domingo, 24 de outubro de 2021

Divulgando nosso encontro Prosa Arte e Samba: tema SOBRE VIVER

 



Card Convite para nosso encontro, gentileza do nosso querido SBCense ZUM Noronha.

                                           
https://youtu.be/u0KEJNSyfkw

Este foi um vídeo que fiz uma semana atrás, aproveitando um trecho de poema do Drummond gentilmente enviado pela SBCense Zezé Birro. 

Ele nos convida para esse evento, junto com outrx poetas e filósofos, inclusive a Rita Von Hunty "em algum lugar dessa tela".

Aproveitem para se inscrever no nosso canal e dar um "joinha"... agradecemos...

Se puderem compartilhar também, aí a gente fica feliz demais da conta...



Este convite, com direito a um fundo musical de batucada, foi elaborado pela nossa querida Antonieta Shirlene. Ficou massa demais!!!

                                          
https://youtu.be/Bg43na9EKD8

E, por último, as duas Antonietas também nos convidando para esse "GRANDE EVENTO": dias das bruxas... SOBRE VIVER... 

Dá um "joinha" nesse também... e compartilha, viu?

Abraços carinhosos e ATÉ LÁ!!! 

Vai de bruxa(o)!!!



sábado, 16 de outubro de 2021

Conversas SBCenses: MAID (faxineira)

 

Martha Medeiros (1961-...) Jornalista e escritora brasileira

Crônica da Martha Medeiros na Zero Hora de 09.10.21 e no O Globo de 10.10.21 sobre a série  MAID, da NETFLIX, agitou grupos de whatsapp esta semana. A crônica era um verdadeiro estímulo a vermos a série, principalmente as mulheres. Ela diz, entre outras coisas:

"MAID é sobre abuso,. Nem físico, nem sexual. O assunto é mais entranhado. A personagem principal, Alex (Margaret Qualley), tem 25 anos e sofre abuso psicológico. Não é assédio moral, tão comum em relações de trabalho, e sim a violência emocional que acontece entre pessoas do círculo intimo. Dentro da família e dentro de casamentos."

"É sobre feridas que não ficam visíveis através de hematomas. Que são abertas na alma e sulcadas lentamente, dia após dia, sem chance de cicatrização, e tão triviais se tornam que a gente acaba se acostumando, achando que é assim mesmo, faz parte da vida."

"MAID é sobre cortar o laço com a dor psíquica. É sobre ter coragem de se afastar em definitivo de quem nos faz mal."

"Não é sobre o que eles fazem, mas sobre como nos sentimos. Se nos sentimos inferiores, acuadas, fragilizadas, presas, impotentes, estamos sofrendo agressão emocional, e nesse aspecto a atuação da Margareth Qualley é perfeita. Só de olhar para ela, reconhecemos o dano. Sua coragem para interromper o ciclo de ir em busca de sua integridade é inspiradora e comovente."

 Lembramos de um bloquinho de carnaval aqui em Belo Horizonte (ai... saudade do carnaval). Os nomes dos blocos são super criativos. Este se chamava "QUEM NUNCA". A série nos mostra uma sobrevivente de violência doméstica e toca profundamente a todas nós, nenhuma mulher deixa de se identificar com uma (ou mais) personagens femininas. Homens também comentaram, alguns se identificando com os personagens masculinos, outros se defendendo com falas do tipo "precisamos pensar para além das lutas identitárias", ou "mais produtivo olhar a floresta do que uma árvore". Porque se defendendo? Na visão de uma das nossas "conversantes", pela dificuldade de sair do seu lugar de "dominador". Verdade que somos todas e todos os "sofredores" de uma cultura patriarcal e machista. E somos, também todas e todos, reprodutores dessa cultura. Porém, a "reprodução" do ponto de vista da pessoa dominada, submetida, é muuuiiiito diferente da pessoa que sofre na posição do "dominador", ou seja, com os "ganhos" dessa posição e, por consequência, a dificuldade de abrir mão dos "ganhos", mesmo que seja "ganho secundário", pois o principal, o ganho da liberdade de SER, não é possível, não é compatível com a manutenção da posição de "poder". Podemos constatar, para além da leitura da série, que a violência de gênero ocorre em TODOS os níveis de relação, do íntimo, doméstico, até o público. 

Outra pessoa lembrou do susto que tomou, há bem pouco tempo, em canal do youtube de jornalistas super progressistas, um deles, ao falar do "despresidente" do nosso país, comentou sobre "o que a mãe dele teria feito com essa pessoa!". Pasmem: A CULPA É DA MÃE!!!

Para compartilhar um pouco nossas conversas e depoimentos, tenho que falar sobre a série, sem dar spoiler para quem não viu ainda, e, para quem já viu, incitar a reflexão e a mudança:


A história da trama foi inspirada na jornada de Stephanie Land, autora do livro de memórias Maid: Hard Work, Low Pay, and a MoMother’s Will to Survive, lançado em 2019,(Faxineira: Trabalho Duro, Salário Baixo, e a Força de uma Mãe para sobreviver). O livro se tornou um sucesso.  “Eu escrevi esse livro na esperança de que ele mude os estigmas em torno de mães solteiras, especialmente as que são pobres, que são tratadas como merecedoras das dificuldades pelas quais passam por causa das terríveis decisões tomadas na vida”, disse Stephanie.

A autora também passou por grandes problemas para garantir o apoio do governo, tendo que preencher vários formulários para provar sua elegibilidade em programas sociais. No livro, Stephanie fala sobre como a burocracia prejudica as pessoas mais pobres, e muitas vezes impede que elas consigam um futuro melhor. 

Comentários, na nossa conversa: embora possamos ver a precariedade das políticas públicas nesse sentido lá nos EUA, comparando com as mesmas, aqui no nosso país, o atendimento à mulher vítima de violência parece que é bem mais precário aqui. Embora nossa Lei Maria da Penha seja uma das mais avançadas no sentido da proteção à mulher vítima de violência, na prática, estamos perdendo direitos. Exemplo citado foi o  projeto da Casa da Mulher que faz parte do Programa Mulher: viver sem Violência, criado no governo Dilma, está praticamente paralisado.  Na prática, o que estamos vivendo no Brasil, lembrou uma pessoa da nossa conversa, é o caso recente da mulher em situação de rua em São Paulo, que já tinha perdido a guarda de cinco filhos,  e ficou presa por dezoito dias por roubar miojo, coca e suco (R$21,69) em supermercado da zona sul. "Só pensei em comer", disse ela ao ser solta. Choramos... e nos indignamos...

Após o lançamento do livro Stephanie Land vendeu os direitos de adaptação da história para a Netflix..

A série modifica algumas coisas do livro que merecem atenção:  a vida familiar de Stephanie, os relacionamentos amorosos da protagonista (na série Stephanie é Alex) e a relação das personagens com suas clientes.

No livro original, a vida familiar de Stephanie ocupa poucas páginas. Seus pais, exceto breves aparições, não fazem parte do livro. Já na série, a mãe de Alex  (interpretada por Andie McDowell, que também é mãe de Margaret Qualley na vida real) ganha uma importância fundamental. As duas personagens compartilham alguns dos momentos mais tensos da história. 

Para algumas "conversantes", especialmente as do século passado (a maioria) a mãe da Alex, Paula, é a mais marcante personagem feminina da série. Com todas as contradições, todo o "esticamento" (conflito) histérico, entre construir sua identidade, "quem eu quero ser" e a prisão no romantismo que nos "ensina" a imprescindibilidade de um homem para "dar sentido" às nossas vidas. A histeria, segundo psicóloga presente na nossa conversa, se define como "eu fora", alienação, distanciamento do "eu mesma". E, vemos na série, como essa mulher, a Paula, faz esse movimento de alienação, às vezes para de "manter viva emocionalmente" e, às vezes, como mecanismo de defesa e para se manter no mesmo lugar emocionalmente, com os mesmos valores orientadores do pensar, sentir e agir. Pois "mudar exige esforço". Porém, contraditoriamente, quando a gente percebe, é o mesmo esforço que também fazemos para nos manter na mesma posição. Aí Freud entrou na nossa conversa:

O papel do ex de Alex e pai de Maddy (Maddy, uma criança de 3 anos, linda interpretação) também ganha mais importância na série. No livro, o personagem aparece esporadicamente para ficar com a filha no fim de semana, mas não tem uma grande importância na história. Já na série, Sean é um personagem importante. Alguns capítulos abordam sua luta contra o alcoolismo e os traumas de seu passado. 

Uma "conversante" comentou: Quando ouvimos justificativas que que foi o álcool que o tornou agressivo eu me pergunto por que ele não descarregou sua agressividade no cachorro, no papagaio, no policial que o mandou pra casa? Por que justamente na mulher... e, também, e quase sempre, nos filhxs... Não seria porque vivemos numa sociedade que naturaliza, legitima, permite e "passa a mão na cabeça dele", ou seja, justifica a agressão à parte mais fragilizada, no caso?

A principal mudança do livro para a série é a introdução da personagem Regina, interpretada por Anika Noni Rose, atriz e cantora estadunidense. No livro, Stephanie trabalha em diversos locais como faxineira, e não gasta muito tempo com nenhum dos clientes. Na série, a trama aborda com profundidade a relação de Alex com a patroa Regina, que começa como uma simples transação comercial e termina como uma amizade.

                                            Anica Noni Rose (1972-...)

E uma conversante comentou: um dos capítulos mostra como são impessoais essas relações empregatícias lá nos EUA. A empregadora nem sabe o nome da faxineira, nem olha pra cara dela. Mas quando acontece alguma oportunidade ou algum motivo, elas desenvolvem a relação de sororidade, com simetria na relação. Ao contrário do nosso país, ainda com o "ranço" escravista, essas relações são encobertas por uma proximidade afetiva "falsa", quase sempre para esconder a exploração. Ainda temos exemplo, no interior, de famílias que "pegam pra criar" uma menina (pobre e preta)... muito triste.

E continuamos nos comentários sobre xs personagens (e sobre nós mesmxs):

  • A série nos dá um grande exemplo de sororidade, tudo que precisamos, inclusive de homens. Deveria haver uma palavra neutra que contemplasse todos os gêneros, nem masculina (fraternidade, a mais conhecida) nem sororidade (o feminino de fraternidade, usado há bem pouco tempo). Empatia já é uma palavra banalizada.
  • E é, também, um exemplo  de resiliência : nossa capacidade (aprendida) de enfrentar as adversidades, manter uma habilidade adaptativa, ser transformadx por elas, recuperar-se ou conseguir superá-las. Significa aprender a transformar a dor em aprendizagem, em crescimento e amadurecimento, nos construindo enquanto pessoas melhores.
  • E sobre  respiração? viram como ela "aprendeu" a respirar? eu também aprendi já adulta a fazer a respiração mais profunda, a diafragmática, que nos acalma... nós "aprendemos" a respirar "travando" a barriga, essa é a respiração superficial, só até o peito. Quando abrimos a "barriga" e deixamos o ar "entrar mais" conseguimos "conversar conosco", tomar contato com as nossas emoções e refletir sobre elas... e olha que eu consegui isso em aulas de canto!
  • Por falar em canto, viram como as músicas são lindas! e como a Alex recorre a elas nos momentos mais libertadores? Exemplo de como a arte permeia nossas vidas. Assim também como quando precisamos desenvolver a crítica necessária para a libertação, ou seja, combater os conceitos que vão nos enfiando "goela abaixo", muitas vezes também através da arte e, particularmente, da música.

Outros depoimentos e comentários importantes:

- No capitulo 8, onde a Alex se encontra com a advogada... me fez lembrar de briga com meu ex por questões econômicas (violência patrimonial) que não dei conta de encarar, de lutar por justiça. Me lembro de um advogado me dizendo "vamos alegar insanidade mental dele"... e assim por diante, o que me deixou horrorizada... e abandonei a possibilidade de lutar por uma separação mais justa. No entanto, penso que passei pra minha filha  a potência para encarar e vencer situações como essas. E ela, a Alex da série,  diz: "quero dizer a ele que não tenho mais medo dele, que ele não vai mais me controlar." Voltando ao Bloquinho de carnaval: QUEM NUNCA?

- Trecho de fala da Alex que uma "conversante" anotou: "Escrevo para ser sincera comigo mesma... é como se eu escrevesse para saber o que vou escrever. Ninguém pode tirar a nossa escrita. Ninguém pode dizer que não temos valor, ou que as nossas palavras não tem valor."

- E ela ( Alex)estimulou as colegas de terapia a escreverem sobre "seu dia mais feliz" ... e essa escrita era sempre reveladora, tanto para quem escrevia como para as outras mulheres. E ela perguntava, depois da leitura, às outras mulheres, quais as imagens que mais se destacaram para cada uma delas... no SBC fazemos exercício semelhante: qual a música da sua vida, qual o filme da sua vida... para refletirmos sobre o significado nas nossas vidas daquele filme, daquela música. Esse exercício foi enormemente revelador para mim, disse uma SBCense convicta. E me trouxe grande auto conhecimento e crescimento pessoal.

- A série também nos fala sobre a autonomia econômica como uma forma de se libertar das "micro violências". É o primeiro passo para colocar a vida nas próprias mãos. Autonomia é muito mais do que o bolso, é a de pensar, sentir e agir... mas passa pelo bolso. 

- Depoimento de SBCense sobre isso: Gente! com a série eu me lembrei de uma "relatório de terapia em grupo" que escrevi lá pelos anos 80 do século passado! Fui procurar o mesmo e trago aqui para lê-lo com vocês. É um relatório sobre a construção da identidade de uma mulher, não a identidade reflexa, aquilo que, na alienação, cumprimos com o que fomos criadas para... mas a difícil construção de uma identidade autônoma, para além do que "fomos criadas para" e que dá sentido às nossas vidas:

(transcrição do "pergaminho" - uma brincadeira, papel já amarelado, dos anos 80):

"Senti uma espécie de vazio, de angustia... todas dando seus depoimentos e eu não tinha nada a dizer.

Comecei a pensar a respeito da minha vida e me veio semelhança de sentimentos com a leitura do Ho Chi Minh: ausência de valores, algo assim como uma esterilidade de vida... perseverança, tenacidade, mas em que? quais objetivos? o que eu quero da vida? passividade, expectativa diante da vida (do meu pai); lutar, lutar, luta estéril, sem saber pra que, obsessiva, ou fingir que está lutando, sem atacar o que se precisa (da minha mãe). Sinto assim como se uma ausência de referência na minha vida, ou numa época dela... que pode ter repercutido, em muitos aspectos, nessa angustia. 

Uma situação que me vem a memoria de falta de referência foi o acontecimento na minha vida, na pré adolescência, de mudança do interior para a capital. Lá eu era diferente para mais, "esse povo dessa cidade é pequeno pra nós", dizia minha mãe... mas sempre diferente, não podia me juntar à gentinha do interior. Mas, na verdade, me sentia, inúmeras vezes, MENOS! principalmente, menos livre...

E quando comecei a querer, e agir, no sentido de conquistar meu espaço, minha liberdade de SER, mudamos para a capital... e foi um corte pra mim... Então, aqui eu era MESMO super diferente! Estava num lugar que não era o meu... e não sabia qual era o meu... de menina "capiau", da roça fui para uma escola de meninas de classe alta. Era pobre (sem ser),  e vivia no meio de gente rica, adotando seus valores e seu modo de vida na aparência (sem também ser). Essa época coincide com a época do regime militar, com a repressão, quando a alienação era uma defesa, uma forma de vida.

E eu não conseguia  "apropriar da minha pobreza" para me construir (meus valores, meus desejos, o que eu queria para a vida)... e nem era como as pessoas com quem eu convivia, me apropriando de valores dessas pessoas e ficando no "parecer", e, cada vez mais, reafirmando minha condição de alienada. Se naquela época tivéssemos acesso ao conhecimento sobre "consciência de classe" talvez minha vida tivesse sido diferente.

Por esforço pessoal mudei minha vida naquela época. Mudei dessa "escola de meninas ricas" para uma escola pública, para fazer o que corresponde agora ao ensino médio. Tinha 15 para 16 anos. Me senti mais "eu mesma", gostava de John Lennon, Bertrand Russel... porém, essa experiência não foi o suficiente para me tirar da alienação. Continuava, ainda "sendo" coisas externas a mim, adotando valores e estilos de vida de outras pessoas.

Em termos de origem, teria eu algum valor a adotar? Essa ausência de valores não estaria, exatamente, na negação da origem, da minha história? E o sentimento de impessoalidade nas tentativas vãs de adotar valores de fachada?

À alienação (política, social, econômica) se soma a alienação da condição feminina e essa também toma um peso muito grande. Para que a mulher é educada? para que a mulher vive?

Me vem à lembrança o pensamento mágico mítico de que se adotando ou possuindo a "coisa" se adquire as características dela, tal como o primitivo vestia a pele do leão achando que teria as "qualidades" do leão. Na minha vida me vejo muito na situação do primitivo.

Uma primeira (ou segunda) tentativa para sair desse circulo vicioso foi quando passei no vestibular. Meu pai me disse que eu não era "gente" de estudar em universidade particular. Então comecei a trabalhar, a principio para bancar minha faculdade. Mas o trabalho me proporcionou uma noção da minha realidade e do meu "tamanho". No entanto, estava impregnada do pensamento mágico mítico. É a mesma coisa do ideal romântico, da nossa identidade ser "definida" a partir de um homem, de uma relação afetiva. 

Me casei pela primeira vez com uma pessoa pobre e intelectual, "ele é pobre mas é trabalhador", afirmava meu pai. Vivi um mundo atraente naquela época: festas, bebidas, pessoas interessantes, mas não meus amigos. Não existia a dependência econômica, mas a de valores e ideais... e eu estava querendo ser algo "por trás" dele, como era a frase típica naquela época "por trás de um grande homem existe uma grande mulher".  Percebem a falta de identidade autônoma, construída? somente a identidade reflexa, aquilo que somos "educadas para". Percebem também a luta pela construção da identidade autônoma? Porque identidade é, no meu entendimento, a construção, para a vida toda, da resposta a pergunta "quem sou eu".

Esse casamento foi facilmente desfeito. Foi realmente no segundo casamento que se consolida a minha "condição" de mulher. Casei com um cara de classe média alta, e a minha "função social" era a de "ajudá-lo a construir uma vida!". Mas, novamente, uma vida que não era a minha. Então regredi... Aos poucos, fui desempenhando plenamente o papel de esposa e mãe. Fui tirando o trabalho da minha vida e, com isso, a possibilidade de tomar consciência. Melhor ainda, para me tirar toda possibilidade de consciência, fui "fingindo" que trabalhava. Mais tarde, em terapia de grupo, ríamos e brincávamos sobre essa situação de trabalho: "a profissional para o cigarro", "eu pago a gasolina do meu carro" (quem comprou o caro?).

Enfim, descobri que é através do trabalho que posso encontrar a condição humana, que posso construir minha vida, minha identidade, quem sou eu, quem quero ser, meus valores e minhas relações. E também através do trabalho e da minha ação no mundo é que vou tomando consciência de mim mesma e do que eu quero ser num sentido mais amplo, meus objetivos e ideais em relação ao mundo em que vivo. "

Nos emocionamos com este depoimento. É forte e transparente seu relato sobre um processo de tomada de consciência da identidade de gênero, assim como de identidade de classe. Conversamos mais sobre esse processo, sobre o que ela disse de identidade reflexa, aquilo que internalizamos, nossos papéis, e a construção da identidade autônoma, a construção do que "queremos ser". Ou seja, todxs nós, enquanto "reprodutores" e "transformadores" de nós mesmxs e do mundo.

"Eu, que sou mais nova, vejo que o depoimento acima é atual. Vejo mulheres que não se encontram mais na dependência econômica que ocasiona toda série de dependências e alienações, no entanto se mostram, ainda, impregnadas de valores e ideais românticos que nos levam ao conceito impregnado de amor que vivenciamos: "pertencer" ao outro e o outro me "pertencer", satisfazer às necessidades do outro e vice versa... casal 20. É preciso ter muita consciência, "se pertencer" muito, para reconhecer o outro nos limites do humano, e saber o que eu quero com ele e onde e como vai (ou pode) ser construído o "nós". Fora isso, fatalmente, caímos nas consequências de se "pertencer ao outro e o outro me pertencer"... e que veem a ser os esquemas de dominação recíproca... que aprendemos a chamar de AMOR.", o "somos um"... Super atual a música "triste, louca ou má", da banda Francisco, el hombre:


"Que um homem não te define
Sua casa não te define
Sua carne não te define
Você é seu próprio lar"... um trecho da música. Que foi escrita inspirada em "estigma" que se dava a mulheres na década de 90, quando elas não queriam se submeter aos padrões (esposa e mãe): é uma "mulher triste, louca ou má", segundo pesquisa de SBCense presente à conversa. Não seria isso uma violência sutil do tamanho da patada do elefante? (ou da manada... e prestem atenção ao final: "Ela desatinou, desatou nós, vai viver só..."

E outra "conversante", nesse ótimo papo intergeracional, relatou uma cena de "começo" de tomada de consciência de microviolência, que a fez começar a criar coragem para elaborar uma separação, que ocorreu uns 5 anos depois:

"Era domingo, eu estava ainda na cama, quando ouvi uma fala do meu "agora ex" com meu filho, então com 6 anos. Eles estavam na cozinha, e o pai, indo preparar o café da manhã, não encontrando queijo na geladeira, disse: Ela não presta pra nada. Eu o chamei e perguntei: você ouviu o que disse? e ele negou... e nega até hoje!!! mas a "ferida" foi aberta... e, naquela hora, eu "decidi" ir me "preparando" para a separação. Como diz nossa grande mineiro, Guimarães Rosa: "A vida quer da gente CORAGEM".

                                                João Guimarães Rosa (1908-1967)

E hoje ela se orgulha de ter superado, e foi ela que contribuiu para a criação de um dos slogans do SBC: "tem gente que não presta pra nada... são as melhores pessoas" (porque, segundo filosofia SBCense, prestar para alguma coisa pode ser estar submetidx aos padrões que nos escravizam. O riso é revolucionário, libertador.

Lembramos (e apresentamos às mais novas e aos mais novos) a música do Ivan Lins e Vitor Martins que era uma espécie de "hino" nos anos 80, das mulheres libertárias, as que lutavam contra, não só a violência nas relações intimas e familiares, a violência doméstica, mas contra as violências "sutis" do tamanho de uma patada de elefante (ou seria do tamanho de uma manada?), segundo grande SBCense, que se manifestam em todos os níveis de relação, do íntimo ao público, passando pelas relações de trabalho, pela política e pelas relações mais amplas, de cidadania. Grande interpretação de Simone.

"Começar de novo E contar comigo Vai valer a pena Ter amanhecido
Ter me rebelado Ter me debatido Ter me machucado Ter sobrevivido
Ter virado a mesa Ter me conhecido
Ter virado o barco Ter me socorrido
Começar de novo E contar comigo Vai valer a pena Ter amanhecido
Sem as tuas garras Sempre tão seguras Sem o teu fantasma Sem tua moldura
Sem tuas escoras Sem o teu domínio Sem tuas esporas Sem o teu fascínio
Começar de novo E contar comigo Vai valer a pena Ter amanhecido
Sem as tuas garras Sempre tão seguras Sem o teu fantasma Sem tua moldura
Sem tuas escoras Sem o teu domínio Sem tuas esporas Sem o teu fascínio
Começar de novo E contar comigo Vai valer a pena Já ter te esquecido."

                                                     A dança - Henri Matisse

E terminamos com a sororidade que precisamos... nos abraçando e nos acolhendo.

Até a próxima. 

Abraços carinhosos.

SantuzaTU


quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Na Varanda: sobre alienação, ideologia... e política...

 




Na verdade somente íamos até a varanda tomar um ar, uma cerva. Vejam, a varanda está ali atrás mas, para sermos fiéis à concepção do projeto, ficou NA VARANDA, uma "licença poética".

Começamos retomando o tema DEMOCRACIA, com comentários que sempre acrescentam, sobre nosso post, de pessoas que não estavam presentes ao encontro e leram o mesmo:

. TU, naquele parágrafo que vc fala sobre o filme "Democracia em Vertigem"...


Este mesmo... Entendo porque você nem citou o nome do mesmo, mas faltou caracterizar mais este "governo de extrema-direita" , que é o que estamos vivendo desde o "GOLPE" que tirou a Dilma: a "extrema-direita", que é constituída pelo grande capital, ou seja, os banqueiros, as grande fortunas (aqui estão os "pastores"), o agronegócio (principalmente o segmento soja), e o imperialismo americano ... estes desenham um "projeto de governo" a favor do CAPITAL (os ricos cada vez mais ricos), e contra o TRABALHO (este pessoal, que somos nós, trabalhadores e "empreendedores", cada vez mais pobres, mais exploradxs, retirados direitos já conquistados)... e isso tudo às custas da ALIENAÇÃO dos mais explorados,  necessária à implementação desse sistema chamado CAPITALISMO. E o que, na economia, se chama agora NEOLIBERALISMO, que, simplificando, trata-se da defesa da absoluta liberdade do mercado, ou seja,  uma intervenção mínima do Estado sobre a economia. 

Daí começamos nossa conversa: Na prática, estamos sentindo "na carne" os efeitos deste sistema, por exemplo, com a privatização da saúde, o interesse do lucro é maior do que a defesa da vida. Então, as mortes devem ser "escondidas" para a "vida" da economia, que vem a ser a maior riqueza daquelas pessoas já riquíssimas. 

E aí sentimos necessidade de entendermos mais o significado de ALIENAÇÃO, e de IDEOLOGIA.

QUANDO NÃO NOS RECONHECEMOS COMO "PRODUTORES" DAS COISAS, DAS OBRAS, DO MUNDO E COMO SUJEITOS DA HISTÓRIA, E TOMAMOS AS OBRAS E A HISTÓRIA COMO "FORA" DE NÓS, COMO FORÇAS ESTRANHAS, EXTERIORES, ALHEIAS A NÓS MESMXS, E QUE NOS DONIMAM E PERSEGUEM, TEMOS O QUE HEGEL DIZIA COMO ALIENAÇÃO. "É a impossibilidade do sujeito histórico identificar-se com sua obra, tomando-o como um poder separado dele, ameaçador e estranho".

                                                Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831)

Hegel também dizia que o Estado sintetiza, numa realidade coletiva, a totalidade dos interesses individuais, familiares, sociais, privados e públicos, Somente nele o cidadão se torna verdadeiramente real e somente nele se define a existência social e moral dos homens. O Estado é uma comunidade. Mas sua diferença de outras comunidades (família, por exemplo; um sindicato; uma empresa), é que ´Estado não possui (ou não deveria possuir) nenhum interesse particular, mas apenas os interesses comuns e gerais de todos. Mas quando o Estado se coloca (ou é eleito) a serviço do capital, da elite, dos ricos, acontece o que estamos vivendo agora, o genocídio... que, melhor dizendo, vem a ser a NECROPOLÍTICA : a "decisão" e a "prática" (através das politicas implementadas) sobre "quem" deve morrer e "quem" deve viver. 

E, para que aconteça esse cenário, é necessária a ALIENAÇÃO do sujeito, o alheamento, distanciamento de si próprio, da sua realidade, dos seus direitos... e por aí vai...

E, por causa desse "distanciamento de si próprio" que "permitimos" (ou nos submetemos) a IDEOLOGIAS completamente diferentes dos nossos interesses, completamente distantes até do próprio sentido da vida.

Ai chegamos à compreensão de IDEOLOGIA: dentre as várias definições existentes, chegamos a esta:  conjunto de ideias, valores, princípios, conceitos, que orientam nossa maneira de pensar, sentir e agir.

                                            Marilena de Souza Chauí (1941-...)

E, muitas vezes, a simplicidade nos oferece as informações que precisamos para compreender o mundo, refletir e aprofundar (e nos tornar sujeitos, atuantes). Livros de adolescência de SBCense famosa foram apresentados na nossa varanda... da Coleção Primeiros Passos, um deles, já velhinho e remendado, O QUE É IDEOLOGIA, cuja autora é essa grande filósofa brasileira, Marilena Chauí. Lemos alguns trechos desse livro, na edição de 1984, atualíssima:

"O que torna a ideologia possível, isto é, a suposição de que as ideias existem em si e por si mesmas desde toda a eternidade, é a separação entre trabalho material e trabalho intelectual, ou seja, a separação entre trabalhadores e pensadores".

"O que torna objetivamente possível a ideologia é o fenômeno da alienação, isto é, o fato de que, no plano da experiência vivida e imediata, as condições reais da experiência vivida e imediata, as condições reais de existência social dos homens não lhes apareçam como produzidas por eles, mas, ao contrário, eles se percebem produzidos por tais condições e atribuem a origem da vida social a forças ignoradas, alheias às suas, superiores e independentes (deuses, natureza, razão, estado, destino, etc), de sorte que as ideias quotidianas dos homens representam a realidade de modo invertido e são conservadas nessa inversão, vindo a constituir os pilares para a construção da ideologia. Portanto, enquanto não houver um conhecimento da história real, enquanto a teoria não mostrar o significado da prática imediata dos homens, enquanto a experiência comum de vida for mantida sem crítica e sem pensamento, a ideologia se manterá".

"O que torna possível a ideologia é a luta de classes, a dominação de uma classe sobre as outras. ... a dominação real é justamente aquilo que a ideologia tem por finalidade ocultar".

Então: a Marilena está dizendo do conceito de ideologia que é resultado da luta de classes, e que tem por função esconder a existência dessa luta. Portanto, o poder (ou a eficácia) da ideologia aumentam quanto maior for sua capacidade para ocultar a origem da divisão social em classes e a luta de classes. A classe que explora economicamente só poderá manter seus privilégios se dominar politicamente. E os instrumentos para essa dominação são o ESTADO e a IDEOLOGIA. E o papel do DIREITO (as leis) é o de fazer com que a dominação não seja tida como uma violência, mas como legal, e por ser legal e não violenta deve ser aceita. Ai, a função da IDEOLOGIA consiste em impedir a consciência (e a indignação, a revolta), fazendo o LEGAL aparecer para nós como legítimo, como justo, como bom E VÁLIDO PARA TODOS.

Ai ficou transparente, para nós, que A IDEOLOGIA É A TRANSFORMAÇÃO NAS IDEIAS DA CLASSE DOMINANTE EM IDEIAS DOMINANTES PARA A SOCIEDADE COMO UM TODO... que acontece um processo pelo qual as ideias da classe dominante se tornam ideias de todas as classes sociais, se tornam ideias dominantes. 

Ela, a Marilena Chauí, está falando da ideologia burguesa, aquela classe social (de comerciantes, que faziam os "burgos", pequenas cidades comerciais, desde antes do século XII, idade média...  depois, Revolução Francesa, século XVIII, burguesia e camponeses lutando contra o poder absoluto - a monarquia... depois, Revolução Industrial... CAPITALISMO... AÍ: BURGUESIA (classe detentora do capital) e PROLETARIADO (classe trabalhadora). 

A CLASSE DOMINANTE é a que fica cada vez mais rica, é a que "protege" seu dinheiro nos Paraísos Fiscais; "compra" os políticos (os que se vendem, tem muitos... mas tem também os que tem noção do "bem estar social" e de politicas públicas que contribuem para esse bem estar); ou são, eles próprios, que estão lá, nas esferas políticas, "defendendo" os seus direitos. Essa é a nossa burguesia. 

E a CLASSE TRABALHADORA, somos nós!!! Nós, que vendemos nossa hora de trabalho, o trabalhador assalariado, o de carteira assinada, cada vez perdendo mais seus direitos; nós, os funcionários públicos, que fizemos concurso e prestamos serviço de qualidade (professores, médicos, entre outros e outras), não o "nomeado" e que "mama" e repassa grande parte do seu salário para o "político" que o nomeou; nós, os "empreendedores" , o trabalhador autônomo, que rala no UBER, na bicicleta entregando coisas,  isso não porque tenha sido uma escolha e sim pela falta do trabalho com carteira assinada; as pessoas que tem um pequeno comércio, uma pequena fábrica de sorvete; os artistas! todas essas pessoas cada vez mais exploradas!!! cada vez mais consumida pelo trabalho sem nenhum sentido, apenas o de ganhar dinheiro... para consumir, também, coisas sem sentido para a vida.

E a quantidade de gente que só trabalha para comer? para se manter vivo? O mundo não produz riqueza necessária e suficiente para ninguém, absolutamente ninguém, passar fome? Para todas as pessoas comerem, pelo menos, 3 refeições por dia? 


E são essas mesmas pessoas que, na ALIENAÇÃO, na falta do "Conhecimento Libertador", na falta de crítica, se deixam ser "consumidas" pela ideologia do dominador, ou seja, por uma maneira, de pensar, sentir a agir que não tem absolutamente NADA a ver com VIDA, com BEM ESTAR, com SER SUJEITO, com SE PENSAR NO MUNDO,  ter um trabalho gratificante, que dê sentido à sua vida, construir relações intimas, de amizade, de trabalho, de cidadania, fora da "caixa pronta" que nos "enfiam goela abaixo" como se fosse o modelo para sermos felizes. Portanto, contra a alienação, a formação da CONSCIÊNCIA CRÍTICA !

E,  nessa hora da nossa conversa, uma SBCense, muito emocionada, fez um depoimento: hoje a tarde eu estava com meu neto de 10 anos, ele não teria aula, então fomos ver um filme. E encontramos este:



E o filme suscitou uma hora de conversa: primeiro a visão dele do mundo em que vivemos, a partir do filme: - Vó, que doido! Quando a menina foi procurar o príncipe, ele tinha crescido e tinha um trabalho "de merda", e todas as pessoas daquele planeta onde ele vivia eram cinzas e tristes e não conversavam! E o príncipe tinha esquecido do aviador! Mas a menina conseguiu fazer ele lembrar! e conseguiram derrotar aquele mundo insonso! foi muito legal!!! - Pois é querido! e quanto você acha que aquele mundo parece com o nosso? - Parece muito, vó! uns 8... - E você acha que pessoas da sua idade, da idade da menina, vão ser capazes de transformar nosso mundo para mais bonito, onde as pessoas possam sonhar e construir, como o aviador, um mundo onde exista um trabalho (e uma vida) mais bacana pra vocês? - Acho que sim, vó! eu me vejo construindo um mundo onde a gente trabalha com o que gosta e onde a gente é mais alegre! onde o dinheiro seja pra isso, né? não para gastar a toa... - Tomara, meu bem! Vó, agora, está cumprindo, de alguma forma, a sua missão, quando ela consegue conversar isso com você. E fico muito feliz quando conversamos e o seu olho brilha... Acho que não vai ser para a minha existência, mas quando vejo seu olho brilhando eu fico muito feliz de fazer parte da construção desse mundo mais bonito, viu! E eles se abraçaram... 

E todxs nós emocionamos com o depoimento desta SBCense... E concluímos: ISSO É POLITICA!!!


Terminamos lembrado a música IDEOLOGIA, Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza, dele e do Frejat, no álbum do mesmo nome de 1987, super atual.


Abraços carinhosos

SantuzaTU



Até nosso próximo encontro... talvez na calçada...



quarta-feira, 29 de setembro de 2021

ARTE, PROSA E SAMBA: A AMIZADE (resenha)

Um encontro cheio de boas energias, de muitas trocas, muito crescimento mútuo, como é o SBC e como são (ou deveriam ser) as AMIZADES.

Começamos com as citações das grandes amizades: Cora Coralina e Drummond, Diadorim e Riobaldo, entre outras. E falamos sobre os conceitos de AMIGO, ADVERSÁRIO, INIMIGO: quem deseja a minha submissão a elx e|ou suas ideias não é meu amigo, pois amigo é aquele que me permite (e eu também permito) o não, a divergência. Portanto, adversário pode ser um grande amigo. E o maniqueísmo de pensar que quem não concorda comigo é meu inimigo e muito perigoso... e mais: meu inimigo e deve ser "eliminado". NÃO!!! Nosso grande Guimarães Rosa dizia: "sou quando divirjo", lição de vida e de relações de crescimento. Dizer isto no princípio do nosso encontro e ver "olhos brilhando", na expectativa de uma conversa pra lá de boa, já me animou demais...

Daí fomos para a apresentação do SBC, este grupo de amigos que se transformou num "conceito" de "bem viver". Conseguimos um pequeno vídeo gravado pela Cléo falando sobre isso:


Daí apresentamos o nosso grande amigo SBCense, que já estava arrasando no violão e voz, Romário Araújo, e sua música sobre Itabira, lindíssima:


Falamos sobre a amizade com Fernando Pessoa, grande poeta e filósofo Lisboense:

                                                Fernando Pessoa (1888-1935)

"Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril" (aqui só uma palinha do mesmo, mas no encontro falamos dois poemas).

E outro que não podia faltar:

                                            Vinicius de Moraes (1913-1980)

Nosso grande poetinha camarada: "A gente não faz amigos. Reconhece-os".

E a nossa poetinha camarada Antonieta Shirlene, grande SBCence em viagem, mas mandou dois poemas, um deles é este:

FLORISBELA E ANABELA

Não existe coisa mais bela

Do que o outono

Do que a primavera

Do que a amizade

Amarrada com fita amarela

Tal a amizade de Florisbela e Anabela

Que detardinha na janela comem pipoca

Vão juntando seus pedacinhos

Qual beija flor, de flor em flor

Contam seus sonhos e desafios

Contam também sobre o amor.

E foi ela, também, que teve a grande ideia do varal de frases, que ficou lindo! E as pessoas animaram de  ir puxando do varal cada frase e leram no microfone frases super marcando sobre A AMIZADE , inclusive essa da música Canção da América, do Milton Nascimento e Fernando Brant:

AMIGO É COISA PRÁ SE GUARDAR 

DEBAIXO DE SETE CHAVES

DENTRO DO CORAÇÃO. 

Foi com uma parte dessa música, também, que terminamos nosso encontro:

QUALQUER DIA, AMIGO, A GENTE VAI SE ENCONTRAR...

Mas não sem, antes, falarmos sobre livros e filmes que nos ensinam sobre a amizade, tudo sempre permeado com as lindas interpretações de músicas sobre o tema. 

Inclusive cantamos umas músicas sobre amizades nos anos 80 do século passado, quando alguns brasileiros e brasileiras estavam exilados por causa da repressão do regime militar que vivíamos, nessa época. Durante o governo do último presidente militar, General Figueiredo, tivemos a "abertura", e algumas pessoas que estavam fora do Brasil, por terem se exilado ou por terem sido expulsas do país,  voltaram... e tínhamos músicas lindas falando sobre isso. Uma delas: O Bêbado e o Equilibrista, de João Bosco e do saudoso Aldir Blanc. E falamos um pouco sobre essa época histórica, e como a histórica é importante para entendermos o mundo e nossa atualidade. 

E conseguimos gravar uma parte no celular do grande SBCense Paulinho... a seguir, uma "palinha" pra quem não foi animar de ir no próximo, último domingo de outubro, que vai ser sobre o tema SOBRE VIVER. 


Aproveite e se inscreva no canal e dê um LIKE viu?

O SBC também agradece todas as pessoas que participaram deste encontro, Cléo, Zezé, Gilvana, Vanessa, Salime, e as novas pessoas amigas que ainda vamos decorar  os nomes. E o nosso querido Zum, que fez o convite virtual, bacanérrimo! 

Ahhhh: ao final do encontro tivemos sorteio de livros, todo mundo adorou (principalmente os que ganharam... rsrs)... mas a coisa que mais me alegra de montão é terminar um encontro desses e olhar pras pessoas e perceber os olhos brilhando... ai, como isso é bom... os meus também brilham e eu agradeço à vida que me tem dado tanto... mas esse é o tema do nosso próximo encontro...

Até lá... 


GENTE!!! e o nosso próximo encontro será no dia das BRUXAS!!!
Então, combinamos de ir fantasiadxs... e fazer ligações entre os temas: SOBRE VIVER e BRUXAS, porque, afinal, nós, mulheres, somos sobreviventes de um sistema que queria matar todas nós, as DIVERGENTES. Preparem suas fantasias!!! Nos montemos!!! todxs nós!!!





   




domingo, 19 de setembro de 2021

Conversas SBCenses: sobre LOUCURA (e AMIZADE)




Paulo Barreto (
João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto; pseudônimo literário: João do Rio), jornalista, cronista, contista e teatrólogo (1881-1921).



Diálogo entre Angel e Rochelle... eu de "butuca":



Angel: Rochelle, li alguns contos do João do Rio e me interessei pela sua biografia. Aí  fui pesquisar e descobri que o seu pai, numa época de recessão, no Brasil e no mundo, há cerca de 100 anos, perdeu o emprego e então foi trabalhar num hospício, no almoxarifado. Depois de algum tempo ele ficou louco. Isso me deixou encucada. Você que entende mais do humano do que eu, me responda: trabalhar em hospício faz a pessoa ficar louca?

Rochelle: Minina... nunca vi isso não... mas tô pensando numa coisa: será que a pergunta não seria "em quanto tempo a pessoa fica louca trabalhando num hospício?" ; outra possível: "foi bom pra essa pessoa ficar louca?". Porque eu tenho pra mim que quanto menos tempo ela ficar louca depois que começar a trabalhar no hospício melhor pra ela, né?

Angel: Você é que é muito louca Rochelle! Eu aqui impressionada com o conto e você mangando de mim!


Rochelle: Angel, você me fez lembrar um grande brasileiro, nordestino: Ariano Suassuna. Ele morreu em 2014 e eu tive a alegria de assistir uma aula-espetáculo dele, um pouco antes da sua morte... e foi ele que inspirou nosso conceito SBCense de vida, no item RISO, rir da vida, da gente mesmo, riso é revolucionário, libertador, desoxida talentos.


Nessa aula-espetáculo ele conta estórias de pessoas num hospício que ele tinha ido visitar por ocasião da inauguração do mesmo. Ele era secretário da Cultura de Pernambuco e estava acompanhando o Governador. O Diretor do Hospício queria mostrar o valor do tratamento pelo trabalho, os loucos estavam todos muito contentes carregando pedras num carrinho de mão. Mas um deles ia de lá pra cá com o carrinho emborcado! Então ele perguntou pro louco: Porque você anda com o carrinho emborcado quando todos os outros estão carregando pedras ? No que o louco respondeu: eu sou louco! não sou burro! se eu virar o carrinho eles vão encher de pedras! Eu heim... não vou fazer isso não! não vou me submeter a essa exploração!

Então Angel, com esse caso do Suassuna você entende o que eu disse? por que quanto menos tempo a pessoa levou pra ficar louca mais saudável ela é!  Podemos refazer sua pergunta: nós, no sistema em que vivemos, somos saudáveis? Pessoas normais são saudáveis? Pessoas adaptadas são saudáveis?

E concluíram: é preciso muito humor, muita alegria e esperança,  para fazer a revolução, para construirmos um mundo melhor, mais humano, mais distributivo, mais justo. Será que Ariano conversava com o Paulo?

Angel: Que Paulo, Rochelle?

Rochelle: Paulo Freire minina! Estamos hoje, 19 de setembro, comemorando os 100 anos desse gênio da EDUCAÇAO LIBERTADORA, que forma o sujeito crítico, contrapondo à EDUCAÇÃO BANCÁRIA, que significa "enfiar" conhecimento pronto "goela abaixo" do educando. Para Paulo, educação é uma construção conjunta, educador, educando, olhar para o mundo, se colocar como sujeito... e por aí vai. Tem gente que tem muito medo do Paulo! Pois é revolucionário!



Angel: claro que eles eram amigos! e o Paulo é, também, um dos mentores do SBC! Eles também estarão no nosso encontro dia 26.setembro lá no Botequim Madureira. 



E eles também estão convidando todas as pessoas que se identificam com esses conceitos: o SBC é um grupo ABERTO, INCLUSIVO, ANÁRQUICO, DEMOCRÁTICO, ECOLÓGICO... E FEMINISTA...  

Valorizamos o RISO, a alegria, o nível de relação de AMIZADE, são as que mais a gente cresce, o SBC acredita nisso... e o SENTIDO ESTÉTICO na vida e nas relações, a arte é transformadora.


Grande LENINE!!! Freiriano e SBCense... também nos convidando.

Aí está o convite, chamem seus amigxs. O SBC estará lá para recebê-los, para cantar, conversar, falar poemas sobre o tema... enfim, rever pessoas queridas.



Até lá!!!

Santuza TU

 


quarta-feira, 15 de setembro de 2021

ARTE, PROSA E SAMBA 2: A AMIZADE

Cora Coralina e Carlos Drummond convidam para o nosso segundo encontro 
ARTE, PROSA E SAMBA: A AMIZADE


 

Será no dia 26 de setembro a partir das 13 horas no Botequim Madureira, no Bairro Aparecida, em Belo Horizonte. Vamos conversar sobre o conceito SBCense de AMIZADE, o que diferencia esse sentimento do AMOR,  grandes amizades na História, como a da Cora e do Drummond, do Riobaldo e Diadorim, da Anabela e da Florisbela,  sobre o VALOR DA AMIZADE  para a vida, entre outras coisas. Claro, tudo permeado pela Arte: poemas, músicas... e vamos, enfim, comemorar a AMIZADE, um conceito fundamental para o SBC.

O card a seguir é um convite para o nosso evento:



Não percam! vai ser lindo!!! e convidem as pessoas amigas.

Até lá...

Saudações SBCenses...




sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Na beira do fogão: conversando sobre DEMOCRACIA

 



Este foi o fogão da nossa conversa sobre DEMOCRACIA. A foto foi tirada depois, no dia estávamos tão envolvidxs com a conversa que não lembramos. Algumas pessoas levaram informações do GOOGLE, outras levaram referências de livros e filmes... e eu fiquei encarregada de fazer a resenha (e ilustrações)... a seguir:


palavra democracia tem origem no grego demokratía que é composta por demos (que significa "povo") e kratos (que significa "poder" ou "forma de governo").

 A democracia é a possibilidade de exercício político por parte do povo. Trata-se de um regime político em que todos os cidadãos elegíveis participam igualmente — diretamente ou através de representantes eleitos. Os gregos antigos criaram a ideia de cidadania, aquele que é considerado cidadão poderia exercer o seu poder de participar da política da cidade. Reparem que não era inclusiva a democracia grega, e isso foi a uns 300 anos antes de Cristo. Os escravos e as mulheres não estavam incluidxs, eram serem "inferiores".

A democracia grega era, portanto,  restrita. E essa ideia começou a mudar a partir da Revolução Francesa que, por meio do republicanismo, passaram a advogar por uma participação política de todas as classes sociais. Ainda na Modernidade, apesar de avanços políticos e de uma ampliação do conceito de democracia, as mulheres não tinham acesso a qualquer tipo de participação democrática ativa nos países republicanos, fato que somente começou a ser revisto com a explosão do movimento feminista das sufragistas, que culminou na liberação, pela primeira vez na história, do voto feminino, na Nova Zelândia, em 1893 (ou seja, pouco mais de 100 anos).


As democracias podem ser classificadas quanto aos tipos diferentes, com base no modo como se organizam. E, também, podem apresentar diferentes estágios de desenvolvimento. Por isso, o termo é amplo e de difícil definição, pois o simples ato de dizer que “a democracia é o poder do povo" ou de associar democracia à prática de eleições não define o conceito em sua totalidade.

Temos três tipos básicos de democracia:

§  Democracia direta

É a forma clássica de democracia exercida pelos atenienses. Não havia eleições de representantes. Havia um corpo de cidadãos que legislava. Os cidadãos reuniam-se na ágora, um local público que abrigava as chamadas assembleias legislativas, onde eram criadas, debatidas e alteradas as leis atenienses. Cada cidadão podia participar diretamente emitindo as suas propostas legislativas e votando nas propostas de leis dos outros cidadãos. Os cidadãos preparavam-se, mediante o estudo da Retórica, do Direito e da Política, para as assembleias.  As decisões, então, eram tomadas por todos. Exercemos, agora, esse tipo de democracia? Sim, claro, podemos e devemos exercê-lo nas nossas comunidades. E mais, nos preparar para isso, para defender nossas opiniões, argumentar,  ouvir x outrx e elaborar consensos. Isso vem a ser a aprendizagem do "exercício da cidadania" ou "fazer política". 

§  Democracia representativa (ou indireta)

Pela existência de vastos territórios e de inúmeros cidadãos, é impossível pensar em uma democracia direta, como havia na Grécia. Vários fatores contribuíram para a formação desse segundo tipo de democracia: o voto (sufrágio universal); a Constituição,  que regulamenta a política, a vida pública e os direitos e deveres de todos; a igualdade de todos perante a lei, o que está estabelecido pela Constituição. Vejam que Direitos Humanos está diretamente relacionado à Democracia.

Então... as democracias representativas são regidas por constituições que estabelecem um Estado Democrático de Direito. Nessas organizações políticas, todo cidadão é considerado igual perante a lei, e todo ser humano é considerado cidadão. Não pode haver desrespeito à constituição, que é a carta maior de direitos e deveres do país, e os cidadãos elegem representantes que vão legislar e governar em seu nome, sendo representantes do poder popular nos poderes Executivo e Legislativo.

vantagem desse tipo de organização política é a exequibilidade, e sua desvantagem é a brecha para a corrupção e para a atuação política em benefício do bem privado e não do bem público. Por ser um sistema em que a participação política não é exercida diretamente, mas por meio de representações, ele é chamado de democracia indireta. E a característica principal da democracia representativa é a eleição dos nossos representantes.

§  Democracia participativa (ou semi direta)

Nem uma democracia direta, como era feita na Antiguidade, e nem totalmente indireta, como acontece com a democracia representativa, a democracia participativa mescla elementos de uma e de outra. Existem eleições que escolhem e nomeiam membros do Executivo e do Legislativo, mas as decisões somente são tomadas por meio da participação e autorização popular.

Essa participação acontece nas assembleias locais, em que os cidadãos participam, ou pela observação de líderes populares, nas assembleias restritas, que podem ou não ter direito a voto. Também acontecem plebiscitos para ser feita uma consulta popular antes de tomar-se uma decisão política. Esse tipo de democracia permite uma maior participação cidadã, mesmo com a ampliação do conceito de cidadania e pode ser chamada democracia semidireta.



sistema político brasileiro pode ser chamado de representativo, mas a nossa Constituição Federal de 1988 permite uma ampla participação popular que, caso fosse efetivamente aplicada, poderia colocar-nos no patamar de democracia participativa, inclusive prevendo a possibilidade de uma iniciativa popular legislativa.

Perceberam que DEMOCRACIA está intimamente relacionada com EDUCAÇÃO, com DIREITOS HUMANOS, com PARTICIPAÇÃO e CIDADANIA. E com POLÍTICA, que fazemos o tempo todo, "na cama e no mundo", e precisamos aprender a fazer politica de um jeito mais bonito, mais inclusivo, mais saudável, enfim, uma politica que defenda, essencialmente, a VIDA.

Quando um Estado Democrático de Direito, representado pela Constituição, é, por algum motivo, suspenso, interrompido ou deixado de lado, podemos dizer que há a formação de um Estado de exceção, que é uma das características de uma ditadura.

Dessa breve elucidação do conceito, partimos para a compreensão da Democracia no Brasil: Como tantas outras coisas no nosso país, a relação entre democracia e política aqui é complicada. Na Primeira República,  ou República Velha, tivemos um período provisório comandado por setores militares (1889 - 1894). Um período em que a chamada “política café com leite” deu início a um longo conchavo entre líderes de São Paulo e Minas Gerais para a presidência do país. Em 1930, uma chapa liderada por Júlio Prestes, paulista, é indicada e eleita. Porém os políticos mineiros não aceitam a eleição, iniciando a Revolução de 1930, que acaba com a república e inicia a Era Vargas. Uma característica da Primeira República era o voto de cabresto, em que os coronéis locais mandavam e fiscalizavam as pessoas quando votavam, criando uma fraude que descaracteriza a legitimidade do processo democrático. A democracia só foi restabelecida no Brasil em 1945. E, em 1964, o país vive outro golpe contra a república brasileira e contra a democracia. Trata-se do golpe civil-militar, que impôs um regime de exceção, suspendendo direitos civis e a constituição, impondo a censura contra a imprensa e fechando, o Congresso Nacional.

Pois, como podemos ver, só existe democracia com o funcionamento dos três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário, cada um com suas atribuições específicas.


Imprescindível, para entender melhor a democracia no nosso país, principalmente nos últimos anos, o filme "Democracia em vertigem", documentário de 2019 indicado ao Oscar em 2020, dirigido por Petra Costa, que relata os bastidores do impeachment da Presidenta Dilma, o julgamento de Lula e o pleito que elegeu o candidato de extrema-direita.

Voltando a história, em 1985, a ditadura militar acaba, mas deixa como marca as eleições indiretas para presidente. O grande movimento, iniciado ainda no fim da ditadura, o "Diretas Já", pedia o estabelecimento de eleições diretas para presidente. Em 1988, acontece a Assembleia Constituinte que cria a Constituição Federal de 1988, a Constituição Cidadã, e restabelece a possibilidade da democracia plena, reforçando direitos e promovendo a igualdade.

Percebemos que nossa Democracia ainda é muito frágil. O respeito a essa democracia, até mesmo por parte de representantes do Legislativo, do Judiciário e do Executivo, e por parte da população civil, ainda é um problema, pois o que mais temos visto é a violação dos valores constitucionais por parte de políticos eleitos pelo povo. E o povo, nós, ou um tanto de nós, na alienação, na falta de educação política, nos deixamos levar pela "superfície" das informações, pelas informações falsas, que nos impõe um Simulacro,   um modelo cultural, que seguimos sem reflexão. 

Pois com conversas e reflexão fica fácil de ver que um conceito (e a prática) de democracia  é aquele onde o governo  preserva o legítimo direito de expressão e de existência das minorias, um governo para todos. E outro conceito (e a prática) de democracia é o "governo da maioria", a "minoria" tem que se adaptar, ou se submeter, ser explorada, massacrada, vilipendiada. Com todo o "encobrimento" necessário, isto é, a ideologia, ou o que se chama  "Guerra Cultural" que, num sentido geral, significa a tentativa de imposição de padrões, entendida (e praticada) como "o meu jeito de pensar, meus princípios, meus valores, são a verdade absoluta... e quem não compartilha dessa verdade deve ser eliminadx... este  é o entendimento atual de "guerra cultural". A "polarização", o maniqueísmo, "certo ou errado", feio ou bonito, céu ou inferno, homem ou mulher... só interessam à dominação. O humano é muito maior do que dois lados... é uma construção constante...

 

                                                            Jacques Rancière. 1940...

O seu livro O ódio à democracia,  o filósofo francês contemporâneo Jacques Rancière fala sobre   a crise democrática que tem assolado os países no século XXI. Segundo ele, o mundo tem agido contra a democracia por uma espécie de medo que ela pode colocar no cidadão médio: o medo de que a democracia seja o regime político por excelência.

Rancière afirma que a democracia é o regime do dissenso, e isso tem promovido a cisão da população. É normal que haja discordância dentro de um regime democrático, mas deve haver também respeito mútuo por todas as partes que respeitam a democracia, e deve haver uma tentativa de construir-se um projeto comum com base na discordância.

A partir do momento em que setores autoritários não respeitam os seus adversários, tem-se início um processo de ódio contra a democracia que pede o fim dela para que o adversário e a sua posição política sejam eliminados. É daí que surge o anseio pela ditadura.



"Neste ensaio, publicado em 2005 na França, Jacques Rancière, um dos mais importantes filósofos da atualidade, conduz o leitor por um passeio pela história da crítica à democracia para situá-la no cerne político do momento atual, procurando esclarecer o que há de novo e revelador no sentimento antidemocrático, uma manifestação tão antiga quanto a própria noção de democracia. Dessa forma, Rancière repensa o poder subversivo do ideal democrático e o que se entende por política, para assim encontrar o caráter incisivo de sua ideia. O livro ganha edição em português pela Boitempo Editorial em um momento único da política brasileira, no contexto de um cenário eleitoral surpreendente, que sintetiza a efervescência social dos últimos anos, revelada com mais intensidade nas manifestações sociais de junho de 2013. A obra mostra-se atual também em relação ao debate que vem crescendo sobre participação e representação popular, democracia direta e o desejo de que a política signifique mais do que uma escolha entre oligarcas substituíveis. "É justamente essa recusa da hierarquia que tem a ganhar com a leitura deste livro de Jacques Rancière que, à luz dos clássicos como da experiência francesa e mundial, continua um trabalho sempre renovado, jamais concluso, de afiar o gume da democracia", afirma o filósofo Renato Janine Ribeiro no texto de orelha do livro".


Renato Janine Ribeiro, !949-... professor de filosofia, cientista político, escritor e colunista brasileiro, também autor do livro A DEMOCRACIA, que acrescentamos como referência importante para nossas conversas.

E assim terminamos nossa conversa, com sugestões de outros temas, que estão elencados no post do "lançamento" do projeto, assim como sugestões de outros lugares para a próxima conversa... e lembrando (e cantando) o grande GONZAGUINGA:


A música "Comportamento Geral", foi lançada em 1973. Ao apresentar a música a um júri do antigo programa Flávio Cavalcanti, Gonzaguinha foi "massacrado". Um dos jurados sugeriu sua deportação. A música teve sua execução pública proibida, mas a venda em disco para audição particular foi permitida. 

E como é atual! Vejam a letra! Afinal, nem no tempo da ditadura militar tentaram acabar com os direitos trabalhistas, com a aposentadoria, só falta, como diz a letra da música, acabarem com o carnaval.
 
"Você deve notar que não tem mais tutu / e dizer que não está preocupado
Você deve lutar pela xepa da feira / e dizer que está recompensado
Você deve estampar sempre um ar de alegria / e dizer: tudo tem melhorado
Você deve rezar pelo bem do patrão / e esquecer que está desempregado
Você merece, você merece / Tudo vai bem, tudo legal / Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé / Se acabarem com o teu Carnaval?
Você merece, você merece / Tudo vai bem, tudo legal / Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé / Se acabarem com o teu Carnaval?
Você deve aprender a baixar a cabeça / E dizer sempre: "Muito obrigado"
São palavras que ainda te deixam dizer / Por ser homem bem disciplinado
Deve, pois, só fazer pelo bem da Nação / Tudo aquilo que for ordenado / Pra ganhar um Fuscão no juízo final / E diploma de bem comportado
Você merece, você merece / Tudo vai bem, tudo legal / Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé / Se acabarem com o teu Carnaval?
Você merece, você merece / Tudo vai bem, tudo legal / Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé / Se acabarem com o teu Carnaval?

Você merece, você merece / Tudo vai bem, tudo legal
 E um Fuscão no juízo final / Você merece, você merece
 E diploma de bem comportado / Você merece, você merece
 Esqueça que está desempregado / Você merece, você merece/tudo vai bem, tudo legal"

E outra, que cantamos, do mesmo Gonzaguinha e da mesma época, anos 70, aqui interpretada pela maravilhosa Elza Soares:


"Memória de um tempo onde lutar por seu direito

É um defeito que mata

São tantas lutas inglórias
São histórias que a história
Qualquer dia contará

De obscuros personagens
As passagens, as coragens
São sementes espalhadas nesse chão

De Juvenais e de Raimundos
Tantos Júlios de Santana
Dessa crença num enorme coração

Dos humilhados e ofendidos
Explorados e oprimidos
Que tentaram encontrar a solução

São cruzes sem nomes
Sem corpos
Sem datas

Memória de um tempo onde lutar por seu direito
É um defeito que mata

E tantos são os homens por debaixo das manchetes
São braços esquecidos que fizeram os heróis
São forças, são suores que levantam as vedetes
Do teatro de revistas, que é o país de todos nós

São vozes que negaram liberdade concedida
Pois ela é bem mais sangue
Ela é bem mais vida
São vidas que alimentam nosso fogo da esperança
O grito da batalha
Quem espera, nunca alcança

Ê ê, quando o Sol nascer
É que eu quero ver quem se lembrará
Ê ê, quando amanhecer
É que eu quero ver quem recordará

Ê eu, não posso esquecer
Essa legião que se entregou por um novo dia
Ê eu quero é cantar essa mão tão calejada
Que nos deu tanta alegria
E vamos à luta"

E terminamos como a Elza:

QUE PAÍS É ESSE!!!

VAMOS LUTAR POR UM PAIS MAIS INCLUSIVO, MAIS HUMANO, MAIS DEMOCRÁTICO! 

Até nosso próximo encontro, talvez na varanda.

Abraços carinhosos

SantuzaTU