quinta-feira, 8 de julho de 2021

Novas conversas: AMÉLIA, EMÍLIA, MARINA

 

“Somente porque me pintei você se zangou... Mas,  nunca, um dia sequer, você me apoiou. Só disse que está tudo errado pra mim... Eu digo e repito comigo: agora é o fim. Aborreceu-se, se zangou e não quis perdoar. E ainda diz por aí que eu não arranjo outro igual. Mas eu arranjei um melhor. Que disse: se pinte a vontade. E, agora, só resta dizer que você já vai tarde.” (depoimento de  SBCense que se diz Marina empoderada, metida).

E nesse rumo caminharam as nossas conversas: 

. Em quase todas as sociedades, de todos os tempos, o homem macho depositou sua autoridade sobre as mulheres. Por meio da opressão, eles conquistaram o direito – culturalmente legitimado – de exercerem a supremacia masculina e promover as desigualdades de gênero, de confinar as mulheres nos espaços pri­vados, lugar essencialmente marcado pela “violência simbólica” a que fomos (nós, mulheres) – e ainda somos – submetidas, e, sobretudo, criar subsí­dios para que se propagasse um modelo de educa­ção "androcêntrica", machista,  que, de alguma forma todxs nós reproduzimos. Lendo o sociólogo francês Pierre Bourdieu, formulei essa ideia para conversarmos.

 


. Continuando nossa ideia,  temos, em cada momento histórico, um esquema de representação das mulheres por meio da cultura e das artes, que reafirmam, de diferentes maneiras, a inferioridade de tudo o que está relacionado à ideia de “feminino”.

 . A partir da ascensão da burguesia e do aparecimento da sociedade industrial e do capitalismo é que vemos o confinamento da mulher à esfera doméstica – casa, marido, filhos –, incluindo-se aí um novo conceito de maternidade e todas as consequências dele decorrentes. E isso foi considerado um fato natural até bem pouco tempo atrás, 50, 60, 70 anos,  quando começou a ser questionado pelos movimentos feministas.

 . Porém, embora o confinamento das mulheres nos espaços privados sejam produtos da burguesia ocidental, podemos ir muito atrás na história, para perceber e entender como a mulher foi sendo concebida, e como as artes em geral contribuíram para a construção dessa imagem. 

Conhecemos, na cultura grega, mulheres transgressoras (Jocasta, Medéia, Antígona,...), quase sempre consideradas tiranas, perversas, dissimuladas, e todas com final trágico, de certa maneira, justificando atitudes transgressoras como impróprias para um sexo subalterno e para aquele tempo. E nos perguntamos se ainda não é um tanto assim...                                                                                         

 


 





. Vamos nos lembrar do raciocínio manique­ísta relacionado à mulher: boa ou má, anjo ou demônio, bela ou bruxa, entre outras dicotomias disseminadas no imaginário social, que passam a se proliferar logo no princípio da era cristã, momento em que surge o mito bíblico da Eva, em contraposição à figura da Ave Maria. As mulheres ideais, as virgens, se aproximam da “Virgem Maria” e as mulheres não castas se identificam com Eva. Havia, por outro lado, a possibilidade de uma mulher considerada pecadora arrepender-se de seus atos contrários aos preceitos religiosos. Desse modo, recusaria os prazeres voluntariamente, como forma de purificação.

 

 


. Lilith, a lua negra, está relacionada às bruxas da Idade Média. 

. Escrevemos sobre ela, vejam nosso post de 07 de março de 2016.

 


. A partir do século XV, no apogeu da Idade Média, o comportamento imposto e esperado das mulheres se alinhava à ideologia burguesa e ao con­ceito de matrimônio. Com as influências do período romântico, o próprio romantismo começa a ser usado como instrumento cultural para impedir a mulher de conhecer sua verdadeira condição de sexo oprimido. Maria Lucia Rocha Coutinho tem um livro muito bom, "Tecendo por trás dos panos":

 


 . As obras do Romantis­mo brasileiro são exemplares no sentido de dissemi­nar uma imagem feminina ligada quase sempre à fra­gilidade, ao silenciamento, e mostrarem, sobretudo, como somos educadas para o casamento.

Bourdieu, em A dominação masculina (2007), diz que, para as mulheres, um univer­so restrito seria suficiente para suas principais funções: casar, dar à luz e cuidar dos filhos e do marido, para que este pudesse ven­der sua mão-de-obra ou explorar trabalhadores em suas fábricas e indústrias. 


. E estes lugares definidos culturalmente para as mulheres perpetuaram-se no imaginário da população brasileira, e temos a arte,  de uma maneira geral, e a música, particularmente, para reforçar os estereótipos, de certo modo, "moldar as matrizes femininas", como também as masculinas,  de modo que,  atualmente,  ainda é pos­sível, e não incomum,  perceber, nas atitudes masculinas, de uma maneira às vezes sutil, às vezes escancarada, "resquícios" do desejo de dominação. Por isso foi muito importante e revelador essa perspectiva histórica e esses autores tão importantes na nossa conversa.

Chegamos, então, ao século XX... E ao samba... e "como" o lugar da mulher era colocado pelos sambistas homens. E voltamos aos três sambas apresentados no nosso post do dia 03 de junho 2021:

                AMÉLIA... EMÍLIA... e MARINA

Na década de 40 e 50 tínhamos o rádio como principal veículo de comunicação, a TV estava começando. Nessa época é que, também, começou um tipo de produção de músicas para "consumo imediato", e as letras dessas músicas estão propensas a refletir um universo do senso comum e repro­duzir uma ideologia não consistente ou, no mínimo, que agrade a determinado público ou que apenas reproduza os valores vigentes na sociedade da época. Então, esses três sambas são composições de uma década em que o rádio exercia importante papel na vida dos/as brasileiros/as. 

  • Em AMÉLIA, na primeira estrofe, temos a construção do estereótipo de uma mulher exigente, inconsciente, déspota, ambiciosa, entre outros adje­tivos. O homem é colocado como  vítima no relacionamento e a mulher é revestida da condi­ção de megera e, ainda, fútil. "Se em princípio é possível fazer uma leitura dessa imagem feminina como uma ruptura com o padrão de mulher idealizada, logo se desmancha essa ideia com o retorno ao status quo no momento em que o interlocutor promove a inferioridade dessa mulher". Não temos aí o conceito maniqueísta: Eva-Maria, puta-pura? Até mesmo o resgate da mulher na cultura grega? Compartilhando, na nossa conversa, ideias muito produtivas de texto de duas autoras: Mirele Carolina Werneque Jacomel e Cristian Pagoto "O STATUS QUO FEMININO NO SAMBA DE AUTORIA MASCULINA".
  • Já a EMÍLIA, fantasiada pelo compositor, não seria apenas uma mão-de-obra a seu serviço? Isso se comprova com o fato de não haver mencionado no texto qual­quer sentimento relacionado a amor ou, no mínimo, o compa­nheirismo por parte dele.
  • E a música MARINA conta a história de um homem fragilizado diante da força sedutora da sua mulher, que se vê no direito "natural" de controlá-la pelo "emburramento". Ficou de mal, como uma criança de três anos.

. Enfim, três mulheres idealizadas... como na ideologia do "amor romântico". E, da idealização para o desprezo, é um "pulinho de nada". Falta, na verdade, a condição HUMANA de admiração.

. E não podemos esquecer, também, dos danos causados às mulheres da segunda metade do século passado... E, ainda, nas mulheres contemporâneas... do sofrimento que todas nós tivemos na "incorporação" das Marinas, Emílias e Amélias, como o depoimento da mulher que ensejou nossas conversas, nosso post de 3 de junho passado.

. E a representação de estereótipos femininos em músicas populares tende a repetir o esquema binário idealizada-desprezada, boa-má, puta-pura. E nós, expectadores-ouvintes, nos tornamos “co-autores” das músicas, compartilhando ideologias, a partir do momento em que “consumimos” as músicas. Penso que a música é uma das re­presentações artísticas que mais se aproximam de seu público, e tal repercussão se transforma em um mecanismo depositário das ideologias que estão nas letras.

. A arte forma... e|ou deforma...

Por isso temos, também, as músicas que chamamos de "libertadoras", principalmente da segunda metade do século passado, e até os nossos tempos.

E, então, cantamos duas delas como exemplo:

Desconstruindo Amélia, canção de Pitty

Já é tarde, tudo está certo
Cada coisa posta em seu lugar
Filho dorme ela arruma o uniforme
Tudo pronto pra quando despertar
O ensejo a fez tão prendada
Ela foi educada pra cuidar e servir
De costume esquecia-se dela
Sempre a última a sair

Disfarça e segue em frente
Todo dia até cansar
E eis que de repente ela resolve então mudar
Vira a mesa
Assume o jogo
Faz questão de se cuidar
Nem serva, nem objeto
Já não quer ser o outro
Hoje ela é o também

A despeito de tanto mestrado
Ganha menos que o namorado
E não entende porque
Tem talento de equilibrista
Ela é muita se você quer saber
Hoje aos 30 é melhor que aos 18
Nem Balzac poderia prever
Depois do lar, do trabalho e dos filhos
Ainda vai pra nigth ferver

Disfarça e segue em frente
Todo dia até cansar
E eis que de repente ela resolve então mudar
Vira a mesa
Assume o jogo
Faz questão de se cuidar
Nem serva, nem objeto
Já não quer ser o outro
Hoje ela é o também

Disfarça e segue em frente

Todo dia até cansar
E eis que de repente ela resolve então mudar
Vira a mesa
Assume o jogo
Faz questão de se cuidar
Nem serva, nem objeto
Já não quer ser o outro
Hoje ela é o também

 


Triste, Louca ou Má,

Banda Francisco, El Hombre

 Triste, louca ou má

Será qualificada
Ela quem recusar
Seguir receita tal

A receita cultural
Do marido, da família
Cuida, cuida da rotina

Só mesmo, rejeita
Bem conhecida receita
Quem não sem dores
Aceita que tudo deve mudar

Que um homem não te define
Sua casa não te define
Sua carne não te define
Você é seu próprio lar

Um homem não te define
Sua casa não te define
Sua carne não te define (você é seu próprio lar)

Ela desatinou, desatou nós
Vai viver só
Ela desatinou, desatou nós
Vai viver só

Eu não me vejo na palavra

Fêmea, alvo de caça

Conformada vítima

Prefiro queimar o mapa
Traçar de novo a estrada
Ver cores nas cinzas
E a vida reinventar

E um homem não me define
Minha casa não me define
Minha carne não me define
Eu sou meu próprio lar

E o homem não me define
Minha casa…


E, ainda, conversamos sobre o funk:

. Tem semelhança com o que era incipiente na época dos nossos três sambas: o que pode ser identificado como a "arte para consumo", que reproduz os valores que permeiam uma época, diferente da arte enquanto transformadora, enquanto construtora de sujeitos, cidadãos, pessoas que refletem e atuam no mundo enquanto libertárias. Algumas pessoas veem nas letras do funk  exemplos nesse sentido: são fabrica­das em série, saem rapidamente de circulação e ba­nalizam o sexo feminino e o relacionamento amoro­so.

 . Mas, também, podemos pensar de outro jeito, para além dessa generalização: assim como o samba, na primeira metade do século passado, era visto com "maus olhos" por uma classe social mais favorecida, e somente mais tarde foi absorvido, também o funk, agora, é visto como "marginal"... Mas podemos ver no funk a reprodução o "amor romântico", o lugar da mulher, incensada ou desprezada, puta ou pura,  assim como vemos músicas "libertadoras" nesse gênero musical.

. E o mesmo acontece nas músicas sertanejas, na MPB e no POP... observem...

 

. E concluímos citando mais uma vez o texto "O STATUS QUO FEMININO NO SAMBA DE AUTORIA MASCULINA" das duas autoras: Mirele Carolina Werneque Jacomel e Cristian Pagoto:

"... os dife­rentes modos de expressão nas artes, na literatura, nas canções populares, enfim, são veículos de comu­nicação moldados pela ideologia de cada grupo his­toricamente constituído. É com essa percepção que se deve olhar para a cultura das sociedades como algo enraizado em seu passado." 

. Portanto, discutimos que o sexismo presente, até hoje, nas relações de gênero, é resultado de uma história mais ampla, que contempla o início das civilizações, que passa por outras instân­cias como a religião, a política, a economia, a cul­tura e a arte, entre outras coisas. E pode (ou não) contribuir para a proliferação das desigualdades entre homens e mulheres. 

. Cabe a todxs nós, enfim, desnudar e problematizar, em nossa cultura,  as representações que provocam o retorno a qualquer coisa que possa significar o "lugar da mulher",  de inferiorida­de, de subalternidade, do íntimo e de tudo que represente "padrões" que nos oprimem, assim como de qualquer outro indivíduo que não corresponda aos padrões instituídos pelo pensamen­to patriarcal. A começar por nós mesmxs, porque, acreditem, isso acontece de uma forma invisível, muito difícil de perceber. 

À luta!!!

SantuzaTU



 

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Conversas SBCenses : viver é aprendizagem continua

 "A  cada dia me transformo

A cada dia me renovo

A cada dia renasço...

E vou me transformando naquilo que eu quero ser...

Com (e através ) das minhas amigas e amigos, irmãs e irmãos ;

Com meus filhos e filhas; com netos e netas ;

Com minha mãe , de 90 anos, que também se renova ... a cada dia.

Com amores... que vêem ... e se vão.

Com colegas de trabalho e com meu público e meus clientes.

E , a cada dia, gosto mais da pessoa que me transformo.

Às vezes com dor , às vezes com alegria. Porém, sempre valorizando o crescimento, o renascimento - que a vida me oferece - a transformação  nessa pessoa que me orgulho de ser.

Dou graças à vida !"

Ouvi ontem o depoimento acima, de uma mulher em torno dos seus 60 anos. Me emocionei. Considerei um poema.  Ou uma oração , um mantra.

Me representa. Rezo isso... melhor: faço "orações" (horas ações )

Que todas todos e todes possamos "rezar" este mantra.  Torço para que todxs nós possamos construir este "projeto " de vida, para nós mesmxs e para nosso mundo.

Termino  como se termina uma oração : AMÉM , que significa "assim seja".

Com entusiasmo ... que significa "deus dentro de nós".

SantuzaTU 

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Conversas SBCenses: A arte SALVA... ou não...



Caro amigo,

Ouvindo aqui de novo a musica do Roberto e Erasmo que conversamos... E você diz que trata-se de uma música libertadora (naquele conceito SBCense de "músicas libertadoras", musicas de lama e músicas de piropa, nosso projeto PROSA E SAMBA, post do dia 12.junho.18) ... E eu não acho tanto. Verdade que, a primeira vista, parece bastante libertadora, porém, as interpretações das músicas dentro do senso comum correm este grande perigo. No "raso" é que as ideologias vão "entrando" na nossa "alma", no nosso espírito, a gente vai "desejando" esses tipos de amor para as nossas vidas, mesmo se dizendo uma pessoa libertária, quando vemos estamos reproduzindo "amores românticos" e nos distanciando do nosso grande desejo de construir modelos relacionais mais livres, mais humanos, mais simétricos e mais bonitos. Pois, veja meu caro, não basta apenas falar disso, é preciso, diariamente, estar "treinando" nossa humildade de reconhecer onde e como estamos "reproduzindo o modelo aprendido"... e, somente assim, criamos a possibilidade de irmos construindo outros modelos. Pois, já sabe, assim é feita vida, construímos um pouco, retrocedemos, vemos isso e rimos da gente, o que faz desenferrujarmos nossos espíritos para o novo.

Veja querido, como você disse, quando buscamos uma análise de conteúdo de uma música, num primeiro momento procuramos entender o que o autor quis dizer. Sim, imagino que para Roberto e Erasmo (não sei quem fez a letra, a música foi lançada pelo Roberto em 1982) tenha sido libertadora à época. Dizem até que, embora seja mais uma canção de amor da dupla, o verso "Fui o alvo perfeito, muitas vezes no peito atingido" pode ser tomado emprestado para definir a discussão proposta pelo livro "Querem acabar comigo - da Jovem Guarda ao Trono, a trajetória de Roberto Carlos a visão da Crítica musical", de Tito Guedes. "Debilóide", "compositor de música de fotonovela", "acomodado", "repetitivo" e "apelativo" foram alguns adjetivos usados na fase da Jovem Guarda e quando ele e Erasmo se dedicaram à temática erótica|amorosa. "Fera ferida" é dessa época. Pra você ver que a motivação do autor, quando escreve uma letra, pode estar próxima (ou não...) do que a gente interpreta. O autor "escreve e lança seu escrito", não tem noção de como vai ser interpretado, e, mais ainda, escreve dentro do seu campo de referências, da sua visão de mundo e das relações. Imagino que os dois, à época, não tinham ideia das consequências danosas da reprodução da ideologia do "amor romântico" para todxs nós.


Mas agora, nós que nos dizemos libertários, não podemos fugir à nossa responsabilidade de darmos um segundo passo no sentido da interpretação, de procurar entender COMO a cultura, através da arte (e, nesse caso, a música) "entra", por assim dizer, na nossa "alma" e nos coloca como "reprodutores", como também "aprendemos" a dissociar cabeça de corpo, de maneira que falamos de relações livres, simétricas, e, no automático, irrefletido, "cantamos" músicas achando que são libertárias, e vamos nos impregnando das ideologias que combatemos! Perceba nossa responsabilidade, meu amigo: para nos colocar, em todos os níveis de relação, do íntimo ao político no sentido amplo, como transformadores, podemos nos servir da arte e de análises do tipo que faço esforço para realizar, a análise para além do senso comum. Pois essa é a nossa missão, meu amigo, conseguir construir novos modelos, libertários, na própria vida e na vida dos nossos companheiros (filhos, irmãos, amigxs) e, assim, ir mudando o mundo.


Você me diz que ouve uma música libertadora, a duras penas, sofrida... Não é mesmo? E você tem razão, um “animal domesticado”, que se submeteu à outra pessoa (que ele amava) e, provavelmente, por amor, buscou o que ela (a outra pessoa) queria que ele fosse... E se esqueceu do risco que há nisso: se perder de si mesmx, abandonar sua identidade, até o ponto em que não sabemos mais “quem sou eu”... Mas esse processo (de ir deixando de existir, por amor) não está completamente no modelo do “amor romântico”, que já conversamos? aquele de idealização (da pessoa amada e do próprio amor), da submissão à pessoa amada, entre outras características... Não é esse modelo o que mais vivemos, e não é ele que causa assimetrias na relação, e muito sofrimento para ambxs (mulheres, homens e outros gêneros)

Então... A música termina assim:

“Não vou mudar, nosso caso não tem solução, sou fera ferida, no corpo e na alma, e no coração...”

E foi este término que me revelou nossa diferença de interpretação da música, que quero compartilhar com você: primeiro, uma pessoa que diz “não vou mudar”, no meu entendimento está, teimosamente, resistente... A uma realidade, a um “não” recebido... Eu já ouvi isso: “Como!!! Que idiota eu fui!!! Fiz tudo que elx queria e elx me deu um chute na bumba!!! Que ódio!!!”

Então, me parece que essa pessoa está no ressentimento, ou seja: re-sentindo... re-sentindo... na remoeção do “não”, entende? Claro que um “não” me faz sofrer, ainda mais quando quero um “sim”, mas eu prefiro um “não” livre,  e que também me deixa livre, do que um “sim” escravo, que deseja a minha escravidão (falo mais sobre a relação senhor-escravo daqui a pouco...).

Segundo, como não existe o “agora eu superei”, acredito que essa pessoa tanto pode estar num processo de superação, como poderá “atolar” de novo em outra “relação romântica” (repetindo o modelo). Entendo que ela, com essa música, apenas tenha superado “esta relação”, mas não o “modelo romântico” de relação, entende? portanto, ela repetirá “ad nauseum” o mesmo modelo, o mesmo  script ou "roteiro relacional" que internalizamos há alguns séculos, construído pela burguesia, lembra? ... que apropriou dessa ideologia do amor romântico e, ajudada pela igreja, incorporou como norma de vida, como a se "desejar" para a vida, aquele script dado, pronto, de crescer, acumular, casar, ter filhos... e a mulher cuida do intimo e o homem cuida do provimento... e isso nos faria "felizes"...

Terceiro, por outro lado, se a música lhe permitir (ou se a própria pessoa se permitir) a reflexão necessária à transformação... aí ela crescerá no sentido da construção de outro “modelo” relacional, que permita o “não”, que busque simetria, que seja construído juntxs... e por aí vai... A arte pode ser reprodutora ou transformadora... de vidas... A arte salva... ou não

Por isso te digo que no “conceito” SBCense de músicas libertadoras está incluído um passinho a mais do que “fera ferida”...

Comparando essa música com nossa pesquisa, temos o Lupicínio (o rei da Lama), que canta “Vingança”... ouça, com Adriana Calcanhoto:

Percebe que quando ainda estamos na vingança,  estamos, por assim dizer, na “referencia dx outrx”? e vamos repetindo o “modelito relacional”? Lembra que o “escravo”, aquele que se submete, que se transforma no que o outro quer que ele seja, no fundo (não tão fundo... rsrs, talvez seja melhor "no irrefletido) quer mudar de lugar com o “senhor”, quer, na verdade, ser o “senhor”, o controlador (por amor, claro!)... e se ressente quando x outrx se afirma “livre”... Agora, quando a pessoa “descobre” que a maior “vingança” é ser feliz, ela sairá da referência do outro e poderá dar continuidade ao processo de “ser sujeito”, se apropriar da própria vida, ser quem ela quiser ser e, por isso mesmo, também a possibilidade de relações mais simétricas, mais “bonitas”, enfim...

Essa, a seguir (grande Chico!), está um pouco mais no processo de libertação:


Agora, se você me permite, gostaria de te sugerir algumas reflexões, ou "provocações", com o objetivo de trazer a sua e a minha reflexão para as nossas vidas e criar a possibilidades de mudar conceitos e práticas de vida, lembra do TAP (Teoria, Afeto, Prática: uma mudança do jeito de pensar leva a uma mudança de prática ou ação na vida; o contrário também pode ser, ou seja, uma mudança de ação leva a uma mudança de conceito; mediando esse processo temos a REFLEXÃO, o COMO nos afeta "o que já existe pronto" (uma música, um filme, um livro,...); porque, se toda essa conversa for apenas "teórica", só cabeça, não nos servirá de nada para nossas vidas.

São essas as perguntas que me ocorrem: COMO aquela musica FERA FERIDA me toca, me afeta? que reflexão de vida ela me provoca? em que ponto de "libertação" eu estou, em relação às minhas relações? o que devo fazer para caminhar mais no sentido da "libertação", me desgrudar do ressentimento? São reflexões possíveis, que poderão suscitar amadurecimento...

Pensei, ainda: quando o autor diz "não vou mudar", quem está dizendo a ele para mudar? trata-se de uma exigência externa ou um exigência interna, dele mesmo? Por que, sabe, meu amigo, essa mudança "pelx outrx, por amor", eu te digo, acho que é "fake". Só mudamos por nós mesmxs, só encaramos a árdua tarefa de mudança quando o sentimento de "ganho" torna-se maior do que o "sofrimento" que temos, embora não sentindo muito, por causa do apego aos "ganhos secundários", um deles a comodidade de permanecer reproduzindo o "aprendido".

E assim vamos seguindo... deixo aqui também a minha música (junto com o querido Ronaldo Leon), NA MEDIDA CERTA, cuja letra é uma tentativa (em processo, sempre, como é o humano) de construção de um novo conceito de AMOR, mais livre, mais simétrico, mais humano...

Desafio aceito 

Bora pesquisar

O que o amor não é 

E o que o amor será? 

É nessa roda de samba

Que vamos conversar

O que o amor não é 

E o que o amor será :

Amor não é posse

Não é submissão 

Mas é dar e receber

Na medida certa do coração.

Amor não é sofrer

Não é bater nem machucar

A violência está noutro lugar.

Amor não rima com dor

E sim com liberdade 

Respeito e admiração 

Mesmo que não rima na canção.

Antes de tudo o amor próprio 

Pra rimar com alegrias

Do encontro com o outro

Pra passar ótimos dias.

E  é nessa roda de samba

Que todos vão cantar 

O que o amor não é 

E o que o amor será...

Desafio cumprido

Vamos crescer e multiplicar

Um novo conceito de amor...

Abraços carinhosos...

Santuza TU


PS1: se você deseja saber mais sobre "amor romântico", te convido a ler nosso post de 8.julho.2014: "Conversas SBCenses: estrutural (e cruel) é o amor romântico";


PS2: se quer saber mais sobre "músicas libertadoras", leia nosso post de 12.junho.2018: "Novo projeto SBCense: PROSA E SAMBA ou De como o  'AMOR ROMÂNTICO' arrasa com nossas vidas"


quinta-feira, 3 de junho de 2021

Conversas SBCenses: sambas, feminismos e machismos

 Carxs sbcenses...

Começamos nossa conversa ouvindo essas músicas... ouçam com bastante atenção... escutem as letras desses sambas, leiam, cantem juntxs... e depois me digam o que esses sambas dizem para as suas vidas...


Marina, morena
Marina, você se pintou
Marina, você faça tudo
Mas faça um favor
Não pinte esse rosto que eu gosto
Que eu gosto e que é só meu
Marina, você já é bonita
Com o que deus lhe deu
Me aborreci, me zanguei
Já não posso falar
E quando eu me zango, Marina
Não sei perdoar
Eu já desculpei muita coisa
Você não arranjava outra igual
Desculpe, Marina, morena
Mas eu tô de mal.
Me aborreci, me zanguei
Já não posso falar
E quando eu me zango, Marina
Não sei perdoar
Eu já desculpei muita coisa
Você não arranjava outra igual
Desculpe, Marina, morena
Mas eu tô de mal
De mal com você
De mal com você
(samba-canção do baiano Dorival Caymmi, de 1947. O verso "Tô de mal com você" foi inspirado no filho Dori, então com três anos, que, quando ficava contrariado com alguma coisa, por exemplo a ausência do pai, dizia: tô de mal com você...)



Nunca vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Não vê que eu sou um pobre rapaz
Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo o que você vê você quer
Ai, meu Deus que saudade da Amélia
Aquilo sim é que era mulher
Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
Quando me via contrariado
Dizia: Meu filho, o que se há de fazer?
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era a mulher de verdade

(Ai que saudades da Amélia, canção de Ataulfo Alves e letra de Mário Lago, gravada pela primeira vez em 1941 e lançada em 1942, agradando mulheres e homens, que entenderam o que Ataulfo disse numa entrevista: "Amélia é compreensão, é ternura, é vida. Ela simboliza a companheira ideal, que luta ao lado do marido, vivendo de acordo com suas possibilidades, sem exigir o que ele não pode dar". E Mario Lago acrescentou: "Amélia é símbolo da mulher brasileira")


Eu quero uma mulher, que saiba lavar e cozinhar
Que de manhã cedo, me acorde na hora de trabalhar
Só existe uma e sem ela eu não vivo em paz
Emília, Emília, Emília, eu não posso mais.

Ninguém sabe igual a ela
Preparar o meu café
Não desfazendo das outras
Emília é mulher

Papai do céu é quem sabe
A falta que ela me faz
Emília, Emília, Emília, eu não posso mais..

(Música de Wilson Batista e Haroldo Lobo, de 1942, gravada por Vassourinha)

Vamos, então, situar historicamente essas músicas, como estava o mundo e o Brasil nessa época, para depois percorrer historicamente a nossa história (das mulheres, especialmente) pela segunda metade do século passado, e trazer essas ideias para a nossa reflexão atual.

As três músicas são da década de 40 do século passado. Estávamos, até 45/46 no  Estado Novo ou Terceira República. Época do Rádio, "A Hora do Brasil", que divulgava os projetos e o ideário do governo Vargas, nessa época num modelo fascista, ditatorial, anticomunista e nacionalista; também pós Semana da Arte Moderna, de 1922, muitas mulheres das artes projetadas nessa semana (Pagu, Tarsila, Anita Malfatti, Guiomar Novaes... fazendo 100 anos no próximo ano... vamos comemorar!!!); e pós conquista do voto feminino (1932); e o Brasil exportando artistas (Carmem Miranda), em função da "política de boa vizinhança", especialmente com os EUA; assim como a projeção do samba, até a primeira dama, nessa época, convidou o Mário Lago para cantar "Amélia" no Catete, palácio do governo no Rio de Janeiro.

Enquanto cantávamos “Amélia” nos anos 40, a história da mulher no mundo era marcada por três grandes momentos: Em 1945, por meio da Carta das Nações Unidas, foi estabelecida a igualdade de direitos entre homens e mulheres e em 1949, foram criados os Jogos da Primavera, ou ainda "Olimpíadas Femininas". Neste mesmo ano, Simone Beauvoir publicava o livro O Segundo Sexo, no qual analisava a condição feminina, promovendo reflexões sobre as desigualdades existentes entre o masculino e o feminino. Por meio da obra, Simone Beauvoir questiona as relações de poder que inferiorizavam a mulher.

Nesse cenário, quero relatar, agora, a história de uma criança mais ou menos com seus 8 ou 10 anos, uma mulher que morava no interior de Minas. Essa mulher, agora, tem seus 60 pra 70 anos, uma feminista que luta diariamente pela sua liberdade de pensar, sentir e agir, e, portanto, combate diariamente os estereótipos de gênero que estão enraizados, cravados e ferro e fogo no nosso espírito.

Pois bem, vou narrar na primeira pessoa, pois acredito que trata-se da vida de inúmeras mulheres nessa faixa etária, inclusive eu: 

"Eu nasci nos anos 50, filha única mulher de família de classe média do interior de Minas. Desde os 5 anos de idade, que me lembre, vinha a Belo Horizonte, curtir as férias na casa de uma tia, mas me lembro com mais vigor na época dos 8 anos em diante, vinha sozinha, sem meus pais, eles me arrumavam carona com casal de amigos e eu ficava dois meses na casa da tia. Era um apartamento lindo, a mobília era o que existia de mais moderno, um sofá em L(ele) maravilhoso, uma TV em preto e branco (TV era coisa novíssima, não existia ainda no interior), o móvel da TV era de um design fantástico, e tinha portas!... Ou seja, quando se acabava de ver a TV se desligava e se fechavam as portas do móvel em madeira clarinha... maravilhosa. Na mesma linha do móvel da TV, o móvel toca-discos, uma radiola fantástica! e uma coleção de LPs, ou bolachas, aqueles discos de vinil pretos. Aquilo era um encantamento para uma menina de 8 anos vinda do interior... e eu passava o dia inteiro ouvindo discos, em especial um disco de samba: "As melhores mulheres", e dançando samba. Meu gosto musical vem dessa época.

Então, este disco era gravado pelos sambistas mais famosos da época, cada música tinha um nome de mulher, e era em homenagem a essa e a todas as mulheres do Brasil... lindo né? eu adorava todas as músicas, sabia cantar todas... especialmente essas três: Emília, Marina, Amélia. E cantava, e cantava, e internalizava as letras dessas músicas! e DESEJAVA tudo isso pra minha vida! eu queria ser uma mulher de verdade, e pra ser uma "mulher de verdade" eu teria que "preparar o seu café, saber lavar e cozinhar, e acordar meu homem de manhã cedo pra ir trabalhar"... pois, se não fosse dessa maneira, ele "não me perdoaria, ficaria de mal"...

Fui crescendo, me mudei para Belo Horizonte com meus pais e meu irmão, anos 60, golpe militar, grandes festivais de música, adorava! passei a cantar "vem, vamos embora que esperar não é saber... quem sabe faz a hora, não espera acontecer!"

E outras: Chico, Rita Lee, Caetano, Gil... tudo isso na época da ditadura militar.

Nos anos 80, já casada, mãe, "por amor", impregnada daquele ideal feminino, acrescido do "ideal romântico", percebi que tinha abandonado facilmente toda a minha construção no sentido da autonomia (de pensar, sentir, agir... e que passa pelo bolso)... tinha deixado de "ser", abandonado minha identidade e incorporado essa "identidade pronta"... e, então, decidi recuperá-la... lia, e tentava internalizar Simone de Beauvoir: quem abre mão do trabalho que dá a construção de uma "vida autenticamente vivida", se rende aos "ganhos" (ou ilusão de ganhos) que significam estar do lado do "dominador". Ou seja, vira escravx, principalmente escravx de um sistema, reproduzido por nós mesmxs. "Vida autenticamente vivida" era (e é) meu mantra, minha busca.

E assim estou, até hoje... porque este movimento é para a vida toda... e para além de mim mesma. E, por isso, compartilho com mulheres e com homens essa experiência, carregada de perplexidades, interrogações, que suscitam boas conversas e crescimentos mútuos, pois disso é feita a vida, de pessoas que se constroem e constroem o mundo.
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Trata-se de um relato maravilhoso, do ponto de vista de rever sua história, se apropriar dela, e construir prospectivamente sua identidade, de forma autônoma. E suscita a nós, SBCenses, ótimas reflexões sobre nosso tema do título desse post: sambas, feminismos e machismos...

Pois o SBC faz isso: reflete, conversa, interpreta músicas para além do senso comum, compartilha reflexões para crescermos uns com os outrxs e construirmos relações mais bonitas... não fazendo isso, caríssimos, vamos, irremediavelmente, repetindo conceitos, ideologias que, muitas vezes, não estão combinando com o que dizemos e queremos para a vida e para as nossas relações mas, de forma alienada, repetimos... e isso nos causa sofrimento, acreditem. Por isso vale o esforço, o trabalho de construir relações mais bonitas, mais simétricas, enfim, construir uma "vida autenticamente vivida".

Começamos por compartilhar a música maravilhosa do Geraldo Vandré, citada pela nossa depoente, que nos suscitou tão conversas tão profícuas:


E nossas conversas SBCenses duraram uns dois ou três encontros riquíssimos. Vamos conversando... por hoje é só...

Abraços carinhosos

SantuzaTU



segunda-feira, 24 de maio de 2021

CONTINUANDO NOSSO ASSUNTO "TRONCOS"

Em 20 de março deste ano publicamos nossa exposição fotográfica "TRONCOS", veja nosso post dessa data, lindíssima "exposição virtual" que rendeu muitos comentários... obrigada a todas as pessoas que leram, viram a exposição, e comentaram.

Pois continuamos a tirar fotos, que eu queria acrescentar, porém, renderam novas conversas, novas reflexões, que merecem outro post:

A impressão que temos é que, quando estamos atentxs a determinado tema, a gente "presta mais atenção", "foca" o tema e, portanto, começa a "ver" mais... já repararam, por exemplo, um casal, ou uma pessoa (mulher ou homem) , quando estão (ou está) grávida (ou grávidos), o tanto que a gente vê mulheres grávidas? parece que o mundo todo está grávido! depois que passa prestamos menos atenção, e "vemos" menos", não é? 

Daí o assunto:

"O OLHAR"

Primeiro, as(os) poetas dizem :




                                                                     



                                                                                                        


                                                                          



LINDAS E LINDOS!!! OBRIGADA!!!

Já sabemos e praticamos: a arte nos proporciona olhar o mundo e as relações orientadxs pelo  sentido estético, o que abre nosso espírito e cria a possibilidade da construção de um mundo melhor, mais bonito...

Mas o nosso foco é a continuidade do olhar para os troncos... e fizemos mais fotos... e descobrimos troncos que se abraçam...

                                    

                                                                                  

 E descobrimos troncos tridimensionais...


                                              

                                                                         


E captamos "famílias" felizes passeando entre os troncos...



E captamos o que poderia ser "mensagens" de marcianos em troncos... (estávamos sóbrios... e não fomos abduzidos...)





E descobrimos amigos que, também, "olham, e veem, e enxergam" coisas lindas na natureza... e gostam de registrar.


Este é o Sanoh Fermal, que trabalha lá pros lados de Rio Acima, perto de Belo Horizonte,  em Minas gerais, e que se entusiasmou com nossa exposição, e teve a generosidade de nos mandar fotos feitas por ele dessa região, de árvores, flores, cachoeiras, paisagens... lindas. Aí vão algumas:
 







Por último, as duas a seguir, que ele descreve assim: "Essas são fantásticas! Aproximadamente 80 cm de altura e, sabe-se lá, quantas centenas de anos de idade!!!"




Obrigada por compartilhar, amigo!

E o nosso querido fotógrafo SBCense, Juraci Bergamini, além das fotos anteriores ao Sanoh, termina nossa exposição com uma árvore que nos pareceu bastante "sofrida", reparem no seu tronco...



Árvores crescem, dão frutos, são tristes, alegres... árvores sofrem... árvores cuidam umas das outras, árvores nos ensinam a beleza da vida...

E continuamos as conversas SBCenses sobre "o olhar":
  • Nós não somos educados para olhar observando, pensando o mundo, a realidade, nos pensando. Somos, sim, educados num modelo autoritário, estereotipado, que produz uma certa cegueira, uma paralisia. E, para romper com essa educação que nos limita tanto, precisamos exercitar, diariamente, o olhar que envolve ATENÇÃO e PRESENÇA. Atenção conosco, com o outro e ao redor de nós ... Olhar para dentro e para fora. 
  • O "olhar de monólogo" é um "olhar parado", quer ver só o que lhe agrada. O exercício do "olhar" (e também do "escutar") para além deste "olhar parado, estereotipado", implica em "sair de si mesmx" e ir ao outrx. Precisa de "entrega". "Só posso olhar o outro e sua história se tenho comigo mesmx uma abertura de aprendiz que se observa, se estuda, em minha (nossa) própria história". O "olhar de aprendiz" é necessário por toda a vida.
  • Aprendi com uma linda SBCense sobre a REALIDADE: ela é externa e interna a nós. A realidade externa existe, independente de mim... porém, o meu olhar transformador sobre essa realidade (junto com a ação transformadora) pode torná-la mais "bonita", mais "humana", mais "justa"... assim como a nossa realidade interna, o olhar para dentro de nós, de uma maneira responsável e amorosa,  nos faz crescer, ser quem queremos ser. Para isso precisamos lidar com nossas culpas, condenações, onipotências... e, assim, caminhamos para nos construir e construir um mundo mais bonito. 
  • O olhar está intimamente relacionado com a aprendizagem, já dizia Rubem Alves. Quanto mais eu sei, mais eu vejo... e quanto mais eu vejo mais eu nomeio... e aprendo. O esquimó, por exemplo, tem dezoito nomes diferentes para o que chamamos de BRANCO, me disse certa vez uma professora, não me lembro com precisão sobre o número dezoito, mas a ideia é essa. 


  • Rubem Alves, grande educador que partiu em 2014, nos deixa lindas reflexões sobre, principalmente, a sensibilidade do educador, que somos todxs nós (nos educamos conversando, olhando para dentro de nós e para fora de nós). 
  • No seu livro "Gaiolas e Asas", no texto "O olhar do professor", ele cita Nietzche (outro grande SBCense): ... "a primeira tarefa da educação é ensinar a ver... porque ..."é através dos olhos que as crianças tomam contato com a beleza e o fascínio do mundo". E "nossos olhos devem ser educados para que nossa alegria aumente". 
Sim... rezemos para isso... (h)oras ações... enquanto educadorxs e educandxs, como sempre somos






Obrigada mais uma vez a todxs xs nossxs colaboradorxs, todxs SBCenses maravilhosxs.
Abraços carinhosos...

SantuzaTU







sábado, 15 de maio de 2021

 




SANTUZA RODRIGUES, psicóloga, palestrante, escritora e compositora, ativista sócio cultural, está concorrendo as eleições do Conselho Estadual de Politicas Culturais – CONSEC
Importante a participação, para fortalecer nossas representações na cultura e arte...

Para votar:

. Entre no site e faça o cadastro;

http://www.voteconsec.mg.gov.br/

. Escolha a opção “literatura, livro, leitura e biblioteca”;

. Escolha a candidata Santuza Rodrigues;

. Clique em Votar e depois Confirmar

Podem votar todas as pessoas residentes em Minas Gerais e maiores de 16 anos

CONTAMOS COM SEU VOTO E AGRADECEMOS ...