quinta-feira, 18 de maio de 2023

Conversas SBCenses: sobre alteridade e empatia

 

Tzvetan Todorov, filósofo e linguista, nasceu na Bulgária em 1939 e morreu em 2017, em Paris. Suas obras estão traduzidas em vinte e cinco idiomas. 

Roland Barthes (1915-1980)

Em Paris Todorov estudou Filosofia da Linguagem com Roland Barthes, um dos mais respeitados teóricos do estruturalismo. 

O estruturalismo, apesar de ser tomado como uma corrente de pensamento, é um modo ou método de análise das ciências humanas que teve sua origem na psicologia e perpassou a linguística, a sociologia, a antropologia e a filosofia no século passado, ganhando destaque entre intelectuais franceses. Basicamente a intenção do método estruturalista, para qualquer uma dessas ciência, é identificar estruturas gerais de um todo, analisando as suas partes.

Em sua obra: “ A conquista da América: A questão do outro ”, Tzvetan Todorov analisa a conquista da América sob a questão do outro, a qual ele estabelece como unidade de ação a percepção que os espanhóis têm dos índios nesse contexto de conquista, além de expor suas pesquisas a respeito do conceito de alteridade, existentes na relação de indivíduos pertencentes a grupos sociais diversos, cujo objeto central justifica-se na própria situação do autor, que é imigrante na França, um país onde supostamente a relação entre nacionais e estrangeiros é historicamente marcada por um xenofobismo não declarado.

“Se a compreensão não for acompanhada de um reconhecimento pleno do outro sujeito, então essa compreensão corre o risco de ser utilizada com vistas à exploração, o saber será subordinado ao poder.”

Com uma narrativa literária e muito fluente, Tzvetan Todorov tem por objetivo – devidamente explicitado no epílogo – fazer com “que se recorde o que pode acontecer se não se conseguir descobrir o outro”, isto é, Todorov busca através da apresentação da história da colonização da América discutir a questão da Alteridade.

“… compreender leva a tomar, e tomar a destruir… A compreensão não deveria vir junto com a simpatia? E ainda, o desejo de tomar, de enriquecer à custa do outro, não deveria predispor à conservação desse outro, fonte potencial de riqueza?”

O livro é dividido por capítulos em que o autor nomeia: Descobrir, Conquistar, Amar e Conhecer. E já em suas primeiras linhas percebe-se que essa titulação não é em vão. Todo o decorrer da obra é marcado pelo sangue, ambição e “cegueira”… É realmente uma obra escrita por um europeu arrependido que tenta retratar os abusos cometidos por seus antepassados. Para quem quer compreender a Conquista da América essa é uma leitura obrigatória.

Leitura fluente e impactante, nos transporta para o período pré-colonial da América e nos faz imergir nesse universo dolorido do nosso passado. Todorov não poupa palavras para descrever as mazelas impostas aos colonizados.

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Querida Rochelle, queridas pessoas que nos acompanham,

Muito feliz de ter tido oportunidade de falar sobre meu método, minha forma de trabalhar, como terapeuta, palestrante... e de viver, pois aplico o movimento TAP sempre na minha vida e nas minhas relações.

Então, fiquei de mostrar mais um pouco como se faz, um processo metodológico, e ai vai, me servindo, como exemplo, do autor acima e seu livro A conquista da América: A questão do outro, que nos ensejou, recentemente, um diálogo bastante interessante e construtivo sobre alteridade e empatia:

Diretrizes para leitura análise e interpretação de uma unidade de leitura e desenvolvimento do processo TAP (este é o título, que mais parece um livro do Jorge Amado - ou do Nietzsche... muito longo, porém elucidativo):

Primeiro,  defina a unidade de leitura...  pode ser um livro pode ser um capítulo pode ser um parágrafo pode ser um poema pode ser uma música, até uma frase;
Segundo,  pesquise sobre o autor, procurando situá-lo histórica e ideologicamente, dispomos agora do google para isso;
Terceiro,  pesquise, identifique,  a pergunta, a perplexidade, a interrogação,  do autor... o que o fez escrever aquilo, fazer aquele poema, aquele filme, aquela música... de que ele fala;
Quarto,  verifique com você mesmx o que você já sabe  sobre o assunto...  com antecedência;

Quinto passo: apreender a "unidade de leitura" procurando identificar a ideia central (o tema, como o autor|autora desenvolve - ou responde -  sua pergunta, sua perplexidade)... e daí apreenda também as ideias secundárias; 

Sexto passo: Começar a conversar com o autor, com outrxs autores, e com outras pessoas, sobre a "unidade de leitura" (aqui começa o movimento TAP): 
. verifique se você concorda totalmente, discorda totalmente, concorda em parte,  discorda em parte... do autor|autora - comece argumentar
. "escolha", melhor "verifique",  uma ou mais ideias do autor que podem ser o tema principal dele ou pode ser um tema secundário para ser afetado... aí você vai começar sua reflexão
. "ser afetado":  pegue o tema que você se afetou e comece a explorá-lo,  refletir sobre ele;
. Leve o tema que você se afetou, que te produziu reflexão, para a sua vida, verifique em que, na sua vida, nas suas relações, o autor|autora te modificou, alterou sua forma de pensar|sentir|agir...  
. Volte para você mesmx, reflita... e elabore... desse movimento pode resultar uma "obra" (um poema, uma música, um texto, uma conversa)... pois você já estará sendo SUJEITO... 

. Parabéns se você chegou até aqui... treine isso todo dia e você mudará sua vida, suas relações, sua visão do mundo e de si mesmx. 

Verifiquem que, no início do texto, já cumpri algumas etapas...

Continuando no processo metodológico e no movimento TAP, com o nosso autor em questão, Tzvetan Todorov,  fomos estimuladxs a conversar sobre o tema ALTERIDADE E EMPATIA, para além do que ele coloca no seu brilhante livro citado. 

Vimos que o tema principal do autor é a ALTERIDADE, com esse foco ele reflete sobre a colonização europeia da América... a dominação, a exploração... tudo a pretexto de que o "diferente" é "inferior". 

E nossa conversa foi sobre como isso se dá nos outros níveis de relação, relações pessoais, relações íntimas, ambiente de trabalho...

Num primeiro momento fomos aos conceitos: 

Alteridade é um termo abordado pela filosofia e pelas ciências sociais (sociologia, antropologia, ciências políticas, etc.). Em latim, a origem da palavra alteridade está na palavra  alteritas. O radical ALTER significa "outro", enquanto ITAS remete a "ser", ou seja, em sua raiz, alteridade significa "ser o outro". A alteridade é a qualidade ou estado do que é outro ou do que é diferente. Está relacionada com a capacidade de perceber a si mesmx ou a seu grupo social, não como o padrão, mas como "outro".

Empatia: O termo advém do grego EMPATHEIA, formado por EN-, “em”, mais PATHOS, “emoção, sentimento” . Aristóteles usava o termo "em-pathein" no sentido de "animação do inanimado". Na psicologia e nas neurociências contemporâneas a empatia é uma "espécie de inteligência emocional" e pode ser dividida em dois tipos: a cognitiva — relacionada com a capacidade de compreender a perspectiva psicológica das outras pessoas; e a afetiva — relacionada com a habilidade de experimentar reações emocionais por meio da observação da experiência alheia.

Encontramos diferenças na apreensão dos dois conceitos: tem gente que encontra semelhanças e tem gente que acha que são completamente diferentes. Praticando a alteridade, ou seja, respeitando as diferenças... sigamos:

  

Ambos (alteridade e empatia)  envolvem a capacidade de se colocar no lugar do outro, mas a empatia pressupõe compartilhar das mesmas emoções básicas e causas materiais, enquanto a alteridade depende do reconhecimento das diferenças. Ainda, ter empatia é um processo individual, enquanto a alteridade vai mais pro coletivo, ainda que praticada no nível relacional até (ou desde) os pares.

. "A alteridade é o reconhecimento de que existem pessoas e culturas singulares e subjetivas que pensam, agem e entendem o mundo de suas próprias maneiras. Reconhecer a alteridade é o primeiro passo para a formação de uma sociedade justa, equilibrada, democrática e tolerante, onde todas e todos possam expressar-se, desde que respeitem também a alteridade alheia."

. "A alteridade é o reconhecimento da individualidade e das especificidades do outro ou de um outro grupo. Exercer a alteridade é agir com empatia, respeito e tolerância".

. "No nível de relação íntimo, afetivo-sexual, extremamente necessário se faz a prática da alteridade: "amar o semelhante é um amor narcísico, amar a imagem de si mesmx". 

. "Por isso é que "amar dá trabalho!". E pouca gente se dispõe a isso, preferem "praticar" o amor romântico, idealizado, e ficar repetindo esse modelo por toda a vida".

. "Reconhecer o "lugar de fala" do outro significa praticar alteridade". 

. "E a "não alteridade" significa, tanto no plano macro como no plano micro, "exterminar"  o diferente, o que vem a ser o fascismo.   Ou "submetê-lo", o que vem a ser o autoritarismo, o machismo, a dominação". 

. "E as redes sociais estão aí para "explorar" ao máximo essa ambiguidade própria do humano... "Tudo que me salva pode me matar". 

E assim continuamos nossa conversa... 

Faça, também a sua reflexão ... e pratique alteridade... e empatia... dá trabalho, mas a vida ficará mais bonita...






Obrigada Rochelle... e abraços carinhosos a todas, todos e todes...

Santuza TU


4 comentários:

  1. Muito obrigada, por tão bem elaborado e elucidativo texto.Parabéns pela competente aula! Estou motivada a conhecer a obra deTodorov citada.

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  2. Como o mundo atual está necessitando dessas práticas!!Parabéns pelo texto!Abraços!

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