terça-feira, 8 de outubro de 2024

Novas conversas sobre ECOs

 O conceito de Oikos tem suas raízes na filosofia grega antiga, especialmente na obra de filósofos como Aristóteles e Platão. Para esses pensadores, a ideia de Oikos estava intimamente ligada à noção de harmonia e equilíbrio entre os elementos que compõem o universo. Com o passar dos séculos, o conceito de Oikos foi se desenvolvendo e se adaptando às mudanças sociais, políticas e ambientais.

Oikos deu origem à palavra Ökologie, introduzida na língua alemã no século XIX, tendo passado para a língua inglesa como Ecology, e propagada na maior parte das línguas Europeias com uma fonética semelhante à palavra alemã ou inglesa. Oikos, “casa”, é uma excelente metáfora para o ambiente. 

E das conversas sobre ecologia caminhamos para as inúmeras palavras começadas com ECO. Vejam nosso post recente,  de 20 de setembro. Aliás, tudo começou com a palavra ECOSEXUAL, obrigada Sérgio!

Nessa nossa conversa conhecemos - e apresentamos -  dois ECOs importantíssimos:  ECONOMIA e  ECOANSIEDADE, assim como a estreita relação entre esses dois conceitos, acreditem...

Mas neste nosso post só conversaremos sobre economia, pois o assunto "rendeu" demais. Deixamos a ecoansiedade para  o próximo...


economia = oikos,  "casa", "lar" + nomos, "lei", "costume" (administração, organização, distribuição)

"A economia é a ciência que estuda a produção, distribuição e consumo de bens e serviços, e como as sociedades usam os recursos para produzir bens e distribuí-los entre os indivíduos" Portanto, a economia é o estudo das escolhas dos indivíduos e do que possibilita a compatibilidade nas escolhas de todos.
 E muitos de nós, da área de humanas, pensamos que a economia está dissociada do nosso objeto de estudo, essa fragmentação é o que interessa à reprodução de um sistema que, afinal, repercute de maneira decisiva nas nossas subjetividades. Precisamos saber mais sobre economia!

Outro conceito: "É a ciência social que estuda o desenvolvimento e comportamento humano relacionado a tudo o que é necessário para a vida".

Os modelos e técnicas atualmente usados em economia evoluíram da economia política do final do século XIX, derivado da vontade de usar métodos mais empíricos à semelhança das ciências naturais. 

A distinção entre microeconomia e macroeconomia é central para entender a economia. 

A pergunta que não quer calar: Micro ou macro? É geralmente a primeira pergunta que os economistas recém-introduzidos a este campo de conhecimento fazem uns aos outros, a distinção entre as duas abordagens que está no coração da economia. Eles são geralmente considerados como campos de estudo completamente separados (a fragmentação interessa ao sistema em que vivemos), a ponto de muitos passarem a vida inteira se especializando em um ou outro, sem nenhum sentimento de perda. Derivado de  mikros, grego antigo para "pequeno", microeconomia é o termo usado para o estudo de como famílias e empresas tomam suas decisões e interagem com os mercados.  Já o termo macroeconomia deriva do grego makros - "grande" - e é o estudo de como as economias como um todo funcionam. Um macroeconomista está mais interessado em perguntas sobre por que a taxa de crescimento de um país é tão alta, mas a inflação é baixa, ou quais são as causas do aumento da desigualdade e desemprego. No entanto, embora os dois assuntos sejam frequentemente tratados separadamente, eles são sustentados pelas mesmas regras fundamentais: a interação da oferta e da demanda, a importância dos preços e do bom funcionamento dos mercados e a necessidade de determinar como as pessoas agem diante da escassez, e toda uma gama de incentivos.

Daí chegamos a um outro conceito de economia que nos chamou muita atenção:


Ciência da escassez?  Mas porque escassez? Nosso mundo não dispõe de recursos para que todos os habitantes sejam satisfeitos nas suas necessidades básicas? A questão fundamental não seria a  DISTRIBUIÇÃO? A maneira como a riqueza do nosso planeta é distribuída não precede e determina a produção e o consumo?

Precisamos entender, primeiro, que inúmeros "conceitos" que orientam a nossa maneira de pensar, sentir e agir, e que aprendemos como "universais", são conceitos próprios do sistema onde vivemos, o sistema capitalista. 

Então, para além de sermos objetos, de "sofrer" os efeitos desse sistema, precisamos ATUAR, sermos sujeitos, conhecer como funciona a sociedade capitalista em que vivemos e não perdermos nenhuma possibilidade de alguma transformação. 

Pois bem, no sistema capitalista a riqueza está concentrada nas mãos de poucos indivíduos, enquanto a maioria da população vive em condições precárias e sem acesso aos mesmos recursos e oportunidades. Essa desigualdade social é um problema grave que afeta milhões de pessoas em todo o mundo.

Se pensarmos na origem e evolução dos modelos econômicos temos: 



O capitalismo surgiu na Europa no final da Idade Média, com o desenvolvimento das atividades comerciais e financeiras. O modelo se consolidou durante a Revolução Industrial, no século XVIII, quando houve uma grande transformação nas relações de produção.

Já o socialismo surgiu como uma crítica ao capitalismo no século XIX, com pensadores como Karl Marx e Friedrich Engels. Eles defendiam a ideia de que o capitalismo gerava desigualdades sociais e que era necessário um modelo econômico baseado na cooperação e na igualdade. 

O capitalismo e o socialismo são sistemas político-econômicos distintos e que são considerados antagônicos, num raciocínio maniqueísta. 

O capitalismo é um sistema que se baseia no lucro, na defesa da propriedade privada, na livre iniciativa, no livre-comércio e no individualismo. A riqueza nesse sistema é considerada mérito da pessoa.

O socialismo, por sua vez, é contra a existência da propriedade privada e defende os interesses da coletividade. No socialismo, os meios de produção são controlados pelos trabalhadores e pelo Estado a fim de reduzir as desigualdades sociais, ofertando trabalho para todos e distribuindo igualmente a riqueza produzida.

E o comunismo, o que é? Pensem em pessoas muito ruins, que vão tirar a força tudo que é seu... e que comem criancinhas! No maniqueísmo que aprendemos, ou/ou,  bom-mau, certo-errado,  o comunismo é isso... desde meados do século passado, fim da segunda guerra mundial, a polarização EUAxURSS se estabeleceu e era bastante interessante para o nosso mundo ocidental - e a hegemonia estadunidense - se pensar/sentir assim, e assim internalizamos, sem buscar conhecimentos que nos possibilitassem críticas. Pois ainda, mais de 50 anos depois, mudamos de século, um mundo multipolar está se construindo, e inúmeras pessoas ainda pensam assim... está impregnado o maniqueísmo, a polarização... a alienação, a passividade, o radicalismo... e por aí vai...

Pois bem, dentro do que conhecemos como socialismo científico, o comunismo e o socialismo não são a mesma coisa. Relembrando que, na teoria marxista, o socialismo é a etapa que se inicia com a revolução dos trabalhadores. Estes passariam a controlar o Estado e os meios de produção, implantando modificações e preparando a sociedade para o estágio seguinte.

O socialismo é, portanto, o estado intermediário que antecede a implantação do comunismo. O comunismo seria o estágio final, em que o capitalismo é superado. A implantação do comunismo viria acompanhada da abolição do Estado, da propriedade privada e também das classes sociais."


Atualmente, países como China, Cuba, Vietnã, Laos e Coreia do Norte se identificam como socialistas. 
Na América Latina, o mapa abaixo é de 2022, com certeza depois da eleição do Lula por aqui, pois o Brasil está em vermelho. Vamos atualizá-lo:


Primeiro, na Argentina sabemos do caos da ultra direita do Milei, ou seja, mudamos para o azul;

No Chile, com Gabriel Boric, temos tentativas de uma nova constituição, para substituir texto criado na ditadura do general Augusto Pinochet, que durou de 1973 a 1990;

Na Venezuela, Maduro sucedeu Hugo Chávez, presidente do país entre 1999 e 2013 implementando o que se chamou de Socialismo do século XXI. Maduro reeleito há pouco tempo, claro que sob uma forte polarização política: apesar do grande apoio popular, a rejeição entre as classes média e alta é forte, com o apoio estadunidense, com grande interesse no petróleo, entre outras riquezas daquele país.  Claro que as sanções contra esse país são inúmeras, realizadas pelos EUA;

Por falar em sanções, um país referência no socialismo  na América Latina é Cuba, que sofre embargo dos EUA desde anos 60 do século passado. O embargo dos Estados Unidos contra Cuba é uma das medidas mais condenadas pela Assembleia Geral da ONU, onde todos os anos, desde 1992, é aprovada uma resolução contra a imposição americana. Mas nenhuma medida é tomada, o embargo continua;

Na Nicarágua,  Daniel Ortega, um dos líderes da Revolução Sandinista de 1979, que derrubou a ditadura de Somoza, governa o país pela segunda vez desde 2007, a primeira de 1979 a 1990. É conhecido como um ditador, embora tenha sido reeleito em 2021;

Evo Morales assumiu a presidência da Bolívia em 2006 e alimentou as esperanças dos mais pobres de combater o neoliberalismo e produzir melhorias no bem-estar de todos os cidadãos. A reafirmação da propriedade estatal sobre o petróleo e o gás natural e o aumento as taxas de impostos pagas pelas petroleiras aumentou fortemente as receitas do Estado. Em junho deste ano, tentativa de golpe  liderada por ex-comandante do Exército, foi afastado e preso após ameaçar ex-presidente Evo Morales. Presidente atual da Bolívia, Luis Arce, rival de Morales, fazem parte do mesmo movimento político;

No Peru temos Dina Boluarte, desde 2022,  primeira mulher a se tornar presidente nesse país. Ela foi empossada após um autogolpe de estado fracassado do presidente Pedro Castillo, que resultou em seu impeachment, destituição e prisão. Sua presidência ocorre durante um período de turbulência política no Peru, que começou em 2017, ela é a sexta presidente em cinco anos. Ela era vice de Castillo, de esquerda, e após sua ascensão à presidência se alinhou com figuras de direita, levantando preocupações sobre a formação de um governo  civil-militar;

Já em Honduras, Xiomara Castro, também primeira mulher presidente, que devolve a esquerda ao poder, herdou um aparelho estatal profundamente corrupto. Ela é confrontada com a forte vulnerabilidade de Honduras à pressão norte-americana para manter o país dentro dos regimes regionais de livre comércio e a presença dos militares norte-americanos em seu território. Em março de 2022, ela proibiu a mineração a céu aberto, declarando-a prejudicial ao meio ambiente e à população. O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos acolheu a decisão como sendo "coerente com o princípio da justiça climática e da proteção dos recursos naturais, da saúde pública e do acesso à água como um direito humano". A indústria de mineração, entretanto, desafiou a medida. Em 2022, foi declarado estado de emergência para lidar com o crime. Honduras, junto com a Guatemala e El Salvador, pertence ao "triângulo da morte" na América Central, uma região assolada pela violência, pobreza e corrupção;

E o Gustavo Petro, na Colômbia? Alvo de golpe à lá Dilma Rousseff naquele país, dominado pela oligarquia política, fez um discurso maravilhoso no mês passado, setembro, na ONU, um discurso duro no qual se referiu ao aprofundamento da "policrise", em referência às múltiplas causas que afetam a vida humana, e mirou naqueles que pedem aos latino-americanos que vão à guerra para "treinar máquinas de guerra, homens para irem aos campos de batalha." "Eles esqueceram que nossos países foram invadidos várias vezes pelas mesmas pessoas que hoje falam em lutar contra invasões. Eles esqueceram que por petróleo invadiram o Iraque, a Síria, a Líbia. Eles esqueceram que as razões que são expressas para defender Zelensky são as mesmas com as quais a Palestina deve ser defendida", disse Petro, acrescentando que para completar todos os objetivos de desenvolvimento sustentável "todas as guerras" teriam que cessar;

Por último, queremos falar do México: acaba de tomar posse, primeira mulher Presidenta, Claudia Sheinbaum,  com o apoio de Lópes Obrador, fenômeno político mais forte da história política do México. Apostou em políticas voltadas para os pobres e discursos duros conta a elite. Ainda mais, na formação da consciência política da população, em conversas diárias através de lives com o povo.

Bem, parece que saímos do assunto: economia... capitalismo, socialismo, comunismo, socialismo no mundo e na América Latina... e perceberam que, de socialismo, passamos ao tema direita e esquerda? e centro? Com essa digressão tentamos, na nossa conversa, entender... e mostrar: não existe o ou/ou, e sim um movimento, uma construção, que não é linear e sim cheia de altos e baixos, idas e vindas, como tudo no humano; mas existem convicções político/econômicas que norteiam nossas visões de mundo e nossa ação transformadora.

 

Estes dois vídeos do grande jurista brasileiro Alysson Mascaro nos explica, de forma tão simples e tão significativa o que é ser de esquerda e de direita, na história e atualmente.

Voltando ao nosso tema, tentamos compreender o que é economia, a economia no sistema capitalista e no sistema socialista; e as tentativas de se implementar um sistema socialista, no mundo e na América Latina... 

E a nossa conversa, em sequência, foi sobre a força do sistema capitalista no mundo, que, com podemos refletir, não se trata somente de um sistema econômico...  trata-se de uma ideologia, um jeito de pensar, sentir e agir - o individualismo, a meritocracia, o lucro, o sucesso... o consumo, a guerra, a exploração até a destruição, a "morte", do ser humano e do ambiente -  que  vai se "impondo", tanto no nível micro quanto no nível macro. E que vai sofrendo transformações e adaptações, sem mudar sua essência de exploração... e que, quando "ameaçado" se transforma em fascismo, destrói, mata... para continuar sobrevivendo...

Por último, falamos  num tipo de economia que cria a possibilidade de "combater" esse sistema. Talvez, no exercício dessa economia, "romper" com o modelo linear, exploratório... 


O que é economia circular?

economia circular é um conceito baseado na inteligência da natureza e que se opõe ao processo produtivo da economia linear. Nela, os resíduos são insumos para a produção de novos produtos. No meio ambiente, restos de frutas consumidas por animais se decompõem e viram adubo para plantas. Esse conceito também é chamado de “cradle to cradle” (do berço ao berço). Ou seja, não existe a ideia de resíduo, e tudo serve continuamente de nutriente para um novo ciclo.

Enfim, não é o "fim do mundo", é o "fim do sistema"... mas vai demorar um pouco... ou um tanto... e precisamos sobreviver emocionalmente, não nos desesperançar... para isso precisamos produzir "políticas de encantamento" , apostar na esperança e combater a indignação que paralisa.

Pensar o presente almejando o futuro, como diz nosso grande Krenak. 

Pois não é que conversando sobre Krenak, meu querido amigo SBCence Papa nos apresentou um outro conceito ECO: ECO ESPIRITUALIDADE, e Papa - seu nome na eco espiritualidade é AMAR - ficou de nos escrever sobre o assunto. Imagino que não tenha relação com religião, pois espiritualidade é diferente de religião. Querido Papa, ou querido Amar, o SBC aguarda seu texto - seu vídeo - e agradece. 


Abraços esperançosos a todas as pessoas que nos leem e refletem conosco...

Santuza TU








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