terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Conversas SBCenses: para que serve a ARTE?

Nos reunimos para conversar sobre o Natal... mas  no SBC conversamos muuiiittoooo... e, às vezes, "desviamos" anarquicamente do tema... porém, só conversa boa, que merece ser compartilhada.

Aconteceu uma pergunta inesperada, mas inteiramente pertinente aos questionamentos SBCenses: PARA QUE SERVE A  ARTE?

Depois de inúmeras respostas possíveis, nosso querido SBCense compartilha resumo de live da Rita von Hunty - esta da foto, pra quem não conhece ainda, personagem de Guilherme Terreri Lima Pereira, professor, ator, You Tuber, palestrante... e drag queen que dá aulas de política.

Rita diz, ou melhor, nosso SBCense diz: PARA NADA! ... se entendermos "servir"  como "ser útil" ao consumo, ou seja, a arte não deve ""se submeter", ser subserviente a uma cultura do consumo, a uma sociedade onde o dinheiro ganha vida e nós nos transformamos de sujeitos a objetos (consumistas: que só consomem - e se deixam consumir). Por outro lado, a ARTE pode (e deve) servir para ajudar a causar perplexidade, estranhamento, para abrir perguntas e incitar o raciocínio  - e ação -  transformadores. Aí a arte cumpre com seu papel: o de ser, sempre, um LEVANTE contra a servidão.

A Arte pode nos JOGAR LUZ na NORMA, nos ajuda a questionar aquilo que se coloca como  NORMAL... e descobrir o que existe nessa normalidade. Em outras palavras, o interesse em se impor como NORMAL - ou NATURAL, ou INQUESTIONÁVEL, ou AHISTÓRICO significa TENTAR NOS IMPOR modelos prontos de vida, significa o AUTORITARISMO, significa, ainda, nos colocar na passividade, na submissão ao modelo pronto e acabado... o contrário do que queremos enquanto sujeitos... e enquanto sujeitos históricos, construtores da própria vida e de um mundo melhor.

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Nessa toada vimos o filme mais comentado do ano: Argentina 1985: 

Lançado em setembro desde ano, o filme Argentina 1985, conta a história verídica dos promotores públicos Julio Strassera e Luis Moreno Ocampo que ousaram investigar e processar a ditadura militar mais sangrenta da Argentina em 1985. Strassera e Ocampo reuniram uma equipe jurídica jovem e cheia de heróis improváveis para enfrentar a influência dos militares na época, para uma batalha no estilo de Davi contra Golias. Esse julgamento histórico revelou horrores da ditadura na Argentina.

O longa foi filmado nas locações históricas reais, sob a direção de Santiago Mitre, que também assinou o roteiro ao lado de Mariano Llinás. Ricardo Darín e Peter Lanzani protagonizam o filme, nos papéis dos promotores Julio Strassera e Luis Moreno Ocampo, respectivamente.

- "AI... O Darín...", comenta SBCense famosa: "A pessoa tem que ser bonita por dentro e por fora, até que por fora para além dos padrões de beleza... mas a beleza interna, suas posições na vida, nas relações, na política, a tornam bonita! Tem gente no SBC que "casa" com ele a hora que ele quiser (as românticas...). Já outrxs "dão" (ou dariam... péssimo trocadilho, aff) pra ele até 'penduradxs no lustre'... 
Mas peguem qualquer filme que ele atua, protagonizando ou em papéis secundários ... TODOS são ótimos! e agora temos sua versão mais nova, o filho CHINO DARÍN, vejam A ODISSÉIA DOS TONTOS, os dois atuando juntos, o mais velho, o Ricardo💖 diz sobre este filme: “Somos tão domesticados, tão acostumados a obedecer e seguir a corrente de uma sociedade de consumo que às vezes esquecemos quais são os nossos direitos. Nunca se deve baixar a guarda na defesa dos direitos. Os abutres sempre estão à espreita para se aproveitar de pessoas crédulas, ingênuas e decentes. Essas pessoas que trabalham e que movimentam o mundo”.

Tivemos que interromper nossa SBCense famosa, pois ela queria ficar falando sobre os DARÍN a noite toda... e nós queríamos comentar o 1985:

"Poucos dias antes de 22 de abril de 1985, o juiz Ricardo Gil Lavedra encontrou um colega no Palácio da Justiça de Buenos Aires e, depois de conversarem sobre assuntos corriqueiros, o outro magistrado perguntou incrédulo a ele: "Me diz uma coisa, vocês realmente vão fazer esse julgamento?" "Esse julgamento" sobre o qual o colega de Gil Lavedra perguntava não tinha outros precedentes na história do século 20 além do julgamento de Nuremberg, que ocorreu entre 1945 e 1946, sobre os crimes do nazismo, e de um julgamento de 1975 contra coronéis gregos que lideraram o golpe de Estado no país em 1967. Na Argentina, tratava-se de julgar em um tribunal civil os nove líderes das três primeiras juntas militares que governaram o país após o golpe de Estado de 1976, por crimes que iam desde homicídio e tortura até privação ilegítima de liberdade. Organizações de direitos humanos estimam que 30 mil pessoas desapareceram durante aqueles anos."


Um pequeno panorama da América Latina nessa época: "No Chile, Pinochet tinha todo o poder; o Uruguai, por referendo popular, se recusou a investigar seus militares; havia oficiais militares em muitos governos da região, e a Argentina — como sempre oscila entre o abismo e o topo — fez algo totalmente inesperado."
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Recorte para cumprimentarmos nossos "hermanos" pelo tri... Parabéns para a Argentina, parabéns para a América Latina!
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Voltando a reflexões a partir do filme... E o Brasil? José Sarney, primeiro presidente civil após a ditadura militar no Brasil desde o golpe de 1964, o Congresso se articulava para a construção da nossa Constituição de 1988. Aí veio Collor, primeiro Presidente eleito pelo voto popular depois de 25 anos de regime de exceção... dois anos depois o impeachment... o vice Itamar assume... Depois o Fernando Henrique... e, em 2003, o Lula... reeleito... depois a Dilma... e o GOLPE. Temer, vice de Dilma, assumiu o governo e abriu campo para a eleição, em 2018, de regime de ultra direita, que se alia aos militares para a retomada de projeto autoritário e corrupto.
O Brasil não teve um julgamento de militares que estiveram envolvidos em torturas. A Lei da Anistia, de 1979, anistiou pessoas exiladas e também militares. Em 2011, no governo Dilma,  uma Comissão Nacional da Verdade foi criada e investigou fatos do período militar. Mas, por causa da Lei da Anistia, não houve um julgamento com punição a torturadores. Essa Lei deixou muitas feridas abertas na memória brasileira, pois vítimas de tortura não encontraram sua reparação e ao mesmo tempo seus torturadores foram anistiados e não sofreram consequências por seus atos hediondos. A consequência disso é que tivemos uma justiça de transição falha no Brasil e muitos não tiverem o direito por Memória, Verdade e Justiça garantidos. Isto faz com que vejamos, ainda nos tempos atuais, homenagens a torturadores, comemorações do golpe de 1964,  manifestações que defendem o AI-5 e clamam por intervenção militar.

A Comissão da Verdade de 2011 teve importância na história brasileira: tentou reconstruir a história, fez a  tentativa de restabelecer os fatos históricos. Porém, sofreu intensos ataques, demonstrando o problema de um país que não lida com um passado marcado por violências e atrocidades cometidas pelo próprio Estado. Concessões foram feitas para acomodar uma insatisfação em parte dos integrantes da elite das Forças Armadas do país. "Idealmente deveríamos ter alcançado o maior grau de aprofundamento nessa questão e tratado o tema de forma mais aberta e transparente para a sociedade". E o que estamos presenciando nesse fim trágico de governo, de uma maneira direta, são as consequências dessa história. 

Daí a importância do filme Argentina 1985 para nós, para a nossa memória. Muitos jovens (e não tão jovens), agora, consideram que a democracia é dada, não se lembram da ditadura, acham que é algo "pré-histórico" quando foi "outro dia" para as pessoas que nasceram no século passado.  Em países sul-americanos, como em outras partes do mundo, vemos muitos jovens reproduzindo discursos reacionários e reivindicando governos ditatoriais. 

"Há uma batalha cultural que está se perdendo com o tempo. A sociedade não consegue responder. A Alemanha, por exemplo,  continua falando de nazismo nas escolas"... o filme, portanto, é essencialmente educativo, ou seja, serve de pré-texto para inúmeras 'rodas de conversa' ou ' centros socialistas' como diz nosso jurista Alysson Mascaro - AI... outro feio/lindo, que SBCenses fariam com ele que nem com o Darín. Precisamos entender o que aconteceu durante a ditadura e aprendermos mais sobre democracia e sobre sermos sujeitos dessa construção, pois é a única maneira de não repetirmos essa triste história.

Terminamos nossa conversa com Gonzaguinha:


E nos prometendo fazer outra reunião de reflexões sobre o NATAL e ANO NOVO...


Abraços carinhosos a todas, todos e todes..



 

 



7 comentários:

  1. Excelente trabalho, eu adorei! E por falar em arte, que a insubmissão seja as vestes da arte nua... VM ...Parabéns!

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  2. Excelente reflexão! Consistente e profunda. Além de historicamente correta.
    Os comentários sobre a importância da arte foi perfeita.
    Eu sempre comento que a arte nos salva da barbárie. E a mesma é sempre questionada, censurada e até mesmo banida nos regimes autoritários. Isto quando não é subjugada à interesses torpes. Parabéns 🎈 Que venha o Natal 🎁Que Jesus seja lembrado como um perfeito comunista e que 2023 tenhamos mais direitos , arte, ciência, educação e tudo que metros e lutamos.
    Antonieta Shirlene
    Às vezes Rochelle 😲

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  3. Tudo que merecemos e lutamos.

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  4. Ei, Santuza! Você, como sempre, precisa nas análises históricas, trazendo-as para o nosso tempo, como elementos fundamentais, para entendermos esse processo que estamos vivendo em tempo real. Estamos a poucos dias da posse do Lula, depois de um processo eleitoral, no qual estava sendo decidido, apesar da discordância de muitos incautos de plantão, os destinos da humanidade, pois a vitória do fascismo aqui seria o seu fortalecimento a nível global, possibilitando a criação de uma base sólida, para futuras aventuras planetárias. Só não podemos cair nos mesmos erros do passado, quando gritávamos "não vai ter golpe", enquanto dormíamos com o inimigo, aproveitando o ensejo para parafrasear o cinema, já que é o tema que veio à baila. Muito boas as suas reflexões!

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