quarta-feira, 26 de março de 2025

Final de março...

 



A propósito do 8M, dia internacional da mulher, tivemos eventos durante todo o mês, para lembrar da nossa luta histórica por igualdade de direitos. E no sábado dia 22 o Movimento Quem Ama não Mata promoveu, dentro da programação Sábados Feministas, o encontro com a Dra. Ela Wiecko, Jurista e Ouvidora Geral do MPF.

MPM - Movimento Popular da Mulher e SBC presentes. A Dra. Ela, segunda à esquerda na foto acima, de vestido branco, nos conta a história anterior à lei Maria da Penha,  a construção da lei e o que temos, atualmente, de impactos positivos e negativos, assim como debates em relação à mesma.

O que ficou, pra nós, em relação a esse encontro: 
. Sem dúvida, um dos impactos positivos é que a lei nos trouxe a discussão de gênero, a criação de comitês de gênero e raça, pois antes não tínhamos nada disso;
. Sabemos que, na nossa sociedade patriarcal, a mulher é subalternizada, objetificada.  E a lei vem a ser uma ação afirmativa em relação a isso. O coração da lei são as medidas protetivas, disse a Dra. Ela;
. E, com a lei e os debates suscitados, ficamos sabendo que violência de gênero não se reduz à violência doméstica, perpassa por todos os setores da sociedade (por exemplo no ambiente de trabalho);
. Algo relativamente novo na lei vem a ser a construção de "Grupos reflexivos para o agressor", ideia defendida por algumas pessoas e criticada por outras que defendem a punição; 
. Por último, estamos vivendo momento de transição, e o aumento da violência ocorre em função de disputa de poder.

E observamos, nas colocações após as palestras, como até mesmo o nosso raciocínio é maniqueísta, o ou/ou. E, na disputa de poder, raciocinamos dentro da noção de "poder sobre", o poder de dominação, que é o que aprendemos e internalizamos culturalmente. Difícil é raciocinar o "poder para" transformar o mundo, sermos sujeitos na construção de um mundo mais igualitário... o que vem a ser um exercício diário nessa direção. 

Pois a Lei Maria da Penha está construída a partir de um paradigma do que se conhece como "Justiça Restaurativa", em contraposição ao paradigma da "Justiça Punitiva", o mais conhecido e praticado. E mudança de paradigma - conjunto de conceitos, pressupostos, valores, ... que orientam (determinam, até...) nossa maneira de pensar, sentir, agir - nos posicionar no mundo e nas relações - já sabemos: como tudo no humano, vem a ser movimento... processo, transição... construção humana, enfim. 



Pois com o debate sobre a lei Maria da Penha pulamos diretamente para o "outro lado da mesma moeda", o lado masculino. Todas nós comentando sobre a série ADOLESCÊNCIA, na Netflix, quatro capítulos... todas impactadas com a série. Quase como se estivéssemos falando a mesma coisa sobre outro "ponto de vista" (expressão interessante e pertinente essa, pois se viramos o olhar enxergamos outras coisas, "outros pontos").


Inúmeras leituras e reflexões sobre a série, sob inúmeras perspectivas: a família, o pai (descrito pela mãe e mostrado na série como tendo reações impulsivas violentas), a perplexidade, o assombro da família toda com o acontecimento, o filho se esforçando para atender expectativas do pai...; a escola, o modelo de educação (uma escola pública inglesa, de classe média baixa); a violência do sistema policial com uma determinada classe social; a paternidade e seus dramas, seu distanciamento e ignorância - sentimento de culpa -  a respeito do que está ocorrendo com os filhos e filhas... e por aí vai.

E todas essas reflexões fazem uma convergência do nosso olhar sobre o sistema em que vivemos e sobre como as redes sociais estão interferindo decisivamente na construção histórico social e cultural do que está sendo chamado de MASCULINISMO. Pensamos que esse movimento, essa ampliação de visão da questão da violência na adolescência, por um lado, minimiza um sentimento de culpa profunda que sentimos enquanto pais, quando "absorvemos", como esponjas, as consequências da "educação" que damos aos nossos filhos e filhas... e o sentimento que culpa não produz absolutamente nada no sentido de caminharmos para qualquer alternativa possível. Por outro lado, quando ampliamos nossa visão para a perspectiva antropológica-histórica-cultural, criamos a possibilidade do movimento de CULPA para RESPONSABILIDADE na construção de masculinidades - e feminilidades também, evidentemente -  mais saudáveis e, enfim, de um mundo mais saudável, na perspectiva micro e macro. 

Lembrando que a adolescência nada mais é que um "fenômeno cultural" produzido pelas práticas sociais em determinados momentos históricos, manifestando-se de formas diferentes e nem sequer existindo em alguns lugares, em algumas culturas. Foi no século XVIII que surgiram as primeiras tentativas de definir, claramente, suas características.

Chegamos ao questionamento, à perplexidade: O que está acontecendo atualmente com essa faixa etária, esse tempo de transição para a vida adulta? Como chegamos a este ponto? A série nos aponta como a existência de comunidades online influenciam a juventude atual, seja exercendo pressão social para seguir tendências de comportamento... e até mesmo facilitando a circulação de discursos de ódio.

O que é INCEL? O que é red pill? Porque pais e mães - e todos e todas nós - precisamos saber sobre isso? A série aborda esses temas e a necessidade de conhecermos sobre isso, pois esses termos estão
associados a questões tão delicadas como misoginia e violência.

A princípio, o termo INCEL descreve indivíduos que, apesar de desejarem ter relacionamentos afetivo-sexuais, não conseguem encontrar parceirosA palavra “incel” é uma abreviação de “involuntary celibate”, que em português significa “celibatário involuntário”. No entanto, o conceito de “incel” vai muito além dessa definição literal. Na internet, “incel” se refere a uma comunidade online, predominantemente masculina, que compartilha uma visão de mundo pessimista e misógina. E se constrói uma ideologia, fundamentada na frustração, no ódio e na crença em um "direito" ao sexo. 

O movimento RED PILL surgiu e se popularizou por volta da década de 20 do ano 2000. Defende que homens não devem se casar ou namorar, mas apenas fazerem sexo, por dizerem que mulheres não são fiéis e nem possuem bom caráter para com os homens. 

E as "pesquisas científicas" desses movimentos dizem dos 20% das mulheres que se interessam pelos MACHOS ALFA - as "esposas tradicionais", belas, recatadas e do lar,  trad wives, e/ou as dondocas, arm candy, mulher troféu; e os 80% dos MACHOS BETA, pelos quais as mulheres não se interessariam, ou que estes serão enganados, roubados, explorados, pelas mulheres, as "putas", as interesseiras.  E que, por consequência, podem/devem ser violentadas, até mesmo exterminadas.




Concluímos propondo a questão levantada pela querida Iza Indômita, "especialista em homens", na sua tese de mestrado: O que é ser homem pra você? Se questione e questione os homens sobre isso, todos os homens ao seu redor? Questione também as mulheres...

E uma "conclusão-constatação" que veio à tona a partir dessas conversas: "agora entendo um pouco como o fascismo se instala muito mais facilmente entre os jovens, como a ideologia conservadora, maniqueísta, o raciocínio fácil, polarizado, vai se infiltrando... e "forma", os adultos... e como a tecnologia se presta a esse trabalho... assim como podemos, devemos, utilizar da tecnologia como ferramenta importantíssima para o letramento de "visão de mundo" - tanto no geral como no particular, nas relações humanas desde as íntimas até o exercício da cidadania.

E a querida Vicentina nos lembra linda canção, para terminarmos o mês de março:


A música 'Woman in Chains', da banda britânica Tears For Fears, é uma poderosa balada que aborda temas de opressão e libertação feminina. Lançada em 1989, a canção é marcada por sua melodia suave e pela emotiva performance vocal, que transmite uma mensagem de empatia e conscientização sobre as lutas enfrentadas pelas mulheres na sociedade. Ouçam a música e entendam a tradução da mesma.

Mulher Acorrentada

É melhor gostar de amar e é melhor se comportar

É melhor gostar de amar e é melhor se comportar

Mulher acorrentadaMulher acorrentadaEla chama seu homemDe A Grande Esperança BrancaEla diz que está bemEla sempre aguentará...Mulher acorrentadaMulher acorrentada
Bem, eu sinto que sentar e esperarÉ um péssimo negócio (um péssimo negócio)E me sinto desesperadamente oprimidoPelos seus olhos de aço (seus olhos de aço)
Bem, é um mundo enlouquecidoQue mantém a mulher acorrentada
...Mulher acorrentadaMulher acorrentadaTroca sua alma como pele e osso(É melhor gostar de amar e é melhor se comportar)
Vende a única coisa que ela possui(É melhor gostar de amar e é melhor se comportar)

...
Mulher acorrentada

(O Sol e a Lua)


Mulher acorrentada
Homens de pedra!Homens de pedra!Ei, babyNão, não...

Bem, eu sinto que no fundo do seu coraçãoExistem feridas que o tempo não pode curar(Feridas que o tempo não pode curar)E eu sinto que alguém, em algum lugarEstá tentando respirarVocê sabe o que quero dizerÉ um mundo enlouquecidoQue mantém a mulher acorrentadaIsso me incomodaMas não posso controlarVou destruí-loMas não vou entenderEu não vou aceitarA grandeza do homemÉ um mundo enlouquecidoQue mantém a mulher acorrentadaEnlouquecidoMulher acorrentada



Então liberte-a

Então liberte-a

Então liberte-a

...................



E o grito SBCensence: LIBERTEMO-NOS, TODAS, TODOS E TODES!!!

Abraços carinhosos...

Santuza TU








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