sexta-feira, 5 de maio de 2023

Uma nova abordagem terapêutica

Quem escreve este post, a pedidos,  sou eu,  Rochelle, uma espécie de alter ego ('traduzinho', uma outra eu):  Escrevo para traduzir com minhas palavras, e apresentar a vocês, o 'estilo' terapêutico da nossa 'presidenta' que, como sabem, é psicóloga, terapeuta e palestrante. 

Conto, primeiro, que nossa terapeuta é velhinha, trabalha nisso há muuuiiiitoooo tempo, 'desde século passado'... e se dá o direito de, ao ser perguntada sobre sua linha, dizer: SANTUZINIANA!!!; e ela relata que diz isso na primeira sessão. E ela 'ou perde... ou ganha' o\a cliente... 

Ela explica que criou, a partir de aprendizagens e experiências de vida e de trabalho, o que se poderia dizer "um método terapêutico" bastante interessante e eficaz, que vou tentar dizê-lo aqui pra vocês. Mas antes de discorrer sobre o método, algumas de suas referências:

A primeira pessoa que ela se lembra de ter sido, algumas vezes, comparada, é com o mestre José Ângelo Gaiarsa.  Formado em medicina e especializado em Psiquiatria, foi o introdutor das técnicas corporais em psicoterapia no Brasil.  Nasceu em Santo André-SP, em 1920. Autor de mais de 35 livros e pioneiro na participação da psicologia e relações humanas em programas de TV. De 1983 a 93 Gaiarsa apresentou o quadro Quebra-Cabeça em programa na TV aberta, em que analisava conflitos pessoais e relacionais, contando sempre com a participação dos expectadores. 

Gaiarsa foi um teórico sobre a psicologia da performance, com implicações na ética prática e na comunicação não verbal. Suas produções na área da psicoterapia têm contribuído para a produção científica e para a socialização dos conhecimentos sobre corpo e subjetividade, além de temas como família, sexualidade e relacionamentos amorosos. Morreu na capital paulista no dia 16 de outubro de 2010, aos noventa anos de idade, em decorrência de causas naturais, em sua residência.

Alguns de seus livros:

Adoro essa capa... ótima ilustração de "amores perfeitos"...

Um dos primeiros intelectuais a quebrar a barreira da linguagem, Gaiarsa falou de temas caros a todos nós, como amor, sexo, comportamento, fidelidade, educação de filhos, machismo, feminismo e hipocrisia. 

Em seus livros ele compartilhou conhecimentos de biologia, antropologia, sociologia, comunicação não verbal, fisiologia, biomecânica, cinesiologia, psicanálise e terapia corporal. Adorava estudar os fenômenos de consciência. Crítico contumaz da família nuclear tradicional e da posição subalterna da mulher na sociedade, usava de fina ironia e muitos exemplos de consultório para explanar seus pontos de vista. Revolucionário, sofreu duras críticas, mas nunca deixou de falar sobre aquilo em que acreditava: o amor como único antídoto para as mazelas humanas.



Este livro de 2020 é uma pequena coletânea de pensamentos desse gênio aberto e destemido que conquistou corações no Brasil e no mundo. Trata-se de uma singela homenagem ao centenário de seu nascimento e um marco certeiro para a memória da psicologia brasileira.

Assim Gaiarsa se definia: "Sou primeiro um cosmopolita do Universo [...]. Sou depois um membro desta raça equívoca – a humanidade desumana – a oscilar continuamente entre a santidade e a perversidade, a genialidade e a loucura, os mais astutos e implacáveis predadores de Gaia e de tudo que ela nos oferece, a Grande Mãe Generosa que exploramos sem piedade, sem cuidado e sem remorsos, dizendo mentirosamente o tempo todo que a respeitamos e amamos. Amo essa humanidade e, apesar de tudo, ainda tenho esperança de um dia vê-la feliz – principalmente mais prazenteira, amorosa e solidária."

Fazendo a pesquisa acima, sobre o Gaiarsa, conclui que nossa terapeuta e presidenta do SBC  "herdou" do mesmo, principalmente, a irreverência, o riso... e a criatividade, o movimento que ela sempre faz de 'sair da caixa', sair dos padrões e se permitir... se permitir a liberdade... que ela define como algo sempre a conquistar, "hoje sei que sou um pouco mais livre do que era ontem e um pouco menos do que vou ser amanhã".

E comprovo essas características através de outra pessoa que ela cita... e morre de rir: o ANALISTA DE BAGÉ... ela se diz, também, parecida com esse personagem. Daí fui, também, pesquisar:

O livro O Analista de Bagé é uma coletânea publicada pelo escritor gaúcho Luís Fernando Veríssimo em 1981. O personagem criado por Veríssimo representa um gaúcho, psicanalista, supostamente freudiano de linha ortodoxa, de palavras marcantes e ilustrativo da sabedoria popular do Rio Grande do SulO analista se diz "mais ortodoxo que pomada Minâncora" ou que as "Pastilhas Valda".  (todo mundo do século passado usou - e ainda usa - podem pesquisar)

Sua técnica do joelhaço, no entanto, é bastante heterodoxa, a depender do ponto de vista. Ela está baseada no princípio da dor maior, isto é, quando o paciente vem se queixar de suas dores subjetivas, o joelhaço aplicado no local correto oferece ao sujeito a vivência de uma dor tão mais intensa que faz com que se esqueça das dores "menores". O personagem de humor criado por Veríssimo ganhou, além da literatura, versões em quadrinhos e no teatro.

Luís Fernando Veríssimo

Érico Veríssimo












Luís Fernando Verissimo  nasceu em Porto Alegre em 1936.  É escritor, humorista, cartunista, tradutor, roteirista de televisão, autor de teatro e romancista. Já foi publicitário e revisor de jornal. É ainda músico, tendo tocado saxofone em alguns conjuntos. Com mais de 80 títulos publicados, é um dos mais populares escritores brasileiros contemporâneos. E é filho do grande escritor Érico Veríssimo, de Olhai os lírios do campo (1938) e da trilogia O tempo e o vento (1949...), entre outros.

Mas TU (Santuza), eu perguntei, você não teria referências mais atuais, suas referências são muito antigas (percebi que fiz um juízo de valor); e ela me responde:

- Querida, buscar referências na história não significa ser antiga, no sentido de desatualizada! significa TER HISTÓRIA! Trazer essas pessoas que você citou para a atualidade significa, para mim, resgatar pessoas "além do seu tempo", e tão necessárias aos tempos atuais... A história não é linear; isso significa que vivemos, agora, um conservadorismo necessário de se superar ... a fim de avançarmos para, eu diria,  a "retomada da nossa humanidade".  Veja...  nosso mundo ocidental foi "construído"  numa lógica pós socrática. Platão, discípulo de Sócrates, buscava a "razão pura" e ser "tomadx" pela emoção era, para ele, uma espécie de "acidente". Veja em que essa polarização razão/emoção resultou: um exemplo, o "crime passional", uma aberração, um contra senso, uma desumanidade... pois somos responsáveis pelas nossas emoções, pelos nossos afetos, ou seja, "respondemos" pelos mesmos... inclusive pela aprendizagem de conhecê-los e "considerá-los", "apropriar" dos mesmos;  e pelo "aperfeiçoamento" de TODOS os afetos, pois não existe afetos positivos e negativos; existe, sim, o saber lidar com todos eles, saber potencializá-los e utilizar deles para o bem viver e bem relacionar. 

Sabe uma filósofa brasileira modernérrima que fala muito bem desse assunto, e da necessidade do resgate de filósofos pré-socráticos para nossas referências na construção do "bem viver e bem relacionar"? Viviane Mosé

... Vamos à pesquisa:


Viviane Mosé nasceu em Vitória - Espírito Santo, em 1964. É poetisa, filósofa, psicanalista e especialista em elaboração e implementação de políticas públicas. Mestre e doutora em filosofia, publicou sua tese de doutorado Nietzsche e a grande política da linguagem em 2005.

A característica marcante da Viviane Mosé, segundo nossa terapeuta TU, é trazer temas de filosofia para uma linguagem cotidiana. E TU diz, ainda, que a Viviane lhe ensinou mais sobre Nietzsche, filósofo que ela já era super fã, acho que um dos pouquíssimos que tenta resgatar, na sua filosofia, os pré socráticos naquilo que eles tem de fluidez, de ideia da vida como movimento. Nietzsche usa, nos seus textos, tanto do raciocínio dialético quanto de aforismos.

E um dos filósofos pré-socráticos que nossa terapeuta considera super contemporâneo é o HERÁCLITO. Considerado o “Pai da Dialética”, Heráclito (540 a.C. - 476 a.C.) nasceu em Éfeso e explorou a ideia do devir (fluidez das coisas). "Nada é permanente, exceto a mudança".

Pitágoras (570 a.C. - 497 a.C.) é outro pré-socrático super importante. Além de matemático, ele também foi responsável por chamar de "amantes do conhecimento" aqueles que buscavam explicações racionais para a realidade, dando origem ao termo filosofia ("amor ao conhecimento"). "O universo é uma harmonia de contrários"

E o Zenão... Discípulo de Parmênides, Zenão (490 a.C. 430 a.C.) foi grande defensor das ideias de seu mestre, filosofando, sobretudo, acerca dos conceitos de “Dialética” e “Paradoxo”. "O que se move sempre está no mesmo lugar agora".  

Observo, com essa pesquisa, que a dialética seria um método filosófico anterior a Sócrates, que foi "perdido" na Idade Média, das trevas... e recuperado no século XVIII por Hegel (1770 - 1831)... que, por sua vez, veio a ser "inspirador" de filósofos contemporâneos importantíssimos, um deles Karl Marx

Reparem que trata-se de um  processo - um movimento, "... por meio do qual ocorreria a evolução do conhecimento e da realidade, e é composto por três elementos: A tese é situação fática primária, com suas características propícias para germinar a contradição/questionamento, ou seja, a antítese. Do choque entre tese e antítese, surgiria a síntese, que, por sua vez, seria tese para um novo processo evolutivo. Tal processo dialético triádico seria aplicável em todos os setores da realidade humana".

Pois então ... daí , disso tudo, chegamos ao método terapêutico da nossa querida SBCense. O método Santuziniano, que inclui a o autoconhecimento, a auto-observação, o riso (inclusive rir da gente mesmx), a coragem para experimentar o desconhecido, a criatividade... a apropriação da própria vida, a criação de conceitos, valores, princípios orientadores de uma vida "bonita"... e por aí vai.

A metáfora que ela usa para explicar o método:

MOVIMENTO "COBRA QUE MORDE O RABO"

                                    X

MOVIMENTO DE "VIRAR A CHAVE"

. Cobra que morde o rabo: são as repetições de "modelos" de comportamentos, de visões de mundo, de visão de si mesmx... todos os "padrões" de pensar, de sentir e de agir, aprendidos e repetidos... e que nos levam a sofrimentos psíquicos... mas a gente não consegue - ou tem dificuldades  (por vários fatores) de sair deles;

. Virar a chave: significa "abrir uma porta"... e não sabemos o que existe depois da porta ... há que se ter coragem para fazer esse movimento... que vem a ser um movimento de construção... de novos modelos, novas formas de se ver, ver o mundo, se posicionar no mundo, se relacionar...

Este movimento às vezes é sofrido, às vezes é prazeroso... e trata-se de um movimento para toda a vida.

Três ressignificações de Freud, aqui:

Resistência... sim, aparece sempre a resistência... Reparem que a mesma energia que gastamos para o movimento "cobra que morde o rabo" é a que usaremos para "virar a chave". A diferença é que o primeiro movimento é conhecido - por isso pensamos que gastamos menos energia; o segundo é o novo, é a construção... mas, acreditem, trata-se da mesma energia - voltada para a morte (simbolicamente, na repetição da "cobra que morde o rabo") ou voltada para a vida (no "virar a chave). Enfim, resistência existe e nossa atitude é a de "lutar contra ela", não a de "alimentar a mesma";

Outro conceito que merece ressignificação, para inaugurarmos o movimento de "virar a chave": Trauma... na origem da palavra, trama é uma ferida. Em alguma época da minha vida aconteceu uma ferida. Se ela é curada, deixo sair a casquinha no tempo certo, supero o trauma. Mas se eu fico, todo dia, cutucando a ferida pra ela não sarar, talvez "usando" a ferida para algum objetivo relacional (receber proteção, por exemplo, "olha que dó de mim!"...)  estou fazendo o movimento "cobra que morde o rabo"... e, para "furar" este esquema, fazer o movimento dialético de superação, preciso me perguntar que proteção é essa que sempre busco... será que preciso dela? confundo amor  com proteção, como aprendi?

É difícil... mas é também prazeroso... "rapadura é dura mas é doce"...  daí um terceiro, e último (por enquanto) termo a ser ressignificado:  "mecanismo de defesa"... ora, mecanismo de defesa foi, em alguma época, uma defesa real, eu precisava daquele mecanismo para sobreviver emocionalmente (precisava, por exemplo, projetar no outro a minha dificuldade, negar, reprimir, adiar (procrastinar), 'fagocitar' (esconder) os conflitos ... entre outros mecanismos que utilizamos); já em outra época da minha vida, quando talvez eu tenha amadurecido e não "precise" mais daquele mecanismo e continuo utilizando o mesmo, ele já não me faz mais nenhum bem, só me faz mal, impede meu contato genuíno comigo mesmo e com o outro... aí estou repetindo o modelo "cobra que morde o rabo".

E ela define o trabalho dx terapeuta recorrendo, também, a uma metáfora:

Na DIVINA COMÉDIA, Virgílio, o grande poeta romano autor de Eneida, surge para guiar Dante pelo inferno e o purgatório em direção ao paraíso. Antes de encontrar Virgílio, ele estava numa selva escura.

Pois é este o nosso papel: estar junto com  o cliente nessa caminhada rumo ao autoconhecimento, a ser sujeito, se descobrir, colocar sua vida nas suas mãos, e a relacionar com os outros praticando o que existe de mais genuinamente humano: eu cresço com você e você cresce comigo ...  aprendemos juntxs, a ser pessoas melhores e a realizar trocas mais prazerosas, mais bonitas e significativas para uma vida bem vivida.

Aprendemos, também que não é assim: "agora aprendi e virei a chave", sou outra pessoa... isso não existe! A aprendizagem da humanização é o constante exercício  (de humildade) de "ver" que estou no "cobra que morde o rabo" e conseguir caminhar para "virar a chave"... e construir, ou melhor, estarmos sempre construindo, a vida e movimento constante.

E repararam que, assim como o processo dialético (tese-antítese-síntese.......) é aplicável "...em todos os setores da realidade humana", também o modelo "cobra x chave" pode ser utilizado nos diversos ambientes que convivemos? 

Exemplos:  uma relação afetiva pode acabar pela repetição da velha fórmula do amor romântico (idealização, que gera passividade e abandono da noção de construção constante do amor);  uma instituição, seja ela empresarial ou qualquer outra instituição (família, escola, partido político, instituição religiosa, ...), pode "acabar" em função de processos "cobra que morde o rabo", ou seja, repetindo modelos obsoletos... ou pode se tornar uma instituição "fechada", autoritária, dominadora, "fabricante" da  passividade e da submissão dos seres humanos. 

E, por último, para conseguirmos "ir mudando" para o movimento "virar a chave" é imprescindível o contato com nossas EMOÇÕES, aquelas reprimidas, negadas... é preciso desenvolver a INTELIGÊNCIA EMOCIONAL... 

A começar por lidar com conflitos emocionais: medo x coragem... a coragem não é a ausência do medo, mas a "filosofia a vaca": vai, cagando (de medo) mas anda... ou vai rindo...

Obrigada querida terapeuta SBCense Santuza TU. 

Gratidão, minha e de todo o SBC, grupo de amigos que virou um conceito, uma filosofia de vida.


AH, e ela ainda me manda o recado: não tem nenhuma pretensão de elaborar nenhuma teoria... e tem muita pretensão de suscitar reflexões, diálogos e crescimentos mútuos.

ROCHELLE


8 comentários:

  1. Texto maravilhoso! Adorei Tutu!!

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  2. Rosariafchiodi@gmail.com6 de maio de 2023 às 19:24

    Adorei o texto! É realmente a cara da Santuza!

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  3. Santuza, maravilhosa!

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  4. Olá, meu nome é Angel. Minha "outra eu" como a querida Rochelle. Adorei os comentários de" Ro". Me senti muuuuito representada.Mesmo porque eu também respeito e acredito bastante no modo terapêutico da nossa querida Santuza Rodrigues. Apesar de reconhecer que " virar a chave", como ela propõe, é difícil, é dolorido e às vezes a gente considera impossível. Ou no mínimo, trabalhoso. Somos muito preguiçosas.
    Mas acredito também que, quando conseguimos "virar a chave" é muito libertador..
    Por isso acredito na nossa terapeuta favorita. Tenho dificuldades? Tenho. Mas acredito. Infelizmente, ainda fico muito "correndo atrás do rabo".kkkk.
    Adorei Rochelle você ter nos representado.
    Abraços carinhosos
    Angel
    ( ANTONIETA SHIRLENE)

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    1. obrigada pelo comentário querida Angel (ou Tonton). abraços carinhosos

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