado, o casamento... e a ex virgem, agora pedinte, passiva, a suplicar aquele amor... e o homem, na medida em que o amor idealizado se realiza, passa a "desprezar" aquela mulher... e assim vivem "infelizes para sempre". Muito cruel esse modelo, para mulheres e homens.

- Eu mesma passei anos tentando superar um primeiro amor, uma primeira experiência sexual, em que depois da experiência o namoro acabou... e eu dizia pra mim mesma: Nenhum homem vai me desprezar por isso, ou melhor, o homem que fizer isso eu é que vou desprezá-lo! Pois não é que, algum tempo depois, quando o cara "descobriu" que eu não era mais virgem, questionou isso? e eu cai na cilada de fazer o contrário! disse pra mim mesma: é com esse que eu vou casar... e casei! Claro, foi um casamento que durou pouco tempo, tive a sorte - ou coragem - de separar... 

- Mas e o vídeo, o que ele nos traz de novo? foi a interrogação de mulher de 17, 18 anos. O que a modernidade nos trouxe de superação desse modelo? Eu mesma, além de conhecer inúmeras amigas angustiadas com a sua primeira vez, sentindo a pressão do namorado e no sofrimento, na falta de liberdade, de dizer NÃO e "perder" o cara. Ou seja... nada mudou...

- Notícia de ontem: Menina de 11 anos foi espancada em escola por se recusar a "ficar" com colega. A estudante Alícia Valentina, de 11 anos, que morreu após ser espancada em uma escola de Belém do São Francisco (Pernambuco), teria sido atacada por se recusar a “ficar” com um colega. As agressões aconteceram na última quarta-feira (3/9) e a menina não resistiu aos ferimentos, falecendo no domingo (7).De acordo com uma testemunha, a violência teve início no banheiro ou nas proximidades. O boletim de ocorrência aponta que quatro meninos e uma menina participaram do espancamento. O primeiro golpe teria sido desferido justamente pelo garoto rejeitado por Alícia.

- É... a "modernidade" está carregada de machismos repaginados... e de violência...

Nos sensibilizamos com esses depoimentos e percebemos que a "igualdade" no sentido de se encarar o sexo ainda está muito distante pra nós... 

- Nossa filósofa nos fala sobre TAUTOLOGIA, uma repetição da mesma ideia ou conceito, numa imagem a tautologia seria "uma cobra que morde o rabo". E ela refletiu que esse vídeo nos traz uma tautologia, ou seja, só inverte as coisas, não muda nada. Ao contrário, uma SUPERAÇÃO DIALÉTICA nos traz mudança... 

- Ou seja, o modelo masculino que temos de primeira experiência sexual não nos acrescenta. O convite é o de "superação dialética", onde construiremos, juntas e juntos, um novo modelo, mais bonito, mais simétrico, mais prazeroso. Aliás, continua querida SBCense, imagino que sempre é uma primeira vez, tanto para a mulher como para o homem, ou seja, toda primeira vez de um casal, seja homem-mulher, mulher-mulher, homem-homem e por ai vai, será sempre uma grande descoberta para os dois... e é isso o bonito relacional...

- E concluímos que essa construção só será possível juntas e juntos, conversando sobre nossas experiências e a possibilidade de construirmos um modelo que passa pela simetria, a troca, o prazer.


Bora!!!

Abraços carinhosos a todas as pessoas que nos leem...

Santuza TU




Um comentário:

  1. Acho mto interessante esse debate! Precisamos mudar os conceitos!

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