sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Natal SBCense: arte, amor e política

  


Então é Natal... Me disse uma SBCense que começou a gostar do Natal quando descobriu que Jesus foi um super socialista... o capitalismo foi que apropriou dessa celebração, e a distorceu, descaracterizou ... mas nós, SBCenses, recuperamos e resignificamos essa data. Há que se comemorar, sim, o "AMOR ao próximo como a ti mesmx". 

Na 'toada' do filme ARGENTINA 1985 vimos e comentamos outro filme que tem a mesma data 1985 no título... e como é importante trazer a década de 80 para a atualidade e conversar sobre isso!


O ano de 1985, filme de 2019 sensível, humano e bem dirigido por Yen Tan, uma expansão do seu curta-metragem homônimo: Morando em Nova York e longe de casa há três anos, o jovem Adrian retorna para passar o natal com sua família, durante a primeira onda de crise da Aids. Sobrecarregado com uma tragédia recente, o jovem procura se reconectar com sua amiga de infância, seu irmão mais novo e seus pais religiosos, enquanto luta para revelar seus segredos - esta é a sinopse do filme. 

Ambientado no conservador Estado do Texas em 1985, o filme é estrelado por Cory Michael Smith como Adrian Lester, um homem gay que voltou para casa para contar à sua família que estava morrendo de  AIDS.  O jovem que havia se mudado por conta do trabalho, após alguns anos reencontra a hostilidade de normas sociais rígidas que anulam qualquer esboço de alegria natalina ou manifestações positivas relacionadas à saudade.

"A época das festividades de dezembro, a alegria natalina, a esperança por um novo ano ou a reunião familiar após anos de desconfortável silêncio e cisão não acalmam o turbilhão que agita a superfície aparentemente calma daqueles quatro rostos ao redor da mesa de jantar, pai, mãe, filho e o outro filho... E conforme as horas se transformam em dias e os dias se transformam em horas de uma nova despedida, a dor inevitável retorna, a mágoa inevitável, e também a breve felicidade inevitável".
O preto e branco do filme é pertinente. A ambientação de luz baixa reforça a aridez do antigo lar de Adrian. É uma atmosfera que faz "bloquear" a felicidade, o bem estar, mesmo no Natal. 
Por outro lado, nos toca muito, no filme, a "humanidade" das pessoas. Por exemplo, o pai conservador:  Se o pai de Adrian e do pequeno Andrew personifica o que é conhecido como masculinidade tóxica numa sequência como a das cervejas compartilhadas de madrugada, ele pode, logo em seguida, demonstrar-se disponível emocionalmente para o filho mais velho, ajudando-o no que for preciso, custe o que custar. Refletimos sobre "humanidade": nos reconhecer humanxs é exatamente nos reconhecer preconceituosos e preconceituosas, machistas, racistas... pois vivemos numa sociedade que alimenta isso! e, para evoluir, precisamos assumir nossos preconceitos, pois só assim poderemos repensá-los e caminhar para combatê-los. 
Diz um SBCense: "morro de medo de pessoa que diz "Não sou preconceituosx, não sou machista, não sou racista"... pois ela, ao negar, apenas não fica sabendo dos seus preconceitos - e não vai aprender  a lidar com eles! 
Isto é se desumanizar,  acrescenta outro SBCense, ou seja, se considerar "perfeitx". O "maniqueísmo" de se ver e de ver o mundo na polaridade -  ou perfeito ou "o nitrato do pó da bosta do cavalo do Napoleão" - e mais, quem não é perfeito, igual a mim, deve ser "condenado", "perseguido"... a quem interessa esse jeito de pensar?
E, de uma maneira mais "inconsciente" (ou mais "explícita"), não "aprendemos" a pensar dessa forma? É isso, precisamos muito nos conhecer e sabermos o que combater e o que alimentar em nós mesmxs... 
A mãe , no filme,  é como a maioria das mulheres da época, tanto lá como aqui no Brasil, -  uma dona de casa e mãe devotada que segue as regras impostas pelo marido - mas também está à beira do seu despertar de consciência, enquanto ser humano e enquanto mulher. Claro que, sendo o SBC intergeracional, temos mulheres que lembram muito bem dessa época, anos 80, como uma época do "despertar da consciência política mais ampla através da consciência de gênero, ou seja, das violências que sofremos, das micro violências até o feminicídio". 
Lembramos do filme Gaslight, de 1944, que deu origem ao estudo sobre algumas micro violências, quase "imperceptíveis",  mas que vão nos "apagando", diminuindo nossa auto estima e nossa participação no mundo. Veja nosso post de 01 de março de 2016: Conversas SBCenses: O machismo nosso de cada dia,  onde conversamos sobre esse tema. Veja também nosso post de post de 28 de junho de 2018: Sobre livros, filmes, músicas... e vidas, onde contamos a história de 'mulheres maravilhosas' do século passado que narram suas histórias e seu processo de tomada de consciência. 
Voltando ao filme O ano de 1985, as cenas da relação entre Adrian e Carly são, também, brilhantes  Enquanto ex-namorada de colegial do Adrian, a agora comediante stand-up coreano-americana, Carly ressurge na vida de Adrian,  ora como uma espécie de antagonista por ter sido abandonada no passado e ora como aliada, por aos poucos descobrir o que ele sempre escondeu, a homossexualidade.
E  nossa querida SBCense não pode deixar de indicar um outro filme da Netflix, documentário brasileiro que trata do assunto HIV e AIDS e  trás o assunto para a atualidade:

Lançado em 2019, este documentário narra a evolução do vírus HIV no Brasil ao longo de três décadas e mostra o estigma imposto a quem vive com a doença. O título é baseado numa crônica do Caio Fernando Abreu publicada no Estado de São Paulo. 
A epidemia da AIDS, da década de 80 do século passado,  'escancarou' ignorância e preconceitos. Dirigido por André Canto, o filme investiga o estigma e a discriminação como produtos de uma sociedade que insiste em manter marginalizadas as pessoas que vivem com HIV. Até hoje, passados mais de 30 anos, muitas ainda enfrentam situações de medo, insegurança e de exclusão. 
Pois na Europa, relata nosso SBCense,  foi feita uma pesquisa que mostrou que homens com HIV estão  vivendo mais do que os outros, em função do acompanhamento médico constante. O 'tratamento' se resume a dois comprimidos ao dia, como, por exemplo, para um hipertenso ou um diabético. No entanto, se consideramos o recorte de classe social e etnia. essa pesquisa, aqui no Brasil, se aplica a pessoas de classe média pra cima. Com as pessoas pobres, a maioria negras, o HIV evolui ainda para a tuberculose e AIDS. 
Daí concluímos: a pobreza mata! o preconceito mata! a falta de politicas públicas mata!  E sobre isso precisamos falar...no NATAL!!! e em 2023... FALAR e AGIR...
Terminamos lembrando Titãs com Elza Soares...

A GENTE NÃO QUER SÓ PÃO... QUER PAZ E POESIA!!!
A GENTE NÃO QUER SÓ COMIDA... QUER COMIDA, DIVERSÃO E ARTE!!!
 

E nos desejamos, e a todos que nos seguem,  um Natal profícuo, cheio de reflexões (e ações) para 2023: um ano de ESPERANÇAR, como diria Paulo Freire. 
AMAR E MUDAR AS COISAS, grande Belchior... o que vem a ser, para nós,  o mesmo que AMAR E FAZER POLÍTICA...
Abraços carinhosos a todas, todos e todes...


9 comentários:

  1. Santuza, desejo a você e a toda a turma um Natal com alegria e paz e um Ano Novo com muita saúde e continuidade na luta por um mundo mais justo. Grande abraço.

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  2. Respostas
    1. ObrigAda delmari . Que nós encontremos maus em 23. Grande abraço

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  3. Nos anos 80 a Aids chegou ao Brasil espalhando o medo e, com ele, o preconceito. Mas os anos 80 também foi a década em que o povo voltou as ruas para lutar pela democracia e conquistou a voltas das eleições diretas para presidente é governadores. No mundo não foi diferente, com vários acontecimentos que reverberam até hoje.

    Refletir sobre os erros e acertos do passado é sempre necessário para que não os cometamos no presente. Haja vista a onda conservadora e ultradireitista quecomeça a se espalhar no mundo é, em especial, no Brasil.

    2023 é para nós o recomeço de lutas para voltarmos aos trilhos da democracia, das liberdades das minorias e da humanização das pessoas.

    Afinal, grande parte da nossa população está contaminada por uma doença muito mais aniquilados que a Aids, o ódio. E o Natal é uma oportunidade que temos para religarmos com a fonte de amor ao próximo e de renovação dos votos para perserveramos na luta, haja o que houver.

    Abraços aos SBCenses.

    Em especial a vc, Santuza!
    Feliz Natal!

    Tadeu Oliveira Romão

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  4. Muito boa crônica....Parabéns! Desejo- lhe um Abençoado Natal e um 2023 pleno de saúde, boas reflexões, lutas e fazeres!🎄

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  5. 2022 foi um ano de grande resistência para os progressistas de todos os campos. Tivemos que lutar contra os mais absurdos fantasmas . Espalhados em forma de fakenews, tivemos que retornar aos livros escolares para reafirmamos a esferacidade da terra. Parecia que estávamos ainda na Idade Média.
    Que 2023 seja um ano melhor. Onde a democracia e a solidariedade esteja presente. Que o SBC continue colaborando para isso.
    Abraços galera!
    Ótimo Natal e abençoado 2023💗
    Antonieta Shirlene

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  6. ObrigAda querida ethur! Abraços carïnhosos

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  7. Amém!!! Bjos querida...

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