sexta-feira, 30 de julho de 2021

ARTES NA PANDEMIA: Mudanças

Amigxs são como o sol, não precisa aparecer todo dia pra gente saber que existem, que estão presentes nas nossas vidas.


Esta é Maria José Birro Costa, Zezé, Zeza. Psicóloga, grande escritora, na foto com  seu livro para crianças "O Menino e a Lua". 

E a descrição que ela faz de si mesma... é linda! :

"Quem sou eu? Ainda me fazendo na escrita de mim."

Tenho a honra de ser sua amiga, desde o século passado.

E ela compartilha aqui conosco uma crônica sua, uma metáfora maravilhosa sobre a fluidez da vida. Me lembrou Nietzsche, que diz sobre nossa memória, ela deveria funcionar como nosso intestino, aproveitando tudo que serve para nos fortalecer e jogando fora tudo que não nos tem serventia.

Obrigada ZEZA...


 MUDANÇAS


Ela tirava coisas das caixas e as arrumava nas gavetas. Estava cansada. Já fazia mais de quatro horas que se encontrava nessa peleja.

Pôs-se a pensar, mais uma mudança como tantas outras. Logo tudo estaria no lugar. Era questão de tempo. Aquela bagunça até lhe ajudava a desapegar de coisas que não lhe tinham mais serventia.

Pensou como seria bom se assim também fossem nossos afetos, vivências e acontecimentos. Desfazer-se de marcas que vão sendo deixadas e nos acompanham.

Muitas vezes as colocamos num baú antigo que só raramente abrimos, o então conseguimos dobrá-las, arrumá-las, de forma que fiquem organizadas e nos deixem mais sossegadas.

Outras vezes ficam lá, expostas, naquela gaveta sempre à vista, e quando a abrimos fechamos rapidamente porque está tudo revirado, amarrotado e bagunçado. Não queremos que os outros ou nós mesmos vejamos o que está ou como está ali.

Ah! Se a gente pudesse como nas mudanças de casa jogar fora aquilo que não queremos que faça mais parte de nós, de nossas lembranças, de nossos guardados.

Pensou em suas mudanças de casa. Perdera a conta, foram tantas que parou de contar.

Sentia um pouco de inveja daquelas pessoas que diziam: moro nessa casa há vinte, trinta, cinquenta anos, ou até mesmo morar na casa em que nasceu.

Deve ser bom, que sossego, cada coisa em seu lugar. Será? Com certeza em nossas moradas haverá uma gaveta querendo ser aberta e a nos criar desassossego.

Tirou aquelas ideias da cabeça. Precisava ainda arrumar muitas coisas em novas gavetas. Seriam novas?

As casas em que habito

Também em mim habitam

São várias

Como várias sou.

4 comentários:

  1. Oi amiga, obrigada, pelo nosso encontro e tantos elogios.
    Como diz O grande Guimarães Rosa: "o mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não forma terminadas , mas que elas estão sempre mudando. Afinam ou desafinam, verdade maior. Abs.

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    1. Grande G. Rosa! muito bem lembrado...
      Grande Zeza!!!
      obrigada pela amizade...

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