domingo, 6 de março de 2022

Conversas SBCenses: aos amigxs artistas|professorxs, uma singela homenagem


"Sem a música a vida seria um erro", já dizia nosso grande filósofo SBCense Nietzsche. Foi a primeira pessoa que lembramos ao sair do cinema depois do filme "A FELICIDADE DAS PEQUENAS COISAS", título em português, por sinal, lindíssimo e adequado. A singeleza e a profundidade do filme que nos tocaram os nossos afetos,  imensamente. E ensejaram nossas reflexões.   

Em inglês Lunana: Um Iaque na Sala de Aula”, filme de 2019,  dirigido por Pawo Choyning Dorj. SINOPSEO professor Ugyen Dorji, de 20 e poucos anos, sonha em se mudar para a Austrália e ser um cantor famoso. Em seu último ano de contrato com o governo, ele é mandado para Lunana, onde deve assumir uma escola infantil. 

Lunana é uma aldeia onde se localiza a "escola mais distante do mundo", no Butão, pequeno país no extremo leste do Himalaia, entre a China, a India e o Tibet, conhecido por seus mosteiros budistas, suas fortalezas e suas paisagens impressionantes, que incluem desde planícies subtropicais até montanhas íngremes e vales. Sua capital é Thimpu. E esse pequeno país é também famoso por uma política de "Felicidade Interna Bruta".



Com uma população de 771.612 em 2020, Butão se preocupa tanto em manter o seu povo em harmonia e feliz que, ao invés do governo medir o PIB Produto Interno Bruto, eles adotaram um índice diferente: FIB Felicidade Interna Bruta. Eles medem o desenvolvimento do país pelo nível de felicidade da população. Avaliam alguns indicadores como bem estar psicológico, preservação do meio ambiente, desenvolvimento sustentável, educação, diversidade cultural, entre outros. E, não só medem mas também tentam basear suas decisões no impacto que elas teriam sobre a população. O SBC já conversava sobre o Butão e o FIB desde 2012, leiam nosso post de 20 de maio desse ano.

E esse singelo (e profundo...) filme do Butão vai nos envolvendo com o sentido da música nas nossas vidas: além de aproximar, unir  as pessoas, pode também contribuir para o movimento de ressignificação das nossas vidas... assim como também sobre o sentido do TRABALHO.


Na nossa conversa sobre o filme,  juntamos o já mencionado Nietzsche com Ferreira Gullar e Guimarães Rosa, para conversarmos sobre a arte e a vida... e o trabalho (de professor e professora, entre outros...). O Ferreira, já concordando e acrescentando ao Nietzsche, explica o sentido da arte: "A arte existe porque a vida não basta". E o Rosa, outro grande SBCense, já entra dizendo sobre a arte de educar: "Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende"





E o filme "A felicidade das pequenas coisas" nos diz e nos faz refletir sobre tudo isso... e muito mais. Uma frase síntese do filme que junta a música, a arte e a educação: 

                                                    "Educar é TOCAR o futuro".



Continuando nossa conversa, lembramos de um diálogo de um francês com uma jovem americana, profissional de marketing, na série "Emily em Paris" (Netflix): "Vocês, americanos, vivem para trabalhar...e nós, franceses, trabalhamos para
viver”.


E reportamos, também, a um outro filme muito bacana, que fala sobre o sentido do trabalho na vida: "A Partida", filme japonês dirigido por Yojiro Takita, vencedor de Oscar de melhor filme estrangeiro em 2009, este filme foi uma espécie de "orientador" do nosso primeiro carnaval em 2013: "qualquer coisa feita com profundo cuidado, dedicação, precisão, delicadeza, não tem jeito de dar errado, sairá maravilhosa"... (post de fevereiro de 2013). Esta  é a grande "descoberta" do violinista do filme sobre o sentido do trabalho na sua vida, trabalho este que lhe causava, a princípio, total repugnância... e, aos poucos, ele foi descobrindo a beleza (e o sentido) do mesmo.

 
E foram dessas lembranças... e juntando com "A felicidade das pequenas coisas", que nos ocorreram  perguntas... interrogações, perplexidades sobre o sentido da vida... e do trabalho. Pois, ao contrário do que nos é ensinado na nossa cultura ocidental (nos ensinam muito mais a termos "respostas pra tudo"), perguntar é uma sabedoria, abre nosso espírito para o novo, para a produção do conhecimento enquanto sujeitos.

Pois bem: 

. Será que através dessa busca do sentido do trabalho nas nossas vidas não faríamos a "apropriação" do valor do trabalho ...  e por aí se criaria a possibilidade de desencadear a "revolução", uma mudança desse paradigma "capitalista" que nos faz "perder" o significado do trabalho (e da vida) ?

. Os teóricos de esquerda costumam falar da teoria e da prática (ou práxis). Mas nós acreditamos que a tomada de consciência se dá a partir dos AFETOS. Este movimento  de SER AFETADO POR... inclui a teoria e a prática. Mas pode ser, essencialmente, a partir dos afetos,  que buscamos/construímos reflexões, teorias orientadoras, e isso interfere na nossa prática de vida... e quando vejo a prática transformada estou de novo afetadx e vou me transformando em SUJEITO (ou sujeitos, nos juntando e ampliando nosso poder...), produtores e produtoras do conhecimento libertador.

. E aí é que se inclui a ARTE enquanto libertadora. Porque a arte nos mobiliza, a arte tem esse poder de tocar os nosso afetos. Por isso ela pode ser transformadora, revolucionária... A arte nos provoca, e se topamos essa provocação caminhamos para as ressignificações necessárias à uma visão/ação no mundo de forma transformadora, subversiva e revolucionária... e essa reflexão/ação cria também a possibilidade de rompermos com a fragmentação Teoria Afeto Prática (cabeça, coração, mãos) própria de um sistema que nos deseja alienadxs e reprodutores... e nos transformar em SUJEITOS (das nossas vidas) e transformadores do mundo... alguns hão de dizer que isso é uma utopia... mas tratando o "impossível como se fosse possível" acreditamos que podemos "CAMINHAR", construir...

E lembramos também da nossa grande SBCense Emma Goldman, já a temos como referência revolucionária desde 2013 (veja nosso post de 24 de agosto desse ano). Essa mulher maravilhosa  desde cem anos atrás, nos lembra que a DANÇA também é uma arte: "Se não posso dançar, não é minha revolução". 

Para terminar, mais uma pergunta: o Cine Belas Artes agora é da UNA Centro Universitário. Antes do filme tem uma propaganda com artistas mineiros, muito bacana, que fala disso. Grandes empresas investindo na Cultura e na Arte são louváveis e devem ser reconhecidas. Além de ser um ótimo marketing. No entanto nos ocorreu a pergunta: essa empresa está valorizando seus professores no concreto, ou seja, através de salários dignos e pagamentos em dia? Ai, sim, é um autêntico marketing, que inclui a aparência e o conteúdo, de forma coerente. 



E, por fim, nosso projeto Cineclube retornará em breve... pois temos também essa arte como uma das mais provocadoras.

Até... abraços carinhosos


sexta-feira, 4 de março de 2022

Conversas SBCenses: sobre 8 de março


 A propósito do Dia Internacional das Mulheres, próxima terça-feira 8 de março, fizemos uma ótima roda de conversa, e aí está nosso resumo:



O Dia Internacional da Mulher é comemorado em vários países no dia 8 de março.  No Brasil, muitas pessoas acreditarem que a data está relacionada a um incêndio em uma fábrica de tecidos nos Estados Unidos. Embora essa seja a narrativa mais conhecida, quando se fala sobre a origem da data comemorativa, ela não é verdadeira.

 

A verdadeira história é outra: O primeiro registro remete a 1910. Durante a II Conferência Internacional das Mulheres em Copenhague, na Dinamarca, Clara Zetkin (na foto acima, com Alexandra Kollontai), feminista marxista alemã, propôs que as trabalhadoras de todos os países organizassem um dia especial das mulheres, cujo primeiro objetivo seria promover o direito ao voto feminino. A reivindicação também inflamava feministas de outros países, como Estados Unidos e Reino Unido.

 


No ano seguinte, em 25 de março, não no dia 8, ocorreu um incêndio na fábrica em Nova York, que matou 146 trabalhadores -- incluindo 125 mulheres, em sua maioria mulheres imigrantes judias e italianas, entre 13 e 23 anos. A tragédia fez com que a luta das mulheres operárias estadunidenses, coordenada pelo histórico sindicato International Ladies' Garment Workers' Union (em português, União Internacional de Mulheres da Indústria Têxtil), crescesse ainda mais, em defesa de condições dignas de trabalho.


Então... as russas soviéticas tiveram um papel central no estabelecimento do 8 de março como data comemorativa e de lutas. Por “Pão e paz”, no dia 8 de março de 1917 no calendário ocidental, e 23 de fevereiro no calendário russo, mulheres tecelãs e mulheres familiares de soldados do exército tomaram as ruas de Petrogrado (hoje São Petersburgo). De fábrica em fábrica, elas convocaram o operariado russo contra a monarquia e pelo fim da participação da Rússia na I Guerra Mundial.  A revolta se estendeu por vários dias, assumindo gradativamente um caráter de greve geral e de luta política. Ao final, eliminou-se a autocracia russa e possibilitou-se a chegada dos bolcheviques ao poder. A atuação de mulheres russas revolucionárias como  é considerada imprescindível para o início da revolução.

 

“A história real do 8 de março é totalmente marcada pela história da luta socialista das mulheres, que não desvincula a batalha pelos direitos mais elementares -- que, naquele momento, era o voto feminino -- da batalha contra o patriarcado e o sistema capitalista”, ressalta Diana Assunção, integrante do coletivo feminista Pão e Rosas.
 


Pois é... fica evidente que houve uma articulação histórica para esvaziar o conteúdo político do 8 de março, transformá-lo em “uma data simbólica inofensiva” e em um nicho de mercado, apagando sua origem operária. “Recebemos flores, elogios e chocolates, na tentativa de esconder o conteúdo subversivo do significado desse dia, que é questionar o patriarcado”.

Em 1921, na Conferência Internacional das Mulheres Comunistas, o dia 8 de março foi aceito como dia oficial de lutas, em referência aos acontecimentos de 1917. A data foi reconhecida pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 1975.

E atualmente, a cada 8 de março,  homens e mulheres de todas as idades vão às ruas  para manifestarem apoio às conquistas e para lutarem por mais direitos e por  respeito. Trata-se de um dia de celebração das vitórias conquistadas, assim como da luta ainda necessária pelos nossos direitos. como uma jornada de trabalho justa, igualdade salarial, direito a escolher nossos representantes na política, direito às escolhas que envolvem nossos corpos... e a luta contra a violência que nos atinge no privado e no público, desde as mais sutis até o feminicídio.

E é preciso que essa luta se estenda, para além das manifestações do dia 8, para os vários ambientes onde estamos (família, trabalho, escola, ambientes públicos), assim como por todo o ano.



Por fim, precisamos falar do universo LGBTQIAP+. Uma sigla que engloba diferentes tipos de pessoas marginalizadas, das quais várias são mulheres. As lésbicas e trans são as que mais sofrem preconceito, por não se encaixarem no padrão tradicional da sociedade, que já mostrou que têm dificuldades em aceitar o diferente.




As ações do Dia Internacional da Mulher devem envolver todas as mulheres: lésbicas, trans, cis, brancas, negras, indígenas, ricas e pobres. Todas nós  temos  que ter os mesmo direitos garantidos, todas  devemos poder ser quem quisermos e sonharmos ser.

A cada 8 de março, as mulheres trazem à tona questionamentos sobre a hipocrisia em torno das homenagens que recebem apenas nessa data. Em todos os dias do ano, o gênero feminino é o principal alvo da violência e da desigualdade.

E nesse 8 de março de 2022, aqui em Belo Horizonte, estaremos, a partir as 16.30 horas na Praça da Liberdade, de onde sairemos numa manifestação do 8M, que reúne coletivos feministas tanto na celebração das conquistas como na luta ainda necessária pela igualdade de direitos.

SBC presente!



Não desperdice com flores, chocolates e "elogios" que "mascaram" nossas lutas e nos "colocam  em  lugares que não podemos escolher" e .. Vamos à luta, juntxs!


Até lá...

Abraços carinhosos a todas, todos e todes...



terça-feira, 1 de março de 2022

CARNAVAL: pequena memória de um tempo que querem apagar

Em 2012 eu estava voltando de uma viagem no sábado de carnaval. Sempre passava o carnaval no interior de Minas, mas naquele ano resolvi ficar por aqui. BH ainda era, segundo descrição do taxista que nos trouxe do aeroporto em casa, o "reduto dos evangélicos", mas já tínhamos alguns bloquinhos na rua, principalmente no centro e em Santa Tereza. Fomos no bloco do Floriano, que concentrava e saia de uma altura da Av. Brasil. 

SBC já existia, já nos encontrávamos e nos perguntávamos o que gostaríamos de fazer enquanto projetos artístico-culturais. E eu achei super interessante aquele movimento do bloco do Floriano. Eu queria me encontrar com o Floriano para pegar com ele umas dicas de como organizar um bloquinho de carnaval. Procurei o Floriano durante todo o percurso do bloco, quando percebi que Floriano era a praça onde o bloco terminava seu cortejo. Riram muito de mim... 

No dia seguinte, descendo da praça de Santa Tereza para a praça do Cardoso, ocasião que deu ensejo ao post "Níveis de alcoolismo", 05 de março de 2012, foi que chamei o Carlitos, nosso diretor musical, para construirmos o carnaval do SBC no próximo ano. Daí começamos a planejar nosso primeiro Carnaval. 

Em outubro desse ano Carlitos fez o nosso Hino: "É a hora do SBC" (postagem de 13 de outubro de 2012 aqui no blog). E em fevereiro de 2013 fizemos nosso primeiro Carnaval, junto com nosso outro grande diretor Felipe Fil e a participação honrosa da mestra de bateria Solange Caetano.



Desde então nossos estandartes são elaborados artesanalmente, como este primeiro, feito pela nossa grande artista plástica Janaina. E são inspirados no tema do carnaval que lançamos a cada ano. 

Daí participamos da construção de alguns bloquinhos, nos chamávamos de "blocos amigos". Programação para todos os dias do carnaval.

2014 foi o ano do tema: Preconceito não, Liberdade SIM!


em 2015 nós homenageamos o MORCEGO: "Vendo a vida de cabeça pra baixo".


Em 2016 nosso tema foi "Tecnologia: tudo que salva pode também matar"

















E penso que, embora o carnaval de BH tenha vindo crescendo desde 2010, foi por volta desse ano que começou a "explodir", se transformar num carnaval "comercial", a atrair turistas de todo o Brasil e do mundo... artistas que se dedicavam ao carnaval em BH desde este seu "retorno" começaram a ter "ganhos financeiros" com essa explosão. Alguns blocos escolheram esse caminho, outros, como é nosso caso, continuaram como "bloquinhos" de bairro. Fizemos desfiles, sempre as terças feiras de carnaval, no Padre Eustáquio, no Aparecida... e depois nos fixamos no Caiçara, na rua do Bar Cartola, onde o SBC foi construído.

Essa época também coincide com um acirramento da repressão policial aos bloquinhos. O pretexto é sempre a "proteção" da população. E a ação é sempre truculenta, como o episódio do Bloco da Bicicletinha, carnaval 2016 (nosso post de 17 de fevereiro desse ano). Acredito, também, que esse tipo de ação da policia era orquestrada para ensejar o "engajamento" da esfera politica no âmbito do carnaval de BH. Daí os blocos recebiam grana,  de acordo com o porte de cada um,  e cumpriam as exigências devidas, que incluíam até as marcas de bebidas, ambulantes... essas coisas... policia sempre ali, nos blocos de todos os tamanhos, para "proteger" os cidadãos. Assim como a SLU cuidando da limpeza; e a BH TRANS contribuindo decisivamente para a articulação do trânsito, com a quantidade de turistas e bloquinhos lotando nossa BH.

E o contraponto que nos entristece nessa história: o carnaval, em sendo "capitalizado", começou também a perder sua característica de espontaneidade, de festa popular, de inclusão e de participação de todas as camadas da sociedade, classe média e periferia, brancos, negros e todas as cores, raças, idades... tudo isso que faz o "espírito" do carnaval  Porque, pra nós, a espontaneidade é que faz dele a festa política por excelência, revolucionária... um dos slogans do SBC: AMOR, POLÍTICA (E CARNAVAL)... FAZEMOS NA CAMA E NO MUNDO!!!

Chegamos a 2017. Nosso quinto carnaval, o tema foi uma homenagem às mulheres brasileiras:

E FORA TEMER!






Em 2018 FORA TEMER!  de novo. 

Com o Seu Ronaldo Coisa Nossa nos homenageando com uma música tema: SBC chegamos nós soltando a vós... Soltando a vós SBC sejamos nós...








2019... nosso tema foi inclusivo: "Revolução dos bichos... Solte o seu" 

E fora o inominável!!!


E em 2020 fomos ecológicos: "Verde que te quero verde" (salve a Amazônia!)

E Fora o verme... e o fascismo!!!





E, logo depois do oitavo carnaval do SBC... a pandemia... 

Pensávamos que em 2021 já teríamos carnaval... nos preparamos... mas não... muita tristeza... um vazio em todo brasileiro, carnavalesco ou não... um ano de angustias, perdas,  pobreza, ou melhor, indigência, em BH estamos quase "tropeçando" em gente dormindo nas ruas, nas marquises... e por aí vai...

Mas em 22 teríamos, com certeza!!!... e chegou 22... terça feira de carnaval... dia 01 de março... não tivemos carnaval de rua... o carnaval se "elitizou", a aglomeração só "pode"  em ambientes fechados, com ingressos e "proteção"... ônibus lotados, trabalhadores aglomerados... isso pode, porque a economia tem que girar.

E a pergunta que fica: a pandemia ainda não está controlada... mas o que ainda temos de restrições fora o carnaval? a quem interessa o não carnaval? a não expressão dessa alegria transgressora, revolucionária?

Enfim... será que em 23 retornaremos nosso autêntico carnaval... na medida certa da diversão e não da "demanda de mercado" ... será que conseguiremos aprender a conciliar a espontaneidade com o que os artistas merecem? e, por último... teremos o que comemorar? 

Torcemos (e já estamos trabalhando) para isso...


Queremos fazer, ainda em 22, quando isso for possível, um "carnaval temporão da esperança", com o tema: "Tá caindo flor"... e nesse "grito de carnaval" queremos que seja num lugar que possamos incluir a população de rua. Lançada a ideia... quem anima de construir este projeto conosco? 

Aguardamos sugestões... abraços carinhosos... 







quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Encerrando a Semana de Arte Moderna

 

Enfim, dia 18 de fevereiro de 2022, 100 anos do
último dia da Semana de Arte Moderna em São
Paulo, um de águas no panorama artístico brasileiro.

Dedicado à música, Villa-Lobos se apresentou com
um pé calçado e outro 
com chinelo, porque estava
com um 
calo no pé. Mas o público achou
desrespeitosa tal atitude e vaiou nosso maior
compositor.


E nós, do SBC - Samba, Bobagem, Cerveja, esse
grupo de amigas e amigos e amiges que se junta
para conversar sobre "bem-viver", usando como
pré-texto a ARTE, encerra nossa série de postagens
sobre o tema relatando nossa comemoração da 
Semana em São Paulo, a convite da ABLAM,
que ocorreu no sábado passado dia 12.02.2022. 


O relato a seguir é 

da nossa SBCense 

Antonieta Shirlene, 

com ilustrações de 

fotos e vídeos que 

recebi de nossxs 

amigxs SBCenses:









 











E chegou o dia de irmos para São Paulo. Saímos de Belo 
Horizonte com a certeza de que teríamos uma missão 
a cumprir: festejar a Semana de Arte Moderna. 
Ao chegarmos a São Paulo nos deparamos novamente 
com a Paulicéia Desvairada de Mário de Andrade. 
São Paulo parece, realmente, desvairada.  Mário de 
Andrade tinha toda razão. A capa do seu livro já nos 
mostra uma São Paulo totalmente diversa. Pelos 
losangos coloridos que representam os milhares de 
paulistas e imigrantes que formam a população daquela 
cidade. Cada um com sua cultura e seus valores. 
Passeando pela cidade, me lembrei do livro de Edgar 
Allan Poe - O homem na Multidão - onde ele retrata o 
indivíduo se tornando invisível numa grande metrópole 
todas as consequências advindas desta triste realidade. 
Em Sampa realmente a gente se sente apenas parte da 
multidão e é muito importante lembrarmos o nosso eu 
pessoal para que não nos deixemos ser sugados pelo 
desvario paulistano. 












Nossa apresentação na Oficina Oswald de Andrade 
foi recheada de significados: estávamos na cidade onde 
aconteceu a Semana de 22, na Oficina Oswald de Andrade,
 no dia12 de fevereiro (início da Semana ) e entre pessoas 
com os mesmos objetivos - o de valorizar os Modernistas e 
não deixar esquecidas suas contribuições à cultura 
brasileira.

Na oportunidade muitos membros da ABLAM - ACADEMIA 
BRASILEIRA DE LETRAS E ARTES MINIMALISTAS ,
promotora do evento que estávamos participando, realizou 
uma importante divulgação de livros dos seus participantes 
e de outros escritores, como foi o livro de  nossa SBCense 
Santuza TU. 

Depois desta exitosa atividade fomos passear por São Paulo.
Tendo como guia nosso amigo Andy, conhecemos os melhores 
lugares que a cidade possa oferecer. Inclusive almoçamos num 
simpaticíssimo restaurante grego com comidas tipicamente 
preparadas e com preço justo. Ficamos ali por um bom tempo 
refletindo sobre o que estávamos vivendo e o que representou 
a Semana de Arte Moderna de 22 para o Brasil para o mundo. 
E como em todo o restaurante grego que se preze, ao 
terminarmos nossos almoços, não  nos esquecemos de 
quebrar os pratos, como faz parte da tradição grega. 

Saímos pela cidade com a sensação de dever cumprido: 
festejamos a Semana de Arte Moderna, relembrando os 
nossos importantes artistas que participaram daquele 
evento reafirmando o espirito contestador 
do mesmo. São Paulo continuará sendo uma Paulicéia 
desvairada com os seus contrastes e sua beleza 
inigualável. 

Muito bem!!! missão cumprida! Obrigada Antonieta... Obrigada Antônia... Obrigada Andy...

Quero acrescentar ao relato da Antonieta algumas lembranças:

1. Duas novas marcas de cerveja ficamos conhecendo em São Paulo: a CACILDS









E a BIRUDÔ... cerveja japonesa!!! Ambas deliciosas...


Além do maravilhoso chopp "com borbulhas de amor" do Jacinto, melhor garçom do mundo, direto do Piauí.

2. A exposição MEDITAÇÔES ZZ, no Centro Cultural Oswald de Andrade, onde ocorreu o evento de comemoração dos 100 anos da Semana e 1 ano da ABLAM:



3. O Livro Cantilenas & Mineirices, do Rogério, Presidente da ABLAM


4. E os dois livrinhos lindinhos do carioca Fábio Carvalho, onde selecionamos dois poeminhas (poetrix...) que tem tudo a ver com o SBC:



5. A teoria psicanalítica antropofágica... elaborada a partir do post do nosso querido SBCense Francisco Savoi sobre o Oswald e o movimento antropofágico, de 5.de fevereiro. Explico: estava elaborando uma reflexão sobre o filme "a filha perdida", que trata das relações mãe-filha/filha-mãe e sobre a construção de nossa identidade feminina, completamente imersa nos meus afetos em relação a estas duas relações (enquanto mãe e enquanto filha), quando recebi vídeo e texto do Chico. Então pensei: pois o Freud não usou de metáfora do Édipo para falar sobre identidade (Édipo, a vida toda, buscou respostas à pergunta "quem sou seu"); assim como o Jung, que também usou da metáfora da banda de Mobius para interpretar a estrutura do aparelho psíquico ? 

Nós usaremos da metáfora antropofágica para explicar/entender a relação mãe/filha e a formação/construção da identidade feminina. Digo formação me referindo ao que está posto culturalmente, e construção seria tudo que podemos/devemos fazer, a partir do que "fizeram conosco", ou seja, de maneira autônoma. Para esta construção é que "descobrimos" a metáfora antropofágica: "eu te engulo e te vomito e me torno eu mesma". Conversaremos mais sobre essa pauta nos nossos próximos posts, quando aprofundaremos sobre o filme "A filha perdida"... fazendo parte do nosso projeto SBC CINECLUBE. Aguardem... 

6. E para encerrar MESMO... conversando sobre o mundo da época e semelhanças com o mundo (e o Brasil) atual, lembramos do filme O OVO DA SERPENTE:

de 1977, do grande diretor Ingmar Bergman. O filme que se passa em 1923 na Alemanha.  Abel Rosenberg é um trapezista judeu desempregado, que descobriu recentemente que seu irmão, Max, se suicidou. Logo ele encontra Manuela, sua cunhada. Juntos, eles sobrevivem com dificuldade à violenta recessão econômica pela qual o país passa. Sem compreender as transformações politicas em andamento, eles aceitam trabalhar em uma clinica clandestina que realiza experiências em seres humanos.

Utilizado como termo para expressar o "prenuncio de mal" ou o "mal em gestação", O ovo da serpente é um dos mais impressionantes filmes do Bergman, que, como ninguém, retratou em linguagem cinematográfica a república de Weimar ou os anos que antecederam o advento da Alemanha nazista.

Bergman, ao exibir situações do cotidiano presentes na história daqueles tempos, demonstrou, com precisão matemática e habilidade artística invejável que, a um observador atento, já era possível vislumbrar nos acontecimentos que se desenvolviam nos anos 20 o nascimento do Nazismo. Nas inesquecíveis palavras do Dr. Vergerus, personagem capital da trama, "é como o ovo da serpente. Através das finas membranas, você pode claramente discernir o réptil já perfeito". 

E comentamos: "É preciso estarmos atentos e fortes... a história não vai se repetir, nem como farsa, tampouco como tragédia!".


E assim nos despedimos, agradecendo a todas as pessoas que participaram desse lindo projeto 100 ANOS DA SEMANA DA ARTE MODERNA NO BRASIL... 

Abraços carinhosos...