segunda-feira, 22 de julho de 2024

Sobre HISTERIA: do fim para o começo

                                                                          

    Nos nossos escritos mais formais, digamos - o SBC, de vez em quando, se mete a "acadêmico" - já falamos sobre depressão, sobre narcisismo, sobre fenomenologia, sobre o método  TAP (Teoria-Afeto-Prática), assuntos que nos renderam ótimas conversas e debates - nosso objetivo é tornar simples e coloquial (sem perder a profundidade, a consistência) qualquer assunto que diga respeito ao humano e que contribua para melhorar nossa visão de nós mesm@s, do mundo e as nossas relações. 

E já vai pra mais de um mês que estamos escrevendo sobre HISTERIA, seguindo esquema proposto, qual seja, a partir da visão "tradicional" da psicopatologia e psiquiatria, caminharmos para a visão psicanalítica e depois para a visão fenomenológica, oferecendo pretexto, na arte (cinema, música, poesia, etc) para a reflexão, o auto conhecimento e o crescimento no sentido da nossa "humanização".

Pois não é que com o texto "formal" praticamente pronto, no rascunho, a ser publicado, viajamos para Ouro Preto e lá subvertemos nossa ordem, ficamos histéricas, nos despertamos para os inúmeros exemplos, constatações, de "elaboração/percepção" possível da histeria que permeia nosso dia-a-dia, presente constantemente na nossa sociedade patriarcal, machista, racista, misógina.

E foi então que trocamos, invertemos - ou subvertemos - a ordem - começamos do fim:
Ouro Preto respira arte e cultura, ainda mais em julho, no festival de inverno. Começamos pelo samba no domingo... maravilhoso,  no espaço @casadaarvore.ouropreto, debaixo do nosso abacateiro, não sabemos ainda se vai chamar SAMBA DO ABACATEIRO ou SAMBA DE QUINTA (duplo sentido... rsrs), as quintas feiras uma roda de samba... ou os dois sambas, talvez...  com palco aberto pós samba, para nosso sarau... e foi no palco aberto que misturei Caymmi com Adélia Prado, adoro... e, por isso, fui convidada para o sarau da quinta, que aconteceria na Casa dos Contos, organizado pelo mais novo amigo @julliano_mendes, junto com @marcelinoxibil,  vejam o convite no início do post. Bacana demais a ideia do SARAU: conhecermos poetas ouropretanos, pra além dos famosos... foi aí que convidei a querida Júnia Gaião da @casavermelhadabruxa, ela disse um poema meu e eu disse um poema dela... pena não termos vídeo... mas depois eu repeti o poema da Adélia com a música de Caymmi:




Louca e santa, Lilith e Eva, nós mulheres temos no mínimo duas matrizes formadoras das nossas identidades, do nosso "ser no mundo". Quem ainda não conhece a Lilith leia nosso post de 7 de março de 2016. Eu, quanto me contaram a história da Lilith -  que fazia parte dos livros apócrifos, proibidos pela igreja pois já não combinavam com a imagem feminina da ideologia desejada à época - fiquei chocada. Descobrir uma outra matriz feminina para além da mulher feita da costela do homem, portanto "estruturalmente" inferior e submissa, acreditem, é libertador. No entanto, ao longo da história, a mulher insubmissa quase sempre é oprimida, ou ignorada, ou rejeitada, ou louca, ou qualquer adjetivo que a ameace, desde o seu psíquico ou emocional, até a sua própria existência física.


Ir rompendo com esse "destino", ir enfrentando o medo real de "ser", apenas ser, ir se descobrindo muitas... tarefa difícil, necessária... e prazerosa...


Pois no mesmo sarau o Julliano nos surpreende dizendo seu poema, que combinava completamente com nossas reflexões: 



Heliah enfurecida

todo dia

às duas e trinta

Heliah se enfurecia

coitada!

cuspia fogo

por nada

e tal magia

sua tez clara

se enrubescia

leoa em fúria

palavras-pedra

da boca espúria

brotava raiva

tal tinta fresca

que pele laiva

seu marido

ficava completamente

 perdido

todo dia

seu inferno

se repetia

e quando ela

queria atirá-lo

pela janela!

e pela casa

queria queimá-lo

com ferro em brasa!

coitado!

tão paciente...

tão educado...

amor que arde

uma louca

um covarde

coisa infernal

queria voltar

ao normal

tempo louco

pelo menos

durava pouco

e sem demora

em apenas um

quarto de hora

a calmaria

é que restava

em demasia

mas sendo assim

era um tédio

sem fim

que coisa turra!

tristemente

Heliah sussurra:

a vida passa

sem sobressaltos

sem graça

sem alegria

ai! que saudade

da zombaria

então, sofrida

a pobre Heliah

quedou partida

a enlouquecida

contra

a deprimida

escancarada

de um lado

a desvairada

e recolhida

de outro

a reprimida

até que um dia

enquanto Heliah

dormia

em noite quente

ocorreu um fato

surpreendente

talvez o mormaço

tivesse provocado

tal embaraço

alvissareira

surgiu

uma terceira

a nova Heliah

não era boa

nem má

não era brava

nem tímida

e se esforçava!

fazia comida

lavava roupa

agradecida

tão prendada!

mas porque vir

na madrugada?

porque não vinha

tão disposta

à tardinha?

em agonia

Heliah

já não dormia

estava farta

até que veio

a quarta

religiosa:

católica

fervorosa

às seis da tarde

pr’ave maria

fazia alarde

e se maculava

quando outra Heliah

pecava

depois, a quinta

quanta pose

quanta pinta

e veio a sexta

de todas

a mais besta

tal fosse rica

espalhava

sua rubrica

rococó!

porque a sétima

cheirava pó

como gastava!

vestidos

para a oitava

presentes

pra vigésima e

pras subsequentes

endividada

carente

contaminada

numa briga

a mais calada

(e mais antiga)

apelou

e seu marido

matou

pobre marido!

um tiro

no ouvido...

sem malícia

a candinha

chamou a polícia

sem defesa

Heliah

foi presa

para ela

foi necessário

única cela

mesmo assim

era um caos

sem fim

gritaria!

falta de espaço!

mais dia

menos dia

outra tragédia

ocorreria

lá dentro

uma Heliah

tomou o centro

contida

disse:

sou suicida

meio sem jeito

espetou-se

o peito

com a unha postiça

da Heliah

roliça

soluçante

estrebuchava

agonizante

pr’aquela choça

fizeram

vista grossa

já que a cadeia

há muito

está cheia

morreu sozinha

o rosto ausente

continha

um sorriso

(fatal,

conciso)

como se na morte

restasse

forte

 

a derradeira.

apenas a Heliah

verdadeira



Me emocionei profundamente com a Heliah, nos representa, a todas nós... quantas mulheres "morrem" - emocionalmente e/ou concretamente - apenas por serem mulheres. Obrigada Julliano, gratidão...


Na sexta, outra grande emoção.  Vi o cartaz na quarta, me identifiquei:

VELHAS SAFADAS, na @casapitangaop, uma peça de teatro interativa... 

Sinopse: "Em cena, as mulheres festejam a liberdade de seus corpos e convidam todos a imaginar um mundo mais horizontal e justo. Com paródias, humor e uma pitada de deboche, a performance celebra uma existência plena de liberdade e prazer, ressaltando que a liberdade é uma prática social e que sem tesão não há solução"... 

Lá estava eu na sexta:


Já na entrada várias bandeirolas penduradas sugeriam o assunto:



A gente ri, conversa e reflete... Na nossa sociedade, patriarcal, machista, misógina, qualquer mulher, de qualquer idade, que arrisque sair dos padrões : bela, recatada e do lar - submissa, alienada, infantilizada -  será chamada de puta, bruxa ou histérica - ou de todas três... ou seja, se você estiver sendo chamada de uma dessas três - ou das três - você está desejando, APENAS, ser livre, ser quem você quer ser.


E toda a peça é permeada por músicas excelentes, super pertinentes ao tema, conduzidas pela grande DJ, nossa querida @ninacaetanoperformer (ou @shaitemi_dj). Destacando "Ela não é puta, ela é solteira", ou "Ela não é sua, ela é solteira":


Terminando, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública acaba de publicar a 18a edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024, que traz as estatísticas de 2023, entre elas:



Um estupro a cada 6 minutos... em 2021 era um estupro a cada 8 minutos. Os feminicídios acontecem, na maioria, dentro de casa, ou seja, a rua parece ser um lugar mais seguro para a mulher, diferente do que se imagina, ou do que aprendemos. Mais de 70% dos estupros ocorrem com mulheres vulneráveis, meninas até 13 anos.
Surpresa? não... indignada, revoltada, puta... 
Voltei às bandeirolas: "chamaram de bruxas as mulheres que sabiam curar a si mesmas".

Convido todas as pessoas a lerem o "começo", o próximo post, o "formal", sobre histeria: vejam quando a histeria é uma "doença" e deve ser tratada... leiam sobre a histeria na história e na atualidade... vejam que a histeria não é uma "doença" só de mulheres... vejam filmes sobre a histeria... e vejam o melhor livro sobre a histeria, da Emilce Bleichmar, que faz uma crítica contundente sobre se colocar no mesmo "saco" e tratar do mesmo jeito "tipos" (ou estágios...) diferentes de mulheres... bastante elucidativo para tod@s nós... 

Se reconheçam... nos reconheçam!!!


domingo, 21 de julho de 2024

Continuando com o DIA DOS AMIGOS

                                               

O LIVRO DO ANO: SOBRE ANDAR EM CHÃO DE ESTRELAS, de Márcia Leão... nossa querida amiga.

Mineira, de Belo Horizonte, formada em serviço social, mãe e avó, em 2020 resolveu tornar públicas suas  elucubrações sobre a vida, sobre o amor... e, num ato de coragem, lançou seu primeiro livro: Apnéia. Tive a honra de obtê-lo através dela... Já falamos sobre o mesmo.

E, na sexta passada, o segundo... este... maravilhoso, mais denso, mais significativo, na nossa percepção.

O lugar não precisava ser melhor. No Bairro Santa Efigênia, quase av. contorno (BH surpreende), já procurando pelo endereço - por becos que não conhecia -  encontrei "anjos" que me conduziram ao local. "Quem tem um amigo tem tudo", como diz Emicida. 


Galpão Flor do Campo... A decoração é linda, o atendimento, só pessoas simpáticas, agradáveis... e os tira gostos... huuummm... torresmo de barriga... 

Esses "lençóis" amarrados no teto com um buquê de flores... tudo que quero fazer no nosso espaço @casadaarvore.ouropreto.

Na entrada, comprando o livro, a Márcia me disse que no mesmo tinha um poema pra mim! adorei! A minha cara! Claro que, no sarau de lançamento, declamei o mesmo... com toda metideza... , e, ainda mais, dizendo sobre nossa "teoria" sobre metideza: trata-se de uma conquista nossa, a metideza, a auto-estima ao ponto, nem super metida - arrogante, nem "submetida" aos padrões de uma sociedade que deseja nossa submissão... Segue o poema, "a minha cara":

E o Mauro, nosso amigo, ex da Márcia - adoro ex que são amigos, é uma sabedoria, uma superação - filmou só um pedacinho final... mas arrasou ... rsrs... Obrigada Mauro!

Voltei pra casa NAS NUVENS, de carona com Augusto, amigo primo de Salinas, ASA DE PAPEL em peso presente no sarau lançamento desse livro maravilhoso. 


Nas nuvens a gente costuma perder o sono... aí começo a "navegar"... e encontro a Márcia, já com poema novo, devia também estar nas nuvens, agradecendo o encontro maravilhoso... Nós que agradecemos, querida Márcia, você nos proporcionou uma linda noite que guardaremos para sempre na nossa memória afetiva.



O SBC considera que o nível de relação de amizade é o mais precioso para a vida, onde mais crescemos uns com os outros...
       
    

Ainda nas nuvens, pra lá de meia noite, ouvindo Emicida:


Até a próxima, abraços carinhosos...






quarta-feira, 17 de julho de 2024

Bons encontros: o valor da amizade

"Amigo é coisa para se guardar

No lado esquerdo do peito

Mesmo que o tempo e a distância digam “não”

Mesmo esquecendo a canção

O que importa é ouvir

A voz que vem do coração..."


O Clube da Esquina surgiu da grande amizade entre Milton Nascimento - BITUCA -  e os irmãos Borges  - Marilton, Márcio e Lô -  no nosso bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte, na década de 1960. O início dessa amizade se deu exatamente em 1963, depois que Milton chegou à capital para estudar e trabalhar. Milton acabara de chegar de Três Pontas, cidade onde morava a família e onde tocava na banda W's Boys com o pianista Wagner Tiso. Aqui ele foi tocas na noite com Marilton, no grupo Evolusamba. Compondo e tocando com os amigos, despontava o talento, pondo o pé na estrada e na fama ao vencer o Festival de Música Popular Brasileira e ao ter uma de suas composições, "Canção do sal", gravada pela então novata Elis Regina, em 1967.


Não se trata de um grupo musical. O Clube da Esquina é um termo usado para se referir a um grupo de músicos, compositores e letristas surgido na década de 1960, cuja sonoridade  é intensamente caracterizada como inovadora. 
Como característica desta sonoridade inovadora, têm-se por exemplo uma espécie de fundição das inovações trazidas pela Bossa Nova com elementos do jazz, do rock – principalmente os Beatles –, música folclórica dos negros e mineira, música erudita e música hispânica. 


Nos anos 1970, esses artistas tornaram-se referência de qualidade na MPB
 pelo alto nível de performance e disseminaram suas inovações e influência a nível mundial. A inovação musical do Clube da Esquina e sua sonoridade específica faz com haja a proposta por parte de fãs, da crítica e também de estudiosos, que o Clube seja considerado mais do que um grupo, um movimento musical.

Clube da Esquina (1972)

Com influência sonoras das odisseias dos mineiros, o disco "Clube da Esquina", de 1972, queria mudar o mundo. Inseminado por jovens que cresceram em uma Minas Gerais com explosão de inventividade musical.

Clube da Esquina II (1978)

Neste disco do ano de 1978, Milton Nascimento e amigos organizam um disco para o lado mais musical, com produção de Ronaldo Bastos.


E foi apresentando o SBC e nossos conceitos orientadores de BEM VIVER:

- O VALOR DO RISO, que desoxida talentos, inclusive o talento necessário para a própria vida;

- O VALOR DA AMIZADE, nível de relação precioso para a vida e que nos é tão pouco "ensinado", aprendemos a valorizar outros níveis de relação, como a relação íntima - afetivo sexual, em detrimento dessa relação tão bonita e de tantas trocas e crescimento mútuo que é a amizade;

- O VALOR DO SENTIDO ESTÉTICO NA VIDA -  para além do sentido moral, do certo e errado, tão internalizado na nossa cultura, o sentido estético - do bom, do bonito - vem ampliar nossa visão de mundo e das relações humanas, e nos ajuda muito mais na ação transformadora tão necessária na direção de um mundo mais justo, mais bonito, enfim...

... que nosso já SBCense Tovar, se identificando com nossa filosofia, nos lembra a grande semelhança do SBC com o Clube da Esquina! semelhança que muito nos orgulhou...

Pois o Clube da Esquina era um grupo de amigos que se reunia para conversar sobre poesia, música e cinema num boteco - e sobre a vida, o mundo -  como nós, no Bar Cartola. Ao mesmo tempo que  se referia à amizade e esperança em tom poético, apresentava uma visão crítica e reflexiva da conjuntura repressiva da década de 70 desafiando os limites do tempo e espaço. Também como o SBC, política e amor fazemos em todos os níveis de relação.

Também, o Clube da Esquina foi um movimento que trouxe inovações estéticas, porém sem encaixar-se por completo nos estanques musicais da Bossa Nova, Samba Canção, Tropicália, Jovem Guarda ou Canção Protesto. "Anárquico", no melhor sentido da palavra, como nós do SBC. 

Guardadas as diferenças, foi uma grande honra para nós do SBC ser lembrado como um grupo semelhante - na ideologia, digamos - ao Clube da Esquina. Principalmente no que diz respeito à amizade, essa relação que surge de forma tão gratuita e tão significativa, profunda, nas nossas vidas. 


Obrigada nosso mais novo SBCense, Tovar ...


E até nosso próximo encontro.

Santuza TU



quinta-feira, 11 de julho de 2024

Angel e Rochelle na França

 


Angel e Rochelle estavam em Paris no domingo dia 7 de julho de 2024. Em sonho? Interessa menos... o importante é que essas personagens SBCenses participaram do espetáculo de comemoração da vitória da esquerda nas eleições legislativas na França, uma forte e corajosa reação ao fascismo e ao liberalismo. Rochelle - mais conhecida como Antonieta Shirlene,  super inspirada, escreveu a crônica a seguir, deve ter alguns errinhos no francês, quem souber nos corrija nos comentários, por favor... mas está super valendo, o conteúdo merece nossa dedicação na leitura e reflexão. 
Angel agradece: gratidão querida amiga ...

Liberté,Egalité,Fraternité

-Bonjour mademoiselle!
-Bonjour!
-Comment vas tu?
-Très bien, merci.
-Nous avons gagné l'elections présidentielle, maintenant nos avons beaucoup de travail devant nous!
   Não! Não estamos na França! Bem que gostaríamos, pois poderíamos estar celebrando com francesas e franceses a grande vitória das últimas eleições por lá.
    Sim, à esquerda saiu vitoriosa. Após  a "Frente Republicana" reunir a esquerda, diferentes setores progressistas, centristas e de centro direita, Jean-Luc Mélenchon pôde festejar com a melhor champanhe. 
    Entretanto, será bastante difícil governar a França. Como a Nova Frente Popular alcançou 199 cadeiras no Parlamento, Macron 169  e a extrema direita 143 (presumivelmente ), o futuro Presidente terá um trabalho hercúleo pela frente. 
     Mas, lutas a serem travadas não amedrontam os franceses.
Eles já as fazem desde o século XVIII ,se não, antes.
   E estas vitórias francesas são um alento para nós, cá do outro lado, fora do continente europeu. Se lá, no Velho 
 Continente, elas são importantes, pois têm o poder de ,minimamente, barrar o avanço da extrema direita, aqui não é diferente. 
Tanto lá, como aqui no Brasil, o Parlamento se tornou um campo de batalhas políticas intensas. Temos, dia após dias, ter que travar  um grande embate contra as forças desta extrema direita. O fascismo ronda nossas vidas de todos os lados. 
Na educação, nas artes, na economia, nas relações sociais e nas religiões a ideologia fascista se faz presente e avança sem temor nem piedade. 
    Quando os franceses cantaram seu hino nacional, a Marselhesa, era como se fôssemos nós daqui também a festejar: 

" Allons, enfante de la Patrie
Lê jour de glorie est arrivé
Contra nous , de la tyrannie
L'etendard sanglant est levé
Entendez-vous dans les campagnes
Mugir ces feroces soldats?
Ils viennent busque dans vous bras
Égorger vos filés, vous compagnes 
Aux armes , citoyens
Formez vos bataillons!"

"Às armas cidadãos, 
Formem seus batalhões!..."
Esmaguem , em nosso Brasil, aqueles que nos querem escravos!
Viva a França! Viva o Brasil!
Abaixo os fascismos!

E Angel se lembrou de cena do  filme Casablanca,  de 1942, considerado como um dos maiores filmes da história do cinema americano. 

Durante a Segunda Guerra Mundial, Rick Blaine, um norte-americano amargo e cínico, expatriado de causas desconhecidas, administra a casa noturna mais popular em Casablanca (Marrocos), o "Café de Rick". Esta também é uma casa de apostas que atrai uma clientela diversificada: as pessoas da França de Vichy (cidade da França onde ocorreu a resistência aos nazistas), militares da Alemanha Nazista, refugiados, políticos e ladrões.

Uma noite, um pequeno criminoso chega ao clube de Rick portando umas tais letters of transit ("cartas de trânsito"). Essas cartas são uma espécie de passe que permite o trânsito livre através do titular pela Europa controlada pelos Nazistas e chegará até a cidade neutra de Lisboa - Portugal, onde poderia chegar nos Estados Unidos. Assim, os documentos são de valor inestimável para qualquer um dos refugiados à espera de sua chance de escapar de Casablanca.

Sua ex-amante, Ilsa Lund, que havia deixado Paris sem explicação e que com seu marido Victor Laszlo, entra no Café naquela noite com objetivo de comprar os passes. Laszlo é um renomado líder da resistência tcheca que enfrentava os nazistas. O casal precisava das cartas para deixar Casablanca e ir para os Estados Unidos, onde ele poderia continuar seu trabalho.

E a cena:


Maravilhosa! A arte, a história, nos servem para ampliar nossa visão de mundo...


Nossos agradecimentos querida SBCense Antonieta. 




terça-feira, 2 de julho de 2024

MAIS MULHERES MARAVILHOSAS

 

SBC presente na inauguração das estátuas de duas grandes mineiras, no Parque Municipal de Belo Horizonte, domingo dia 30 de junho de 2024, Carolina Maria de Jesus e Lélia Gonzalez. Asa de Papel também presente em peso, grandes alados e aladas, bons reencontros e novos amigos e amigas.

Américo Renné Giannetti Nascido no Rio Grande do Sul e radicado em Minas Gerais.
Empresário visionário à sua época, foi o fundador da primeira indústria de alumínio  do Brasil, sediada em Ouro Preto, Minas Gerias, chamada Eletro Chimica Brasileira. 

Com suas ideologias empresariais se tornou político e nomeado Secretário de Agricultura, Industria, Comércio e Trabalho no governo Milton Campos (1947-1951), onde elaborou o plano de recuperação econômica e de fomento da produção, que levantou o estado de Minas Gerais economicamente, garantindo seu pleno desenvolvimento.

Com o término do governo Milton Campos e o notório reconhecimento público pelo trabalho realizado na pasta, tornou-se candidato à prefeitura da capital mineira, em uma campanha de poucas semanas, que lhe garantiu votação expressiva, sendo eleito prefeito de Belo Horizonte/MG em 1950, falecendo no exercício de seu mandato em 1954.

Inaugurado no dia 26 de setembro de 1897, antes mesmo da nova capital mineira, o Parque Municipal Américo Renné Giannetti, o Parque Municipal,  é o patrimônio ambiental mais antigo de Belo Horizonte. Projetado no final do século XIX pela comissão construtora encarregada de planejar a nova capital de Minas Gerais, possui grande importância devido as suas riquezas biológica, arquitetônica, cultural e social, de importante tradição histórica. O parque localiza-se no Hipercentro, foi projetado pelo arquiteto paisagista Paul Villon que utilizou no paisagismo espécies nativas e exóticas, e forma hoje um ecossistema representativo com árvores centenárias e ampla diversidade de espécies.  




Sediado no Parque Municipal, o Teatro Francisco Nunes, inicialmente chamado “Teatro de Emergência”, foi inaugurado em 1950 pelo Prefeito Otacílio Negrão de Lima. O nome do teatro é uma homenagem ao grande clarinetista e maestro mineiro Francisco Nunes (1875-1934), que criou a Sociedade de Concertos Sinfônicos de Belo Horizonte e dirigiu o Conservatório Mineiro de Música. O palco do Teatro Francisco Nunes também abrigou o nascimento do moderno teatro mineiro em suas mais variadas tendências, como os trabalhos de João Ceschiatti, João Ettiénne Filho, Jota Dangelo e Haydée Bittencourt.


E agora, em frente ao Teatro Francisco Nunes, estão nossas mulheres maravilhosas: Lélia Gonzalez e Carolina Maria de Jesus. As obras, em bronze e tamanho real, foram feitas pelo artista Léo Santana. As duas estão aos pés de uma frondosa árvore, em frente ao teatro. A cerimônia começou com um cortejo das Yaminas, integrantes do bloco Afro Magia Negra, formado por mulheres que pertencem a reinados e Candomblés. As esculturas passaram por cerimônia de purificação, com pipocas e água de cheiro. O percurso também recebeu a purificação e foi feito ao som de atabaques. Tivemos, também, apresentação de hip hop de alunos da Escola Municipal Carolina Maria de Jesus, do Bairro Aarão Reis. Vejam fotos e vídeo no facebook:
https://www.facebook.com/share/p/Bn1S8qQNwc1FB5rW/
Lélia Gonzalez, falamos sobre ela na semana passada... e vamos, agora, falar da maravilhosa CAROLINA MARIA DE JESUS.


"Sonhei que era um anjo. Meu vestido estava flutuando e tinha mangas rosas compridas. Fui da terra para o céu. Pus estrelas em minhas mãos e brincava com elas. Falei-as. Elas apresentaram um me honrando. Dançaram ao meu redor e criaram um caminho luminoso. Quando acordei eu pensei: estou tão pobre. Não consigo pagar para ir e assistir uma peça, então Deus me manda esses sonhos para minha alma dolorida. Ao Deus que me protege, eu mando meu gratidão".

— Carolina de Jesus


Escritora, compositora, cantora e poeta brasileira, ficou famosa por seu primeiro livro Quarto de Despejo: Diário de uma favelada, publicado em 1960 com auxílio do jornalista Audálio Dantas. O livro "bombou", tendo vendido 10 mil exemplares em apenas uma semana, e sido traduzido para treze idiomas e distribuído em mais de quarenta países. A publicação e a tiragem recorde, cerca de 100 mil em três edições sucessivas, revelam o interesse do público e da mídia da época pelo ineditismo da narrativa da favelada catadora de papéis e de outros lixos recicláveis.

Durante sua vida foram publicas 5 obras:

  • Quarto de Despejo: Diário de uma favelada (1960)
  • Quarto de Despejo: Carolina Maria de Jesus cantando suas composições (1961) - RCA Victor, álbum musical.
  • Casa de Alvenaria: Diário de uma ex-favelada (1961)
  • Pedaços de Fome (1963)
  • Provérbios (1965)

Em 2020, celebrando os 60 anos de sua existência, foi lançada esta edição especial desta obra tão importante para a literatura brasileira. Com um novo projeto gráfico e uma capa assinada pelo artista No Martins , além do texto original da autora, o livro conta com um prefácio escrito pela escritora Cidinha da Silva e fotografias dos manuscritos da autora.

Uma citação maravilhosa do livro Quarto de Despejo, libertadora, diríamos, de todas as mulheres, dos padrões que nos escravizam, das violências que todas nós sofremos... escrita no autêntico PRETUGUÊS de Lélia Gonzalez:

"A noite, enquanto elas pede socorro, eu tranquilamente no meu barraco ouço valsas vienenses. Enquanto os esposos quebra as tábua do barracão, eu e meus filhos dormimos sossegados. Não invejo as mulheres casadas da favela, que levam vida de escravas indianas. Não casei e não estou descontente".

Uma das primeiras escritoras negras do Brasil, Carolina Maria de Jesus é considerada uma das mais importantes escritoras do país. A autora viveu boa parte de sua vida na favela do Canindé, na Zona Norte de São Paulo, sustentando a si mesma e seus três filhos como catadora de papéis. Sua obra e vida permanecem objetos de diversos estudos, tanto no Brasil quanto no exterior. Tratam sobre escravidão, racismo, desigualdade social, política e muitos assuntos pertinentes aos dias de hoje.

“Quando o homem decidir reformar a sua consciência, o mundo tomará outro roteiro.” A frase faz parte do quarto livro de Carolina Maria, chamado “Provérbios”, publicado em 1963. Nesta obra, como o nome sugere, a autora traz reflexões em frases curtas, e já no prólogo afirma: “Espero que alguns dos meus provérbios possam auxiliar alguns dos leitores a reflexão. Porque o provérbio é antes de tudo uma advertência em forma de conta-gotas, já que nos é dado a compreender mutuamente para ver se conseguimos chegar ao fim da jornada com elegância e decência.”

E onde nasceu Carolina? Esse foi o caso divertido do domingo: nossa querida SBCence, que gosta de conhecer pessoas bacanas, abraçar e fazer amizades, "garrou de papo" - como diria Lélia no bom pretuguês -  com seu vizinho de murada, onde estavam sentados. 

Você também é alado! perguntou ela... Que bom! também sou, adoro os saraus do ASA DE PAPEL! Carolina é mineira também? A Lélia é mineira de Belo Horizonte!

Ele responde: sim! ela nasceu em Sacramento, perto de Araxá, de Uberaba, no triângulo!

- Mesmo! Não sabia! tenho um irmão que mora lá... uma cidade linda!

- Pois eu estou indo sempre pra lá, visitar minha filha que foi morar lá e trabalhar na Scala, grande fábrica de queijos, que se tornou famosa por ter vencido prêmios na França!

- Meu irmão também já trabalhou lá, foi médico do trabalho, agora está aposentado!

E a conversa continua, sobre queijos artesanais, queijos mineiros maravilhosos...

Daí :

- Prazer te conhecer... nos vemos no ASA...

E daí a pouco, a mesma SBCence já conversando com outra turma de mulheres:

- Sabiam que Carolina é de Sacramento, cidade do triângulo Mineiro?

- Sabia! minha filha trabalha lá! na Scala...

- Olha que coincidência! tá vendo aquele ali de camiseta azul e bermuda rosa? A filha dele também mora lá e trabalha na Scala! Elas precisam se conhecer!

- Aquele! Custei a reconhecer... É o meu marido! A filha é a mesma! kkkk

Todas rimos muito... e nos abraçamos... e ficamos "amigas para sempre"...

Lembrando  álbum completo de Carolina, de 1961:

Axé Carolina... Gratidão ...

E gratidão também a todos e todas que nos leem, compartilham e trocam ideias.



Até a próxima...

Santuza TU