terça-feira, 22 de outubro de 2024

Manifesto MUDA BH: um ótimo exemplo de eco-saída

Fundação do Projeto Manuelzão, em 1997. Ao centro, de chapéu, está o vaqueiro 
Manuel Nardi, eternizado na escrita de Guimarães Rosa (Foto: Èber Faioli) 

Situado à  Av. Alfredo Balena, 190, 8o andar - Santa Efigênia, em Belo Horizonte - MG, tivemos a honra de "re-conhecer" o Projeto Manuelzão, descrito no site como se segue:

O Projeto Manuelzão foi criado em janeiro de 1997 por iniciativa de professores da Faculdade de Medicina da UFMG. O surgimento do Manuelzão está ligado às atividades do Internato em Saúde Coletiva (“Internato Rural”), disciplina obrigatória da grade curricular do curso de Medicina em que os estudantes passam três meses em municípios do interior de Minas Gerais desenvolvendo atividades de medicina preventiva e social. O histórico das experiências desses professores e estudantes revelou que não bastava, período a período, medicar a população. Mais que isso, era preciso combater as causas das doenças. A partir da percepção de que a saúde não deve ser apenas uma questão médica, foi esboçado o horizonte de trabalho do Projeto Manuelzão: lutar por melhorias nas condições ambientais para promover qualidade de vida, rompendo com a prática predominantemente assistencialista.

A bacia hidrográfica do rio das Velhas foi escolhida como foco de atuação. Essa foi uma forma de superar a percepção municipalista das questões ambientais. A bacia permite uma análise sistêmica e integrada dos problemas e das necessidades de intervenções. Para que essa metodologia de trabalho fosse desenvolvida, foi necessário construir parcerias com os municípios compreendidos na bacia e com o governo do estado, dentre outros. A parceria com a sociedade cresceu consideravelmente ao longo da existência do Projeto Manuelzão, sobretudo no âmbito dos Núcleos Manuelzão (anteriormente chamados Comitês Manuelzão) espalhados pela bacia. Esses Núcleos contam com a participação da sociedade civil e, também, de representantes do poder público e de usuários de água. Seu objetivo é discutir e promover atividades relacionadas a questões ambientais locais, podendo contar com a parceria e orientação do Projeto Manuelzão.

O Projeto também desenvolveu e vem desenvolvendo importantes atividades de pesquisa. Professores, estagiários e colaboradores trabalham juntos no Núcleo Transdisciplinar e Transinstitucional pela Revitalização da Bacia do Rio das Velhas – NuVelhas, agregando atividades de pesquisa de diversas áreas como o biomonitoramento, o geoprocessamento e a recuperação de matas ciliares. O Projeto também tem, em sua história, uma forte parceria com o curso de Comunicação Social da UFMG, o que resultou na publicação da Revista Manuelzão (antigo Jornal Manuelzão).

O coroamento do trabalho do Projeto aconteceu em 2003, com a Expedição Manuelzão desce o Rio das Velhas. Foram percorridos os 804 Km do Velhas, da nascente em Ouro Preto à foz, em Barra do Guaicuí, em 29 dias. Em cada parada, a Expedição foi recebida pelas comunidades locais, escolas e membros dos Núcleos Manuelzão. A descida do rio resultou na publicação do livro “Navegando o Rio das Velhas das Minas aos Gerais”, que apresenta, no primeiro volume, o diário de bordo da expedição, e, no segundo volume, uma enciclopédia sobre a bacia hidrográfica. Da expedição realizada em 2003, o Projeto Manuelzão também desenvolveu a proposta de revitalizar o rio das Velhas até o ano de 2010. A proposta, denominada Meta 2010: navegar, pescar e nadar no rio das Velhas em sua passagem pela região metropolitana de Belo Horizonte é, hoje, projeto estruturador do Governo do Estado de Minas Gerais.

Em 2005, o Projeto Manuelzão inaugurou uma nova agenda: a cultural. Em novembro daquele ano foi realizado, em Morro da Garça, o Festivelhas Manuelzão: arte e transformação, que contou com a participação de artistas vindos de várias regiões da bacia hidrográfica. O sucesso do Festivelhas repetiu-se em setembro de 2007, com a realização do Festivelhas Jequitibá: arte e cultura na capital mineira do folclore. Em 2009, o Festivelhas assumiu proporções maiores, tendo sido realizado em maio e junho em Ouro Preto, Santa Luzia, Curvelo, Barra do Guaicuí e Belo Horizonte como parte da programação da Expedição pelo Velhas 2009: encontros de um povo com sua bacia.

As reflexões e atividades do Projeto Manuelzão encontram-se registradas em publicações como os Cadernos Manuelzão e o livro Projeto Manuelzão: a história da mobilização que começou em torno de um rio.


E no dia 17.10.2024 foi lançado, na Casa do Jornalista, o Manifesto MUDA BH. supra partidário, construído a várias mãos por lideranças ambientais da cidade. Apresentado por um dos fundadores do Projeto Manuelzão, querido amigo e conterrâneo (Salinas, terra amada) Apolo Heringer Lisboa. 

"Belo Horizonte pertence à bacia hidrográfica do Rio das Velhas, que nasce no Quadrilátero Hidro-Ferrífero, essas minas de águas. Nesse contexto territorial, essa RMBH que vai da Estação de Tratamento de Água de Bela Fama em Nova Lima, que nos abastece, até a foz do ribeirão da Mata em Vespasiano, concentra 84,96% da população, 85,61% do PIB e a mesma porcentagem de poluição em apenas 12,50% do território total da bacia do Rio das Velhas. Todo esse impacto ambiental confluindo na calha do Velhas num trecho de apenas 60 km de um rio com 800 km de meandros na calha até sua foz no rio São Francisco. Esta região é o Epicentro da Meta 2034 e da gestão do Rio das Velhas. Resolvido este problema aqui, haverá um impacto ambiental positivo sobre toda a bacia do Rio das Velhas, incluindo seus afluentes regionais. Uma política de saneamento feita pra valer, obrigação e dívida histórica de BH com a bacia, significa a volta do peixe da barra do Guaicuí no São Francisco até Ouro Preto sua nascente primeira, uma área de aproximadamente 30.000 km² e mais de 5 milhões de pessoas terá dado passo gigante e histórico. BH precisa assumir esta bandeira. A volta do peixe é um objetivo muito importante para todos os seres vivos, humanos e não humanos. O peixe, além de ser bioindicador de um rio vivo, de boas águas volumosas, tem o dourado como mascote. Numa só e única proposta alinhamos um somatório de objetivos importantes como o combate à fome e a melhoria da renda da população carente que a pesca possibilita, o saneamento básico que a meta exige já prevista no Marco Temporal do Saneamento (2030), tudo isto se encaixando em programas do governo federal e da ONU (ODS – 2030), com recursos já existentes. Bastaria que Minas conseguisse esse apoio federal com BH no protagonismo. O PAC — Programa de Aceleração do Crescimento é uma possibilidade. E será um exemplo gigante para o Brasil e o mundo na questão ambiental. O espelho d’água mostra a nossa cara! São informações que fluem! Para aprofundamento, dados e mapas sugerimos, enquanto não tivermos outros sites, podem acessar o site privado sigaaagua.com em HOME (Apresentação para o CBH Velhas da Meta 2034) e em TEXTOS (Resumo da Meta 2034)".


"Sugerimos que a PBH estude a adoção do critério universal dos territórios hidrográficos (ou bacias, vales, estados naturais) como base da administração da capital. BH tem protagonismo pioneiro, já realizou 2 encontros internacionais de rios em 2008 e 2010 e propomos sediar junto com a PBH o terceiro em 2026, integrado à Meta 2034. Aqui, os ribeirões Arrudas e Onça são os 2 grandes eixos hidrológicos irmanados com Contagem e nessa base, poderemos fazer a reorganização conceitual das regionais administrativas por sub bacias afluentes aos dois eixos fluviais citados. Tal concepção traria nova racionalidade geográfica operacional e pouparia gastos, pois já existem todos os recursos de programas como Google Earth Pro com os espaços geográficos já definidos com rigor, baseados na leitura altimétrica por satélites dos divisores de águas, permitindo à população e à defesa civil base intuitiva e científica para decisões emergenciais e ou preventivas, sobre os limites entre regiões afetadas por eventos climáticos e geológicos, superando os limites desconfigurados dos antigos bairros.

Outro importante ganho seria na comunicação direta entre população, movimentos sociais e gestores desses territórios com a Câmara e órgãos do Executivo por meio de aplicativos e de um CNPJ para os novos critérios regionais e sub-regionais, para uso administrativo, jurídico e outros, comum para qualquer tipo de representação dos moradores. A experiência acumulada pelos subcomitês de bacia hidrográfica no Rio das Velhas poderá ser muito útil no lidar com participação ativa da população. Lembrando que mesmo córregos canalizados reaparecem com as chuvas e são lembranças muito fortes. E irá facilitar a identificação das áreas de vulnerabilidade socioambiental, como de alagamentos, deslizamentos, ocupação de encostas, conflitos fundiários urbanos, eventos criminais e de segurança pública, banheiros públicos, abrigos dormitórios e de proteção, construídos na metodologia do Mapa Colaborativo Geral".

Como vimos, a proposta é concreta, simples e, ao mesmo tempo ´profunda e significativa, factível e necessária à nossa região. Trata-se de uma articulação potente entre a visão macro e a ação micro, regional, no sentido de soluções "para adiar o fim do mundo", como diz nosso grande Krenak. Na verdade, as ações micro contribuem para o combate ao fim desse sistema que, em função de lucro acima de tudo, está "acabando com o mundo"... e a construção, do micro para o macro, de um planeta habitável... e um mundo melhor...

Apolo, desde "século passado", como costumamos brincar, é um poeta visionário. Ele conta que sonhou com o projeto Manuelzão... e juntou parceiros... e o projeto foi construído...

"Fuçando" mais no site encontramos o link IMAGINÁRIO, ótimo título,  com trechos do Apolo e dicas de leitura:

“O foco principal da proposta do Projeto Manuelzão está na transformação da mentalidade cultural, para nós a questão chave do processo de construção histórica da humanidade; transformação cultural a ser localmente impulsionada pelo objetivo pontual operacional comum: a volta do peixe à bacia do rio das Velhas, alavanca deste processo. A definição desta alavanca tão simples não foi aleatória; resultou da observação de como ocorrem os fenômenos socioambientais e de uma prática teórica árdua e vivenciada. A variável da volta do peixe expressa uma relação complexa que conseguimos compreender. Aplicando-a na estratégia de revitalização de uma bacia, podemos abrir caminho para uma discussão política e filosófica em escala planetária.”

“Em nosso período de vida, a água assumiu papel relevante na avaliação dos acontecimentos enquanto eixo de mobilização, eixo de monitoramento biológico da saúde do planeta e eixo metodológico do processo de transformação política que empreendemos, questionando a geografia político-administrativa do sistema, base na qual ele se sustenta. As bacias hidrográficas, os ecossistemas que o perpassam, o ciclo hidrológico têm sido referenciais metodológicos para nosso trabalho, levando-nos a pensar num mundo sem fronteiras e numa sociedade culturalmente diferenciada, integrada e solidária. Vivemos um tempo que se funda na lógica das tropelias de um sistema baseado na força física, na força do dinheiro e da mentira. A violência contra os mais fracos, independente de fronteiras nacionais, tem base na materialidade da propriedade e do domínio público, intelectual e tecnológico controlado pelo capital financeiro. Trabalhamos pela transformação no sentido da apropriação coletiva do produto do trabalho social e da gestão política, econômica e ambiental enquanto instrumento democrático e sustentável de desenvolvimento da qualidade de vida no planeta Terra. O grande problema refletido pela natureza é a poluição da mente e do coração dos seres humanos por causa da sua ignorância, não basicamente da maldade. Está na sua representação do que somos e do mundo. A filosofia, as artes e a política têm papel fundamental nesta história de superação.

A questão ambiental está inseparável da questão da justiça social, da paz e da democracia. As necessidades de todos os ecossistemas, inclusive humanos, que se concentram cada vez mais nas cidades, exigem cuidados especiais para se sustentarem dentro de uma perspectiva democrática, de justiça e paz. Libertar a política do calendário eleitoral imediato e da ditadura do capital é essencial para equacionarmos, em longo prazo, as demandas sobre os recursos naturais e os seus efeitos sobre os ecossistemas. O centro da questão ambiental é a constituição de um modelo de economia com base global que garanta a todos os seres humanos e aos demais ecossistemas a sobrevivência e o desenvolvimento, valorizando a diversidade cultural e apagando as fronteiras entre países, classes e raças. As águas assumiram papel metodológico fundamental na mobilização e no monitoramento deste processo de transformação da mentalidade cultural de nossa época em escala planetária. A nossa ideia de uma única bandeira para todos os povos é o símbolo desta proposta.”

Trechos de textos escritos por Apolo Heringer Lisboa, extraídos do livro “Projeto Manuelzão: a história da mobilização que começou em torno de um rio”. Organizadores: Apolo Heringer Lisboa, Eugênio Marcos Andrade Goulart e Letícia Fernandes Malloy Diniz. Belo Horizonte: Instituto Guaicuy, 2008. pp. 19; 254-255.

Dica de leitura: Imaginário do Projeto Manuelzão, de Apolo Heringer Lisboa, publicado no livro “Navegando o Rio das Velhas: das Minas aos Gerais”. Organizador: Eugênio Goulart. Belo Horizonte: Instituto Guaicuy, 2005.

Nosso empenho total é em fazer chegar esse projeto ao prefeito eleito no próximo domingo, aos vereadores e vereadoras que serão empossados em 2025, à maioria deles, para que abracem o mesmo, se comprometam, enfim, usem o poder para a ação transformadora.

"AMAR E MUDAR AS COISAS... ME INTERESSA MAIS... ", grande Belchior, música do seu álbum de 1976, ALUCINAÇÃO ..."VIVER É MELHOR QUE SONHAR..."

Lembrando que também estamos interessadas nas teorias sim... sempre ligadas à ação transformadora...

E, também, interessadas, nós, as pessoas do Coletivo SBC, na arte como ferramenta fundamental para a conscientização e a ação...


Para terminar, a seguir a foto da flor do pequizeiro que o Apolo tem em casa. Ele me manda e diz que o pequizeiro "sabia" que ia chover, por isso nasceu a flor... adoramos essa "poesia" do Apolo, e fizemos outra,  ou melhor, uma intertextualidade :



"É preciso chuva para florir"
... O pequizeiro floriu antes das chuvas ... no início da primavera... tudo seco, e ele floriu... ele sabia ...
Floriu para nos prenunciar...
É preciso olhos para ver
É preciso coração para sentir
É preciso mãos e pés para agir...
A ação transformadora... para um mundo melhor, 
Pessoas melhores...
É preciso acreditar... esperançar... agir...

Santuza TU





Nenhum comentário:

Postar um comentário