terça-feira, 16 de maio de 2023

DIA 13 DE MAIO

A abolição do trabalho escravo no Brasil aconteceu de forma lenta e conservadora e só se concretizou em 1888

A abolição do trabalho escravo no Brasil aconteceu de forma lenta e conservadora e só se concretizou em 1888.

Concretizou ???

E o que mais nos causa perplexidade é que é ISSO que aprendemos na escola, do primeiro ano até a faculdade, assim como "o Brasil foi DESCOBERTO no ano de 1500". 

Atualmente o movimento negro brasileiro contesta esta data e prefere celebrar a CONSCIÊNCIA NEGRA  no dia 20 de novembro, data da morte de Zumbi dos Palmares, um dia de festa para os afrodescendentes. Homenageia Zumbi, o líder do Quilombo dos Palmares, um pernambucano que nasceu livre, mas foi escravizado aos seis anos de idade. Zumbi foi assassinado em 20 de novembro de 1695. E é ele que representa a luta dos negros e a consciência negra.

Assim, no dia 13 de maio deste ano, em Ouro Preto, não se falou nada sobre a "abolição" e sim sobre a "nossa água, nosso ouro". A caminhada contra colonial, pela Serra do Veloso, reuniu mais de cem pessoas, entre participantes, organização e equipe de apoio, conhecendo as estruturas de mineração de ouro do século XVIII e as nascentes de água da região.   

Du Evangelista, da Mina DuVeloso e do movimento OutraOuroPreto, falou da íntima relação do ouro com a água. "Não adianta uma serra cheia de ouro sem a água"... e da importância do bairro São Cristóvão (Veloso) em relação à água.

     Mapa do nosso trajeto, percurso de 10 km, nível de dificuldade médio.

"Sete horas de caminhada pelo Morro do Veloso e morros adjacentes, cabeceira das águas de abastecimento de Ouro Preto, vertentes para ETA do Jardim Botânico ... Passeio inusitado, conhecendo áreas de insuspeitada beleza e importância para a segurança hídrica da cidade..." disse no seu facebook o engenheiro civil sanitarista Aníbal Oliveira Freire (além de monge Zen Budista e "candidato a poeta", segundo ele).


... E querido amigo e conterrâneo,  que reencontro depois de "trocentos" anos, como se dizia em Salinas, nossa terra natal (segundo ele, cinquenta anos). 



Disso é feita a vida, de bons encontros... obrigada "primo"!

A seguir, além das duas fotos acima,  uma amostrinha de nada dessa nossa caminhada:







Vejam outras fotos no facebook:

https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=pfbid0iZrd3gyN5wuSMouMZzdzyx9vT8iFjD8YYmYsJyenqaKyyGJGkuuLK79ytozVuCunl&id=100000431675738&sfnsn=wiwspwa&mibextid=RUbZ1f


E encerramos nosso trajeto no alto do Veloso, na caixa d'água vazia, que foi pintada de branco, e sobre o branco a imagem do Rei Mansa Musa, o imperador africano que comandou o Império de Mali no começo do século XIV, a pessoa mais rica que já existiu.  

E todas as crianças imprimiram suas mãozinhas  na caixa d'água... e Flok Wilson também:


Tudo isso com muito samba e um delicioso tropeiro, no QJ João de Barro, liderado pelo nosso querido DUCA. 

E, terminando, ganhei lindo livro do meu amigo de infância:

... onde, na página 20,  pincei o poema a seguir, Águas de Minas, tudo a ver com nossa caminhada:

ÁGUAS DE MINAS
 (OLHOS D’ÁGUA NA MENINA DOS OLHOS DAS MINAS GERAIS)

águas revolvidas, minas em explosão
águas dragadas por estranho dragão
águas servidas com tanta poluição
águas queridas, sede no Sertão
águas de minas, onde estão?
saindo das entranhas, descendo montanhas, em que direção?

ÁGUAS VIVAS, seiva da Terra-Mãe-manancial,
 por que não mais irrigam o Vale do meu coração?
águas de minas quer tão-só dizer águas minerais?
águas de minas serão águas mínimas amanhã?
águas de minas serão apenas matéria-prima?
e as águas gerais de minas, minas preciosas gerais, águas públicas, 
da lavadeira, do pescador, da infância, dos barcos, dos peixes, 
da lua cheia, dos poetas, ficaram nos postais?

Eu, poeta de água doce, publico aqui o “canto das águas” e  convido à reflexão nas águas claras, profundas e cristalinas das nossas minas gerais :

E nesse canto tranquilo
Que possa te encantar
Convoco águas novas
Em trovas que eu sei cantar
E que rolam transparentes
Sem pressa de chegar
Cascatas douradas
Palavras de bem-estar
Sombra e água fresca
O que você desejar
Num cordel amistoso
Um rio descendo pro mar
Com tudo a que tem direito
Quem não perdeu a raiz
E que vai bem satisfeito
Vivendo de rimas e “climas” e feliz.

Pois:

ÁGUA PURA É CULTURA !
Água clara, gema rara
Água fresca lava a alma, refresca, purifica e acalma,
 Oh, Minas Gerais!...

Água para o índio , Y
Água para o branco, H2O
Água tratada, COPASA

Água para Narciso é espelho
Água para o peixe é casa
Água para o homem é vida
Água para a vida é sagrada!

Água mole em cabeça dura tanto bate
Água dura em pedra mole, estalactite
Água pouca em terra crua, eucalipto
Água e fogo em terra nua, apocalipse

Valei-me,  São Francisco Rio Doce  Jequitinhonha Mucuri  Rio Pardo
 Yara e Nossa Senhora!

Águas de minas, voltem pra trás
Já não quero mais ir a mar nenhum
Eu quero mesmo é amar

Montanhas e águas de Minas Gerais!


Dia lindo ... até nosso próximo encontro...  abraços carinhosos...

                                                                            Santuza TU







terça-feira, 9 de maio de 2023

O método TAP Teoria Afeto Prática

 












Novamente, a Rochelle escrevendo: terminamos nosso post anterior falando da necessidade do desenvolvimento da INTELIGÊNCIA EMOCIONAL... para aprendermos - e exercitarmos - o movimento de "virar a chave"... o que vem a ser uma mudança de paradigma, uma mudança de conceito, da maneira como vemos a nós mesmxs, vemos o mundo, vemos nossas relações. E quando falo 'vemos' considerem o 'ver' como pensar, sentir, perceber... e agir no mundo - interno e externo... e uma mudança de paradigma implica em construirmos novos valores, novos princípios, novos modelos orientadores para nossas vidas, ou seja, implica num movimento de mudança profunda - e constante. 

Pois bem... nossa querida terapeuta nos ensina uma técnica para fazer este movimento. Ela já falou algumas vezes sobre isso, mas agora ela topou fazer uma entrevista comigo para explicar melhor o que seria a técnica TAP - Teoria - Afeto - Prática. E é esta nossa pauta de hoje:

Rochelle: querida TU, minha primeira pergunta é: como percebemos que estamos fazendo o movimento de mudança de "cobra que morde o rabo" para "virar a chave"? Existe uma aprendizagem possível para  isso? Você pode nos ensinar?

TU: Querida Rochelle, como já sabemos, a vida é um movimento constante... e sabemos, também, que o "modelo" aprendido (sobre a vida, sobre mim mesmx, sobre o mundo) vem praticamente negar este movimento, fabricando ideias de "busca da verdade", de "felicidade"... e por ai vai...

Você fez um bom resumo, no post que escreveu semana passada, sobre os pré-socráticos, a fluidez e tudo mais ... e os pós socráticos, o Platão, que fez o movimento para a busca da razão pura, como se diz.

Você sabe, minha "formação" filosófica não é nada acadêmica, costumo buscar conhecimentos filosóficos e históricos a partir de assuntos que me afetam, me provocam reflexão. Um desses assuntos é exatamente este: AFETOS, EMOÇÕES.


Um dos meus primeiros contatos com este tema foi um livro de 1987, "Os sentidos da paixão", da Companhia das Letras. Em 1985, o Núcleo de Estudos e Pesquisas da Fundação Nacional de Arte - FUNARTE começou a promover cursos livres sobre cultura e arte no Brasil. Em 86, a FUNARTE preparou "Os Sentidos da Paixão", com a participação de nomes importantes da inteligência brasileira. Promovido no Rio, São Paulo, Brasília e Curitiba, o curso, em 87, toma a forma de livro. 

Com grandes nomes brasileiros da filosofia, da psicologia, da arte, como Sérgio Paulo Rouanet, Marilena Chauí, Renato Janine Ribeiro, Hélio Pelegrino, entre outros,   aprendi sobre Platão e Aristóteles e sobre Razão Louca e Razão Sábia. Aprendi que enquanto Platão elaborava uma teoria rígida - e quando mais rígida a teoria, mais lacunas ela comporta - esta teoria da busca da razão...  Aristóteles, na sua filosofia,  buscava conciliar a razão com os afetos (ou paixões) com a ideia de que quanto mais apaixonado estou mais "responsável" me torno, ou seja, eu "respondo" pelos meus afetos. No conflito - ou diálogo - entre razão e paixão, aprendemos - de forma distorcida - que a loucura é das paixões. Pois não é. A Razão é, sim, louca - ou é sábia. Explicando: a razão se define por sua forma de relacionar-se com as paixões, sejam elas agressivas ou amorosas. Quando a razão, influenciada pelos afetos, distorce ou bloqueia o conhecimento, e reprime ou liberta a vida passional de um modo destrutivo, estamos diante da RAZÃO LOUCA. Por outro lado, quando a razão está a serviço do conhecimento objetivo e de uma vida passional tão livre quando possível, estamos diante da RAZÃO SÁBIA. 

Rochelle: então seria isso o que chamamos de Inteligência Emocional? e como aprender a desenvolvê-la?

TU: sim querida... embora esse conceito de Inteligência Emocional tenha se 'banalizado', para o 'consumo imediato', como quase tudo na nossa cultura do consumo, do imediatismo, do 'milagre'. A vida toda estaremos "aprendendo" o movimento de "juntar" razão e emoção... pois essa fragmentação "cabeça-corpo" está fabricada em nós há séculos. Porém, tudo que é historicamente "fabricado" pode ser mudado não é mesmo? Aliás, temos mais um componente a ser "juntado" para caminharmos no sentido de uma vida mais plena, de uma visão de mundo mais ampla e de relações de trocas mútuas e de crescimento. A dimensão do fazer, da ação. Chegamos ao que podemos nomear como uma "técnica" para a prática do movimento de "ir virando a chave". o TAP - Teoria, Afeto, Prática ...

Rochelle: explica pra nós, por favor, essa técnica, TU. É fácil de ser aplicada. Podemos tentar?

TU: sim querida. Primeiro, perceba que é um movimento constante, para a vida toda: Teoria -  Afeto - Prática -  Afeto -  Teoria - Afeto - Prática - ... e sempre no meio de tudo está o AFETO. 

Bem... a TEORIA é tudo que já existe pronto - um livro, um poema, uma música, um filme, tudo que pode servir de pré-texto... pois o texto quem faz somos nós, nós somos SUJEITOS do conhecimento, nós produzimos conhecimento, cultura, arte. A teoria foi, provavelmente, um TAP da pessoa que a fez. Por exemplo, um livro é o resultado de uma pergunta, uma perplexidade, uma interrogação daquela pessoa.  E toda teoria já pronta só vai  servir para me "transformar" se eu for afetadx por ela.

O AFETO: trata-se da teoria "passar por dentro de mim, me provocar reflexão, me abrir perguntas, questionamentos, "como é isso na minha vida", ou seja, eu "me vejo" na teoria. 

Mas AFETO é, também, relacionalmente, sentimentos e emoções, pois a TEORIA, também, pode ser x outrx, uma provocação, qualquer coisa que uma outra pessoa me coloque, me diga... eu sinto... e tomo contato com as minhas emoções... e "aprendo" a colocá-las ... e "construir" relações... seja em que nível relacional for, do íntimo (relações afetivo-sexuais) passando por família, relações de trabalho, até o nível de relações mais amplo, eu no mundo enquanto cidadão|cidadã. 

Bom... e quando qualquer assunto, tema, relação, passa por dentro de mim, me provoca afetos e reflexões, acontece a  terceira etapa do movimento... a ação, a PRÁTICA, algo já muda na minha vida, uma maneira de ver, uma emoção expressada, um jeito novo de ver x outrx... 

E quando algo de novo acontece, a PRÁTICA... e eu vejo... de novo eu sou afetadx... passa por dentro de mim e eu ELABORO... eu já não digo do mesmo jeito aquela teoria, ou aquilo que ouvi... já sou eu, apropriando da teoria, e elaborando... sendo SUJEITO DO CONHECIMENTO. 

E assim vai... TAP AT AP AT AP................  e vou "virando a chave"... estabelecendo outras visões, outras práticas... e compartilhando com pessoas ao meu redor... e trocando com as mesmas ... e construindo juntxs novas formas de estar no mundo, de relacionar...

Repare que posso, também, estar afetadx com um tema... e buscar o que já pensaram a respeito... esse conhecimento já me provoca reflexões... eu mudo algo, minha maneira de pensar, minha ação... sei falar do tema, já acrescido das minhas reflexões|ações...  troco assunto com outras pessoas... e exerço o que considero de mais humano: nossa capacidade de crescer com x outrx e oferecer ax outrx minhas experiências|reflexões para ele|ela crescer comigo... e isso não acaba nunca... e a vida fica mais profícua ... mais bonita...

Rochelle: vou ouvir atentamente a gravação dessa entrevista e vou tentar escrever sobre isso. Pois me parece que precisamos PRATICAR, exercitar o TAP para entendermos. 

TU: Verdade querida. Difícil de explicar teoricamente... Quando você "praticar" é que vai começar a entender... e não vai mais parar.  A explicação teórica dá a impressão de ideias fragmentadas,  faz a gente perder de vista o movimento, esse da ligação da cabeça (teoria) com o coração, o pescoço; e do coração com os membros (mãos e pernas - o fazer, a ação, a prática), que poderia ser, numa metáfora, as artérias e veias.

Rochelle: Mas me fale um pouco mais sobre esse ponto do meio do TAP, os AFETOS. Você disse que parece o mais difícil?

TU: sim... em função da nossa cultura, que nos fragmentou, separou cabeça e corpo -  e separou, também, membros - a ação...  o contato com nossas emoções, e aprender a expressá-las é muito difícil. Tem a questão da linguagem... vou tentar explicar: nós já nascemos "sentindo" inúmeras emoções, não é? E só sabemos nos expressar chorando... batendo as perninhas e os bracinhos... aí, com pouco tempo de vida, começamos a nos expressar de outras formas... e aprendemos a falar... e quando aprendemos a falar, as palavras vêm sempre com um significado, certo? Este significado já é dado cultural e historicamente. Então "aprendemos" as emoções: isso é raiva, isso é amor... e assim por diante. Portanto, as emoções são, também, "fabricadas" culturalmente... e mais: aprendemos a categorizar as emoções, a colocá-las numa prateleira, acima as "emoções" nobres... que temos que ter (ou fingir que temos)... e vamos descendo a prateleira para as emoções menos nobres... as que temos que negar, fingir que não temos... 

E essa aprendizagem vem nos causar muitos danos, querida! Desenvolvemos a terrível habilidade de negar emoções, e elas estão agindo sobre nós (a razão louca), e nem sabemos disso... e "internalizamos" alguns sentimentos "puros", como se pudéssemos sentir dessa maneira ... e não podemos, pois somos humanos. O amor é um desses sentimentos... ai... quanta negação, quanta "fagocitação" de emoções, em nome do amor.

Nós simplesmente não sabemos vivenciar o amor de uma maneira humana, junto com todas as "outras emoções" que o acompanham... expressar essas emoções de uma maneira  saudável, construir com todas elas. Nós não aprendemos a vivenciar os conflitos de emoções, por exemplo medo e coragem, amor e raiva... E nós vivenciamos esses conflitos o tempo todo! Ora, o amor, a solidariedade, a consideração das diferenças,  só é possível quando há espaço para a expressão das emoções e sentimentos. Somente a partir daí é que caminhamos para a busca da delicadeza nas relações.

Rochelle: Estou começando a entender... rsrs. E temos alguma literatura sobre isso?

TU: ótima pergunta querida!. a resposta é não... rsrs. Aprendemos a fazer o movimento TAP "FAZENDO".  Eu aprendi nos anos 80 com uma pessoa que foi importantíssima na minha vida. Fui cliente e aluna dessa pessoa, trabalhei com ela e com sua equipe. Foi um "virar a chave" na minha vida, pessoal e profissionalmente. Ela coordenava uma "Formação do ser crítico". Estudávamos, além de psicologia, antropologia, história, filosofia... sempre seguindo esse método. Aprendíamos uma metodologia de leitura e apreensão de um autor, ou de um texto (uma unidade de leitura), para depois fazermos o A, sermos afetadxs, sermos provocadxs a refletir e elaborar textos a partir das leituras de grandes autores. E foi assim que eu aprendi a "pensar", inclusive incorporando à minha pratica terapêutica tudo que já tinha estudado antes (e esse conhecimento estava, para mim, todo fragmentado); assim como ampliei minha atuação, comecei a fazer palestras e cursos de Relações Humanas aplicados às diversas instituições publicas e privadas. E aprendi, também, a escrever... como eu queria, da forma mais coloquial, mais simples possível, sem perder a profundidade, pois meu desejo era "afetar" muitas pessoas...

E o SBC, nosso coletivo, que aconteceu na minha vida também nessa época, me trouxe a ARTE como ferramenta que facilita muito o contato com os afetos. Particularmente a literatura, a música, a poesia... veja que uma leitura recente me afetou profundamente nessa questão: o livro TORTO ARADO,  um romance brasileiro de 2019 escrito pelo autor baiano Itamar Vieira Junior.


Torto arado narra a vida dos trabalhadores rurais de Água Negra, uma fazenda na região da Chapada Diamantina, interior da Bahia. Os trabalhadores de Água Negra não recebiam salário para arar a terra, apenas morada, ou melhor, o direito de construir casebres de paredes de barro e telhado de junco (construções de alvenaria eram proibidas) e cultivar roças no quintal quando não estivessem plantando e colhendo cana-de-açúcar e arroz nas terras do patrão. Só ganhavam algum dinheiro quando vendiam na feira a abóbora, o feijão e a batata que cultivavam no quintal ou quando conseguiam a aposentadoria rural. Eram quase todos negros, descendentes dos escravizados libertos havia poucas décadas.

A primeira parte de Torto arado é narrada por Bibiana; a segunda, por sua irmã, Belonísia. As duas são filhas de Zeca Chapéu Grande, um dos trabalhadores de Água Negra e líder do jarê, religião afro-brasileira praticada na região da Chapada Diamantina, influenciada pela umbanda, pelo espiritismo e pelo catolicismo.  Além de comandar as “brincadeiras de jarê” e curar corpos doentes e espíritos perturbados, Zeca Chapéu Grande fazia as vezes de líder político, de pelego, a apaziguar os conflitos entre trabalhadores que achavam que a terra era de quem nela trabalhava. A terceira e última parte do romance é narrada por uma entidade do jarê.


Vieira Junior conta que começou a esboçar este livro há mais de duas décadas, quando tinha 16 anos, inspirado pela leitura dos romances regionalistas dos anos 30 e 40, nos quais autores como Rachel de Queiroz e José Lins do Rêgo retrataram a pobreza sertaneja. “Essa história das duas irmãs que têm uma relação conflituosa uma com a outra, com o pai e com a terra me veio naturalmente. Mas as personagens tinham outros nomes e não tinha essa história da língua”, recordou. Ele datilografou o romance numa Olivetti Lettera 82 que ganhara de presente do pai, mas perdeu o manuscrito, umas 80 páginas, numa mudança. Deixou a literatura um pouco de lado — os pais o alertaram de que era difícil se sustentar da escrita — e se formou em geografia na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Deu aulas e, há 13 anos, ingressou no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), onde é analista agrário e se divide entre a rotina burocrática da repartição pública e trabalhos de campo no interior do Nordeste. “Quando cheguei ao campo, encontrei a realidade que conheci em romances como O quinze e Menino de engenho”, disse. “Conheci famílias inteiras de trabalhadores que vivem em um sistema semelhante à escravidão, que não recebem dinheiro pelo dia de trabalho e só têm direito à morada. É um Brasil anacrônico, que parou no tempo. Eu quis dividir esse meu espanto, esse choque.”

A vivência de Vieira Junior no campo rendeu uma tese de doutorado em estudos étnicos e africanos defendida na UFBA em 2017. Mas ele logo percebeu que a vida daqueles trabalhadores rurais merecia a literatura. Resolveu escrever sobre essa população, os pobres, quase sempre negros, que pouco aparecem na literatura brasileira recente, principalmente naquela produzida entre Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. “Venho de uma família simples. Meu pai era descendente de indígenas do Recôncavo Baiano. Minha mãe, de camponeses pobres e migrantes. Boa parte de minha família tem ascendência negra. Toda essa história é muito cara para mim, e eu sentia falta dela na literatura”, disse. Num trecho de Torto arado, Belonísia justifica sua falta de interesse pela escola porque a professora, Dona Lourdes, “não sabia por que estávamos ali, nem de onde vieram nossos pais, nem o que fazíamos”, “em suas frases e textos só havia histórias de soldado, professor, médico e juiz”. Para Vieira Junior, a recente literatura brasileira às vezes se parece com as lições de Dona Lourdes. “Há coisas incríveis na literatura brasileira contemporânea, mas, em minha opinião, também há um excesso de autoficção, de romances girando em torno do umbigo e dos problemas do escritor branco de classe média. Isso cansa. Mas também há autores, menos divulgados, contando histórias que contemplam toda a nossa diversidade, os muitos 'Brasis', afirmou.

Torto Arado é uma história sobre o desejo de liberdade, o desejo de autonomia, o desejo de ter a própria história. E ser dono da própria história. Esses sentimentos passam por uma questão particular para as personagens, mas que dizem respeito a todos nós. Para uma das irmãs, liberdade era sair daquele lugar, para outra era ficar. E podemos acompanhar  'sentindo junto' a forte ligação entre essas duas irmãs, onde todas, absolutamente todas as emoções, sem nenhum juízo de valor a respeito das mesmas, são expressadas. E aprendemos a "humanizar as emoções", perdendo um pouco essa idealização da própria emoção, assim como o "medo" que temos de expressar o que aprendemos como emoções negativas e "matar o amor"... e, tragicamente, algumas vezes acabamos por matá-lo, a "cobra que morde o rabo". 

Rochelle: TU, com o exemplo da arte você conseguiu  nos mostrar um pouco mais todo isso que você diz de MOVIMENTO PARA UMA VIDA BONITA. Fiquei emocionada. Parece mesmo um fácil...difícil... e necessário... você nos seduz para isso... obrigada TU!  Você poderia, ainda, nos dizer como é essa metodologia de "apreensão do autor" para depois fazermos o TAP?

TU: Prometo fazer isso no próximo post, pode ser?

Rochelle: Claro TU! senão ninguém vai ler até aqui, né? já está muito grande esta conversa né? Vamos terminar por aqui, agradecendo, mais uma vez, nossa querida terapeuta. E aguardando próxima semana, próximo post... Até lá...

Lembrando, TU me pediu pra fazer isso: pessoal!!! comentem no blog sobre o post, adoramos os comentários... e o melhor jeito é publicar o comentário como anônimo (se você não tiver uma conta do google)... mas coloque seu nome no comentário e depois publique, por favor!!! pra gente saber... e interagir... obrigada


                                                                        ROCHELLE





                                                                                                                                 

sexta-feira, 5 de maio de 2023

Uma nova abordagem terapêutica

Quem escreve este post, a pedidos,  sou eu,  Rochelle, uma espécie de alter ego ('traduzinho', uma outra eu):  Escrevo para traduzir com minhas palavras, e apresentar a vocês, o 'estilo' terapêutico da nossa 'presidenta' que, como sabem, é psicóloga, terapeuta e palestrante. 

Conto, primeiro, que nossa terapeuta é velhinha, trabalha nisso há muuuiiiitoooo tempo, 'desde século passado'... e se dá o direito de, ao ser perguntada sobre sua linha, dizer: SANTUZINIANA!!!; e ela relata que diz isso na primeira sessão. E ela 'ou perde... ou ganha' o\a cliente... 

Ela explica que criou, a partir de aprendizagens e experiências de vida e de trabalho, o que se poderia dizer "um método terapêutico" bastante interessante e eficaz, que vou tentar dizê-lo aqui pra vocês. Mas antes de discorrer sobre o método, algumas de suas referências:

A primeira pessoa que ela se lembra de ter sido, algumas vezes, comparada, é com o mestre José Ângelo Gaiarsa.  Formado em medicina e especializado em Psiquiatria, foi o introdutor das técnicas corporais em psicoterapia no Brasil.  Nasceu em Santo André-SP, em 1920. Autor de mais de 35 livros e pioneiro na participação da psicologia e relações humanas em programas de TV. De 1983 a 93 Gaiarsa apresentou o quadro Quebra-Cabeça em programa na TV aberta, em que analisava conflitos pessoais e relacionais, contando sempre com a participação dos expectadores. 

Gaiarsa foi um teórico sobre a psicologia da performance, com implicações na ética prática e na comunicação não verbal. Suas produções na área da psicoterapia têm contribuído para a produção científica e para a socialização dos conhecimentos sobre corpo e subjetividade, além de temas como família, sexualidade e relacionamentos amorosos. Morreu na capital paulista no dia 16 de outubro de 2010, aos noventa anos de idade, em decorrência de causas naturais, em sua residência.

Alguns de seus livros:

Adoro essa capa... ótima ilustração de "amores perfeitos"...

Um dos primeiros intelectuais a quebrar a barreira da linguagem, Gaiarsa falou de temas caros a todos nós, como amor, sexo, comportamento, fidelidade, educação de filhos, machismo, feminismo e hipocrisia. 

Em seus livros ele compartilhou conhecimentos de biologia, antropologia, sociologia, comunicação não verbal, fisiologia, biomecânica, cinesiologia, psicanálise e terapia corporal. Adorava estudar os fenômenos de consciência. Crítico contumaz da família nuclear tradicional e da posição subalterna da mulher na sociedade, usava de fina ironia e muitos exemplos de consultório para explanar seus pontos de vista. Revolucionário, sofreu duras críticas, mas nunca deixou de falar sobre aquilo em que acreditava: o amor como único antídoto para as mazelas humanas.



Este livro de 2020 é uma pequena coletânea de pensamentos desse gênio aberto e destemido que conquistou corações no Brasil e no mundo. Trata-se de uma singela homenagem ao centenário de seu nascimento e um marco certeiro para a memória da psicologia brasileira.

Assim Gaiarsa se definia: "Sou primeiro um cosmopolita do Universo [...]. Sou depois um membro desta raça equívoca – a humanidade desumana – a oscilar continuamente entre a santidade e a perversidade, a genialidade e a loucura, os mais astutos e implacáveis predadores de Gaia e de tudo que ela nos oferece, a Grande Mãe Generosa que exploramos sem piedade, sem cuidado e sem remorsos, dizendo mentirosamente o tempo todo que a respeitamos e amamos. Amo essa humanidade e, apesar de tudo, ainda tenho esperança de um dia vê-la feliz – principalmente mais prazenteira, amorosa e solidária."

Fazendo a pesquisa acima, sobre o Gaiarsa, conclui que nossa terapeuta e presidenta do SBC  "herdou" do mesmo, principalmente, a irreverência, o riso... e a criatividade, o movimento que ela sempre faz de 'sair da caixa', sair dos padrões e se permitir... se permitir a liberdade... que ela define como algo sempre a conquistar, "hoje sei que sou um pouco mais livre do que era ontem e um pouco menos do que vou ser amanhã".

E comprovo essas características através de outra pessoa que ela cita... e morre de rir: o ANALISTA DE BAGÉ... ela se diz, também, parecida com esse personagem. Daí fui, também, pesquisar:

O livro O Analista de Bagé é uma coletânea publicada pelo escritor gaúcho Luís Fernando Veríssimo em 1981. O personagem criado por Veríssimo representa um gaúcho, psicanalista, supostamente freudiano de linha ortodoxa, de palavras marcantes e ilustrativo da sabedoria popular do Rio Grande do SulO analista se diz "mais ortodoxo que pomada Minâncora" ou que as "Pastilhas Valda".  (todo mundo do século passado usou - e ainda usa - podem pesquisar)

Sua técnica do joelhaço, no entanto, é bastante heterodoxa, a depender do ponto de vista. Ela está baseada no princípio da dor maior, isto é, quando o paciente vem se queixar de suas dores subjetivas, o joelhaço aplicado no local correto oferece ao sujeito a vivência de uma dor tão mais intensa que faz com que se esqueça das dores "menores". O personagem de humor criado por Veríssimo ganhou, além da literatura, versões em quadrinhos e no teatro.

Luís Fernando Veríssimo

Érico Veríssimo












Luís Fernando Verissimo  nasceu em Porto Alegre em 1936.  É escritor, humorista, cartunista, tradutor, roteirista de televisão, autor de teatro e romancista. Já foi publicitário e revisor de jornal. É ainda músico, tendo tocado saxofone em alguns conjuntos. Com mais de 80 títulos publicados, é um dos mais populares escritores brasileiros contemporâneos. E é filho do grande escritor Érico Veríssimo, de Olhai os lírios do campo (1938) e da trilogia O tempo e o vento (1949...), entre outros.

Mas TU (Santuza), eu perguntei, você não teria referências mais atuais, suas referências são muito antigas (percebi que fiz um juízo de valor); e ela me responde:

- Querida, buscar referências na história não significa ser antiga, no sentido de desatualizada! significa TER HISTÓRIA! Trazer essas pessoas que você citou para a atualidade significa, para mim, resgatar pessoas "além do seu tempo", e tão necessárias aos tempos atuais... A história não é linear; isso significa que vivemos, agora, um conservadorismo necessário de se superar ... a fim de avançarmos para, eu diria,  a "retomada da nossa humanidade".  Veja...  nosso mundo ocidental foi "construído"  numa lógica pós socrática. Platão, discípulo de Sócrates, buscava a "razão pura" e ser "tomadx" pela emoção era, para ele, uma espécie de "acidente". Veja em que essa polarização razão/emoção resultou: um exemplo, o "crime passional", uma aberração, um contra senso, uma desumanidade... pois somos responsáveis pelas nossas emoções, pelos nossos afetos, ou seja, "respondemos" pelos mesmos... inclusive pela aprendizagem de conhecê-los e "considerá-los", "apropriar" dos mesmos;  e pelo "aperfeiçoamento" de TODOS os afetos, pois não existe afetos positivos e negativos; existe, sim, o saber lidar com todos eles, saber potencializá-los e utilizar deles para o bem viver e bem relacionar. 

Sabe uma filósofa brasileira modernérrima que fala muito bem desse assunto, e da necessidade do resgate de filósofos pré-socráticos para nossas referências na construção do "bem viver e bem relacionar"? Viviane Mosé

... Vamos à pesquisa:


Viviane Mosé nasceu em Vitória - Espírito Santo, em 1964. É poetisa, filósofa, psicanalista e especialista em elaboração e implementação de políticas públicas. Mestre e doutora em filosofia, publicou sua tese de doutorado Nietzsche e a grande política da linguagem em 2005.

A característica marcante da Viviane Mosé, segundo nossa terapeuta TU, é trazer temas de filosofia para uma linguagem cotidiana. E TU diz, ainda, que a Viviane lhe ensinou mais sobre Nietzsche, filósofo que ela já era super fã, acho que um dos pouquíssimos que tenta resgatar, na sua filosofia, os pré socráticos naquilo que eles tem de fluidez, de ideia da vida como movimento. Nietzsche usa, nos seus textos, tanto do raciocínio dialético quanto de aforismos.

E um dos filósofos pré-socráticos que nossa terapeuta considera super contemporâneo é o HERÁCLITO. Considerado o “Pai da Dialética”, Heráclito (540 a.C. - 476 a.C.) nasceu em Éfeso e explorou a ideia do devir (fluidez das coisas). "Nada é permanente, exceto a mudança".

Pitágoras (570 a.C. - 497 a.C.) é outro pré-socrático super importante. Além de matemático, ele também foi responsável por chamar de "amantes do conhecimento" aqueles que buscavam explicações racionais para a realidade, dando origem ao termo filosofia ("amor ao conhecimento"). "O universo é uma harmonia de contrários"

E o Zenão... Discípulo de Parmênides, Zenão (490 a.C. 430 a.C.) foi grande defensor das ideias de seu mestre, filosofando, sobretudo, acerca dos conceitos de “Dialética” e “Paradoxo”. "O que se move sempre está no mesmo lugar agora".  

Observo, com essa pesquisa, que a dialética seria um método filosófico anterior a Sócrates, que foi "perdido" na Idade Média, das trevas... e recuperado no século XVIII por Hegel (1770 - 1831)... que, por sua vez, veio a ser "inspirador" de filósofos contemporâneos importantíssimos, um deles Karl Marx

Reparem que trata-se de um  processo - um movimento, "... por meio do qual ocorreria a evolução do conhecimento e da realidade, e é composto por três elementos: A tese é situação fática primária, com suas características propícias para germinar a contradição/questionamento, ou seja, a antítese. Do choque entre tese e antítese, surgiria a síntese, que, por sua vez, seria tese para um novo processo evolutivo. Tal processo dialético triádico seria aplicável em todos os setores da realidade humana".

Pois então ... daí , disso tudo, chegamos ao método terapêutico da nossa querida SBCense. O método Santuziniano, que inclui a o autoconhecimento, a auto-observação, o riso (inclusive rir da gente mesmx), a coragem para experimentar o desconhecido, a criatividade... a apropriação da própria vida, a criação de conceitos, valores, princípios orientadores de uma vida "bonita"... e por aí vai.

A metáfora que ela usa para explicar o método:

MOVIMENTO "COBRA QUE MORDE O RABO"

                                    X

MOVIMENTO DE "VIRAR A CHAVE"

. Cobra que morde o rabo: são as repetições de "modelos" de comportamentos, de visões de mundo, de visão de si mesmx... todos os "padrões" de pensar, de sentir e de agir, aprendidos e repetidos... e que nos levam a sofrimentos psíquicos... mas a gente não consegue - ou tem dificuldades  (por vários fatores) de sair deles;

. Virar a chave: significa "abrir uma porta"... e não sabemos o que existe depois da porta ... há que se ter coragem para fazer esse movimento... que vem a ser um movimento de construção... de novos modelos, novas formas de se ver, ver o mundo, se posicionar no mundo, se relacionar...

Este movimento às vezes é sofrido, às vezes é prazeroso... e trata-se de um movimento para toda a vida.

Três ressignificações de Freud, aqui:

Resistência... sim, aparece sempre a resistência... Reparem que a mesma energia que gastamos para o movimento "cobra que morde o rabo" é a que usaremos para "virar a chave". A diferença é que o primeiro movimento é conhecido - por isso pensamos que gastamos menos energia; o segundo é o novo, é a construção... mas, acreditem, trata-se da mesma energia - voltada para a morte (simbolicamente, na repetição da "cobra que morde o rabo") ou voltada para a vida (no "virar a chave). Enfim, resistência existe e nossa atitude é a de "lutar contra ela", não a de "alimentar a mesma";

Outro conceito que merece ressignificação, para inaugurarmos o movimento de "virar a chave": Trauma... na origem da palavra, trama é uma ferida. Em alguma época da minha vida aconteceu uma ferida. Se ela é curada, deixo sair a casquinha no tempo certo, supero o trauma. Mas se eu fico, todo dia, cutucando a ferida pra ela não sarar, talvez "usando" a ferida para algum objetivo relacional (receber proteção, por exemplo, "olha que dó de mim!"...)  estou fazendo o movimento "cobra que morde o rabo"... e, para "furar" este esquema, fazer o movimento dialético de superação, preciso me perguntar que proteção é essa que sempre busco... será que preciso dela? confundo amor  com proteção, como aprendi?

É difícil... mas é também prazeroso... "rapadura é dura mas é doce"...  daí um terceiro, e último (por enquanto) termo a ser ressignificado:  "mecanismo de defesa"... ora, mecanismo de defesa foi, em alguma época, uma defesa real, eu precisava daquele mecanismo para sobreviver emocionalmente (precisava, por exemplo, projetar no outro a minha dificuldade, negar, reprimir, adiar (procrastinar), 'fagocitar' (esconder) os conflitos ... entre outros mecanismos que utilizamos); já em outra época da minha vida, quando talvez eu tenha amadurecido e não "precise" mais daquele mecanismo e continuo utilizando o mesmo, ele já não me faz mais nenhum bem, só me faz mal, impede meu contato genuíno comigo mesmo e com o outro... aí estou repetindo o modelo "cobra que morde o rabo".

E ela define o trabalho dx terapeuta recorrendo, também, a uma metáfora:

Na DIVINA COMÉDIA, Virgílio, o grande poeta romano autor de Eneida, surge para guiar Dante pelo inferno e o purgatório em direção ao paraíso. Antes de encontrar Virgílio, ele estava numa selva escura.

Pois é este o nosso papel: estar junto com  o cliente nessa caminhada rumo ao autoconhecimento, a ser sujeito, se descobrir, colocar sua vida nas suas mãos, e a relacionar com os outros praticando o que existe de mais genuinamente humano: eu cresço com você e você cresce comigo ...  aprendemos juntxs, a ser pessoas melhores e a realizar trocas mais prazerosas, mais bonitas e significativas para uma vida bem vivida.

Aprendemos, também que não é assim: "agora aprendi e virei a chave", sou outra pessoa... isso não existe! A aprendizagem da humanização é o constante exercício  (de humildade) de "ver" que estou no "cobra que morde o rabo" e conseguir caminhar para "virar a chave"... e construir, ou melhor, estarmos sempre construindo, a vida e movimento constante.

E repararam que, assim como o processo dialético (tese-antítese-síntese.......) é aplicável "...em todos os setores da realidade humana", também o modelo "cobra x chave" pode ser utilizado nos diversos ambientes que convivemos? 

Exemplos:  uma relação afetiva pode acabar pela repetição da velha fórmula do amor romântico (idealização, que gera passividade e abandono da noção de construção constante do amor);  uma instituição, seja ela empresarial ou qualquer outra instituição (família, escola, partido político, instituição religiosa, ...), pode "acabar" em função de processos "cobra que morde o rabo", ou seja, repetindo modelos obsoletos... ou pode se tornar uma instituição "fechada", autoritária, dominadora, "fabricante" da  passividade e da submissão dos seres humanos. 

E, por último, para conseguirmos "ir mudando" para o movimento "virar a chave" é imprescindível o contato com nossas EMOÇÕES, aquelas reprimidas, negadas... é preciso desenvolver a INTELIGÊNCIA EMOCIONAL... 

A começar por lidar com conflitos emocionais: medo x coragem... a coragem não é a ausência do medo, mas a "filosofia a vaca": vai, cagando (de medo) mas anda... ou vai rindo...

Obrigada querida terapeuta SBCense Santuza TU. 

Gratidão, minha e de todo o SBC, grupo de amigos que virou um conceito, uma filosofia de vida.


AH, e ela ainda me manda o recado: não tem nenhuma pretensão de elaborar nenhuma teoria... e tem muita pretensão de suscitar reflexões, diálogos e crescimentos mútuos.

ROCHELLE