A bacia hidrográfica do rio das Velhas foi escolhida como foco
de atuação. Essa foi uma forma de superar a percepção municipalista das
questões ambientais. A bacia permite uma análise sistêmica e integrada dos
problemas e das necessidades de intervenções. Para que essa metodologia de
trabalho fosse desenvolvida, foi necessário construir parcerias com os
municípios compreendidos na bacia e com o governo do estado, dentre outros. A
parceria com a sociedade cresceu consideravelmente ao longo da
existência do Projeto Manuelzão, sobretudo no âmbito dos Núcleos
Manuelzão (anteriormente chamados Comitês
Manuelzão) espalhados pela bacia. Esses Núcleos contam com a
participação da sociedade civil e, também, de representantes do poder público e
de usuários de água. Seu objetivo é discutir e promover atividades
relacionadas a questões ambientais locais, podendo contar com a parceria e
orientação do Projeto Manuelzão.
O Projeto também desenvolveu e vem desenvolvendo
importantes atividades de pesquisa. Professores, estagiários e
colaboradores trabalham juntos no Núcleo Transdisciplinar e
Transinstitucional pela Revitalização da Bacia do Rio das Velhas – NuVelhas, agregando
atividades de pesquisa de diversas áreas como o biomonitoramento, o
geoprocessamento e a recuperação de matas ciliares. O Projeto também tem,
em sua história, uma forte parceria com o curso de Comunicação Social da UFMG,
o que resultou na publicação da Revista
Manuelzão (antigo Jornal Manuelzão).
O coroamento do trabalho do Projeto aconteceu em 2003, com
a Expedição Manuelzão desce o Rio das Velhas. Foram percorridos os
804 Km do Velhas, da nascente em Ouro Preto à foz, em Barra do Guaicuí, em 29
dias. Em cada parada, a Expedição foi recebida pelas comunidades locais,
escolas e membros dos Núcleos Manuelzão. A descida do rio resultou na
publicação do livro “Navegando o Rio das Velhas das Minas aos Gerais”,
que apresenta, no primeiro volume, o diário de bordo da expedição, e, no
segundo volume, uma enciclopédia sobre a bacia hidrográfica. Da expedição
realizada em 2003, o Projeto Manuelzão também desenvolveu a proposta de
revitalizar o rio das Velhas até o ano de 2010. A proposta, denominada Meta
2010: navegar, pescar e nadar no rio das Velhas em sua passagem pela
região metropolitana de Belo Horizonte é, hoje, projeto estruturador
do Governo do Estado de Minas Gerais.
Em 2005, o Projeto Manuelzão inaugurou uma nova agenda: a
cultural. Em novembro daquele ano foi realizado, em Morro da
Garça, o Festivelhas Manuelzão: arte e transformação, que
contou com a participação de artistas vindos de várias regiões da bacia hidrográfica.
O sucesso do Festivelhas repetiu-se em setembro de 2007, com a realização
do Festivelhas Jequitibá: arte e cultura na capital mineira do folclore.
Em 2009, o Festivelhas assumiu proporções maiores, tendo sido realizado em maio
e junho em Ouro Preto, Santa Luzia, Curvelo, Barra do Guaicuí e Belo Horizonte
como parte da programação da Expedição pelo Velhas 2009: encontros de
um povo com sua bacia.
As reflexões e atividades do Projeto Manuelzão encontram-se
registradas em publicações como os Cadernos Manuelzão e
o livro Projeto Manuelzão: a história da mobilização que começou em
torno de um rio.
"Belo Horizonte pertence à bacia hidrográfica do Rio das Velhas,
que nasce no Quadrilátero Hidro-Ferrífero, essas minas de águas. Nesse contexto
territorial, essa RMBH que vai da Estação de Tratamento de Água de Bela Fama em
Nova Lima, que nos abastece, até a foz do ribeirão da Mata em Vespasiano, concentra 84,96%
da população, 85,61% do PIB e a mesma porcentagem de poluição em apenas 12,50%
do território total da bacia do Rio das Velhas. Todo esse impacto ambiental
confluindo na calha do Velhas num trecho de apenas 60 km de um rio com 800 km
de meandros na calha até sua foz no rio São Francisco. Esta região é o Epicentro
da Meta 2034 e da gestão do Rio das Velhas. Resolvido este
problema aqui, haverá um impacto ambiental positivo sobre toda a bacia do Rio
das Velhas, incluindo seus afluentes regionais. Uma política de saneamento
feita pra valer, obrigação e dívida histórica de BH com a bacia, significa a volta
do peixe da barra do Guaicuí no São Francisco até Ouro
Preto sua nascente primeira, uma área de aproximadamente 30.000 km² e mais de 5
milhões de pessoas terá dado passo gigante e histórico. BH precisa assumir esta
bandeira. A volta do peixe é
um objetivo muito importante para todos os seres vivos, humanos e não humanos.
O peixe, além de ser bioindicador de um rio vivo, de boas águas volumosas, tem
o dourado como
mascote. Numa só e única proposta alinhamos um somatório de objetivos
importantes como o combate à fome e
a melhoria da renda da
população carente que a pesca possibilita, o saneamento
básico que a meta exige já prevista no Marco Temporal do
Saneamento (2030), tudo isto se encaixando em programas do governo
federal e da ONU (ODS
– 2030), com recursos já existentes. Bastaria que Minas conseguisse esse apoio
federal com BH no protagonismo. O PAC — Programa
de Aceleração do Crescimento é uma possibilidade. E será
um exemplo gigante para o Brasil e o mundo na questão ambiental. O espelho
d’água mostra a nossa cara! São informações que fluem! Para aprofundamento,
dados e mapas sugerimos, enquanto não tivermos outros sites, podem acessar o
site privado sigaaagua.com em HOME (Apresentação
para o CBH Velhas da Meta 2034) e em TEXTOS (Resumo
da Meta 2034)".
Outro importante ganho seria na comunicação direta entre população, movimentos sociais e gestores desses territórios com a Câmara e órgãos do Executivo por meio de aplicativos e de um CNPJ para os novos critérios regionais e sub-regionais, para uso administrativo, jurídico e outros, comum para qualquer tipo de representação dos moradores. A experiência acumulada pelos subcomitês de bacia hidrográfica no Rio das Velhas poderá ser muito útil no lidar com participação ativa da população. Lembrando que mesmo córregos canalizados reaparecem com as chuvas e são lembranças muito fortes. E irá facilitar a identificação das áreas de vulnerabilidade socioambiental, como de alagamentos, deslizamentos, ocupação de encostas, conflitos fundiários urbanos, eventos criminais e de segurança pública, banheiros públicos, abrigos dormitórios e de proteção, construídos na metodologia do Mapa Colaborativo Geral".
Como vimos, a proposta é concreta, simples e, ao mesmo tempo ´profunda e significativa, factível e necessária à nossa região. Trata-se de uma articulação potente entre a visão macro e a ação micro, regional, no sentido de soluções "para adiar o fim do mundo", como diz nosso grande Krenak. Na verdade, as ações micro contribuem para o combate ao fim desse sistema que, em função de lucro acima de tudo, está "acabando com o mundo"... e a construção, do micro para o macro, de um planeta habitável... e um mundo melhor...
Apolo, desde "século passado", como costumamos brincar, é um poeta visionário. Ele conta que sonhou com o projeto Manuelzão... e juntou parceiros... e o projeto foi construído...
"Fuçando" mais no site encontramos o link IMAGINÁRIO, ótimo título, com trechos do Apolo e dicas de leitura:
“O foco principal da proposta do Projeto Manuelzão está na
transformação da mentalidade cultural, para nós a questão chave do processo de
construção histórica da humanidade; transformação cultural a ser localmente
impulsionada pelo objetivo pontual operacional comum: a volta do peixe à
bacia do rio das Velhas, alavanca deste processo. A definição desta alavanca
tão simples não foi aleatória; resultou da observação de como ocorrem os
fenômenos socioambientais e de uma prática teórica árdua e vivenciada. A
variável da volta do peixe expressa uma relação complexa que conseguimos
compreender. Aplicando-a na estratégia de revitalização de uma bacia, podemos
abrir caminho para uma discussão política e filosófica em escala planetária.”
“Em nosso período de vida, a água assumiu papel relevante na
avaliação dos acontecimentos enquanto eixo de mobilização, eixo de
monitoramento biológico da saúde do planeta e eixo metodológico do processo de
transformação política que empreendemos, questionando a geografia político-administrativa
do sistema, base na qual ele se sustenta. As bacias hidrográficas, os
ecossistemas que o perpassam, o ciclo hidrológico têm sido referenciais
metodológicos para nosso trabalho, levando-nos a pensar num mundo sem
fronteiras e numa sociedade culturalmente diferenciada, integrada e solidária.
Vivemos um tempo que se funda na lógica das tropelias de um sistema baseado na
força física, na força do dinheiro e da mentira. A violência contra os mais
fracos, independente de fronteiras nacionais, tem base na materialidade da
propriedade e do domínio público, intelectual e tecnológico controlado pelo
capital financeiro. Trabalhamos pela transformação no sentido da apropriação
coletiva do produto do trabalho social e da gestão política, econômica e ambiental
enquanto instrumento democrático e sustentável de desenvolvimento da qualidade
de vida no planeta Terra. O grande problema refletido pela natureza é a
poluição da mente e do coração dos seres humanos por causa da sua ignorância,
não basicamente da maldade. Está na sua representação do que somos e do mundo.
A filosofia, as artes e a política têm papel fundamental nesta história de
superação.
A questão ambiental está inseparável da questão da justiça
social, da paz e da democracia. As necessidades de todos os ecossistemas,
inclusive humanos, que se concentram cada vez mais nas cidades, exigem cuidados
especiais para se sustentarem dentro de uma perspectiva democrática, de justiça
e paz. Libertar a política do calendário eleitoral imediato e da ditadura do
capital é essencial para equacionarmos, em longo prazo, as demandas sobre os
recursos naturais e os seus efeitos sobre os ecossistemas. O centro da questão
ambiental é a constituição de um modelo de economia com base global que garanta
a todos os seres humanos e aos demais ecossistemas a sobrevivência e o
desenvolvimento, valorizando a diversidade cultural e apagando as fronteiras
entre países, classes e raças. As águas assumiram papel metodológico
fundamental na mobilização e no monitoramento deste processo de transformação
da mentalidade cultural de nossa época em escala planetária. A nossa ideia de
uma única bandeira para todos os povos é o símbolo desta proposta.”
Trechos de textos escritos por Apolo Heringer Lisboa, extraídos
do livro “Projeto Manuelzão: a história da mobilização que começou
em torno de um rio”. Organizadores: Apolo Heringer Lisboa, Eugênio Marcos
Andrade Goulart e Letícia Fernandes Malloy Diniz. Belo Horizonte: Instituto
Guaicuy, 2008. pp. 19; 254-255.
Dica de leitura: Imaginário do Projeto Manuelzão, de Apolo Heringer Lisboa, publicado no livro
“Navegando o Rio das Velhas: das Minas aos Gerais”. Organizador: Eugênio
Goulart. Belo Horizonte: Instituto Guaicuy, 2005.
Nosso empenho total é em fazer chegar esse projeto ao prefeito eleito no próximo domingo, aos vereadores e vereadoras que serão empossados em 2025, à maioria deles, para que abracem o mesmo, se comprometam, enfim, usem o poder para a ação transformadora.
"AMAR E MUDAR AS COISAS... ME INTERESSA MAIS... ", grande Belchior, música do seu álbum de 1976, ALUCINAÇÃO ..."VIVER É MELHOR QUE SONHAR..."
Lembrando que também estamos interessadas nas teorias sim... sempre ligadas à ação transformadora...
E, também, interessadas, nós, as pessoas do Coletivo SBC, na arte como ferramenta fundamental para a conscientização e a ação...
Para terminar, a seguir a foto da flor do pequizeiro que o Apolo tem em casa. Ele me manda e diz que o pequizeiro "sabia" que ia chover, por isso nasceu a flor... adoramos essa "poesia" do Apolo, e fizemos outra, ou melhor, uma intertextualidade :
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