terça-feira, 12 de junho de 2018

NOVO PROJETO SBCense: PROSA E SAMBA ou De como o “Amor romântico” arrasa com nossas vidas...


O projeto começa com uma ideia de um grande SBCense:

- TU, já reparou que PRA TUDO TEM UM SAMBA?
- É mesmo minino! ...o samba canta TODAS as emoções: alegria, tristeza, dor, desatino... pra tudo tem um samba...

Então começamos a pesquisar os sambas que cantam as emoções... e surgiu o pout pourri (fiquei sabendo que agora e medley: conjunto de músicas cantadas conjuntamente... aff... vamos atualizar!!!):


Caetano Veloso


Haroldo Lobo




































A tristeza é senhora
Desde que o samba é samba é assim
A lágrima clara sobre a pele escura
A noite, a chuva que cai lá fora
Solidão apavora
Tudo demorando em ser tão ruim
Mas alguma coisa acontece
No quando agora em mim
Cantando
eu mando a tristeza embora...


Tristeza  
Por favor vai embora
minha alma que chora 
Está vendo o meu fim

Fez do meu coração a sua

moradia                             
Já é demais o meu penar                                 
Quero voltar àquela   Vida de alegria
Quero de novo cantar...

Alegria
Pra cantar a batucada
As morenas vão sambar
Quem samba tem alegria!
Minha gente 
Era triste e amargurada
Inventou a batucada   
Pra deixar de padecer
Salve o prazer
Salve o prazer...


Três lindos sambas que falam de emoções básicas: alegria e tristeza. O primeiro do Caetano;  segundo,  bem conhecido, Haroldo Lobo e Niltinho, antigão; e o terceiro samba, também antigo e conhecido, de Assis Valente e Durval Maia.

E continuamos nossa pesquisa sobre samba e emoções... Foi aí que uma super SBCense lembrou:

- Gente! Minhas memórias de infância são de um gênero (ou sub-gênero) de samba chamado samba-canção! Adorava ouvir meu pai cantando “Linda Flor” (Ai ioiô...), imitando Jamelão, que interpretava Lupicínio Rodrigues, também Cartola e Noel Rosa escreveram samba-canção (“As rosas não falam”, do Cartola) ... e “A flor e o espinho” do Nelson Cavaquinho... ai, que saudade!!!
NOEL ROSA
CARTOLA

Ai os SBCenses que tinham essas lembranças também ficaram com saudades. Dos mais novos uns(e umas)  já conheciam alguns sambas-canção, outrxs foram pesquisar:

“Também chamado de "samba de meio de ano" (ou seja, sambas feitos fora da época de carnaval). em linhas gerais, o samba-canção faz uma releitura mais elaborada na melodia - enfatizando-a - e possui um andamento moderado (o mais lento dentro das vertentes do moderno samba urbano), centrado em temáticas de amor, solidão e na chamada "dor-de-cotovelo". ..."Linda Flor (Ai, Ioiô)", do compositor Henrique Vogeler e dos letristas Marques Porto e Luís Peixoto, é considerado o marco inaugural desse estilo de samba....o ambiente da década de 1950 estimulou a expansão desse gênero no mercado nacional. E ainda: “...no que diz respeito às letras, uma interpretação pessimista das propostas ligadas à filosofia existencialista (que traduzem um forte desencanto com o mundo). Esse conteúdo melancólico mais tarde incorporaria a palavra "fossa" para o subgênero.”

E foi com esta pesquisa que lembramos, não a palavra fossa, mas LAMA... e construímos a categoria SAMBAS DE LAMA...        que falam também de emoções, mas um tipo peculiar de emoções: desamor, perda de amor, solidão, falta de amor... e criamos uma “teoria” sobre os sambas de lama: nós precisamos deles... precisamos cantá-los muito... até rir da gente... e superar a dor de cotovelo, a fossa, a lama, enfim... é certo que algumas pessoas não conseguem a superação (que acontece com o riso) e atolam na lama para sempre... ui... que meda!!! Isso é muito perigoso!!!

Segundo nossa pesquisa (agora pesquisa musical) Lupicínio Rodrigues é o maior representante de SambaLama. Mas tem também a super representante feminina, Maysa. E a maravilhosa Dolores Duran, “A noite do meu bem” é um clássico LAMA:


Dolores Duran
Hoje... eu quero a rosa mais linda que houver
E a primeira estrela que vier
Para enfeitar a noite do meu bem...
Hoje... eu quero paz de criança dormindo
E o abandono de flores se abrindo
Para enfeitar a noite do meu bem...
Quero... a alegria de um barco voltando
Quero  ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem...
Ha ... eu quero o amor o amor mais profundo
Eu quero toda beleza do mundo
Para enfeitar a noite do meu bem...
Quero... a alegria de um barco voltando
Quero  ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem...
Ai... como esse bem demorou a chegar
Eu já nem sei se terei no olhar
Toda a ternura que eu quero lhe dar ...

E nossa historiadora SBCense lembra de uma super lama do Lupicínio que ela ouvia seu pai cantando quando criança e ficava admiradíssima, Gente! Essa música é do Ricardão, fala de uma traição!!! E desde essa época ela, transgressora que era, pensava: ainda quero cantar essa música!!! E, mais tarde na vida, quando já cantava, pensou em interpretá-la mas não conseguiu porque era uma música... masculina, digamos... era um homem (na lama) cantando. Porém, um pouco mais tarde, ela teve a ideia de interpretá-la num outro contexto: o de uma mulher, amante de outra mulher, que é casada!!!
Inclusive servindo para ouvi-la e combatermos nossos preconceitos, olha que bacana!!! Ai vai:

Ela disse-me assim
Tenha pena de mim ... vá embora
Vais me prejudicar
Ele pode chegar ... está na hora
E eu não tinha motivos nenhum para lhe recusar
Mas aos beijos carinhos abraços lhe pedi pra ficar
Sabe o que se passou
Ele nos encontrou... e agora
Ela sofre somente porque foi fazer o que eu quis
E o remorso está me torturando
Por ter feito a loucura que fiz
Por um simples prazer
Fui fazer meu amor infeliz



Maysa era uma grande intérprete de sambas de lama. Tem uma música anos 60 que ficou na memória dos lamas, inclusive com um acréscimo interpretativo ao final, bem ao estilo SBC:
MAYSA


Ouça vá viver
A sua vida com outro bem
Hoje eu já cansei
De pra você não ser ninguém...
O passado não foi o bastante pra lhe convencer
Que o futuro seria bem grande só eu e você
Quando a lembrança com você for morar
E bem baixinho de saudades você chorar
Vai lembrar que um dia existiu
Um alguém que só carinho pediu
E você fez questão de não dar
Fez questão de negar...





CANALHA!!! (o Canalha!!! É por conta do SBC...rsrs)


Retomando nosso conceito de SAMBALAMA, eles servem para superação (quando chegamos a rir de nós mesmxs...) ou serve pra “atolarmos” na lama do “amor romântico”, amar significa sofrer, essa ideologia que internalizamos e que nos faz tanto mal. A seguir um samba super representativo do atolamento na lama:

Eu sei que vocês vão dizer
Que é tudo mentira que não pode ser
Que depois de tudo o que ele me fez
Eu jamais deveria aceitá-lo outra vez

Bem sei que assim procedendo
Me exponho ao desprezo de todos vocês
Lamento mas fiquem sabendo

Que ele voltou e comigo ficou...
Ficou pra matar a saudade
A tremenda saudade que não me deixou
Que não me deu sossego um momento sequer
Desde o dia em que ele me abandonou

Ficou pra impedir que a loucura
Fizesse de mim um mulambo qualquer
Ficou ... dessa vez para sempre...
Se Deus quiser...

- Muito triste isso né?


- Continuemos nossa pesquisa musical...

Uma grande do Lupicínio... A Adriana Calcanhoto interpreta Lupicínio majestosamente. Vale a pena ouvir todas... e reparem como é a diferença entre a lama de atolar e a lama que demonstra uma intenção de sair dela, de superar:


ADRIANA CALCANHOTO


Nunca...
Nem que o mundo caia sobre mim
Nem se Deus mandar
Nem mesmo assim..
As pazes contigo eu farei

Sempre...
Quando a gente perde a ilusão
Deve sepultar o coração
Como eu sepultei

Saudade...
Diga a esse moço por favor
Como foi sincero o meu amor
Quanto eu o adorei tempos atrás

Saudade...
Não se esqueça também de dizer.
Que é você quem me faz adormecer
Pra que eu viva em paz


Linda!!! E reparem também que continuamos no mesmo tema, ou seja, o samba fala de todas as emoções. Voltaremos à categoria LAMA, mas antes temos que falar de uma outra categoria super SBCense, aprendida com Chico Buarque. Pois não é que ela disse numa entrevista que não gostava de samba LAMA, que nem tinha nenhum samba LAMA!!! Heinnn!!! Como assim!!! “Retrato em Branco e Preto” é um super LAMA!!!


CHICO BUARQUE



Lá vou eu de novo como um tolo
Procurar o desconsolo que cansei de conhecer...
Novos dias tristes, noites claras, versos, cartas, minha cara,
Ainda volto a lhe escrever...
Pra dizer que isso é pecado,
Eu trago o peito tão guardado, de lembranças do passado
E você sabe a razão!!!
Vou colecionar mais um soneto, outro retrato em branco e preto,
A maltratar meu coração...

Aff... olha como a gente decora... nem precisei copiar e colar, sabia de cor... esse estilo vai impregnando na gente e a gente vai “desejando” isso... se não for assim não é amor...
Mas, voltando ao Chico, ele: não gosto de samba LAMA, nem tenho... gosto de SAMBA DE PIROPA... nosso maior representante é o Vinicius de Moraes...

- Heinn??? Piropa???o que é isso? Lá fomos nós pesquisar... Piropa vem do espanhol PIROPO, trata-se de CANTADA, no caso, cantada musical... E lá vamos nós pesquisar... músicas lindas... de PIROPA:
VINICIUS DE MORAES



Você voltou, meu amor
Alegria que me deu
Quando a porta abriu Você me olhou  Você sorriu
Ai, você se derreteu  e se atirou
Me envolveu 

Me brincou 
Conferiu o que era seu
É verdade eu reconheço eu tantas fiz
Mas agora tanto faz
O perdão pediu seu preço meu amor
Eu te amo e Deus é mais.
..






Clara Nunes cantando essa piropa é maravilhosa...
CLARA NUNES


Pedido de perdão não é LAMA, é PIROPA... e reparem, quando alguém tiver dúvida sobre a categoria, se Lama ou Piropa, uma distinção que fizemos é a “qualidade” do “AI”, reparem no AI do Lama, por exemplo da Dolores Duran em A Noite do Meu Bem: Ai... como este bem  demorou a chegar... trata-se de uma AI sofrido demais... olha a diferença do AI no samba do Vinicius: AI... você se derreteu e se atirou... é um AI de prazer, de gozo... delícia...

A piropa mais famosa é do Tom Jobim e Vinicius, Garota de Ipanema é uma super piropa... Tem SBCense que não conhece Tom e Vinicius... pesquisem!!! História é cultura!!! 

Outro da mesma época é Ataulfo Alves, com piropas pedido de perdão:

ATAULFO ALVES


Covarde sei que me podem chamar
Porque não calo no peito essa dor
Atire a primeira pedra, ai, ai, ai
Aquele que não sofreu por amor                                    

Eu sei que vão censurar o meu proceder
Eu sei mulher (ou “homem de Deus”, pras mulheres cantarem... rsrs) Você mesmo vai dizer
Que eu voltei pra me humilhar
É, mas não faz mal
Você pode até sorrir
Perdão foi feito pra gente pedir...

Ele fazia a canção, Mário Lago fazia as letras... aí vai outra:
Mário Lago
Leva meu samba
Meu mensageiro
Este recado
para meu amor primeiro
Vai dizer que ele é
A razão dos meus "ais"
Não, não posso mais!

Eu que pensava
Que podia lhe esquecer
Mas qual o que
Aumentou meu sofrer
Falou mais alto
No meu peito uma saudade
Mas para o caso não há força de vontade

E este samba é só pra ver se comovia
O seu coraçao                                                                               
Onde dizia:
Vim buscar o meu perdão!

Não pode faltar uma piropa do Chico né? super SBCense (porque no SBC só tem gente que não presta... são as melhores pessoas...) :

Se você crê em Deus Erga as mãos para os céus E agradeça
Quando me cobiçou Sem querer acertou  Na cabeça
Eu sou sua alma gêmea Sou sua fêmea Seu par sua irmã
Eu sou seu incesto Sou igual a você Eu nasci pra você
Eu não presto  Eu não presto

Traiçoeira e vulgar Sou sem nome e sem lar Sou aquela
Eu sou filha da rua Eu sou cria da sua Costela
Sou bandida Sou solta na vida

E sob medida Pros carinhos seus
Meu amigo Se ajeite comigo E dê graças a Deus...


A melhor interpretação é da Fafá de Belém, explêndida...


FAFA DE BELEM

E a pesquisa não acaba... Cada hora aparece um(uma) SBCense cantando um samba, ou LAMA, ou PIROPA, ou EMOÇÕES... criamos essas três categorias.

E não é que nesse percurso tivemos um grande insight que veio a ser a construção de uma quarta categoria de samba!!! Mais, a construção de um conceito “antropológico-cultural-musical”... explicando: construímos uma valiosa reflexão sobre a ARTE e a CULTURA, e como é importante percebermos quando somos “reprodutores” da cultura, e como podemos ser “Sujeitos”, “construtores” de novos valores culturais, que combinam mais com qualidade de vida e relações mais bonitas e prazerosas.

Agora, explicando e formulando a teoria através de exemplos práticos, conto como começou o insight:  como já sabemos, temos como maior representante de SAMBA LAMA o Lupicínio Rodrigues... e nem carioca nem baiano o cara é!  "Lupe, como era chamado desde pequeno, nasceu em Porto Alegre e só saiu de lá uma vez pra ir no Rio de Janeiro conhecer o samba. Compôs marchinhas de carnaval e samba-canção, músicas que expressam muito sentimento, principalmente a melancolia por um amor perdido. Foi o inventor do termo dor-de-cotovelo, que se refere à prática de quem crava os cotovelos em um balcão ou mesa de bar, pede um uísque duplo, e chora pela perda da pessoa amada. Constantemente abandonado pelas mulheres, Lupicínio buscou em sua própria vida a inspiração para suas canções, onde a traição e o amor andavam sempre juntos. Morreu em 1974 aos 59 anos."

Pois não é que “fuçando” o Lupicínio encontramos uma pérola da LAMA, que nos proporcionou continuar (e aprofundar) nossa teoria sobre a LAMA enquanto necessária a uma catarse... o riso e a superação; ou a LAMA enquanto “atolamento” e repetição dos conceitos impregnados do “amor romântico”. A seguir a pérola: VINGANÇA, o título do samba... uma emoção fortíssima... e que pode ser libertadora!!! Pois na vingança podemos ou nos matar pra matar o outro (quando não saímos na referência do outro); ou podemos, por outro lado, perceber que a melhor vingança é ser feliz... e, neste caso, conseguimos sair da referência do outro e nos libertamos... olha só que reveladora essa reflexão!!! Então vamos ao samba, pra explicar|entender melhor:
LUPICINIO RODRIGUES

Eu gostei tanto, tanto, quando me contaram
Que lhe encontraram bebendo e chorando na mesa de um bar
E que quando os amigos do peito por mim perguntaram
Um soluço cortou sua voz,  não lhe deixou falar
Eu gostei tanto tanto quando me contaram
Que tive mesmo de fazer esforço pra ninguém notar...

O remorso talvez seja a causa do seu desespero
Você deve estar bem consciente do que praticou
Me fazer passar tanta vergonha com os companheiros
E a vergonha é a herança maior que meu Pai me deixou...

Mas enquanto houver força em meu peito eu não quero mais nada
Só vingança, vingança, vingança aos Santos clamar
Você há de rolar como as pedras que rolam na estrada
Sem ter nunca um cantinho de seu pra poder descansar...

É muita sabedoria essa música! A sabedoria de não negarmos nossa emoções. Aprendemos, na nossa (má)educação, a negar|reprimir nossa emoções tidas como “negativas”, emoções “ruins”... isso é uma falácia! Não existem emoções “ruins”, tudo depende do que fazemos com nossas emoções, e negá-las é terrível, pois negando elas continuam a nos “comandar” e nem temos consciência disso. Por outro lado, quando temos consciência das nossas emoções, podemos elaborá-las de uma forma produtiva, para a vida.

E foi dessa música, como já falamos,  que aconteceu também o insight sobre a arte e a cultura: Sabemos (com nosso grande SBCense Nietzche), que a cultura é nossa segunda natureza, nossa segunda pele... sabemos também que através da arte em geral (e especialmente a música) os valores de uma sociedade, de uma época histórica, são transmitidos. A arte tem o duplo papel, o de reproduzir os valores de uma época, assim como a arte também constrói valores, antecipa, cria cultura. E nós “consumimos” cultura, reproduzimos valores... ou somos sujeitos, criamos cultura, construímos novos valores, que podem combinar mais com uma vida mais bonita e com mais qualidade.

Pois então... nossa música, nosso samba, é reprodutor dos conceitos aprisionantes do “amor romântico”. O ideal do único, o amor sofrimento, a idealização (do ser amado e também do amor), e por aí vai. Além disso o samba reproduz nossa cultura machista, que aprisiona mulheres e homens num modelo falido de relação.

Então, enquanto sujeitos (e não objetos), enquanto transformadores da cultura, que queremos ser, temos agora, conhecendo essa “teoria”, o dever histórico de reconhecer o que estamos cantando... e, portanto, está penetrando no nosso espírito e determinando o que “queremos” das relações e do “amor”.

Daí surgiu nossa quarta “categoria” de samba: os  SAMBAS LIBERTADORES.


E o primeiro deles nem é recente, olha como já se falava de um conceito diferente de amor já há muito tempo. No carnaval de 1955 um samba interpretado por Marlene, e o autor é Monsueto Menezes, dizem que um injustiçado, pois não fez sucesso na época e sim mais tarde quando foi regravado por Caetano, Roberta Sá e outrxs... Reparem na letra:


Eu vou lhe dar a decisão
Botei na balança e você não pesou
Botei na peneira e você não passou

Mora na filosofia ... pra quê rimar amor e dor
Mora na filosofia ... pra quê rimar amor e dor ...

Se seu corpo ficasse marcado
Por lábios ou mãos carinhosas
Eu saberia... A quantos você pertencia
Não vou me preocupar em ver ...
Seu caso não é de ver pra crer
Tá na cara!


E nessa altura do campeonato os SBCenses começaram a pesquisar no samba (e na MPB em geral) o que seriam músicas libertadoras, músicas que combatem um conceito de amor que aprisiona e criam a possibilidade da construção de um novo conceito, mais bonito, mais prazeroso, de trocas mais autênticas... e por aí vai... foi difícil!!!

Os mais antigos foram lá pros anos 70, 80... e os mais novos ficaram na atualidade... o que rendeu um resultado muito bacana. E rendeu também uma música nova!!! Vamos contando, das músicas e da teoria elaborada...

Vinicius, nosso maior piropeiro, tem algumas músicas terríveis (do ponto de vista de submissão da mulher... nem quero citar essas) e, ao mesmo tempo, tem outras que questionam o amor romântico. Esta a seguir, por exemplo, ela é ambígua, não compreendemos a letra ao final e tivemos que alterá-la (com licença poética):

Vire essa folha do livro e se esqueça de mim...
Finja que o amor acabou e se esqueça de mim...
Você não compreendeu Que o ciúme é um mal de raiz
E que ter medo de amar não faz ninguém feliz
Agora vá  sua vida como você quer...
Porém não se surpreenda se uma outra mulher
Nascer de mim como no deserto uma flor
Não compreender que o ciúme é o perfume do amor

Nossa "licença poética" está em negrito, é o NÃO, pois a letra original diz ..."e compreender que o ciume é o perfume do amor"... achamos que ele quis dizer ..."não compreender que o ciume é o perfume do amor", interpretamos assim pela primeira estrofe: O ciume é um mal de raiz!!!.

Vamos a outra da categoria libertadores, agora Chico Buarque:
IVETE SANGALO

Quando você me deixou meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme quase enlouqueci
Mas depois como era de costume obedeci
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita pode crer
Olhos nos olhos quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais

E  venho até remoçando
Me pego cantando
Sem mais nem porque
Tantas águas rolaram
Tantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você

Quando talvez precisar de mim
Cê sabe que a casa é sempre sua venha sim

Lindíssima na interpretação da Ivete... e, reparem... esta letra mostra bem que ela está saindo para a libertação, embora ainda esteja com um pé na lama, ou seja, na referência do outro... o trecho ... como era de costume, obedeci... é revelador do ponto de vista de cultura feminina e do conceito de amor romântico internalizado, fazendo a gente querer ser do jeito que o outro quer que sejamos. E acreditamos que isso é AMOR! e desejamos ardentemente viver isso!!!

Estamos certxs de que este conceito de amor romântico impregnado, repetido (na arte, na educação, na cultura) e internalizado que nem chiclete, se torna responsável pela idealização (do outro, de mim mesmx e da própria relação) - e é, sem dúvida, um dos fatores que geram violência nas relações (do ponto de vista de quem pratica a violência e de quem se submete a ela) - das mais sutis... até a morte (o feminicídio).

Vamos a outra "libertadora" :


IRMÃOS CAYMMI


Se um dia você for embora
Não pense em mim que eu não te quero meu
Eu te quero seu...

Se um dia você for embora
Vá lentamente como a noite que amanhece
Sem que a gente saiba exatamente
Como aconteceu...

Se um dia você for embora
Ria se seu coração pedir
Chore se teu coração mandar
Mas não esconda nada que nada se esconde
Se por acaso um dia você for embora
Leve o menino que você é...

Composição de Ana Terra e Danilo Caymmi, magistralmente interpretada tanto pela Nana Caymmi quanto pelo Milton Nascimento, vejam se não canta um amor libertador..."não te quero meu... te quero seu..."

Agora, na opinião de todos os SBCenses, a maior representante dos sambas libertadores é Elza Soares, antiga e atual... desde Lupicínio, anos 60:


ELZA SOARES


 ..."se acaso você chegasse, no meu chatô encontrasse, aquela mulher..."  

foi seu grande sucesso à época... 

até a parceria com Pitty, baiana arretada do rock: Nome da música: NA PELE:


PITTY


Olhe dentro dos meus olhos
Olhe bem pra minha cara
Você vê que eu vivi muito
Você pensa que eu nem vi nada

E a música MARIA DA VILA MATILDE, de Douglas Germano:
DOUGLAS GERMANO

Cadê meu celular?
Eu vou ligar pro 180
Vou entregar teu nome
E explicar meu endereço
Aqui você não entra mais
Eu digo que não te conheço
E jogo água fervendo
Se você se aventurar
Eu solto o cachorro
E, apontando pra você
Eu grito: péguix guix guix guix
Eu quero ver
Você pular, você correr
Na frente dos vizim
Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim

E quando o samango chegar
Eu mostro o roxo no meu braço
Entrego teu baralho
Teu bloco de pule
Teu dado chumbado
Ponho água no bule
Passo e ainda ofereço um cafezim
Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim

E quando tua mãe ligar
Eu capricho no esculacho
Digo que é mimado
Que é cheio de dengo
Mal acostumado
Tem nada no quengo
Deita, vira e dorme rapidinho
Você vai se arrepender de levantar a mão pra mim
Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim

Mão, cheia de dedo
Dedo, cheio de unha suja
E pra cima de mim? Pra cima de moi? Jamé, mané!
Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim

Traduz a situação vivenciada por inúmeras mulheres brasileiras, de todas as classes sociais. E não deixa de ser a consequência de tudo que falamos antes, a cultura do "amor romântico" impregnada. 

Pra quem não entendeu ainda ou acha que é exagero, entre outras coisas é do quadro abaixo que estamos falando:




E é por isso que temos a responsabilidade de combater tudo isso... sabendo o que estamos cantando... e procurando cantar as LIBERTADORAS, além de cantar, falar, conversar, escrever... sobre um novo amor possível... 

E foi daí que surgiu nossa nova composição:

O QUE O AMOR SERÁ... (MEDIDA CERTA)
Música: Ronaldo Leon
Letra: Santuza TU

















Desafio aceito     Bora pesquisar
O que o amor não é      E o que o amor será...
                                                                                                         
É nessa roda de samba    Que vamos prosear
O que o amor não é    E o que o amor será...

Amor não é posse     Não é submissão
Mas é dar e receber     Na medida certa do coração

Amor não é sofrer      Não é bater nem machucar
A violência está noutro lugar

Amor não rima com dor     E sim com liberdade
Respeito e admiração       Mesmo que não rime na canção

Antes de tudo o amor próprio     Pra rimar com alegrias
Do encontro com o outro     Pra passar ótimos dias

É nessa roda de samba       Que vamos prosear
o que o amor não é       E o  que o amor será...

Desafio cumprido
Vamos construir e multiplicar Um novo conceito de amor
E é nessa roda de bamba que todos vão sambar
Cantando o que o amor não é
cantando o que o amor será...

E terminamos pedindo licença ao poetinha Vinicius para pedir a benção a grandes mulheres:
Clementina
Elza Soares
Elis Regina
Maria Betânia
Dolores Duran
Nana
Adriana
...

- A benção grande poetas:
Adélia, Cora, Tarsila, Pagu, Elisa Lucinda ...

- A benção tantas outras mulheres do Brasil... na ciência, na educação, na política, mães, donas de casa... tantas ... que contribuem para um mundo melhor...

E a benção grandes homens... grandes pessoas... que estão se desconstruindo dos machismos e se permitindo novos amores...

TAMO JUNTOS na construção de relações mais simétricas, mais livres, mais bonitas...

AMÉM... SARAVÁ




quinta-feira, 15 de março de 2018

CARTA A UM AMIGO... E A TODXS


Queridxs amigos SBCenses. A carta a seguir me impressionou muito. Cada vez mais acredito no que uma amiga diz: três em três mulheres já sofreram ou sofrem (ou sofrerão) violência, vindo de todos os lugares na nossa sociedade machista e misógina. E o jeito de ir resolvendo isso é sempre superar nosso medo, vergonha, culpa e, de alguma forma, denunciar sempre. Estaremos, ao denunciar, trocando experiências de como lidar com essas violências, para diminuir (ou superar) o sofrimento, como o que esta amiga viveu por anos e anos. Ela me disse que conseguiu escrever na semana passada, quando do dia 8 de março... mas me mandou hoje, autorizando sua publicação sem o seu nome... chorando pela morte de uma mulher que trabalhava na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano... e foi brutalmente assassinada: Marielle Franco. A ela nossa homenagem.



SantuzaTU





Carta a um amigo homem:



Meu querido amigo, que amo e sei que sou amada...

Escrevo agora a você, depois de cerca de um mês... ainda muito triste com o que aconteceu... você sabe que eu escrevo para não morrer... para resistir, para não me calar, me submeter, enfim, para reagir a tudo de ruim nesse mundo, especialmente com as mulheres.


Naquele dia, depois da nossa discussão e da minha saída (intempestiva porque não queria chorar naquele lugar) de onde nos encontrávamos, recebi seu recado recomendando o filme “Me chame pelo seu nome”. Era disso que eu falava, você disse. Então fui ver o filme... sempre procurando algo que me faça refletir e crescer. Você sabe, crescemos pelo amor e pela dor... gosto muito mais de crescer pelo amor... mas nesse caso foi pela dor, e quando é assim precisamos aprender a suportá-la até a superação, até a construção de nossos afetos, novas reflexões, novos valores orientadores para a vida.


Lindo o filme... conta a história de um romance entre um cara mais velho com um adolescente (acho que 17 anos). Vi nisso pouquíssima relação com o que te contei. Na verdade o que me tocou profundamente no filme foi em algum momento da história em que o personagem vive um dilema: falar ou morrer. Gostaria de ter falado mais, para não ter morrido tantas vezes. E o caso que te contei foi uma das minhas grandes mortes. Acho que foi a primeira vez na vida, “trocentos” anos depois do acontecido, que me vi na liberdade de contar esse caso, como um “desabafo” e também a busca de empatia. E, com a dor da não empatia, aprendi que devo falar disso muito mais vezes, para muito mais mulheres (e homens... e outros gêneros), que se calam e vivem uma vida de medo, culpa, vergonha, emoções que nos aniquilam e nos desempoderam.


Então vou te contar de novo, e também contar pra mim mesma e pra quem mais queira saber: não sei o que estávamos conversando, como me deu a vontade de te contar... só sei que comecei contando de um jeito como se procurasse a condenação (percebi isso depois): já comecei o caso dizendo que eu era extremamente sedutora na adolescência... Também aumentei minha idade. Na verdade eu devia ter uns 14 para 15 anos quando aconteceu o que vou contar. Nessa idade eu era bastante reprimida e cerceada pelos meus pais... Não tinha liberdade para fazer amizades, namorar nem pensar... minha única companhia era um tio que morava conosco, de 12 a 15 anos mais velho. Então, pro cinema era só com ele, passear... essas coisas. Pois bem, passeávamos na praça da liberdade, íamos ao cinema... e andávamos de mãos dadas, como namorados... me apaixonei loucamente... tesão de matar. Nas minhas lembranças, além de andar de mãos dadas, no cinema ele me acariciava no colo, indo até quase os mamilos, eu quase morria de tesão. Não sei se eu evitava ou ele não tinha coragem de ir mais... enfim, saíamos do cinema de mãos dadas e conversando... e por ai vai.


Mas nunca conversávamos sobre o que estava acontecendo. Então... um dia ele me chamou para dar uma volta de carro. E começou as carícias... então, num certo momento, ele pegou minha mão e colocou no seu pinto... eu tomei um susto, e disse: eu sou sua sobrinha... aí ele parou, se afastou, disse “desculpa” e fomos embora. Nunca mais ele me olhou na cara...


Imagina minha perplexidade, minha dor, culpa, vergonha, medo... tudo... e então as defesas... “nada aconteceu”, não se fala no assunto e é como se nada tivesse acontecido... quem nunca já usou essa defesa? só que a coisa fica enterrada e te corroendo... voltando ao filme: morremos várias vezes na vida quando não falamos...


Este é o caso. E eu, te contando, também disse que isso me custou uns 20 anos de terapia... agora penso que talvez escrevendo consiga “falar”  me libertar, fechar uma “Gestalt” como dizem os terapeutas. Porque, meu grande amigo, você me ajudou a perceber que não podemos contar com um ambiente propício para “falar ou morrer”... temos que falar de qualquer jeito... contando com empatia ou não das pessoas... só falando é que criamos a possibilidade de encontrar as empatias, encontrar também os compartilhamentos das violências diárias que nós mulheres sofremos... Nossa, como me senti revitimizada quando, ao contar esse caso, você começa uma discussão sobre a questão da justiça, da maioridade, que foi desencadeando para “ela também tinha sua culpa...” e foi aí que te perguntei: então me diga que parcela de culpa ela tinha, qual a porcentagem de culpa cada um tinha nesse acontecimento? e a sua resposta: claro que 50 – 50... cada um tinha metade da culpa!!!


Foi nesse ponto que acabou toda a minha energia... e fui pra casa chorar... chorar por todas as mulheres que sofreram e sofrem violências diárias, desde as mais sutis até a morte (feminicídio) e são revitimizadas... pelos pais, irmãos, amigos, pelas próprias mulheres, pelas instituições que ela procura: Claro! A culpa é sua! Olha a saia! Você que provocou! Porque não ficou no seu lugar!!! (provavelmente o lugar da submissão e do silêncio).


Meu querido amigo! Nós não estávamos discutindo ali duas opiniões diferentes... não coloque a conversa nesse nível. Duas pessoas podem ter opiniões diferentes e, mesmo assim, quando uma tem a sensibilidade de ver que a outra está simplesmente buscando empatia, oferecê-la... isso não significa submissão ao que a outra pensa ou à sua opinião. Por outro lado, talvez eu não tenha conseguido evidenciar essa busca de empatia... pode ser... acho que a culpa a gente carrega a vida toda... até pra contar o caso já fui me mostrando culpada...

Enfim, estas reflexões foram muito valiosas pra mim. Cresci muito... não pelo amor mas pela dor... mas tá valendo... e me vejo na obrigação de compartilhar ao maior número de pessoas possível...


Ahhh... uma última coisa: você disse no nosso diálogo: ele te respeitou! Quando você disse “eu sou sua sobrinha”... ele parou com o assédio! Não, meu amigo... não há respeito quando há desamor, quando não se consegue sair de si mesmo e perceber o outro... não há respeito quando a fala é interditada, sufocada, reprimida, negada.


De quando nossa conversa aconteceu até agora, quem me ajudou muito também foi Maria de Queiroz, escritora brasileira, da academia Mineira de Letras... e termino com ela:


"Eu não tenho medo do amor. Eu tenho medo é de amar quem tem medo dele. Amar quem teme o amor é como se apaixonar por uma sucessão de desistências."


Ele, o meu tio (e alguns outros homens), me tirou alguns anos de alegria, de vida, mas não me tirou a capacidade de amar...


domingo, 18 de fevereiro de 2018

CARNAVAL 2018 - SBC sempre surpreende...

O SBC sextou gente!!! nosso sexto desfile... Estamos felizes e honradxs...


Sentada aqui pra escrever nossa crônica pós carnaval... e a primeira ideia que me vem a cabeça:
"SE NÃO POSSO DANÇAR NÃO É MINHA REVOLUÇÃO"... Já é nossa grande SBCense reverenciada: Emma Goldman, e vale a pena ser repetida. Pois o carnaval, mais uma vez, nos lembra que revolução é feita com dança, canto, riso, que quebram paradigmas  e nos levam a construir novos modelos da cidade que queremos, do mundo que queremos: mais alegre, mais cordial, mais igualitário, mais livre, mais justo, mais inclusivo. Claro, também podemos ver no carnaval o mundo que não queremos: autoritário, agressivo, limitador... e por aí vai...

Primeiro, o carnaval 2018, no geral, foi essencialmente feminista: aproveitamos para marcar presença nos blocos com o que queremos nas relações: NÃO É NÃO... e é muito simples saber se uma cantada (piropa, na linguagem SBCense) tem respaldo, está sendo correspondida. Não sendo assim é machismo, violência... Pronto... nós, mulheres, nos afirmando enquanto sujeitxs desejantes e atuantes.

Segundo, o carnaval foi uma forma de protesto contra o que estamos vivendo no que diz respeito à política. Isto aconteceu tanto na forma mais visível nacional e internacionalmente: "Meus Deus! Liberte o cativeiro social!"... quanto nas formas mais sutis nos blocos aqui da nossa Belo Horizonte. Fora Temer era uma constante em todos os blocos.



Agora nosso desfile: como sabem, o SBC desfila pouquíssimo, só "rudiamos" o quarteirão... gostamos de concentração e dispersão, são as oportunidades das conversas SBCenses, dos risos, dos bons encontros...então, na nossa bateria, além da presença honrosa de quase toda a família BRASIL, obrigada seu Marcelo e dona Maria... tivemos também a alegria da inclusão da bateria do Bloco Intervalo, super bloco amigo que desfilou pela primeira vez no pré carnaval... bateria afinadíssima, incluindo também parte da bateria do Bloco Saudade, que desfila na quarta feira de cinzas. Só temos a agradecer e nos comprometer com a parceria constante desses blocos maravilhosos.

Aí, como estava dizendo, viramos o quarteirão e paramos de novo na porta da casa de velhinhas da rua Apolo... é muito emocionante ver a alegria dessas velhinhas, todas vindo a porta e fazendo poses para as fotos, e cantando as marchinhas antigas.



Virando a rua Henrique Gorceix, lá pelo meio do quarteirão ficamos sabendo do falecimento de uma pessoa naquela casa. A intenção do SBC era parar a bateria e passar a casa em silêncio em sinal de respeito. Porém, a viúva pediu pra rezar um pai nosso. Parece que todas as pessoas aderiram e rezaram. Mas também recebemos críticas:
- Tu, o respeito ao luto era super bacana da parte do SBC... mas a oração, não sei, me parece uma "imposição" da religião católica... pessoas praticam outros credos, a religião é uma escolha de foro íntimo e todas devem ser respeitadas.
- Sim querida... seria mais democrático, como deseja ser o SBC.

Enfim, viramos a Francisco da Veiga e chegamos a nossa esquina com Vila Rica... dispersão... com grande alegria...

Aí vieram as tristezas: nosso sexto desfile, e até então nunca tivemos nenhum problema com Belotur e as outras instituições que se colocam à disposição para a realização do melhor carnaval:
- BHtrans: espetáculo. chegou antes das 14 horas e se disponibilizou a fechar o quarteirão no horário que sinalizássemos. Gente agradável no contato.
- Banheiros já instalados... containers de lixo fora dos lugares já marcados com antecedência.
- Aí passa pessoa da Belotur e aponta problema com toldo de proteção ao som e aos instrumentos. Segundo a pessoa, toldo é considerado palco. Hein? e se chovesse, por exemplo, como cobriríamos os possíveis danos? tanto de chuva quanto do sol... não entendemos... muito menos o tom grosseiro...
- e, por fim, a truculência da PM. Olha só... nos nossos cinco desfiles anteriores tivemos policiais durante todo o desfile... bem educados(as) me lembro de uma policial muito bacana no desfile do bairro Aparecida. Agora, dois policiais chegam as 18 horas somente para acabar com o evento... e, de uma forma grosseira. Só um pedacinho da conversa: Senhor, não queremos nenhuma dispersão com gás ou qualquer forma agressiva, como está acontecendo em outros blocos por favor... Senhora, isto não está acontecendo em outros blocos, a senhora presenciou tal fato? me dê provas! E, se aconteceu, foi porque precisava... 

Por aí... vamos encerrando nosso encontro e desligando o som... não pode som ambiente, pois o evento tem que terminar...

Agora, o SBC não perde oportunidade para as boas (e risíveis) conversas (ou melhor, filosofias). Pois não é que tem um conselho sobre relações íntimas mais ou menos assim: olha, pra se trabalhar uma relação pra ser boa, é preciso sempre , todo dia, praticarmos três coisas básicas: conversa, riso e sexo... nessa ordem: conversa... sexo... riso... sexo... sexo... sexo... ou seja: sexo sempre entre as três coisas. Mas não exagere no sexo... é só entre as três coisas, entendeu?

Acréscimo à teoria SBCense sobre Níveis de Alcoolismo, já publicado no nosso livro "Diário do SBC", a venda na Livraria Ouvidor Savassi:
... ai a pessoa (SBCense, claro...) te diz: Tu, quando eu estiver no nível 3 me avisa que eu vou embora, tá? então vc avisa: querida, voce já tá chegando no nível 4! e ela responde: Que isso!!! agora que tá ficando boa a festa!!! que repressão soh!!!
só te resta rir... kkk



Por último registrando a honrosa presença do nosso grande compositor Seu Ronaldo Coisa Nossa...



SBC chegamos nós soltando a voz!
Soltando a voz SBC sejamos nós!

O SBC agradece a  todxs pela presença!!! mais fotos no nosso facebook...

Abraços carinhosos e até nosso próximo encontro.

Santuza TU







segunda-feira, 6 de novembro de 2017

CARNAVAL 2018 – AMOR E POLÍTICA, NA CAMA E NO MUNDO!!!

Com a maior honra e alegria recebemos o samba do SBC para o carnaval 2018... estamos que não nos aguentamos de chiques. É só olhar abaixo na letra do mesmo que verão o autor e entenderão nossa chiqueza gente!!! 

Já em processo de gravação, nossa "Grande Diretoria Musical" promete para final de novembro a grande festa de lançamento do samba. Será no Bar Opção, data a ser marcada (final de novembro, princípio de dezembro). Todos receberão a letra para ensaiarmos e fazermos muitíssimo bonito na nossa já famosa terça feira de carnaval, que no próximo ano de 2018 cairá no dia 13 de fevereiro.



Sejamos nós

Ronaldo Coisa Nossa (Ronaldo Antônio da Silva)

Politicamente extrovertidos

Contra o comodismo assumidos

SBC chegamos nós soltando a voz

Descontentamentos fluidos

Soltando a voz SBC sejamos nós!



Sonho paz, amor, saúde, educação

Indignado, lamentando a depravação

Povão em cima do muro é crucificação

Cai humilhado, arrasado em depressão



Quem vota acredita, merece respeito

Adeus preconceito, discriminação

Samba desabafando batendo no peito

Cantando almejando maior atenção



SBC chegamos nós soltando a voz!

Soltando a voz SBC sejamos nós!



E este samba maravilhoso nos inspirou o tema para o Carnaval 2018: 

AMOR E POLÍTICA... NA CAMA E NO MUNDO...

Já sabem que cada ano temos um tema em que nos inspiramos pra fazer nossa festa. Já tivemos “Preconceito não, Liberdade sim”, já tivemos “Morcego... Vendo a vida de cabeça pra baixo”, entre outros. Neste ano de 2017 tivemos “Mulheres do Brasil”, nossa homenagem às mulheres brasileiras de todos os segmentos, raças, idades, etc.

Pois é... em época de muita polarização, desentendimentos, superficialidades, inimizades, radicalismos e coisas tristes como estas, temos a coragem de propor este tema como uma oportunidade de aprendermos um pouco sobre o AMOR e a POLÍTICA, pois o objetivo último (e primeiro) do SBC é VIVER MELHOR...

Conte todos os números que existem entre o 8 e o 80... cada um deles pode ser uma opinião sobre qualquer assunto, que não precisamos seguir, mas respeitar ... a liberdade de SER e de OPINAR ... e, mais ainda, de buscar conhecimentos para além da mera opinião (e, pior, transformar a mesma em dogmas)...

E
debater... só assim seremos SUJEITOS construtores de um mundo mais bonito... este é o desejo (e a ação) do SBC. A metáfora, linda... vi num filme , não me pergunta qual: a menininha quebrou um espelho grande, transformando-o em muitíssimos pedacinhos... ficou triste... mas a vó, sábia, disse a ela: querida, olhe pra cada pedacinho desse espelho, você vai se ver de mil jeitos diferentes, cada um deles é uma verdade, sobre você e sobre o mundo... 

E, claro, nosso tema é fundamentado. Nossa “pesquisa antropológica” (ou “googlelística”) sobre o AMOR e sobre POLÍTICA, compartilhando... não necessariamente nessa ordem... 

O que é Política?


O termo tem origem no grego politiká, uma derivação de polis que designa aquilo que é público. O significado de política é muito abrangente e está, em geral, relacionado com aquilo que diz respeito ao espaço público. Política é a ciência da governança de um Estado ou Nação e também uma arte de negociação para compatibilizar interesses. 

O termo também pode ser utilizado como um conjunto de regras ou normas de uma determinada instituição. Por exemplo, uma empresa pode ter uma política de contratação de pessoas com algum tipo de deficiência ou de não contratação de mulheres com filhos menores. A política de trabalho de uma empresa também é definida pela sua visão, missão, valores e compromissos com os clientes.


Nas conversas SBCenses sobre política surgiram essas ideias: “A política é algo como uma necessidade imperiosa para a vida humana”. Como o ser humano depende de outros em sua existência, precisa haver um provimento da vida relativo a todos, sem o qual não seria possível justamente o convívio. “Tarefa e objetivo da política é a garantia da vida no sentido mais amplo”.



E ainda: “A tarefa da política está diretamente relacionada com a grande aspiração do homem moderno: a busca da felicidade.”


Não é fácil discutir a questão da política nos dias de hoje. Estamos carregados de desconfianças em relação aos homens do poder. Porém, o homem é um ser essencialmente político. Todas as nossa ações são políticas e motivadas por decisões ideológicas. Tudo que fazemos na vida tem consequências e somos responsáveis por nossa ações. A omissão, em qualquer aspecto da vida, significa deixar que os outros escolham por nós.

Nossa ação política está presente em todos os momentos da vida, seja nos aspecto privado ou público. Vivemos com a família, relacionamos com as pessoas no bairro, na escola, somos parte integrantes da cidade, pertencemos a um Estado e País, influímos em tudo o que acontece em nossa volta. Podemos jogar lixo nas ruas ou não, podemos participar da associação do nosso bairro ou fazer parte de uma pastoral ou trabalhar como voluntário em uma causa em que acreditamos. Podemos votar em um político corrupto ou votar num bom político. Precisamos conhecer melhor as propostas, discursos e ações dos políticos que nos representam.

E também relembramos o texto esquecido:

O analfabeto político (Bertolt Brecht)

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.



Agora... nossa grande SBCense Hanna Arendt nos dá uma convincente noção de política... adotada pelo SBC. Releiam nosso post de 25 de setembro de 2013, foi nesse dia que ela foi integrada à galeria dxs SBCenses famosxs.

Para ela, a “verdadeira política” está intimamente relacionada à LIBERDADE... e mais... à LIBERDADE MUTUAMENTE GARANTIDA... LIBERDADE ENTRE IGUAIS... e ela conta pra gente como esse conceito antigo de política vinculada à liberdade (do tempo de Aristóteles) foi se perdendo... e foi tomando conta a identificação de política com domínio, com violência... com essa distorção do significado de política não estaria sendo disseminado o imobilismo, um sentimento de inutilidade de qualquer ação, fazendo com que não nos reconheçamos como sujeitos históricos, como seres capazes de interromper o “fluxo inexorável dos acontecimentos”? Super atual não é?

E o que é o amor?


Ou melhor...de que amor queremos falar? Já sabem também: o SBC combate a “ideologia do amor romântico” em todos os níveis de relação, pois este modelo de amor parte da idealização... do outro e da própria relação, do próprio amor... e, idealizando, perdemos nossa humanidade e também cobramos do outro algo fora do humano, por isso que da idealização passamos ao desprezo, o que gera sofrimento demais, pro outro e pra mim mesmx... Combateremos, sempre, este modelo de amor, nosso lema é desconstruí-lo e construir algo do humano, da alegria, dos bons encontros e do prazer. Vale a pena ler de novo nosso post de 08 de julho de 2014: Estrutural (e cruel) é o amor romântico.


Queremos construir todos os tipos HUMANOS de amor: desde EROS, o amor sensual, amor paixão, passando pelo amor FILEO, que o SBC valoriza demais,  o amor-amizade, fraternal, social... passando também pelo amor STORGE, o amor conjugal, familiar, doméstico... e chegando ao amor ÁGAPE: amar ao próximo como a ti mesmo, o  amor incondicional, ou seja, não espera nada em troca, amar a humanidade... em tempos de radicalismos, maniqueísmos, fascismos, precisamos muito aprender este amor.

Os quatro tipos de amor acima aprendemos com a cultura grega. Mas tem também a cultura afro, onde o AXÉ, princípio que torna possível o processo vital, é considerado o arqueiro do amor entre os povos, a energia que cria e mantém os relações sagradas entre pessoas, amigos, ou entes que se amam. Muito AXÉ pra todos nós... no carnaval e na vida!!!




Já no budismo o AMOR está intimamente relacionado à LIBERDADE (não em expectativas, muito menos na sua necessidade pessoal), ao RESPEITO (a si mesmx e ax outrx), ao DESAPEGO e ao CRESCIMENTO mútuo.

Todas as visões de AMOR valem para todos os níveis de relação!!! Na cama e no mundo..., assim como a política!!! Pois não fazemos política na cama? claro que sim!!!


Então... para concluir e voltando a Arendt (e amigxs SBCenses: Habermans, Marilena Chaui, entre outrxs) falamos de novo na nossa reunião de planejamento do carnaval 2018 sobre as distorções tanto do amor quanto da política: em síntese, a “práxis” da autonomia, que vem a ser a constituição do sujeito, se é transformada em individualismo acontece que “para eu ser sujeito transformo o outro em objeto” e aí aparecem os privilégios, a violência... e isso é um grande dificultador... da solidariedade, da união, da perspectiva coletiva de construção de um mundo melhor.


"A alegria é o que sentimos quando percebemos o aumento de nossa realidade, isto é, de nossa força interna e capacidade para agir.
A tristeza é o que sentimos ao perceber a diminuição de nossa realidade, de nossa capacidade para agir, o aumento de nossa impotência e a perda da autonomia. A tristeza é o caminho da servidão individual e política, sendo suas formas mais costumeiras o ódio e o medo recíprocos. "


(não sei qual é a edição atualizada, mas são as capas do mesmo livro)
“Essa visão generalizada da política como algo perverso, perigoso, distante de nós (passa-se no Estado), praticado por “eles” (os políticos profissionais) contra “nós”, sob o disfarce de agirem “por nós”, faz com que seja sentida como algo secreto e desconhecido, uma conduta calculista e oportunista, uma força corrupta e, através da polícia, uma força repressora usada contra a sociedade. Essa imagem da política como um poder do qual somos vítimas tolerantes, que consentem a violência, é paradoxal pelo menos por dois motivos principais. Em primeiro lugar, porque a política foi inventada pelos humanos como o modo pelo qual pudessem expressar suas diferenças e conflitos sem transformá-los em guerra total, em uso da força e extermínio recíproco. Numa palavra, como o modo pelo qual os humanos regulam e ordenam seus interesses conflitantes, seus direitos e obrigações enquanto seres sociais. Como explicar, então, que a política seja percebida como distante, maléfica e violenta? Em segundo lugar, porque a política foi inventada como o modo pelo qual a sociedade, internamente dividida, discute, delibera e decide em comum para aprovar ou rejeitar as ações que dizem respeito a todos os seus membros. Como explicar, então, que seja percebida como algo que não nos concerne, mas nos prejudica, não nos favorece, mas favorece aos interesses escusos e ilícitos de outros? Que aconteceu a essa invenção humana para tornar-se, paradoxalmente, um fardo de que gostaríamos de nos livrar?”



Esta é a visão distorcida (mas super operante) de política... que queremos combater... para construir a política libertadora... a do sujeito coletivo

O que precisamos... e queremos... é a construção do sujeito coletivo... e para isso é preciso reconhecer o outro enquanto sujeito, é preciso o reconhecimento recíproco... e, claro, isso não acontece sem conflito... mas conflito não é violência, não precisamos recear o conflito pois ele gera crescimento (quando aberto e bem conduzido)...aí sim construiremos a união, a solidariedade, o respeito, o amor... e isto é política!!!

Quando o poder (o “poder sobre”, o “poder de dominação”)... e o dinheiro se sobrepõem à solidariedade vemos a construção do autoritarismo, a injustiça e a exclusão. Quando a solidariedade é o modelo podemos ver a construção do NóS.



Enfim... nossa inscrição na Belotur... é a de número 683. Nosso desfile, como sempre na terça, em 2018 dia 13 de fevereiro...

Concentração na Rua Vila Rica com Francisco da Veiga... as 14 horas... saída as 16 horas e dispersão as 18 horas... já sabem que gostamos demais da dispersão não é¿



PERCURSO: seguiremos a rua Vila Rica por um quarteirão, viramos a direita na rua Apolo... mais um quarteirão viramos a direita de novo na Henrique Gorceix... até a Francisco da Veiga... aí descemos a Francisco da Veiga e já chegamos à esquina com Vila Rica de novo... a dispersão...


E recordando nosso lembrete (dado no início deste post) :

O LANÇAMENTO DO SAMBA “Sejamos nós” no Bar Opção (final de novembro... princípio de dezembro). Levaremos cópias da letra pra todo mundo ter e decorar pro carnaval viu!!!



AGUARDEM!!! Evento do face... what zap... ligações... contamos com os SBCenses e amigxs para divulgação...



E nosso último lembrete: relembrando que o SBC é ECOLóGICO (além de aberto, inclusivo, anárquico, democrático e feminista... não necessariamente nessa ordem...), nossa decoração de carnaval (e estandarte também) será de reciclagem DVDs e CDs que não prestam (como no SBC: tem gente que não presta... são as melhores pessoas...). Então... quem tiver e quiser doar entre em contato. Faremos decoração no percurso, no estandarte, nas fantasias... não me perguntem a ligação de amor e política com CDs e DVDs... mas que tem... tem...rsrs




Abraços carinhosos a todxs... até lá!!!



SantuzaTU