segunda-feira, 6 de setembro de 2021

ARTES NA PANDEMIA: conto do Sérgio , mais novo SBCense



Sérgio Miguel Cardoso, ou Sérgio Cardoso... mais recente “aquisição” do SBC:

Iniciou carreira artística como ator muito cedo, aos cinco anos de idade atuando em peças infantis no Grupo Escolar Barão do Rio Branco onde cursou o primário.

Em 1955, com a inauguração da extinta TV Itacolomi canal 04, atuava em teleteatros, levado por seu pai, Otavio Cardoso, que foi convidado para montar e dirigir o elenco de teleteatro daquela emissora onde permaneceu por 14 anos, até sua extinção.

Participou de vários espetáculos como, por exemplo, o famoso “Grande Teatro Lourdes”, ao lado de grandes atores tais como: Ary Fontenelle, Lady Francisco, Rogério Falabella, Mauro Gonçalves (o Zacarias dos Trapalhões), Antônio Naddeo, Elvécio Guimarães, Ana Lúcia Kathá, Clausi Soares, Glória Lopes, Ricardo Luiz, Jacy Campos (no famoso programa Câmera Um),e vários outros grandes atores e atrizes.

Atuou também como Double na Herbert Richer’s no Rio de janeiro, onde residiu por muitos anos ao lado de Sadi Cabral, Carlos Imperial, e outros

Participou como cantor em programas musicais ao lado Clara Nunes, Agnaldo Timóteo, Bando dos Cariúnas (Grupo musical do Professor Elias Salomé), bem como atuou como cantor lírico na ópera O Verter de Verdi produzida pela Sociedade Coral de Minas Gerais pela temporada lírica de Belo Horizonte comandado por seu pai que ali atuava como regisseur.

Atuou ainda, já nas décadas de 80, 90 e 2000 nas peças “Pobre Vila Rica” de autoria de Carl Schumacher pelo projeto “Caminhos da Liberdade” produzido pela Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais em 1989, “A Paixão de Um Deus” de Jair Raso em 1999 e “Lola”, adaptação livre para musical baseado na obra de Fassbinder, por Roberto Cordovani.

Juntamente com Magdalena Rodrigues, Presidenta do SATED/MG (Sindicato dos Artistas), produziu, dirigiu e atuou no Condomínio Morro do Chapéu a peça “O Natal na Praça”, com elenco amador formado por moradores daquele condomínio residencial por ocasião das festividades natalinas.

Formado em Direito exerce a profissão de Advogado em Minas Gerais.

Sempre gostou de ler, escrever e compor poemas.  Às vezes crônica, às vezes conto. Viajando de um gênero para o outro, “Cardoso escreve contos e crônicas como quem elabora um roteiro. A sugestão da imagem parece ser mais importante que rebuscar a linguagem ou penetrar em divagações descritivas. São as situações que se encadeiam, sem perda de tempo, para surpreender o leitor em finais impressentidos. Mesmo quando, aparentemente, é possível prever a sequência, o autor inverte o jogo e, subitamente, parte para um desfecho inesperado, um típico “golpe de cena”, que os dramaturgos conhecem de sobejo” , escreve Jota Dangelo na apresentação do seu livro CONTOS.

 E foi este livro que o Sérgio nos “presenteou”, depois que ficamos nos conhecendo em encontro das Artes (e da cerva...) na rua Grão Mogol, no Carmo. Lugar bacana, gente bacana, ótima música, e tudo mais...



E , claro, depois que ele conheceu o SBC, nosso conceito de BEM VIVER, e se identificou imediatamente.

Então, lemos o livro de uma “sentada” só, e fizemos  apreciações sobre cada um dos sete contos, especialmente este:

O CAVALHEIRO E A DAMA ou TIMIDEZ e HONESTIDADE, inusitado, excitante como as coisas “proibidas”. Então pedimos para publicá-lo no nosso projeto ARTES NA PANDEMIA. E aí está, para o nosso deleite.

 Obrigada caro amigo SBCense.



 O trem, afinal, encostou à plataforma com toda a sua característica zoeira.

O Homem desviou o olhar da Mulher e travou a batalha dos lugares. Venceu. Ajeitou-se, cansado pela refrega, na poltrona suja.

Por mero acaso, a Mulher estava à sua frente, num assento virado ao contrário (o tal “cara dura”), tendo à esquerda um cidadão.

O trem partiu. Ele cochilou. Quatro estações adiante,

desceram os cidadãos: o da esquerda e o da direita, dela e dele, respectivamente.

O Homem – por simples gentileza – ofereceu à Mulher o assento ao seu lado (direito, junto à janela): -É desagradável, minha senhora, viajar nesse banco “cara dura”. Viramos mira dos demais.

A Mulher concordou; agradeceu, e passou-se para o lado dele, é claro.

Por longo tempo não mais se falaram. Ele fingia dormitar; ela não fingia nada.

Por fim, o Homem abriu os olhos e a Mulher – por educação, ofereceu-lhe um sanduíche diminuto: pão, alface, bife, salsicha, tomate, dois ovos e mostarda.

— Não, muito obrigado. Estou sem fome, disse o Homem. E comeu o sanduíche.

— Horríveis aqueles camaradas que desceram, disse a Mulher. Antipáticos, sem assunto e mal cheirosos; não lhes dei a mínima confiança.

— Concordo, concordo, sem dúvida, com a sua opinião, falou o Homem, lembrando-se de que a Mulher e os cidadãos haviam conversado o tempo todo.

— O senhor está com bastante sono, não? – perguntou a Mulher – pelo menos dormiu bastante.

— Sim, respondeu o Homem. Ando muito sem sono.

— Depois – continuou – sou um tanto acanhado e não sei bem iniciar uma conversação.

Assim, prefiro dormir nas viagens, concluiu passando o braço casualmente por trás dos ombros da Mulher.

— Aprecio homens acanhados, disse a Mulher. Eu, na qualidade de casada, honesta e fiel, não aprecio homens “entrões” . E ajeitou-se melhor no braço do Homem.

— É casada? Perguntou o Homem, com evidente surpresa, pois já havia visto a aliança grossa e brilhante no anular esquerdo da Mulher. Então, conte comigo para despachar audaciosos que a queiram desrespeitar, acrescentou enquanto apertava-a suavemente de encontro a seu peito.

— Vê-se logo que é um cavalheiro, articulou a Mulher. Sinto-me segura e protegida a seu lado, uma vez que é indivíduo que não abusa. Sou também muito tímida e encostou sua face na dele.

— Muitas vezes surpreendo perguntando-me como pode haver tipos avançadores (de desodorante Avanço), expressou-se o Homem, examinando delicadamente a contextura do tecido que a vestia nas partes mais anatômicas.

— Bem grande esse túnel, gaguejou a Mulher, ao conseguir libertar a boca que o Homem beijava ainda. Meu marido, sempre me diz ter desagradáveis impressões ao passar por túneis.

— De fato, há indivíduos sem vergonha que se aproveitam da escuridão para

atitudes pouco recomendáveis e desrespeitam senhoras por acaso ao seu lado, tartamudeou o Homem, enquanto fazia discreto “bilu-bilu” na Mulher.

— Não tolero tais camaradas, ciciou a Mulher. Costumam até fazer-nos indecorosos convites.

— Isto é verdade, disse o Homem e conceituou distraído:

conheço um desses descarados, que certa vez, teve a audácia de convidar distinta dama com quem viajava, para interromperem a viagem e pernoitar com ele na primeira estação onde desceria, alegando,

veja a senhora que desfaçatez – o fato de estar muito frio . E, assim falando, o Homem media o diâmetro das pernas da Mulher.

— A um convite de tão baixa espécie, articulou a Mulher reunindo sua bagagem – não seria possível resposta digna.

— Lógico, disse o Homem, descendo do trem. Felizmente sou bastante reservado para tentar tal aventura.

— E teve a sorte de viajar ao lado de uma senhora correta, sempre pronta a rebater qualquer insinuação descabida, exclamou a Mulher, ao entrarem no Hotel.

— Perfeitamente, sem dúvida, sem dúvida, - falou o Homem – e por isso me felicito, concluiu ao assinar o livro de registro com o seu verdadeiro nome falso.

— Imagine se eu me prestasse ao que se prestam essas... “quaisquer” que andam por aí... ciciou a Mulher entrando no quarto.

— Se assim fosse, tartamudeou o Homem, acompanhando-a, creia que a senhora não mereceria sequer minha consideração; sempre apreciei a virtude...e fechou a porta do quarto!

                                                            'FIM

Aproveitando para fazer um convite especial: A partir do dia 15 deste mês comemoraremos os 100 anos de Clarice Lispector, no mesmo lugar onde conhecemos o Sérgio.  SuperSBCence!!!

Nos encontramos lá... Até!!!

SantuzaTU



 


 

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Na garagem, na beira do fogão, na varanda, na calçada, no buteco...


Uma coisa puxa outra... e o SBC vai costurando novas ideias e novos projetos. Não é que esse nosso projeto ARTE, PROSA E SAMBA suscitou uma conversa tão interessante que ensejou, conforme sugestão de SBCense famoso, um novo projeto, que pode ser incorporado ao anterior... ou não...  o SBC é como a VIDA, as coisas não estão prontas e acabadas, se estiverem desconfie, podem estar te "enfiando goela abaixo" um "modelito pronto" pra você se submeter. Por que, enquanto sujeitos, estamos sempre construindo, refletindo, criando sempre um mundo mais bonito, em todos os níveis de relação.

Na verdade , o processo criativo é muito interessante: tem aquela fase da "INCUBAÇÃO", em que as ideias estão num nível "mais ou menos" consciente (ou sub-consciente), e a gente vai ouvindo coisas que, não estando atentxs, não ouviríamos. Segundo exemplo de SBCense famosa, é que nem quando uma mulher está grávida, ela vê todo mundo grávida, em outro momento da vida ela nem repararia nisso. Nietzche, grande filósofo SBCense, fala da importância de adquirirmos a "capacidade bovina", que é a capacidade de "ruminar".


Pois bem, a incubação começou com amigo SBCense nos aplicando um jurista brasileiro bacana demais, Alysson Leandro Mascaro:

E ele, o Mascaro, fala da necessidade de construirmos ambientes, quaisquer que sejam eles, para conversar sobre IDEIAS que  orientam nosso pensar, nosso sentir e nosso agir... e refletir e criticar  essas ideias. E ele diz que essas conversas podem ser em qualquer lugar: nas garagens, por exemplo. 

E mais: conversar vai abrindo nossas cabeças para o que chamamos VISÃO DE MUNDO, e nos capacitando a nos colocar como sujeitos, construtores de um mundo mais simétrico, mais bonito...

Não é super SBCense isso!!! pois bem, ficou "incubado": Podemos (e devemos...) resignificar conceitos... podemos criar novas palavras, recriar palavras nos ajuda a resignificar o mundo. E começamos esse movimento pensando sobre os conceitos (ou ideias) que nos "enfiam goela abaixo", que absorvemos e reproduzimos sem pensar sobre eles. Isso se aproxima do conceito do nosso projeto "Arte, Prosa e Samba", que pretende trabalhar, através da arte, temas importantes para a vida e para as nossas relações. Como foi nosso primeiro tema: O amor... foi bonito como, com a nossa "construção" através das músicas e poemas, as pessoas presentes (e virtuais) conseguiram perceber como o conceito de amor nos vem de uma maneira "distorcida", ruim para a vida e para as relações ... e como podemos resignificá-lo. Pois:  papel fundamental da arte e da cultura,  é contribuir para nossa capacidade de distinguir ideias voltadas para a vida e para a morte... e nos capacitar para construir ideias para a vida. 

Então: continuando nossa "incubação", estávamos para Ouro Preto. Sim, temos uma ala SBCense em Ouro Preto... mais especificamente ao redor de um fogão a lenha, na Mina DU VELOSO.




E estávamos conversando sobre "inclusão"... quando uma grande pessoa, grande construtor da cidade, "João de Barro",  já construiu inúmeras casas ali, disse: "eu construo casas e depois passo por elas e não posso entrar... acabou a escravidão?"

E aí, o que era "incubação" começou a se desenhar: 

NOVO PROJETO SBCense: na garagem... na beira do fogão... na varanda... na calçada... no buteco...

 Precisamos conversar para tomar consciência... pensar... a filosofia serve pra isso... FILOSOFIA não é coisa pra poucos, é nosso DEVER filosofar, pensar sobre os conceitos que recebemos e elaborar resignificações dos mesmos. E pra isso não precisa nenhuma "educação formal", precisa, sim, inteligência emocional, juntar cabeça (pensar)  com coração(sentir) , e com mãos (agir de forma transformadora).

 "Pensar é fácil, agir é difícil, e colocar os pensamentos em ação é a coisa mais difícil do mundo... "

Porém, de resto, abomino tudo que me inspira, sem me impulsionar diretamente para a ação.

Johann Wolfgang von Goethe (1749–1832) ,considerado como a maior personalidade da literatura alemã, seu maior poeta, famoso também como dramaturgo, romancista e ensaísta, sendo notáveis suas obras autobiográficas, seus estudos de ciências naturais e suas conversações com amigos. Sobre suas poesias, ele próprio dizia serem ‘ocasionais’, isto é, ligadas aos acontecimentos de sua vida e a experiências pessoais, de modo que não é possível separar as obras e a vida. Ai ele entrou pro SBC... rsrs

E daí elencamos algumas palavras, para começar a conversar sobre o "conceito internalizado", pra que ele serve, e a resignificação do mesmo "para a vida e para a ação transformadora" .

IDEOLOGIA

POLITICA

ALIENAÇÃO

HISTÓRIA

DEMOCRACIA

CAPITALISMO

SOCIALISMO

COMUNISMO

MERITOCRACIA

 E nossa primeira conversa foi sobre DEMOCRACIA. 

E  INCLUSÃO, DIVERSIDADE, RESPEITO... E EDUCAÇÃO... foram palavras/ideias que fizeram parte da conversa, pois estão embutidas, necessariamente, na democracia que queremos/precisamos construir.

 


E começamos lendo o Artigo 6º da nossa Constituição Federal de 1988: São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Qual a importância desse artigo?

Os direitos sociais no Brasil, após a Constituição Federal de 1988, mediante o artigo 6o, garante a todos o direito de ter educação, saúde, trabalho, lazer, segurança e previdência social. Permite A TODOS  o acesso a esses direitos, que são básicos para o ser humano sobreviver.

Foi por aí nossa conversa sobre DEMOCRACIA, assunto para o próximo post.

 


Não sem antes publicarmos "poema" sobre OURO PRETO, ou OUTROS PRETOS, uma RESIGNIFICAÇÃO:

Ouro Preto... o que fizeram com seus pretos?

Ouro... quantas vidas pretas te ergueram...

Preto... quanto ouro custou sua liberdade...

Ouro... quantas pretas...

Preto... quanto ouro...

Ouro Preto... Outros pretos...

Ouro Preto!

Reconheça seus negros e negras!

Que fizeram ... e fazem ... a sua história!


E, a seguir, uma foto "EM VOLTA DO FOGÃO A LENHA",  gentilmente encaminhada pelo Eduardo Evangelista, o DU da Mina DU VELOSO. Obrigada!


Até nossa conversa sobre DEMOCRACIA.

Abraços carinhosos ...

Santuza TU



terça-feira, 31 de agosto de 2021

Projeto ARTES NA PANDEMIA: FEIJÃO PRETO

...Esta é Claudete Coutinho, pedagoga, psicopedagoga, psicanalista, além de escritora. Ex-professora e vice-diretora de escola pública. Trabalhou como pedagoga num presídio de segurança máxima, onde fez trabalho voluntário por cerca de 6 anos, 25 anos num instituto de serviços sociais |(INECC - Instituto de Educação e Construção da Cidadania) para menores em situação de risco, com o programa de liberdade assistida e, mais tarde, no serviço do Centro Social e Educativo de Divinópolis.

 



E esta é a CLAUMACOU, (in english: CLOWN), tradução: PALHAÇA, figura que, através da leveza e do riso, "planta",  no nosso espírito (traduzindo: nas nossas cabeças, corações e mãos, pensar sentir e agir), possibilidades de reflexões e tomadas de consciência importantíssimas para a vida.




O SBC adooraaa essas pessoas múltiplas: SOMOS MUITAS!!! E DAMOS VOZ A TODAS ESSAS QUE EXISTEM EM NÓS!!!

E ela nos presenteia com o belíssimo texto a seguir. Nossa gratidão a essa (ou essas) mulher(es) maravilhosa(as), grande aquisição do SBC. Nos tempos sombrios que estamos vivendo, precisamos muuuiiito dessas trocas.

Debulharam o baguinho de feijão preto que era sua família

Maria, antes de sair, olha uma vez mais os três filhos.

Camas feitas entre os caixotes. Corre o olhar entre os seres  que abrigam debaixo do viaduto.

Seu mais velho, já quase um adulto, vai ser nego bonito

forte, alto, carinhoso.

Mas o olhar triste da agonia é visível:

- Porque nasci dessa cor da morte?

Maria trabalhadora, do serviço não foge.

Na semana, ainda bem, que a patroa vai aceitando,  um dia a falta, pelo filho doente, fila no posto, outro dia é ela que  acompanhou José nos dois goles.

Enquanto eles, burgueses, brindam em vinho, aqui é dois goles da garrafa  de pinga.

Os outros, embriagados, inebriados, se entregam na cama larga,

 com lençol clarinho, cheiroso, que eu lavei e passei.

 José e eu vamos fazer mais  barulho, ao nos entregarmos, que eles

 Nós no papelão, mas na cumplicidade em linha direta com a lua e as estrelas.

Não temos teto entre eles, é o nosso amor.

Hoje ela sai, não sabe dizer se mais feliz ou mais agonia.

Passa mão no ventre  e sente um sobressalto, vou ter outro filho.

Adeus casa da patroa, vamos mesmo é trabalhar, família unida.

Catar latinhas, papelão, recicláveis perto do Mercado Central.

Vender água nos sinais.

Vender bala na estação do metrô.

Seu filho mais velho quer vender bala na feira.

Não pode, a lei não permite.

O filho começa a roubar, a cheirar.

Debulharam o baguinho de feijão preto, que era sua família.

Cada um toma um rumo.

Só ela persiste, barriga grande, arrastando os dois menores.

Ser mãe, dignidade e vaidade, andando com a  fome e a calamidade.

Maria chora, rasgada pela dor do coração.

 A bolsa rebentou, é chegada a hora dela.

O carro do socorro nunca chega a tempo.

Sirenes e apitos não sabem o que é miséria.

Mas uma negra procriadora  morta, é vitória. Maria expirou.

Salvo o pirralhinho.

Ele resistiu, deu o sinal do primeiro lamento.

Agora são três para enfrentar a vida,

os empregos bárbaros, a violência sanguinária,  que cresce, a justiça perseguidora, a desigualdade preconceituosa, racista.

Reclamam da violência?

Quem a pratica? Todo dia são tantas Marias,   que suportam a mesma dor.

São crucificadas pelo  peso da cruz,

que carregam no tempo, a cor.

O ontem, o hoje, será que no futuro, não vão sentir mais nas entranhas? Marias, negras,  nas ruas, mulheres, mães,

os gemidos perplexos, respingados de lágrimas e sangue.

Será que não vão escutar na ressonância da voz  um eco de vida e liberdade? Ou  vão abafar como nos porões dos navios  negreiros?

Claumacou





sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Apreciação do lançamento do projeto: ARTE, PROSA E SAMBA (e convite para nosso próximo encontro)

Foi no domingo passado, dia 22 de agosto de 2021, no Botequim Madureira, da nossa querida SBCense Adriana. Ficará na memória de todo SBCense: FOI LINDO!!!

Nessa conjuntura triste que estamos vivendo, o que mais queríamos era nos encontrar, nos abraçar, conversar, fazer novas amizades, ou seja, praticar o conceito de BEM VIVER SBCense que, embora tenhamos durante toda a pandemia praticado de maneira virtual, sentíamos realmente muita falta do presencial, do calor, do abraço, do olhar, essas coisas... com os cuidados necessários recebemos nossos amigos, os de longa data e os recentes, pois, como sabem, o SBC é aberto, inclusivo, anárquico, democrático, ecológico e feminista... em qualquer ordem de valor que queiramos. 

Praticamos intensamente nossos conceitos, que sempre merecem ser lembrados: o RISO, que desoxida talentos (para a criação, para as trocas humanas e, principalmente, para a vida); o valor das AMIZADES (o nível de relação que o SBC considera mais precioso para o bem viver); e a prática do SENTIDO ESTÉTICO, do belo, do bom pra vida, para além do sentido moral, do certo errado. Consideramos que a vida orientada por esses valores amplia consideravelmente a qualidade. Outros valores vão sendo construídos/acrescentados, a partir destes, e é sobre isso nosso projeto ARTE, PROSA e SAMBA, uma construção constante do BEM VIVER e BEM RELACIONAR.

Gratidão da "diretoria" do SBC a todas as pessoas que foram nos assistir, às pessoas que participaram espontaneamente do projeto, apresentando suas performances poéticas e musicais, todas muito pertinentes ao nosso tema, que faz uma crítica leve na forma e, ao mesmo tempo, profunda no conteúdo, desse sentimento tão cantado em verso e prosa: O AMOR, e de como a arte, enquanto representante da cultura, exerce o duplo papel de nos fazer internalizar e reproduzir conceitos ideológicos de uma época, assim como também permite nos abrir as cabeças e corações para nos transformarmos em sujeitos construtores de uma cultura mais livre, mais bonita, mais simétrica nas relações humanas em todos os níveis: AMOR E POLÍTICA FAZEMOS NA CAMA E NO MUNDO!!! e podemos (e devemos) construir e praticar novos conceitos de amor (e de política!).

Este é o "conceito" do nosso projeto, ou seja, a cada mês trabalharemos (na arte, na prosa e no samba) um tema diferente. Nosso próximo encontro será sobre o tema A AMIZADE, e será no mesmo botequim MADUREIRA no domingo dia 19.setembro.2021. Reservem a data e "preparem seus tamborins" (um texto, uma música, um poema, autoral ou de outro artista, assim como podem levar seus instrumentos e participar conosco), o que cada um animar de fazer, onde o "olho brilha". Assim somos, nós do SBC. 

E queremos registrar, também, que este projeto, vitualmente e/ou presencialmente,  já está sendo realizado em outros ambientes: instituições públicas e privadas, escolas, centros comunitários, coletivos (de mulheres, de homens, outros), sindicatos, praças... rsrs... (praças ainda não, mas é uma boa ideia), para públicos de todas as idades a partir da juventude. Assim como "na garagem, na beira do fogão, na calçada ou na varanda" (essa é uma dica para nosso próximo projeto de conversas SBCenses, começando aqui mesmo, no blog)...     Enfim, trata-se de projeto que "abre cabeças e corações" para a reflexão e uma nova visão de mundo e das relações.  Não tem jeito... para ir melhorando nossa visão de mundo e nossa qualidade relacional temos que desenvolver relações dialógicas, abrimos para conversar, sempre, e muuuiiiitoooo... só desse jeito! De outro jeito vamos nos fechando em nossas "verdades"... tristes verdades, sem nenhuma construção. E, acreditem, conversar e ir construindo novos jeitos de ser, de relacionar e de elaborar um mundo mais bonito pode ser muito prazeroso. 

Para quem não foi no domingo, uma pequena amostra do projeto, no elaboração do tema AMOR:


Essa apresentação fez parte do belíssimo SARAU ARTÍSTICO do I CONGRESSO CRIM: GÊNERO FEMINISMOS E VIOLÊNCIA, do Curso de Psicologia da UFMG, que encerrou neste sábado 28. agosto.2021.  Parabéns às organizadoras e todxs os participantes!

Enfim... Não percam nosso próximo encontro: Sobre a  AMIZADE...

A seguir o convite da nossa querida SBCence Antonieta, "montada" de Angel, conversando com Rochelle, duas "SBCences famosas" (performances divertidíssimas)...


Até lá... saudações SBCenses...



 





quarta-feira, 18 de agosto de 2021

lançamento do novo projeto SBCense: ARTE, PROSA E SAMBA

No domingo passado a Angel e a Rochelle foram tomar uma cerva. E conversar. Lembrando: as duas são super SBCenses, da diretoria do SBC. Cumpridas as pautas de sempre, visão de mundo e relações humanas, outros assuntos vieram a baila. 

E a Angel lembrou do tema: origem de alguns termos que usamos frequentemente e nem imaginamos o porquê dos mesmos, da onde vem o significado. Nossa, como vivi sem essas informações até então! disse Rochelle. Angel ficou com raiva, mas continuou:




Por exemplo PÃO DURO:  você sabe como essa expressão surgiu? conta-se que na Idade Média havia o costume das pessoas levarem pão para serem benzidos na missa. Pessoas de posses,  a burguesia em ascensão. Ao saírem da missa, com seus pães benzidos, elas davam um pedaço de pão a um senhor na porta da igreja, ele sempre os colocava num saco e levava pra sua mulher. Juntava muito pão e o mesmo ficava duro... Aí ela teve uma grande ideia: fazer pudim. E assim ela fazia o pudim, e ele, na semana, ia vender o pudim nas redondezas. Era muito pão... e muito pudim... e o casal fui ficando rico, eles não gastavam o dinheiro, colocavam debaixo do colchão. Quando os dois se foram, a casa ia ser demolida, e os trabalhadores perceberam que tinha muuiiito dinheiro na casa!!! Daí a expressão "pão duro"... pessoa acumuladora.

 


A outra história interessante é a que deu origem a "fulano DEU O CANO no outro": durante as grandes navegações, o Fernão de Magalhães saiu numa viagem para provar que a terra era redonda, "viagem de circunavegação". O Fernão despediu-se da sua jovem e linda esposa e, na  viagem ocorreu uma guerra entre a expedição e os nativos de  umas ilhas do Pacífico. E o Fernão faleceu nessa guerra. O navegador que continuou a viagem foi o Sebastião Del Cano. Ao concluir a viagem Del Cano recebeu honras e glórias e acabou se casando com a linda esposa do Fernão. Aí se criou o ditado: fulano DEL CANO no sicrano, ou seja, passou o outro pra trás. Enfim, disse a Rochelle, por isso temos grandes historiadoras no SBC, as histórias partem, no mínimo, do século XV, quando não dos grandes filósofos de oito séculos antes de Cristo!


E assim foi a dúzia de chopp, com umas empadas para acompanhar... deliciosas...



Quando foi na segunda feira, a Rochelle, pra pagar os tripudiamentos que fez com a Angel no domingo, recebeu uma ligação da Dri, do Botequim MADUREIRA: Olha só, temos liberado o domingo dia 22.agosto. O projeto Arte, Prosa e Samba! podemos fechar nesse dia!!!???. Ai a Rochelle ficou que nem cachorro que corre atrás do carro. Era tudo que ela (e outrxs SBCenses) queriam!!! Aí, quando aparece a oportunidade, a gente "amarela", acha que tem que combinar tudo, que ainda não está "amarrado", essas coisas... 


Vocês sabem a origem do termo "ficou que nem cachorro que corre atrás do carro"? Foi o cachorro do Bozo (o palhaço) que me contou: todo cachorro corre atrás do carro, mas quando (ou se...) o carro para, ele, o cachorro,  estatela  (paralisa), e não sabe o que fazer!!! 

Por pouco tempo a Angel ficou assim. Mas, passados, no máximo,  10 minutos, ela liga pra diretoria do SBC. E o povo anima! Claro que dá pra fazer! eu ligo pra Dri e combino com ela a parceria, você se encarrega da parte de marketing, já temos o conteúdo gente!!! Há quatro anos vimos desenvolvendo esse "conceito SBCence", como podemos, agora, abandonar a oportunidade! BORA!!!


Ai a Angel ficou que nem PINTO NO LIXO!!! significa "desorientada" de tanta alegria... mas não sabemos a origem dessa expressão... sei lá, entende...

E fizemos reunião no dia seguinte... e fechamos tudo:

O SBC tem a alegria de apresentar o projeto:

                            ARTE, PROSA E SAMBA

Trata-se de conversarmos sobre um tema, através das artes plásticas, da poesia, da prosa, e da música... tudo isso com o espírito de elaborarmos uma crítica à arte e à cultura, percebendo o que temos de "reprodução" de conceitos que não servem mais para o bem viver e só servem para a dominação, assim como o que temos de conceitos na arte que servem como ferramenta para a transformação do mundo e das relações... para mais livres, mais bonitas, mais inclusivas. É isso...

Pretendemos, após o "lançamento" do projeto, apresentar um tema a cada mês, com arte, com riso e alegria, que servem enormemente para abrir cabeças e corações para a possibilidade de criticar o que internalizamos e reproduzimos, assim como construir novos conceitos orientadores da nossa ação transformadora do mundo, em todos os níveis de relação, do íntimo ao público, porque: AMOR E POLÍTICA SE FAZ NA CAMA E NO MUNDO, é um "slogan" do SBC.

Nosso primeiro tema será: O AMOR, o que é? o que poderá ser? seremos capazes de "ir construindo" um novo conceito de amor? mais bonito, mais libertador?



Dia: 22.agosto.2021

Botequim MADUREIRA. Rua Madureira 293 - Bairro Aparecida, Belo Horizonte - MG

a partir das 13 horas. Começaremos nossas conversas as 15 horas. Será uma Roda de Conversa, participativa... Levem seus poemas, músicas, textos, etc., sobre o tema.

Até lá...






quinta-feira, 12 de agosto de 2021

na mesma mesa...

 As mesmas cinco pessoas SBCenses... vocês sabem, o SBC é, para além de um grupo de amigos que realiza projetos sócio culturais, um conceito de BEM VIVER, onde se inclui a valorização dxs amigxs e dos bons encontros. Além de estarmos sempre conversando e construindo o que chamamos de VISÃO DE MUNDO E DAS RELAÇÕES HUMANAS, ou seja, POLÍTICA, num sentido amplo do conceito.

Passou o Marcelo vendendo bombons. Ele é de uma cidade próxima a Cumuruxatiba, no extremo sul da Bahia, perto de Prado. E como você veio parar aqui em BH minino? - Eu quero estudar direito... e, onde moro não existe nenhuma possibilidade de "crescer". Ai decidi sair de lá com uma mão atrás e outra na frente... e cá estou... já morei na rua, mas agora, com a venda de bombons, estou alugando um quartinho. Cara! Você é muito corajoso! - Com a graça do meu bom Deus que está lá em cima... Como assim? não seria graças ao deus que existe dentro de você? - Oxente! são os mesmos! ...e a conversa terminou por aqui, ele continuou vendendo seus bombons... e, na mesa, alguns concordaram com ele de que são os mesmos, outros preferiram o sentido do "deus dentro" que, na sua origem, significa "entusiasmo".

E, na continuação do tema "capitalismo - uma compreensão crítica", um dos SBCenses à mesa comentou sobre dois filmes recentes na Netflix que ele havia visto: o norueguês "22 de julho" e o polonês "Rede de ódio". Ambos "contam como a extrema direita destrói e mata". "A incitação que ela faz na internet não é tagarelice aloprada e, por isso, inócua. Seu objetivo é organizar o emprego da força, levar a cabo atentados terroristas". 


"22 de julho" foi dirigido por Paulo Greengrass, da trilogia Bourne, e "Rede de ódio" é de Jan Komasa, indicado ao Oscar de  melhor filme estrangeiro por Corpus Christi. Nos dois filmes os protagonistas são psicopatas, e vão até as últimas consequências... ou sociopatas, os dois distúrbios, apesar de diferentes, guardam algumas semelhanças importantes: desrespeito pelas leis e costumes sociais; assim como pelos direitos das pessoas em geral; a falta de empatia, de remorso ou culpa; e a tendência a mostrar comportamento violento.. E nosso amigo SBCense,  disse: o que me impressiona muito é que são características, de uma certa forma, "alimentadas" pelo nosso sistema, que alimenta o individualismo, o levar vantagem a qualquer custo, a insensibilidade às dores das outras pessoas... isso me assusta muito!

O filme "22 de julho" é um "docudrama" colado na realidade, como comentou Mário Sergio Conti na "Folha" em 23 de julho 2021. Com minúcia aflitiva, reconstitui o massacre na ilha de Utoya, na Noruega, em julho de 2011.  O direitista Anders Breivik primeiro detonou uma bomba na frente da sede do governo, matando oito pessoas. Com o caos em Oslo, ele seguiu para a ilha de Utoya, onde quase 600 adolescentes participavam de um acampamento da Liga dos Jovens Trabalhistas, o braço juvenil do PT de lá. Disfarçado de policial, Breivik gritava ao atirar "marxistas, vocês hoje vão morrer!". Matou 69 adolescentes.

O filme, além de Breivik, tem outros dois protagonistas: o jovem que levou cinco tiros, um deles na cabeça, e teve um pé estraçalhado; e o advogado que, por dever de ofício, defende o homicida. E Breivik, o fanático. Eles simbolizam as vitimas, as instituições e a extrema direita. E Breivik não é um doido manso. Ele baba ódio. Vê o mundo como um amálgama de conspirações. Fantasia um passado delirante. Não quer uma nova sociedade, e sim destruir a existente, derramando o sangue que for necessário.


"Rede de Ódio" é uma ficção que expõe o modus operandi da extrema direita, ainda segundo Mario Sérgio Conti, como relata nosso SBCense: Seu protagonista, Tomasz Giemza, é expulso da Universidade de Varsóvia por plágio. Marqueteiro e hacker, ele se emprega num gabinete do ódio, dedicando-se a enxovalhar inocentes. Tomasz compartilha com a extrema direita a raiva de intelectuais, que puniram sua fraude arrivista. O ressentimento com os liberais que o olham de cima. O rancor provinciano contra os que se dão bem na metrópole. O uso da tecnologia de ponta para embalsamar o arcaico.

Tomaz, em resumo, é  ardiloso, manipulador, dissimulado e vingativo. Ele só se opõem na estampa. Manipula e chantageia para os seus fins - finge que é homossexual para embaraçar um liberal, chantageia um mafioso - que induz um maníaco por games a realizar uma carnificina no comício de um candidato a prefeito, matando dezenas de pessoas, inclusive o político. Nesse sentido o filme foi premonitório: dias depois do fim das filmagens, o prefeito de Gdansk, Pawel Adamowicz, patrono da parada gay da cidade e saco de pancadas dos direitistas, foi morto num comício. A estreia do filme foi adiada devido à polarização da Polônia.

Os dois filmes mostram como o radicalismo reacionário se espalhou pelo planeta. E como "...ele é produto do modo como o mundo - capitalista em todos os quadrantes - gira em falso e gera catástrofes".

O comentário do nosso SBCense é semelhante ao do crítico da folha: "Nenhum país é uma ilha, mas todos têm suas características próprias. No Brasil, a concentração do capital arrebenta pequenas empresas. A desindustrialização e a tecnologia desempregam e subempregam.  Agora mesmo, nessa semana que acaba, enquanto todos comentavam sobre o desfile dos tanques em Brasília, algumas horas antes da Câmara dos Deputados enterrar o projeto do "voto impresso", a mesma Câmara aprovou o texto base de uma nova reforma trabalhista que diminui direitos nossos, dos trabalhadores, já conquistados historicamente, como a redução do pagamento de horas extras de categorias com horário reduzido (telemarketing, por exemplo); FGTS menor para quem for demitido; fiscalização trabalhista sem multa e com "orientações" para escravagistas (sim!!! o trabalho escravo ainda existe, e muito, no Brasil e, em vez de ser combatido, está sendo dificultada a sua fiscalização); e a criação do Regime Especial de Trabalho Incentivado (REQUIP), que estabelece uma espécie de "trabalhador de segunda classe", sem direitos, ou seja, legaliza o subemprego, permite a contratação sem vínculo trabalhista, sem férias, FGTS ou 13o salário.  O argumento, como sempre, é o de criar novos empregos, e o resultado é o jogo perde-ganha, perdem o trabalhadores e ganham os empregadores, o capital. O risco de super exploração dos trabalhadores foi enormemente aumentado. Essa Medida Provisória já está no Senado, para ser analisada até 9 de setembro. 

Lembramos, mais uma vez, da necessidade de buscarmos mais informações e desenvolvermos nosso senso crítico... e conversarmos muuuiiito!!! para entender o mundo: o capitalismo, desde o século XVIII, trouxe a ideia de mobilidade social... trouxe (e|ou potencializou), também, o racismo, o classismo, o sexismo, a meritocracia... o nazismo, o fascismo... a destruição do meio ambiente em função do lucro...  E, também, ensejou a necessidade de novas ideias, novas concepções sobre um mundo mais justo, mais bonito... precisamos entender mais o que acontece na China, em Cuba... o socialismo... o comunismo. 

Como disse o nosso crítico da Folha: "O fascismo saiu da latência e late... Sair do colapso será duro. Antes de tudo, porém, o mais urgente é barrar os atentados e mortes que a extrema direita articula."

E terminamos recordando música dos anos 80: Divino Maravilhoso, de Gil e Caetano, gravada por Gal em 1968 (ano da nossa Constituição!) e agora regravada por Iza e Caetano. A arte também nos faz refletir e buscar na história novas informações, que nos empoderam. 

À luta!!! é preciso estar atento e forte!!!


Santuza TU



terça-feira, 3 de agosto de 2021

ARTES NA PANDEMIA: Rio da vida

 

Esta é Antonieta, ou Tunieta, ou Tutu.



Esta é a Shirlene, também Shir, para xs íntimxs.



E esta é  Angel...  vulgo Gegê...



Parecem a mesma pessoa... e são... mas, ao mesmo tempo, são pessoas diferentes. Uma é doce, outra é ácida, outra é amarga... uma é ressentida, outra perdoa, enquanto a terceira jamais esquece. Uma é alegre, outra é inconformada, a terceira é inteiramente romântica. De vez em quando elas se encontram numa só pessoa. Principalmente na poesia. As três são poetas.  Eu adoro as três. 


RIO DA VIDA


Se a vida é como um rio

Ele passa por nós levando tudo

Tristezas, decepções e até mesmo alegrias.

Então, aproveite os momentos alegres e aprenda com as decepções.

Pois, como o rio, a vida corre e muda suas águas a cada instante.

Antonieta Shirlene

30.07.21


Diálogos entre Angel e Rochelle... com testemunhas

Continuando... é muito tricô...

Estávamos, cinco SBCenses, tomando umas e conversando num buteco na beira calçada e, como sempre, adoramos conhecer pessoas... bacanas. Primeiro passou o Tony, que é fabricante de semi joias. Tony achou que tinha na mesa um casal gay de mulheres, porque uma delas - vendo que ele tinha nas suas amostras uma tornozeleira com detalhe nas cores do reggae -  perguntou se ele faria uma com as cores do arco íris,   símbolo LGBTQIA+.  |Ele não fazia. Continuamos a conversar e, na despedida, ele disse pra uma de nós: linda, sua esposa. Rimos, porque não existia este casal na mesa. E ainda aconteceu uma piropa: "não é porque não quer, amor..." Um de nós contou que, há pouco tempo, presenciou uma cena triste: um homem hetero se ofender por causa de uma cantada de um gay. Comentamos que uma análise possível dessa "ofensa" poderia ser a falta de liberdade do homem hetero que escolher, ou seja, dizer não... ou SIM, talvez... e acontece também com as mulheres que se ofendem, no caso nossa SBCense até se sentiu lisonjeada.

Daí passou a Angel Rochelle... vendendo Halls... uma pessoa trans, simpatissíssima. Caímos no papo com ela também. E, em homenagem a ela, nós resolvemos que, daqui pra frente uma de nós se chamaria Angel e a outra Rochelle. Só de brincadeira. esse casal. Uma, na mesa, lembrou que, há algum tempo, quando de uma viagem em quatro mulheres a Guarapari, tinha um lugar bacanérrimo, música ao vivo, e muita paquera. Não sabíamos, ainda, do termo PIROPA, ele não tinha sido incorporado ao SBC naquela época. E quanto acontecia uma paquera chata, indesejável, "a gente, pra despistar, dava a mão uma pra outra e ia ao banheiro de mãozinha dada... nunca mais na semana toda o cara chegava... ainda bem...".

E, no tema piropa, nosso assunto mudou para piropas virtuais: "Gente! as pessoas estão desaprendendo a nossa língua? não tá dando pra entender as mensagens nos sites de relacionamento! Primeiro, não existe ponto de interrogação! então você não sabe se a pessoa está perguntando!. Depois, a letra D foi abolida e não me contaram? tipo: tô chegano... Outra: Vc quer que leve auguma coisa? (isso quando a piropa já estava evoluindo para um encontro...  e assim por diante... nossa língua está sendo massacrada!". Ai ocorreu a consideração de SBCense na mesa: "Gente, considerem o fato de que, no Brasil, pouquíssimas pessoas tiveram e têm acesso à educação formal. Os erros de português refletem a falta que da educação num país como o nosso. Milhões de pessoas são "educadas" de uma maneira bem rude, bem elementar. Poucas pessoas têm acesso a educação que permite a escrita, digamos, correta. A elite, na verdade. E, outra coisa, não saber escrever direito não corresponde a falta de inteligência, pois a inteligência emocional se situa para além de "escrita correta"...".

E as mulheres à mesa perceberam que precisavam pensar mais, talvez sobre o que poderia estar por trás desse "preconceito" com os homens que "não estão sabendo escrever". Pensamos que temos expectativas que possamos conversar, nós, mulheres e homens. Nós temos "tesão intelectual",  queremos, sim, conversar sobre "visão de mundo", sobre "política" na cama e no mundo. Se não dá pra fazer isso perdemos o tesão. "Como outra dia numa conversa tinderiana, o cara queria conversar mas só dizia bom dia, boa tarde, boa noite. Aí eu disse: se vc quiser conversar, abra um assunto!. Ai ele respondeu: "vc é mto inteligente!" e pronto! não conversou mais...".

E um homem na roda colocou sua percepção sobre o masculino: "Do que conheço sobre nós, pouquíssimos homens gostam de conversar. Infelizmente, ainda hoje, a maioria de nós permanece no "Cala a boca e beija". Triste..."

Daí, falamos sobre o amor: "tá vendo, ele termina o namoro e continua te mandando foto e mensagens... é porque ele ainda te ama..." . E ouvimos uma resposta certeira: "Não acredito! pra mim, o amor é uma emoção construída, amor não é isto que a gente aprende, no meu entendimento. As emoções são artefatos culturais, a gente aprende o que é amor... e o que a gente aprende sobre o amor é muito distorcido! Amor é construção, dá trabalho! Não está fora da gente, nós não sofremos o amor, nós somos ativos no amor! Ele está dentro da gente! Mas gente aprende a nos ver como passivos, como "sofrendo" o amor. Mas o amor é ativo... dá trabalho, como disse.  E pouca gente se interessa por isso!"

E o assunto se ampliou: "Um nível de consciência próximo ao senso comum não dá! Porque este nível de consciência reproduz machismos, racismos, preconceitos, dominação, exploração... tudo isso próprio de uma cultura capitalista. Precisamos conversar muuuuitooo sobre isso, de uma maneira simples, coloquial, que atinja pessoas "educadas", que saibam escrever bem mas apresentam uma visão de mundo "distorcida", "empobrecida"; e pessoas que não sabem escrever direito e também reproduzem essa visão de mundo. Precisamos compreender historicamente o mundo que vivemos, o capitalismo, e como ele afeta nossas vidas e nossas relações...". "Outro dia mesmo conversei com uma pessoa que sabe escrever direitinho! essa pessoa tem mais de 50 anos... e ela ainda acha que o comunismo vai confiscar seus bens, sua "propriedade" (leia-se "seu ap"); que comunista "come crianças"!!! (pros mais jovens, essa era uma ideia disseminada nos anos 50 e 60, pós 2a guerra, quando a "guerra fria" era o confronto EUA x URSS; hoje esse confronto é com a China... precisamos buscar mais informações sobre a China... e sobre outros países "comunistas"...  que o comunismo vai confiscar seus bens, sua "propriedade" (leia-se "seu ap")...

E uma grande SBCence na mesa tinha acabado de ver um filme sobre e assunto e compartilhou conosco: "Vocês conhecem Michael Moore? Michael Francis Moore é um documentarista e escritor norte americano, conhecido pela sua postura crítica, sobretudo em relação à violência armada da sociedade americana, às grandes corporações, às desigualdades econômicas e sociais e à hipocrisia dos políticos, tendo sido particularmente crítico a George W. Bush e à invasão do Iraque em 2003". 



Eu o conheci com o filme Tiros em Columbine, de 2002, quando ele tenta descobrir por que a busca da felicidade americana está cheia de violência,  explorando os acontecimentos que resultaram na tragédia na Columbine High School em 1999. Foi o Oscar de melhor documentário em 2003.

E,  em 2009 ele faz o filme documentário "CAPITALISMO: UMA HISTÓRIA DE AMOR",  que vimos agora, atualíssimo... Já sabemos que crises econômicas não se limitam aos aspectos financeiros, afetam a vida da maioria dos cidadãos e cidadãs... e podem despertar nxs mesmxs os questionamentos sobre o próprio sistema econômico. Moore faz uma análise do sistema capitalista neste seu filme, bem como os fundamentos econômicos que sustentam o regime capitalista e as consequências terríveis da sua expansão irrefreada. Várias cenas do filme documentário suscitam reflexões muito pertinentes a respeito da lógica do regime capitalista.





E perguntamos: o que ficou de marcante no filme para este SBCense? o que mais te afetou? 

E a resposta:

. O capitalismo é um sistema que dá e tira... tira mais do que dá;

. O capitalismo tira proveito dos infortúnios dos outros... tudo dentro da "legalidade" (isso significa que o direito está a serviço do capitalismo, ou seja, dos ricos ficarem mais ricos às custas da exploração dos pobres, que ficam cada vez mais pobres);

. O capitalismo é um sistema baseado na livre iniciativa; na motivação do lucro; e na competividade;

. Mas no capitalismo temos a "democracia", temos "liberdade" para "vender" nossa força de trabalho. Mas vender a que preço? a valores de mercado, lógico! então: liberdade para nada!...

. Quando um empreendimento é entregue à iniciativa privada, as pessoas se transformam em OBJETO (de lucro);

. Fica elucidado, no filme, como algumas empresas, no capitalismo, se beneficiam com a morte das pessoas;

. O capitalismo é injusto: vai contra o bem comum; a solidariedade, a compaixão... vai contra valores cristãos... é perverso, obsceno, imoral;

. Mas a repetição vai incutindo nas nossas cabeças que é bom, que é justo, que é desejável!

E, se esse filme nos causou impacto e reflexões, e ele foi realizado há mais de 10 anos, nós "atualizamos" com o Oscar de melhor filme deste ano, NOMADLAND, que também, no nosso entendimento, trata-se de uma denúncia importante feita a esse sistema em que nós vivemos e que, de alguma forma, nos aliena e nos faz reproduzi-lo. 

Chloé Zhao é a diretora do filme, a segunda mulher (e primeira asiática) a ganhar a categoria de direção, e Frances McDormand se tornou a primeira pessoa a ganhar o Oscar tanto como produtora quanto como atriz do mesmo filme. O filme conta a história de Fern, uma mulher de 60 anos que, após colapso econômico na sua cidade na zona rural de Nevada nos EUA, entra na sua Van e parte para a estrada, vivendo uma vida fora do "sistema" (que a explora até a "inutilidade" e depois a "joga fora", a exclui)c. E foi como uma nômade que ela encontra amigxs,  esperança e liberdade, além da solidariedade que existe nas comunidades, para além da competitividade e da individualidade reforçadas no sistema capitalista. Fica, ao final do filme, a sensação de que um modo de vida incomum, eu diria, mais humano,  foi apresentado com louvor, sem romantizá-lo ou demonizá-lo.

E, ao final do nosso encontro, fica a sensação de urgência de  mais conhecimento que nos faça criticar o mundo em que vivemos, como nós o reproduzimos através dos nossos preconceitos, racismos, machismos, misoginias, polarizações... e como a arte pode nos ajudar... outros filmes virão... livros... poemas... que nos ajudarão a criticar e nos instrumentalizar para conversarmos e caminharmos na construção de um mundo melhor, relações mais bonitas.

E, pra fechar, uma pessoa na roda apresentou post do insta que foi, mais ou menos, a síntese do nosso encontro:



Até...

SantuzaTU