sexta-feira, 12 de setembro de 2025

PARA QUE SERVE A ARTE 2

 Rita Von Hunty, persona de Guilherme Terreri, é educadora, atriz e drag queen. Utiliza a arte drag como potente ferramenta pedagógica para abordar temas complexos como história, filosofia, política e questões sociais.

Em 20 de dezembro de 2022 já recorríamos à Rita como pré-texto - o texto nós fazemos -  para nossas reflexões. A seguir um trecho desse nosso post:

Rita diz, ou melhor, nosso SBCense diz: PARA NADA! ... se entendermos "servir"  como "ser útil" ao consumo, ou seja, a arte não deve ""se submeter", ser subserviente a uma cultura do consumo, a uma sociedade onde o dinheiro ganha vida e nós nos transformamos de sujeitos a objetos (consumistas: que só consomem - e se deixam consumir). Por outro lado, a ARTE pode (e deve) servir para ajudar a causar perplexidade, estranhamento, para abrir perguntas e incitar o raciocínio  - e ação -  transformadores. Aí a arte cumpre com seu papel: o de ser, sempre, um LEVANTE contra a servidão.

E a Rita abriu nossa conversa da semana. Em seguida veio Caetano:

Sim, a arte é revolucionária. Por isso "destruir" a arte é a primeira medida de todo regime fascista, autoritário. Lembram do filme "Arquitetura da Destruição"? Já falamos sobre este filme, e o retomamos agora, numa resenha do Professor Flávio Ricardo Vassoler, 
 escritor, professor, psicanalista youtuber,  doutor em Letras (Teoria Literária e Literatura Comparada) pela Universidade de São Paulo (USP), com pós-doutorado em Literatura Russa  e criador da Universidade Virtual do Vassoler. Vale a pena seguir esse professor.

E chegamos ao acontecimento da semana, a condenação dos "líderes" da trama golpista, o primeiro deles, o inominável. E, entre tantos comentários sobre nosso resgate enquanto nação soberana, destacamos a figura da nossa ministra mineira Carmem Lúcia:

Que, em voto histórico, disse poema de Affonso Romano de Sant'Anna:

Que País É Este?

1

Uma coisa é um país,
outra um ajuntamento.

Uma coisa é um país,
outra um regimento.

Uma coisa é um país,
outra o confinamento.

Mas já soube datas, guerras, estátuas
usei caderno "Avante"
— e desfilei de tênis para o ditador.
Vinha de um "berço esplêndido" para um "futuro radioso"
e éramos maiores em tudo
— discursando rios e pretensão.

Uma coisa é um país,
outra um fingimento.

Uma coisa é um país,
outra um monumento.

Uma coisa é um país,
outra o aviltamento.

(...)

2

Há 500 anos caçamos índios e operários,
há 500 anos queimamos árvores e hereges,
há 500 anos estupramos livros e mulheres,
há 500 anos sugamos negras e aluguéis.

Há 500 anos dizemos:
que o futuro a Deus pertence,
que Deus nasceu na Bahia,
que São Jorge é que é guerreiro,
que do amanhã ninguém sabe,
que conosco ninguém pode,
que quem não pode sacode.

Há 500 anos somos pretos de alma branca,
não somos nada violentos,
quem espera sempre alcança
e quem não chora não mama
ou quem tem padrinho vivo
não morre nunca pagão.

Há 500 anos propalamos:
este é o país do futuro,
antes tarde do que nunca,
mais vale quem Deus ajuda
e a Europa ainda se curva.

Há 500 anos
somos raposas verdes
colhendo uvas com os olhos,

semeamos promessa e vento
com tempestades na boca,

sonhamos a paz da Suécia
com suíças militares,

vendemos siris na estrada
e papagaios em Haia,

senzalamos casas-grandes
e sobradamos mocambos,

bebemos cachaça e brahma
Joaquim Silvério e derrama,

a polícia nos dispersa
e o futebol nos conclama,

cantamos salve-rainhas
e salve-se quem puder,

pois Jesus Cristo nos mata
num carnaval de mulatas.

(...)


Publicado no livro Que país é este? e outros poemas (1980).



Escritor, cronista, ensaísta e jornalista  Affonso Romano de Sant'Anna teve papel fundamental na promoção da poesia popular e social e na modernização da Biblioteca Nacional. Nasceu em Belo Horizonte em 1937 e nos deixou a pouco tempo, ainda nesse ano. Sua obra "Que país é este" é um símbolo de mobilização popular e reflete a luta conta a opressão e a busca por identidade nacional.


E terminamos com a magnífica interpretação de Elis Regina de música do também grande Mineiro João Bosco com seu parceiro Aldir Blanc:


Viva Minas Gerais! E viva o Brasil!!!
E viva o S B C !
Bora, juntas e juntos, construir um país melhor, mais justo, mais distributivo... Com poesia...e com arte!


Obrigada a todas as pessoas que nos acompanham...
Santuza TU


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