quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Na Varanda: sobre alienação, ideologia... e política...

 




Na verdade somente íamos até a varanda tomar um ar, uma cerva. Vejam, a varanda está ali atrás mas, para sermos fiéis à concepção do projeto, ficou NA VARANDA, uma "licença poética".

Começamos retomando o tema DEMOCRACIA, com comentários que sempre acrescentam, sobre nosso post, de pessoas que não estavam presentes ao encontro e leram o mesmo:

. TU, naquele parágrafo que vc fala sobre o filme "Democracia em Vertigem"...


Este mesmo... Entendo porque você nem citou o nome do mesmo, mas faltou caracterizar mais este "governo de extrema-direita" , que é o que estamos vivendo desde o "GOLPE" que tirou a Dilma: a "extrema-direita", que é constituída pelo grande capital, ou seja, os banqueiros, as grande fortunas (aqui estão os "pastores"), o agronegócio (principalmente o segmento soja), e o imperialismo americano ... estes desenham um "projeto de governo" a favor do CAPITAL (os ricos cada vez mais ricos), e contra o TRABALHO (este pessoal, que somos nós, trabalhadores e "empreendedores", cada vez mais pobres, mais exploradxs, retirados direitos já conquistados)... e isso tudo às custas da ALIENAÇÃO dos mais explorados,  necessária à implementação desse sistema chamado CAPITALISMO. E o que, na economia, se chama agora NEOLIBERALISMO, que, simplificando, trata-se da defesa da absoluta liberdade do mercado, ou seja,  uma intervenção mínima do Estado sobre a economia. 

Daí começamos nossa conversa: Na prática, estamos sentindo "na carne" os efeitos deste sistema, por exemplo, com a privatização da saúde, o interesse do lucro é maior do que a defesa da vida. Então, as mortes devem ser "escondidas" para a "vida" da economia, que vem a ser a maior riqueza daquelas pessoas já riquíssimas. 

E aí sentimos necessidade de entendermos mais o significado de ALIENAÇÃO, e de IDEOLOGIA.

QUANDO NÃO NOS RECONHECEMOS COMO "PRODUTORES" DAS COISAS, DAS OBRAS, DO MUNDO E COMO SUJEITOS DA HISTÓRIA, E TOMAMOS AS OBRAS E A HISTÓRIA COMO "FORA" DE NÓS, COMO FORÇAS ESTRANHAS, EXTERIORES, ALHEIAS A NÓS MESMXS, E QUE NOS DONIMAM E PERSEGUEM, TEMOS O QUE HEGEL DIZIA COMO ALIENAÇÃO. "É a impossibilidade do sujeito histórico identificar-se com sua obra, tomando-o como um poder separado dele, ameaçador e estranho".

                                                Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831)

Hegel também dizia que o Estado sintetiza, numa realidade coletiva, a totalidade dos interesses individuais, familiares, sociais, privados e públicos, Somente nele o cidadão se torna verdadeiramente real e somente nele se define a existência social e moral dos homens. O Estado é uma comunidade. Mas sua diferença de outras comunidades (família, por exemplo; um sindicato; uma empresa), é que ´Estado não possui (ou não deveria possuir) nenhum interesse particular, mas apenas os interesses comuns e gerais de todos. Mas quando o Estado se coloca (ou é eleito) a serviço do capital, da elite, dos ricos, acontece o que estamos vivendo agora, o genocídio... que, melhor dizendo, vem a ser a NECROPOLÍTICA : a "decisão" e a "prática" (através das politicas implementadas) sobre "quem" deve morrer e "quem" deve viver. 

E, para que aconteça esse cenário, é necessária a ALIENAÇÃO do sujeito, o alheamento, distanciamento de si próprio, da sua realidade, dos seus direitos... e por aí vai...

E, por causa desse "distanciamento de si próprio" que "permitimos" (ou nos submetemos) a IDEOLOGIAS completamente diferentes dos nossos interesses, completamente distantes até do próprio sentido da vida.

Ai chegamos à compreensão de IDEOLOGIA: dentre as várias definições existentes, chegamos a esta:  conjunto de ideias, valores, princípios, conceitos, que orientam nossa maneira de pensar, sentir e agir.

                                            Marilena de Souza Chauí (1941-...)

E, muitas vezes, a simplicidade nos oferece as informações que precisamos para compreender o mundo, refletir e aprofundar (e nos tornar sujeitos, atuantes). Livros de adolescência de SBCense famosa foram apresentados na nossa varanda... da Coleção Primeiros Passos, um deles, já velhinho e remendado, O QUE É IDEOLOGIA, cuja autora é essa grande filósofa brasileira, Marilena Chauí. Lemos alguns trechos desse livro, na edição de 1984, atualíssima:

"O que torna a ideologia possível, isto é, a suposição de que as ideias existem em si e por si mesmas desde toda a eternidade, é a separação entre trabalho material e trabalho intelectual, ou seja, a separação entre trabalhadores e pensadores".

"O que torna objetivamente possível a ideologia é o fenômeno da alienação, isto é, o fato de que, no plano da experiência vivida e imediata, as condições reais da experiência vivida e imediata, as condições reais de existência social dos homens não lhes apareçam como produzidas por eles, mas, ao contrário, eles se percebem produzidos por tais condições e atribuem a origem da vida social a forças ignoradas, alheias às suas, superiores e independentes (deuses, natureza, razão, estado, destino, etc), de sorte que as ideias quotidianas dos homens representam a realidade de modo invertido e são conservadas nessa inversão, vindo a constituir os pilares para a construção da ideologia. Portanto, enquanto não houver um conhecimento da história real, enquanto a teoria não mostrar o significado da prática imediata dos homens, enquanto a experiência comum de vida for mantida sem crítica e sem pensamento, a ideologia se manterá".

"O que torna possível a ideologia é a luta de classes, a dominação de uma classe sobre as outras. ... a dominação real é justamente aquilo que a ideologia tem por finalidade ocultar".

Então: a Marilena está dizendo do conceito de ideologia que é resultado da luta de classes, e que tem por função esconder a existência dessa luta. Portanto, o poder (ou a eficácia) da ideologia aumentam quanto maior for sua capacidade para ocultar a origem da divisão social em classes e a luta de classes. A classe que explora economicamente só poderá manter seus privilégios se dominar politicamente. E os instrumentos para essa dominação são o ESTADO e a IDEOLOGIA. E o papel do DIREITO (as leis) é o de fazer com que a dominação não seja tida como uma violência, mas como legal, e por ser legal e não violenta deve ser aceita. Ai, a função da IDEOLOGIA consiste em impedir a consciência (e a indignação, a revolta), fazendo o LEGAL aparecer para nós como legítimo, como justo, como bom E VÁLIDO PARA TODOS.

Ai ficou transparente, para nós, que A IDEOLOGIA É A TRANSFORMAÇÃO NAS IDEIAS DA CLASSE DOMINANTE EM IDEIAS DOMINANTES PARA A SOCIEDADE COMO UM TODO... que acontece um processo pelo qual as ideias da classe dominante se tornam ideias de todas as classes sociais, se tornam ideias dominantes. 

Ela, a Marilena Chauí, está falando da ideologia burguesa, aquela classe social (de comerciantes, que faziam os "burgos", pequenas cidades comerciais, desde antes do século XII, idade média...  depois, Revolução Francesa, século XVIII, burguesia e camponeses lutando contra o poder absoluto - a monarquia... depois, Revolução Industrial... CAPITALISMO... AÍ: BURGUESIA (classe detentora do capital) e PROLETARIADO (classe trabalhadora). 

A CLASSE DOMINANTE é a que fica cada vez mais rica, é a que "protege" seu dinheiro nos Paraísos Fiscais; "compra" os políticos (os que se vendem, tem muitos... mas tem também os que tem noção do "bem estar social" e de politicas públicas que contribuem para esse bem estar); ou são, eles próprios, que estão lá, nas esferas políticas, "defendendo" os seus direitos. Essa é a nossa burguesia. 

E a CLASSE TRABALHADORA, somos nós!!! Nós, que vendemos nossa hora de trabalho, o trabalhador assalariado, o de carteira assinada, cada vez perdendo mais seus direitos; nós, os funcionários públicos, que fizemos concurso e prestamos serviço de qualidade (professores, médicos, entre outros e outras), não o "nomeado" e que "mama" e repassa grande parte do seu salário para o "político" que o nomeou; nós, os "empreendedores" , o trabalhador autônomo, que rala no UBER, na bicicleta entregando coisas,  isso não porque tenha sido uma escolha e sim pela falta do trabalho com carteira assinada; as pessoas que tem um pequeno comércio, uma pequena fábrica de sorvete; os artistas! todas essas pessoas cada vez mais exploradas!!! cada vez mais consumida pelo trabalho sem nenhum sentido, apenas o de ganhar dinheiro... para consumir, também, coisas sem sentido para a vida.

E a quantidade de gente que só trabalha para comer? para se manter vivo? O mundo não produz riqueza necessária e suficiente para ninguém, absolutamente ninguém, passar fome? Para todas as pessoas comerem, pelo menos, 3 refeições por dia? 


E são essas mesmas pessoas que, na ALIENAÇÃO, na falta do "Conhecimento Libertador", na falta de crítica, se deixam ser "consumidas" pela ideologia do dominador, ou seja, por uma maneira, de pensar, sentir a agir que não tem absolutamente NADA a ver com VIDA, com BEM ESTAR, com SER SUJEITO, com SE PENSAR NO MUNDO,  ter um trabalho gratificante, que dê sentido à sua vida, construir relações intimas, de amizade, de trabalho, de cidadania, fora da "caixa pronta" que nos "enfiam goela abaixo" como se fosse o modelo para sermos felizes. Portanto, contra a alienação, a formação da CONSCIÊNCIA CRÍTICA !

E,  nessa hora da nossa conversa, uma SBCense, muito emocionada, fez um depoimento: hoje a tarde eu estava com meu neto de 10 anos, ele não teria aula, então fomos ver um filme. E encontramos este:



E o filme suscitou uma hora de conversa: primeiro a visão dele do mundo em que vivemos, a partir do filme: - Vó, que doido! Quando a menina foi procurar o príncipe, ele tinha crescido e tinha um trabalho "de merda", e todas as pessoas daquele planeta onde ele vivia eram cinzas e tristes e não conversavam! E o príncipe tinha esquecido do aviador! Mas a menina conseguiu fazer ele lembrar! e conseguiram derrotar aquele mundo insonso! foi muito legal!!! - Pois é querido! e quanto você acha que aquele mundo parece com o nosso? - Parece muito, vó! uns 8... - E você acha que pessoas da sua idade, da idade da menina, vão ser capazes de transformar nosso mundo para mais bonito, onde as pessoas possam sonhar e construir, como o aviador, um mundo onde exista um trabalho (e uma vida) mais bacana pra vocês? - Acho que sim, vó! eu me vejo construindo um mundo onde a gente trabalha com o que gosta e onde a gente é mais alegre! onde o dinheiro seja pra isso, né? não para gastar a toa... - Tomara, meu bem! Vó, agora, está cumprindo, de alguma forma, a sua missão, quando ela consegue conversar isso com você. E fico muito feliz quando conversamos e o seu olho brilha... Acho que não vai ser para a minha existência, mas quando vejo seu olho brilhando eu fico muito feliz de fazer parte da construção desse mundo mais bonito, viu! E eles se abraçaram... 

E todxs nós emocionamos com o depoimento desta SBCense... E concluímos: ISSO É POLITICA!!!


Terminamos lembrado a música IDEOLOGIA, Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza, dele e do Frejat, no álbum do mesmo nome de 1987, super atual.


Abraços carinhosos

SantuzaTU



Até nosso próximo encontro... talvez na calçada...



6 comentários:

  1. Mais uma importante discussão esclarecedora do SBC.Na verdade, uma aula de conteúdo político conscientizador, de excelente proveito para todas as classes sociais.

    ResponderExcluir
  2. Embora possamos explicar o que ocorre ao nosso entorno, nada jamais justifica o que os grupos privilegiados fazem em desfavor à vida da população. Retirar verbas públicas da ciência é mais outra prática contemporânea do imperialismo de exercitar a matança dos povos pobres...
    E com Bolsonaro o Brasil é campeão, infelizmente!

    ResponderExcluir
  3. Sim Sheila. Obrigada pela leitura e comentário. Precisamos conversar muito sobre esses temas né? Abraços

    ResponderExcluir
  4. Há muitas coisas a se levar em conta:
    Na década de 30, depois de um ministro da Fazenda norte-americano provocar deliberadamente uma depressão Econômica (muito famosa por sinal), assessores econômicos mostraram ao presidente que o consumismo seria a saída. 20 anos depois foi lançada a indústria da obsolescencia. Para não falar do acordo de Bretton Woods.
    A partir daí, os Estados Unidos criou ditaduras na África e nas Américas Central e do Sul.
    A saída parece Óbvia: negação ao consumismo.
    Nada mais de cerveja, cigarro, comidas ultraprocessadas que matam as pessoas, troca anual de celulares e automóveis, roupas de marca, fast-food... qualquer coisa que envie o dinheiro nacional para potências estrangeiras.
    A escolha é sua: continuar comprando e continuar escravo... ou comprar apenas o necessário, consumindo apenas coisas que seu próprio país produz

    ResponderExcluir