terça-feira, 1 de março de 2022

CARNAVAL: pequena memória de um tempo que querem apagar

Em 2012 eu estava voltando de uma viagem no sábado de carnaval. Sempre passava o carnaval no interior de Minas, mas naquele ano resolvi ficar por aqui. BH ainda era, segundo descrição do taxista que nos trouxe do aeroporto em casa, o "reduto dos evangélicos", mas já tínhamos alguns bloquinhos na rua, principalmente no centro e em Santa Tereza. Fomos no bloco do Floriano, que concentrava e saia de uma altura da Av. Brasil. 

SBC já existia, já nos encontrávamos e nos perguntávamos o que gostaríamos de fazer enquanto projetos artístico-culturais. E eu achei super interessante aquele movimento do bloco do Floriano. Eu queria me encontrar com o Floriano para pegar com ele umas dicas de como organizar um bloquinho de carnaval. Procurei o Floriano durante todo o percurso do bloco, quando percebi que Floriano era a praça onde o bloco terminava seu cortejo. Riram muito de mim... 

No dia seguinte, descendo da praça de Santa Tereza para a praça do Cardoso, ocasião que deu ensejo ao post "Níveis de alcoolismo", 05 de março de 2012, foi que chamei o Carlitos, nosso diretor musical, para construirmos o carnaval do SBC no próximo ano. Daí começamos a planejar nosso primeiro Carnaval. 

Em outubro desse ano Carlitos fez o nosso Hino: "É a hora do SBC" (postagem de 13 de outubro de 2012 aqui no blog). E em fevereiro de 2013 fizemos nosso primeiro Carnaval, junto com nosso outro grande diretor Felipe Fil e a participação honrosa da mestra de bateria Solange Caetano.



Desde então nossos estandartes são elaborados artesanalmente, como este primeiro, feito pela nossa grande artista plástica Janaina. E são inspirados no tema do carnaval que lançamos a cada ano. 

Daí participamos da construção de alguns bloquinhos, nos chamávamos de "blocos amigos". Programação para todos os dias do carnaval.

2014 foi o ano do tema: Preconceito não, Liberdade SIM!


em 2015 nós homenageamos o MORCEGO: "Vendo a vida de cabeça pra baixo".


Em 2016 nosso tema foi "Tecnologia: tudo que salva pode também matar"

















E penso que, embora o carnaval de BH tenha vindo crescendo desde 2010, foi por volta desse ano que começou a "explodir", se transformar num carnaval "comercial", a atrair turistas de todo o Brasil e do mundo... artistas que se dedicavam ao carnaval em BH desde este seu "retorno" começaram a ter "ganhos financeiros" com essa explosão. Alguns blocos escolheram esse caminho, outros, como é nosso caso, continuaram como "bloquinhos" de bairro. Fizemos desfiles, sempre as terças feiras de carnaval, no Padre Eustáquio, no Aparecida... e depois nos fixamos no Caiçara, na rua do Bar Cartola, onde o SBC foi construído.

Essa época também coincide com um acirramento da repressão policial aos bloquinhos. O pretexto é sempre a "proteção" da população. E a ação é sempre truculenta, como o episódio do Bloco da Bicicletinha, carnaval 2016 (nosso post de 17 de fevereiro desse ano). Acredito, também, que esse tipo de ação da policia era orquestrada para ensejar o "engajamento" da esfera politica no âmbito do carnaval de BH. Daí os blocos recebiam grana,  de acordo com o porte de cada um,  e cumpriam as exigências devidas, que incluíam até as marcas de bebidas, ambulantes... essas coisas... policia sempre ali, nos blocos de todos os tamanhos, para "proteger" os cidadãos. Assim como a SLU cuidando da limpeza; e a BH TRANS contribuindo decisivamente para a articulação do trânsito, com a quantidade de turistas e bloquinhos lotando nossa BH.

E o contraponto que nos entristece nessa história: o carnaval, em sendo "capitalizado", começou também a perder sua característica de espontaneidade, de festa popular, de inclusão e de participação de todas as camadas da sociedade, classe média e periferia, brancos, negros e todas as cores, raças, idades... tudo isso que faz o "espírito" do carnaval  Porque, pra nós, a espontaneidade é que faz dele a festa política por excelência, revolucionária... um dos slogans do SBC: AMOR, POLÍTICA (E CARNAVAL)... FAZEMOS NA CAMA E NO MUNDO!!!

Chegamos a 2017. Nosso quinto carnaval, o tema foi uma homenagem às mulheres brasileiras:

E FORA TEMER!






Em 2018 FORA TEMER!  de novo. 

Com o Seu Ronaldo Coisa Nossa nos homenageando com uma música tema: SBC chegamos nós soltando a vós... Soltando a vós SBC sejamos nós...








2019... nosso tema foi inclusivo: "Revolução dos bichos... Solte o seu" 

E fora o inominável!!!


E em 2020 fomos ecológicos: "Verde que te quero verde" (salve a Amazônia!)

E Fora o verme... e o fascismo!!!





E, logo depois do oitavo carnaval do SBC... a pandemia... 

Pensávamos que em 2021 já teríamos carnaval... nos preparamos... mas não... muita tristeza... um vazio em todo brasileiro, carnavalesco ou não... um ano de angustias, perdas,  pobreza, ou melhor, indigência, em BH estamos quase "tropeçando" em gente dormindo nas ruas, nas marquises... e por aí vai...

Mas em 22 teríamos, com certeza!!!... e chegou 22... terça feira de carnaval... dia 01 de março... não tivemos carnaval de rua... o carnaval se "elitizou", a aglomeração só "pode"  em ambientes fechados, com ingressos e "proteção"... ônibus lotados, trabalhadores aglomerados... isso pode, porque a economia tem que girar.

E a pergunta que fica: a pandemia ainda não está controlada... mas o que ainda temos de restrições fora o carnaval? a quem interessa o não carnaval? a não expressão dessa alegria transgressora, revolucionária?

Enfim... será que em 23 retornaremos nosso autêntico carnaval... na medida certa da diversão e não da "demanda de mercado" ... será que conseguiremos aprender a conciliar a espontaneidade com o que os artistas merecem? e, por último... teremos o que comemorar? 

Torcemos (e já estamos trabalhando) para isso...


Queremos fazer, ainda em 22, quando isso for possível, um "carnaval temporão da esperança", com o tema: "Tá caindo flor"... e nesse "grito de carnaval" queremos que seja num lugar que possamos incluir a população de rua. Lançada a ideia... quem anima de construir este projeto conosco? 

Aguardamos sugestões... abraços carinhosos... 







8 comentários:

  1. Maravilhosa retrospectiva feia pela nossa querida TU. Percebemos a importância do SBC para a cultura popular e a construção de um mundo com uma perspectiva política e econômica bem mais progressista para o Brasil.
    Foram vários: FORA TEMEWR, FORA IMPERIALISTAS E A FAVOR DA AMAZÕNIA.
    Hoje: FORA GENOCIDA E FASCISTAS E NEO NAZISTAS DE TODO MUNDO.
    Aproveito o post para me posicionar a favor da Rússia no conflito contra a Ucrãnia. Foram várias as tentativas russas em favor de um acordo diplomático conm àquele pais, hoje governado por neo nazistas apoiados pela OTAN, braço militar estadunidense.
    Sou a favor da auto determinação dos povos, desde que esta determinação não represente uma ameaça à outros países e mesmo à humanidade como um todo.
    Continuaremos plantando flores em lugar de construirmos mísseis.
    Nosso próximo carnaval com a presença da população em situação de rua será, novamente, um sucesso.
    Estarei lá.
    NÃO AS GUERRAS. NÃO A OTAN. Que caiam flores aqui e no mundo.

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  2. Isso Antonieta. Vamos organizar este evento... Bora!!!

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  3. Que boa recordação! Bem engajados os e atuais os temas. Não deixemos morrer o carnaval. Estou pensando sério no " Tá Caindo Flor".

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  4. Ótima retrospectiva, Santuza! Você tem toda razão em repudiar essa apropriação criminosa, que o capital faz de todas as manifestações culturais do nosso povo, transformando tudo em mercadoria. Para o Capitalismo, tudo justifica a acumulação: em 2020, quando o mundo já sabia dos perigos da pandemia, as "autoridades" brasileiras mantiveram o Carnaval, mesmo tendo conhecimento de que a aglomeração causaria uma explosão do vírus no país, com a mera justificativa de que a atividade econômica (a deusa do capital) não poderia sofrer os prejuízos da suspensão da folia, quando essa teria sido a única atitude sensata, naquelemomento. No réveillon passado, a prudência dizia que não deveríamos aglomerar, porque a Ômicron estava batendo à nossa porta, tudo foi permitido, por amor aos "valores" religiosos do nosso povo. Vimos no que deu. Agora, o carnaval de rua, a verdadeira festa popular, essa não pode, mas em lugar fechado...

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  5. Aproveitando o gancho da nossa querida Antonieta, não poderia deixar de me manifestar sobre esse absurdo criado pela humanidade: a guerra. Há muitos "especialistas" por aí, falando merda, senão por má-fé, por ignorância histórica, na defesa do princípio da autodeterminação dos povos (de quais povos, cara pálida?!). Esquecem-se esses canalhas, ou ignorantes, que, para o Capitalismo, essa história de autodeterminação é uma balela, que ele usa aqui ou acolá para a satisfação de seus interesses espúreos, na busca desenfreada e insana por acumulação cada vez maior. Não sabem, esses propagadores dos "valores" capitalistas, ou fingem não saber, que a Ucrânia e a Rússia são um mesmo povo, dividido em inúmeras nações. Ontem mesmo, assistindo a um canal da dita mídia progressista, a TV 247, vi um jornalista brasileiro, que vive na França há décadas, chamado Milton Blay, dizer que umas das razões para a Rússia desencadear uma ação militar contra a Ucrânia era a existência, a partir de 2014, de milícias neonazistas que atacavam os cidadãos de origem russa e aqueles que se colocavam contrários aos golpe de então, mas que hoje isso não fazia mais sentido, na medida em que aquelas milícias neonazistas foram incorporadas ao exército regular ucraniano. Fiquei estupefato com essa afirmação! Não acredito que possa ser normal um jornalista da mídia dita progressista afirmar uma coisa tão abjeta como essa, para se colocar em linha com o pensamento dos países hegemônicos, subservientes ao imperialismo estadunidense, para criticar a ação russa. Seria a mesma coisa se aplaudíssemos a incorporação das milícias bolsonaristas ao exercito brasileiro. Desgraçadamente, a âncora do noticiário, mulher que até admiro, não se manifestou a respeito de uma postura absurda como essa! Por isso, a minha posição, nesta história, é contra o imperialismo, pela defesa intransigente da paz, mas, dadas as circunstâncias históricas que nos trouxeram a esse beco sem saída, a favor da Rússia, com todas as críticas justas ao autoritário Putin! Que os trabalhadores russos retomem as rédeas do poder e expulsem Putin e seus capitalistas!

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