Pessoas do SBC, algumas mais outras menos, são politizadas, ou seja, estamos sempre conversando sobre visão de mundo, no macro, sobre ações transformadoras, no micro... na "filosofia SBCense: AMOR E POLÍTICA FAZEMOS NA CAMA E NO MUNDO.
Pois bem... desde o primeiro turno até agora, depois do segundo, estamos conversando virtual e presencialmente, recebendo várias opiniões de SBCenses do interior de Minas e da Capital. Das várias reflexões sobre o assunto selecionamos duas delas para compartilhar:
A primeira:
TU, penso que, na verdade, quem "ganhou" as eleições não foi direita, esquerda ou centro... sabe quem foi? a GRANA, sendo mais específica, as "emendas parlamentares", ou as "emendas pix". Ou seja, quem ganha eleições é quem tem DINHEIRO, isso é visível, transparente, principalmente no interior, onde eu estava. Daí que fico pensando que nossa democracia burguesa é extremamente frágil! Está longe, muito longe, de ser a democracia descrita na camisa de um jovem companheiro de viagem... Tive coragem de pedir a ele pra tirar uma foto... e te mandei... E eu estava, nessa viagem de volta, um tanto quanto desesperançada, mas vendo a camisa vestida por um jovem, isso me resgatou a esperança. E me lembrei de uma frase da Luiza Erundina, nossa grande estadista, deputada federal: O DESÂNIMO É CONSERVADOR... A ESPERANÇA É REVOLUCIONÁRIA...
Muito obrigada pela reflexão, querida amiga SBCense, muito nos acrescenta. Precisamos, mesmo, pensar sobre como reproduzimos essa democracia burguesa, e como podemos realizar o movimento de superação da mesma... E os dizeres da camisa nos dá a dica: DEMOCRACIA: AMIZADE CÍVICA. DIVERSIDADE, TOLERÃNCIA POLÍTICA, ÉTICA, DIÁLOGO, SUSTENTABILIDADE. TRANSPARÊNCIA. INOVAÇÃO...
Como se fosse uma sequência de pensamentos, uma costura, ou um tricô, como costumamos dizer, recebemos a reflexão de amigo SBCense que também estava no interior:
TU, no domingo por volta das 19.30, 20 horas, a conversa começou assim: - Fuad ganhou em Belo Horizonte! Que bom! - Mas ele não é de esquerda! Porque vocês estão comemorando? - Estamos comemorando o que dá pra comemorar: a vitória contra o fascismo, a ultra direita... - Mas porque fascismo? - Entendemos o fascismo como um governo que despreza uma classe social, o pobre, o trabalhador, e defende os interesses de outra classe social, a elite, os privilegiados. Fascismo é, também, o negacionismo, a perseguição à cultura, à educação e ao livre pensamento. Por exemplo, a "militarização das escolas"... - Mas as escolas militares são bem melhores do que essas que estão por aí, em que a qualidade de ensino é péssima! E o que estão ensinando é essa tal de ideologia de gênero, o comunismo e coisas desse tipo! ... E a conversa terminou assim: - Peraí, deixa eu ver se entendi: Você, que viveu a maior parte da sua vida na segunda metade do século passado, está querendo me dizer que escola legal é a que deve ensinar que em 1964 aconteceu a Revolução, que os militares tomaram o poder para salvar o Brasil... do comunismo, por exemplo... e que, para isso, prenderam, mataram e/ou "expulsaram" do país as pessoas que pensavam diferente, artistas, políticos, escritores, cientistas, professores, pessoas que faziam qualquer tipo de crítica. E que é melhor ensinar essas coisas do que ensinar o respeito à diferença, a pluralidade, entre outras coisas... é isso?
A conversa acabou... mas eu continuei pensando: onde essa pessoa se informa? o que ela lê, ouve, vê? ... E concluí - provisoriamente - temos um nível de informações muitíssimo maior do que há algum tempo atrás. No entanto as pessoas tendem a procurar aquelas informações que reforçam seus pressupostos sobre o mundo... o contraditório, que poderia "abrir" a mente, quase sempre é negado, afastado do campo de referências... E, ainda mais, temos uma mídia hegemônica que alimenta o conservadorismo, ou seja, a "conservação" os valores tradicionais, a manutenção do status quo. Mesmo que sua própria experiência de vida esteja lhe dizendo outras coisas, pensar é difícil, ainda mais pensar diferente, fora da caixa...
Sim, querido, às vezes é desanimador vivenciar esse tipo de "diálogo"... Mas... sigamos... sem perder o mínimo de possibilidade Me lembrei de algo aprendido há algum tempo: é inerente a toda realidade os limites e as possibilidades. Se o meu olhar se direciona aos limites, isso pode me desesperançar... porém, mesmo numa realidade onde os limites são amplos, se o meu olhar - e a minha ação - se dirige às possibilidades, vou ampliando as mesmas, e - ao fim e a cabo - vou "transformando" aquela realidade... essa é uma visão esperançosa... e revolucionária. E assim é o nosso Coletivo SBC.
E recebemos um vídeo curtinho:
Renato de Almeida Freitas Junior, 40 anos, jurista, político, ativista e ex-líder estudantil, filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT).Atualmente exerce o cargo de deputado estadual na Assembleia Legislativa do Paraná. Nos representa...
E no final do vídeo a fala é do Mano Brown, líder do
grupo de rapRacionais MC's.
Essa fala aconteceu há 6 anos nos arcos da Lapa
no Rio de Janeiro, em comício do PT pró Haddad
Presidente. Ele foi vaiado e em seguida Caetano
Veloso assumiu o microfone e reforçou a
importância das palavras do rapper.
Mais um vez... sigamos... vivendo... e aprendendo... e agindo, no possível, de maneira transformadora.
Abraços carinhosos a todas as pessoas que nos acompanham...
Fundação do Projeto Manuelzão, em 1997. Ao centro, de chapéu, está o vaqueiro
Manuel Nardi, eternizado na escrita de Guimarães Rosa (Foto: Èber Faioli)
Situado à Av. Alfredo Balena, 190, 8o andar - Santa Efigênia, em Belo Horizonte - MG, tivemos a honra de "re-conhecer" o Projeto Manuelzão, descrito no site como se segue:
O Projeto Manuelzão foi criado em janeiro de 1997 por iniciativa
de professores da Faculdade de Medicina da UFMG. O surgimento do Manuelzão está
ligado às atividades do Internato em Saúde Coletiva (“Internato Rural”),
disciplina obrigatória da grade curricular do curso de Medicina em que os
estudantes passam três meses em municípios do interior de Minas Gerais
desenvolvendo atividades de medicina preventiva e social. O histórico das
experiências desses professores e estudantes revelou que não bastava, período a
período, medicar a população. Mais que isso, era preciso combater as
causas das doenças. A partir da percepção de que a saúde não deve ser
apenas uma questão médica, foi esboçado o horizonte de trabalho do Projeto
Manuelzão: lutar por melhorias nas condições ambientais para promover
qualidade de vida, rompendo com a prática predominantemente assistencialista.
A bacia hidrográfica do rio das Velhas foi escolhida como foco
de atuação. Essa foi uma forma de superar a percepção municipalista das
questões ambientais. A bacia permite uma análise sistêmica e integrada dos
problemas e das necessidades de intervenções. Para que essa metodologia de
trabalho fosse desenvolvida, foi necessário construir parcerias com os
municípios compreendidos na bacia e com o governo do estado, dentre outros. A
parceria com a sociedade cresceu consideravelmente ao longo da
existência do Projeto Manuelzão, sobretudo no âmbito dos Núcleos
Manuelzão (anteriormente chamados Comitês
Manuelzão) espalhados pela bacia. Esses Núcleos contam com a
participação da sociedade civil e, também, de representantes do poder público e
de usuários de água. Seu objetivo é discutir e promover atividades
relacionadas a questões ambientais locais, podendo contar com a parceria e
orientação do Projeto Manuelzão.
O Projeto também desenvolveu e vem desenvolvendo
importantes atividades de pesquisa. Professores, estagiários e
colaboradores trabalham juntos no Núcleo Transdisciplinar e
Transinstitucional pela Revitalização da Bacia do Rio das Velhas – NuVelhas, agregando
atividades de pesquisa de diversas áreas como o biomonitoramento, o
geoprocessamento e a recuperação de matas ciliares. O Projeto também tem,
em sua história, uma forte parceria com o curso de Comunicação Social da UFMG,
o que resultou na publicação da Revista
Manuelzão (antigo Jornal Manuelzão).
O coroamento do trabalho do Projeto aconteceu em 2003, com
a Expedição Manuelzão desce o Rio das Velhas. Foram percorridos os
804 Km do Velhas, da nascente em Ouro Preto à foz, em Barra do Guaicuí, em 29
dias. Em cada parada, a Expedição foi recebida pelas comunidades locais,
escolas e membros dos Núcleos Manuelzão. A descida do rio resultou na
publicação do livro “Navegando o Rio das Velhas das Minas aos Gerais”,
que apresenta, no primeiro volume, o diário de bordo da expedição, e, no
segundo volume, uma enciclopédia sobre a bacia hidrográfica. Da expedição
realizada em 2003, o Projeto Manuelzão também desenvolveu a proposta de
revitalizar o rio das Velhas até o ano de 2010. A proposta, denominada Meta
2010: navegar, pescar e nadar no rio das Velhas em sua passagem pela
região metropolitana de Belo Horizonte é, hoje, projeto estruturador
do Governo do Estado de Minas Gerais.
Em 2005, o Projeto Manuelzão inaugurou uma nova agenda: a
cultural. Em novembro daquele ano foi realizado, em Morro da
Garça, o Festivelhas Manuelzão: arte e transformação, que
contou com a participação de artistas vindos de várias regiões da bacia hidrográfica.
O sucesso do Festivelhas repetiu-se em setembro de 2007, com a realização
do Festivelhas Jequitibá: arte e cultura na capital mineira do folclore.
Em 2009, o Festivelhas assumiu proporções maiores, tendo sido realizado em maio
e junho em Ouro Preto, Santa Luzia, Curvelo, Barra do Guaicuí e Belo Horizonte
como parte da programação da Expedição pelo Velhas 2009: encontros de
um povo com sua bacia.
As reflexões e atividades do Projeto Manuelzão encontram-se
registradas em publicações como os Cadernos Manuelzão e
o livro Projeto Manuelzão: a história da mobilização que começou em
torno de um rio.
E no dia 17.10.2024 foi lançado, na Casa do Jornalista, o Manifesto MUDA BH. supra partidário, construído a várias mãos por lideranças ambientais da cidade. Apresentado por um dos fundadores do Projeto Manuelzão, querido amigo e conterrâneo (Salinas, terra amada) Apolo Heringer Lisboa.
"Belo Horizonte pertence à bacia hidrográfica do Rio das Velhas,
que nasce no Quadrilátero Hidro-Ferrífero, essas minas de águas. Nesse contexto
territorial, essa RMBH que vai da Estação de Tratamento de Água de Bela Fama em
Nova Lima, que nos abastece, até a foz do ribeirão da Mata em Vespasiano, concentra 84,96%
da população, 85,61% do PIB e a mesma porcentagem de poluição em apenas 12,50%
do território total da bacia do Rio das Velhas. Todo esse impacto ambiental
confluindo na calha do Velhas num trecho de apenas 60 km de um rio com 800 km
de meandros na calha até sua foz no rio São Francisco. Esta região é o Epicentro
da Meta 2034 e da gestão do Rio das Velhas. Resolvido este
problema aqui, haverá um impacto ambiental positivo sobre toda a bacia do Rio
das Velhas, incluindo seus afluentes regionais. Uma política de saneamento
feita pra valer, obrigação e dívida histórica de BH com a bacia, significa a volta
do peixe da barra do Guaicuí no São Francisco até Ouro
Preto sua nascente primeira, uma área de aproximadamente 30.000 km² e mais de 5
milhões de pessoas terá dado passo gigante e histórico. BH precisa assumir esta
bandeira. A volta do peixe é
um objetivo muito importante para todos os seres vivos, humanos e não humanos.
O peixe, além de ser bioindicador de um rio vivo, de boas águas volumosas, tem
o dourado como
mascote. Numa só e única proposta alinhamos um somatório de objetivos
importantes como o combate à fome e
a melhoria da renda da
população carente que a pesca possibilita, o saneamento
básico que a meta exige já prevista no Marco Temporal do
Saneamento (2030), tudo isto se encaixando em programas do governo
federal e da ONU (ODS
– 2030), com recursos já existentes. Bastaria que Minas conseguisse esse apoio
federal com BH no protagonismo. O PAC — Programa
de Aceleração do Crescimento é uma possibilidade. E será
um exemplo gigante para o Brasil e o mundo na questão ambiental. O espelho
d’água mostra a nossa cara! São informações que fluem! Para aprofundamento,
dados e mapas sugerimos, enquanto não tivermos outros sites, podem acessar o
site privado sigaaagua.com em HOME (Apresentação
para o CBH Velhas da Meta 2034) e em TEXTOS (Resumo
da Meta 2034)".
"Sugerimos que a PBH estude a adoção do critério universal dos
territórios hidrográficos (ou bacias, vales, estados naturais) como base da
administração da capital. BH tem protagonismo pioneiro, já realizou 2 encontros
internacionais de rios em 2008 e 2010 e propomos sediar junto com a PBH o
terceiro em 2026, integrado à Meta 2034. Aqui, os ribeirões Arrudas e Onça são
os 2 grandes eixos hidrológicos irmanados com Contagem e nessa base, poderemos
fazer a reorganização conceitual das regionais administrativas por sub bacias
afluentes aos dois eixos fluviais citados. Tal concepção traria nova
racionalidade geográfica operacional e pouparia gastos, pois já existem todos
os recursos de programas como Google Earth Pro com os espaços geográficos já
definidos com rigor, baseados na leitura altimétrica por satélites dos
divisores de águas, permitindo à população e à defesa civil base intuitiva e
científica para decisões emergenciais e ou preventivas, sobre os limites entre
regiões afetadas por eventos climáticos e geológicos, superando os limites
desconfigurados dos antigos bairros.
Outro importante ganho seria na comunicação direta entre
população, movimentos sociais e gestores desses territórios com a Câmara e
órgãos do Executivo por meio de aplicativos e de um CNPJ para os novos
critérios regionais e sub-regionais, para uso administrativo, jurídico e
outros, comum para qualquer tipo de representação dos moradores. A experiência
acumulada pelos subcomitês de bacia hidrográfica no Rio das
Velhas poderá ser muito útil no lidar com participação ativa da população.
Lembrando que mesmo córregos canalizados reaparecem com as chuvas e são
lembranças muito fortes. E irá facilitar a identificação das áreas de
vulnerabilidade socioambiental, como de alagamentos, deslizamentos, ocupação de
encostas, conflitos fundiários urbanos, eventos criminais e de segurança
pública, banheiros públicos, abrigos dormitórios e de proteção, construídos na
metodologia do Mapa Colaborativo Geral".
Como vimos, a proposta é concreta, simples e, ao mesmo tempo ´profunda e significativa, factível e necessária à nossa região. Trata-se de uma articulação potente entre a visão macro e a ação micro, regional, no sentido de soluções "para adiar o fim do mundo", como diz nosso grande Krenak. Na verdade, as ações micro contribuem para o combate ao fim desse sistema que, em função de lucro acima de tudo, está "acabando com o mundo"... e a construção, do micro para o macro, de um planeta habitável... e um mundo melhor...
Apolo, desde "século passado", como costumamos brincar, é um poeta visionário. Ele conta que sonhou com o projeto Manuelzão... e juntou parceiros... e o projeto foi construído...
"Fuçando" mais no site encontramos o link IMAGINÁRIO, ótimo título, com trechos do Apolo e dicas de leitura:
“O foco principal da proposta do Projeto Manuelzão está na
transformação da mentalidade cultural, para nós a questão chave do processo de
construção histórica da humanidade; transformação cultural a ser localmente
impulsionada pelo objetivo pontual operacional comum: a volta do peixe à
bacia do rio das Velhas, alavanca deste processo. A definição desta alavanca
tão simples não foi aleatória; resultou da observação de como ocorrem os
fenômenos socioambientais e de uma prática teórica árdua e vivenciada. A
variável da volta do peixe expressa uma relação complexa que conseguimos
compreender. Aplicando-a na estratégia de revitalização de uma bacia, podemos
abrir caminho para uma discussão política e filosófica em escala planetária.”
“Em nosso período de vida, a água assumiu papel relevante na
avaliação dos acontecimentos enquanto eixo de mobilização, eixo de
monitoramento biológico da saúde do planeta e eixo metodológico do processo de
transformação política que empreendemos, questionando a geografia político-administrativa
do sistema, base na qual ele se sustenta. As bacias hidrográficas, os
ecossistemas que o perpassam, o ciclo hidrológico têm sido referenciais
metodológicos para nosso trabalho, levando-nos a pensar num mundo sem
fronteiras e numa sociedade culturalmente diferenciada, integrada e solidária.
Vivemos um tempo que se funda na lógica das tropelias de um sistema baseado na
força física, na força do dinheiro e da mentira. A violência contra os mais
fracos, independente de fronteiras nacionais, tem base na materialidade da
propriedade e do domínio público, intelectual e tecnológico controlado pelo
capital financeiro. Trabalhamos pela transformação no sentido da apropriação
coletiva do produto do trabalho social e da gestão política, econômica e ambiental
enquanto instrumento democrático e sustentável de desenvolvimento da qualidade
de vida no planeta Terra. O grande problema refletido pela natureza é a
poluição da mente e do coração dos seres humanos por causa da sua ignorância,
não basicamente da maldade. Está na sua representação do que somos e do mundo.
A filosofia, as artes e a política têm papel fundamental nesta história de
superação.
A questão ambiental está inseparável da questão da justiça
social, da paz e da democracia. As necessidades de todos os ecossistemas,
inclusive humanos, que se concentram cada vez mais nas cidades, exigem cuidados
especiais para se sustentarem dentro de uma perspectiva democrática, de justiça
e paz. Libertar a política do calendário eleitoral imediato e da ditadura do
capital é essencial para equacionarmos, em longo prazo, as demandas sobre os
recursos naturais e os seus efeitos sobre os ecossistemas. O centro da questão
ambiental é a constituição de um modelo de economia com base global que garanta
a todos os seres humanos e aos demais ecossistemas a sobrevivência e o
desenvolvimento, valorizando a diversidade cultural e apagando as fronteiras
entre países, classes e raças. As águas assumiram papel metodológico
fundamental na mobilização e no monitoramento deste processo de transformação
da mentalidade cultural de nossa época em escala planetária. A nossa ideia de
uma única bandeira para todos os povos é o símbolo desta proposta.”
Trechos de textos escritos por Apolo Heringer Lisboa, extraídos
do livro“Projeto Manuelzão: a história da mobilização que começou
em torno de um rio”. Organizadores: Apolo Heringer Lisboa, Eugênio Marcos
Andrade Goulart e Letícia Fernandes Malloy Diniz. Belo Horizonte: Instituto
Guaicuy, 2008. pp. 19; 254-255.
Dica de leitura: Imaginário do Projeto Manuelzão, de Apolo Heringer Lisboa, publicado no livro
“Navegando o Rio das Velhas: das Minas aos Gerais”. Organizador: Eugênio
Goulart. Belo Horizonte: Instituto Guaicuy, 2005.
Nosso empenho total é em fazer chegar esse projeto ao prefeito eleito no próximo domingo, aos vereadores e vereadoras que serão empossados em 2025, à maioria deles, para que abracem o mesmo, se comprometam, enfim, usem o poder para a ação transformadora.
"AMAR E MUDAR AS COISAS... ME INTERESSA MAIS... ", grande Belchior, música do seu álbum de 1976, ALUCINAÇÃO ..."VIVER É MELHOR QUE SONHAR..."
Lembrando que também estamos interessadas nas teorias sim... sempre ligadas à ação transformadora...
E, também, interessadas, nós, as pessoas do Coletivo SBC, na arte como ferramenta fundamental para a conscientização e a ação...
Para terminar, a seguir a foto da flor do pequizeiro que o Apolo tem em casa. Ele me manda e diz que o pequizeiro "sabia" que ia chover, por isso nasceu a flor... adoramos essa "poesia" do Apolo, e fizemos outra, ou melhor, uma intertextualidade :
"É preciso chuva para florir"
... O pequizeiro floriu antes das chuvas ... no início da primavera... tudo seco, e ele floriu... ele sabia ...
Nosso post de semana passada repercutiu...virtualmente e presencialmente. Foi motivo de novas conversas SBCenses que, acreditamos, fechamos com "chave de ouro" o ciclo de debates sobre ECOs.
Ficamos de falar sobre ECOANSIEDADE... e surgiu o novo termo com prefixo ECO, a ECO ESPIRITUALIDADE. Estes são os temas deste post.
Depois de comentários e recomendações sobre os dois filmes acima: Le déclin de l'empire américain (O declínio do império americano) é um filme canadense de 1986, comédia dramática, dirigido por Denys Arcand. Teve uma sequência, As invasões Bárbaras, em 2003...
Continuamos nossa conversa perguntando se ficou claro pra todos e todas a questão fundamental: a necessidade de superarmos esse sistema... superação, aqui, no sentido dialético. Vamos entender a dialética: primeiro como um movimento... (esses três pontinhos - reticências - que sempre usamos, serve para mostrar a ideia de movimento...)
Para Hegel, a dialética é responsável pelo movimento em que:
uma ideia sai de si própria (tese);
para ser outra coisa (antítese);
depois regressa à sua identidade, se tornando mais concreta (síntese). E a síntese contém a tese e a antítese... mas não é nenhuma das duas... e é, ao mesmo tempo...
Hegel também afirma que a dialética não é apenas um método, mas consiste no sistema filosófico em si. Segundo o filósofo, não é possível separar o método do objeto, por o método ser o objeto em movimento.
Segundo Marx e Engels, dialética é o pensamento e a realidade em simultâneo, ou seja, a realidade é compreendida através de suas contradições. Para a dialética marxista, o mundo só pode ser compreendido em um todo, a partir de um pensamento dialético que considere as contradições existentes.
Marx e Engels mudaram o conceito de Hegel, e introduziram um novo conceito, a dialética materialista. Segundo a teoria, os movimentos históricos ocorrem conforme as condições materiais da vida, os modos de produção e a luta de classes.
E conversamos sobre a superação dialética do sistema capitalista. Daí vimos a importância da consciência de classe: a que classe social você pertence? e vimos, também, como a ideologia capitalista esconde isso, ou seja, aliena, distancia, o trabalhador da consciência da sua classe. E o sujeito chega a perder essa consciência, chega a pensar, de fato, com a cabeça do patrão, ainda mais agora em que o patrão nem é concreto, ele - o trabalhador - se pensa como um empreendedor!
Esse é o sistema - que precisamos enxergar... e combater. E esse é o sistema que alimenta de uma forma cruel a distribuição tal das nossas riquezas, do nosso trabalho, da nossa produção, que repercute em pouquíssimas pessoas no mundo riquíssimas e inúmeras pessoas passando fome. E esse é o sistema que alimenta uma quantidade de pessoas entre essas duas categorias anteriores - que somos nós! - que, alienados da consciência de classe, o "alimentamos" , nos colocando como OBJETOS, passivos, apenas reprodutores do mesmo... e não como SUJEITOS, desenvolvendo "visão de mundo" e conscientes de que podemos construir um mundo melhor.
E esse é o sistema que alimenta guerras, para a produção de armamentos. Tudo para o lucro e o poder...
E é esse o sistema que está produzindo em nós a ECO ANSIEDADE:
Trata-se de um medo crônico de sofrer um cataclismo ambiental. É
descrita como a preocupação associada ao futuro de si mesmo e das próximas
gerações. A eco-ansiedade é uma variação das reações do transtorno de
ansiedade, mas em relação a questões ambientais e às mudanças climáticas.
Apesar de não ser considerada uma doença, é possível identificar a
eco-ansiedade através de sintomas como stress, nervosismo, ansiedade e
distúrbios de sono.
A expressão "eco-ansiedade" foi
apresentada ao mundo em 2017 pela American Psychology Association (APA — a
associação de psicologia do EUA), descrita como: "medo crônico de sofrer
um cataclismo ambiental que ocorre ao observar o impacto, "aparentemente
irrevogável" das mudanças climáticas, gerando uma preocupação associada ao futuro
de si mesmo e das próximas gerações".... -Apenas em outubro de 2021 que
ela entrou oficialmente para o dicionário de Oxford como um "desconforto
ou preocupação sobre o dano atual e futuro causado no meio ambiente pela
atividade humana e a mudança climática". Desde então, o termo tem
aparecido com mais e mais com frequência, principalmente entre jovens.
No entanto o conceitofoi criado desde 1989 por um grupo da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos. Seus membros eram Robert Greenway, Elan Shapiro, Alan Kanner, Mary Gomes e Theodore Roszak. Esse último lançou, em 1992, o livro “The Voice of The Earth: An Exploration of Ecopsychology”, três anos depois, em 1995, Gomes e Kanner lançaram o livro “Restoring the Earth, Healing the Mind”. Os dois livros são o alicerce fundador da Ecopsicologia e os responsáveis por difundir o movimento mundialmente, eles esquematizam uma abordagem que une psicologia e ecologia, propondo entender o ser humano e o mundo natural como uma unidade e não seres independentes, ou seja, entender ser humano e natureza como um continuum e não entes separados.
Assim, ao compreender melhor a conexão psíquica entre nós e a natureza, busca-se restabelecer a responsabilidade ética do ser humano com o planeta e com outras pessoas, pois o desequilíbrio e perda de vínculo com a natureza causa o desequilíbrio psíquico individual.
Voltando à ecoansiedade, os sintomas variam e podem incluir ansiedade leve, estresse, distúrbios do sono, nervosismo, entre outros. Em casos mais graves, a eco-ansiedade pode levar a uma sensação de sufocamento e até mesmo à depressão. Esses sintomas podem ser compreendidos como uma resposta racionala uma condição real, é a mente acendendo um alerta sobre a possibilidade do "fim do mundo" - ou fim do sistema, como vamos observar/refletir. Assim, apesar da Ecoansiedade não ser uma condição patológica, pode desencadear sérias respostas psicológicas.
E como lidar com essa ansiedade ligada à percepção do nosso ambiente, às mudanças climáticas e tudo mais? Como nosso grande Guimarães Rosa nos diz, "a mesma coisa que me mata pode me salvar", a notícia positiva no combate à eco-ansiedade é que os desafios climáticos estão despertando uma conscientização cada vez maior sobre a importância de cuidar do nosso planeta. Refletindo sob outro ângulo, a "cura" passa pela consciência - busca de conhecimento, desenvolvimento de visão de mundo; por atitudes ou ações individuais - consumo responsável, atividades sustentáveis, prioridade a mobilidade e alimentação sustentáveis, ... ; e, importantíssimo, a participação, ou seja, o engajamento em grupos, projetos, iniciativas que combatam o "fim do mundo". Entendendo um pouco mais, querem que acreditemos que com o fim desse sistema em que vivemos ocorreria o fim do mundo... Na verdade o combate é ao fim do sistema, com a emergência de um mundo mais bonito, ecológica e humanamente possível.
E essa linda do vídeo acima ainda nos sugere a aposta na esperança para além da indignação que paralisa... frente às narrativas de desencanto, vamos procurar - e oferecer, compartilhar, alternativas de encantamento... e o senso de comunhão como alternativa à desgraça. Obrigada grande Rita! Rita Von Hunty, conhecem? Vale a pena conhecer, cada vídeo no youtube é uma aula preciosa...
E chegamos ao conceito de ECO ESPIRITUALIDADE, que também nos aponta saídas que passam pela consciência e participação, se sentir e atuar enquanto sujeito, juntar forças com outras pessoas e buscar conhecer mais de política, economia... visão de mundo, enfim...
Lembrando: O prefixo “eco-” antes de “espiritualidade” vem do grego oikos, que significa casa – um lembrete de que “esta casa é a única que temos, estamos todos juntos, o que ocorre em Calcutá afeta Nova York, Santiago do Chile e São Paulo”, disse o padre chileno Fernando Díaz. “É realmente uma casa comum, e essa casa comum está ameaçada”, acrescentou Díaz. “Estamos todos conectados, e essa é uma forma de entender esse lar que exige que olhemos além do racionalismo instrumental que nos guiou de um modo tão destrutivo no século passado.”
Díaz, que trabalha há anos com o povo Mapuche no sul do Chile, descobriu que os povos indígenas têm uma visão mais holística da relação entre os seres humanos e os outros seres não humanos, que exige “uma perspectiva diferente, uma forma de entender como vivemos e por que vivemos nesta casa que é para todos, e onde todos devem ter um lugar, da qual devemos cuidar”.E acrescentou: “É aí que entra a ecoespiritualidade”, "uma forma de viver, uma conexão".
Moema Miranda vê um entendimento semelhante entre as pessoas no seu Brasil natal que lutam contra os impactos da mineração em suas comunidades.
O Brasil viu vários desastres relacionados à mineração nos últimos anos, incluindo a ruptura de uma barragem de rejeitos na mina de Brumadinho, que enviou uma cascata mortal de lodo tóxico pelas comunidades a jusante, e à expansão da mineração ilegal de ouro.
Miranda,leiga franciscana, faz parte da Rede Igrejas e Mineração, que, com a Verbo Filmes, produziu um vídeo que explica a ecoespiritualidade para pessoas que ainda não conhecem a ideia.
Enquanto teólogos brasileiros como Ivone Gebara e Leonardo Boff têm escrito há anos sobre a conexão entre a ecologia e a teologia, Miranda e outros membros da Rede Igrejas e Mineração queriam “entender como as comunidades que resistem à mineração fazem isso, onde as vítimas encontram forças para continuar resistindo”, disse ela. “Porque apenas aceitar o óbvio ou ser cortado pelo sistema parece o caminho mais fácil.”
Ao trabalhar com os pequenos agricultores, comunidades indígenas e afrodescendentes mais afetados pelas práticas de mineração, “percebemos que não se tratava simplesmente de teologia ecológica, mas também de uma espiritualidade, de algo muito mais profundo, um modo de vida, uma conexão”, disse ela.
"Essa presença espiritual não se encaixa no marco do racional, do teológico”, acrescentou. “É muito mais. Cada vez mais nos transformamos em uma comunidade ecoespiritual, porque a ecoespiritualidade se desenvolve em comunidade.”
E a querida Rita nos apresentou a pesquisadora brasileira Larissa Mies Bombardi, professora do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP). As ameaças a essa pesquisadora intensificaram-se após a publicação, na Europa, em 2019, do atlas "Uma geografia do uso de agrotóxicos no Brasil e suas relações com a União Europeia". O trabalho expôs a presença de resíduos agrotóxicos nos alimentos brasileiros.
Vale a pena ler o seu livro, se não o livro todo pelo menos a orelha do livro, escrita por João Peres, jornalista e escritor:
"Para alguns, este livro servirá de ponto de partida para entender como foi possível que um único sistema agroalimentar se espalhasse física e ideologicamente pelo planeta. Para outros, será um ponto de interrogação: por que cultivos que não alimentam seguem se expandindo ano após ano — e, pior, contando com uma profunda complacência diante da promessa eternamente renovada de que a solução para o problema da fome está finalmente a caminho? No Brasil, a soja, esse grão exótico que nenhum de nós come, é o vetor de uma guerra cultural chamada agronegócio. É o micro-organismo que une o latifundiário dos Pampas ao grileiro de Santarém, no Pará; o prefeito no interior de Mato Grosso ao desembargador no litoral da Bahia; o cantor sertanejo ao dono do frigorífico. Debaixo de colheitadeiras e biotecnologia, por trás da face tech, o recurso didático é o mesmo de sempre: a pólvora. É o colonialismo na forma de venenosque os europeus já não querem e do mito da agricultura de precisão, que fumiga os vizinhos dos latifúndios, adoecendo o corpo e afetando a mente. Junto com o casco do boi, a soja transgênica expulsa o Guarani e o Kaingang no Sul, o beiradeiro da Amazônia e o geraizeiro no Cerrado. A onça, a sucuri e a capivara. O arroz, o feijão e a mandioca. Expulsa, violentamente, a crítica — inclusive a de Larissa, obrigada a se mudar para a Bélgica após uma série de episódios traumáticos. Quando tudo já era suficientemente trágico, eis que o agronegócio e o mercado financeiro encontraram no bolsonarismo a possibilidade de catapultar a acumulação primitiva e a destruição do planeta. Desse encontro nasceram o dinheiro e a estrutura necessários para dar ritmo de progressão geométrica à expansão da soja, que ameaça se tornar a primeira cultura agrícola a reinar do extremo sul ao extremo norte do país. O futuro não está nas páginas do livro de Larissa: é ao presente que ela nos convida, à urgência de um fim de mundo que se apresenta voraz. A pesquisadora reflete sobre a perseguição à cultura camponesa — especialmente às mulheres — e nos conclama a entender por que os conhecimentos acumulados ao longo de séculos são a única esperança de nos salvarmos do capitalismo."
Enfim, alguma dúvida sobre esse sistema em que vivemos e sua necro política, necro economia, tudo em função do lucro, da riqueza de poucos em detrimento da destruição do planeta e do ser humano?
E alguma dúvida sobre o ser humano bio-psico-social-espiritual? tudo junto e misturado ... e SUJEITO, não apenas objeto, reprodutores do sistema, mas capazes de "chutar o pau da barraca", de não perdermos o mínimo de oportunidade de construirmos um mundo melhor, do micro ao macro E, enquanto sujeitos, conversarmos sobre os múltiplos caminhos, inter e multidisciplinar, economia, ecologia, geopolítica, espiritualidade, consciência de classe... tudo junto e misturado, de novo...
E assim pensa o SBC, um conceito de qualidade de vida e de relações...
E terminamos com Paulinho da Viola, pois, como sabem, o SBC sempre usa a arte como mobilizadora, inspiração, impulsionamento para o desenvolvimento da visão de mundo e a construção do bem viver:
"As coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender..."
Abraços carinhosos às pessoas que nos leem... até nossa próxima reflexão...
O conceito de Oikos tem suas raízes na filosofia grega antiga, especialmente na obra de filósofos como Aristóteles e Platão. Para esses pensadores, a ideia de Oikos estava intimamente ligada à noção de harmonia e equilíbrio entre os elementos que compõem o universo. Com o passar dos séculos, o conceito de Oikos foi se desenvolvendo e se adaptando às mudanças sociais, políticas e ambientais.
Oikos deu origem à palavra Ökologie, introduzida na língua alemã no século XIX, tendo passado para a língua inglesa como Ecology, e propagada na maior parte das línguas Europeias com uma fonética semelhante à palavra alemã ou inglesa. Oikos, “casa”, é uma excelente metáfora para o ambiente.
E das conversas sobre ecologia caminhamos para as inúmeras palavras começadas com ECO. Vejam nosso post recente, de 20 de setembro. Aliás, tudo começou com a palavra ECOSEXUAL, obrigada Sérgio!
Nessa nossa conversa conhecemos - e apresentamos - dois ECOs importantíssimos: ECONOMIA e ECOANSIEDADE, assim como a estreita relação entre esses dois conceitos, acreditem...
Mas neste nosso post só conversaremos sobre economia, pois o assunto "rendeu" demais. Deixamos a ecoansiedade para o próximo...
"A economia é a ciência que estuda a produção, distribuição e consumo de bens e serviços, e como as sociedades usam os recursos para produzir bens e distribuí-los entre os indivíduos". Portanto, a economia é o estudo das escolhas dos indivíduos e do que possibilita a compatibilidade nas escolhas de todos.
E muitos de nós, da área de humanas, pensamos que a economia está dissociada do nosso objeto de estudo, essa fragmentação é o que interessa à reprodução de um sistema que, afinal, repercute de maneira decisiva nas nossas subjetividades. Precisamos saber mais sobre economia!
Outro conceito: "É a ciência social que estuda o desenvolvimento e comportamento humano relacionado a tudo o que é necessário para a vida".
Os modelos e técnicas atualmente usados em economia evoluíram da economia política do final do século XIX, derivado da vontade de usar métodos mais empíricos à semelhança das ciências naturais.
A
distinção entre microeconomia e macroeconomia é central para entender a
economia.
A pergunta que não quer calar: Micro ou macro? É geralmente a
primeira pergunta que os economistas recém-introduzidos a este campo de
conhecimento fazem uns aos outros, a distinção entre as duas abordagens que
está no coração da economia. Eles são geralmente considerados como campos de
estudo completamente separados (a fragmentação interessa ao sistema em que vivemos), a ponto de muitos passarem a vida inteira se
especializando em um ou outro, sem nenhum sentimento de perda. Derivado de mikros, grego antigo para "pequeno", microeconomia é o termo usado
para o estudo de como famílias e empresas tomam suas decisões e interagem com
os mercados. Já o termo macroeconomia deriva do grego makros - "grande" - e é o estudo
de como as economias como um todo funcionam. Um macroeconomista está mais
interessado em perguntas sobre por que a taxa de crescimento de um país é tão
alta, mas a inflação é baixa, ou quais são as causas do aumento da desigualdade e desemprego. No
entanto, embora os dois assuntos sejam frequentemente tratados separadamente, eles
são sustentados pelas mesmas regras fundamentais: a interação da oferta e da
demanda, a importância dos preços e do bom funcionamento dos mercados e a
necessidade de determinar como as pessoas agem diante da escassez, e toda uma gama de incentivos.
Daí chegamos a um outro conceito de economia que nos chamou muita atenção:
Ciência da escassez? Mas porque escassez? Nosso mundo não dispõe de recursos para que todos os habitantes sejam satisfeitos nas suas necessidades básicas? A questão fundamental não seria a DISTRIBUIÇÃO? A maneira como a riqueza do nosso planeta é distribuída não precede e determina a produção e o consumo?
Precisamos entender, primeiro, que inúmeros "conceitos" que orientam a nossa maneira de pensar, sentir e agir, e que aprendemos como "universais", são conceitos próprios do sistema onde vivemos, o sistema capitalista.
Então, para além de sermos objetos, de "sofrer" os efeitos desse sistema, precisamos ATUAR, sermos sujeitos, conhecer como funciona a sociedade capitalista em que vivemos e não perdermos nenhuma possibilidade de alguma transformação.
Pois bem, no sistema capitalista a
riqueza está concentrada nas mãos de poucos indivíduos, enquanto a maioria da
população vive em condições precárias e sem acesso aos mesmos recursos e
oportunidades. Essa desigualdade social é um problema grave que afeta milhões
de pessoas em todo o mundo.
Se pensarmos na origem e evolução dos modelos econômicos temos:
O capitalismo surgiu na Europa no final da Idade Média, com o desenvolvimento das atividades comerciais e financeiras. O modelo se consolidou durante a Revolução Industrial, no século XVIII, quando houve uma grande transformação nas relações de produção.
Já o socialismo surgiu como uma crítica ao capitalismo no século XIX, com pensadores como Karl Marx e Friedrich Engels. Eles defendiam a ideia de que o capitalismo gerava desigualdades sociais e que era necessário um modelo econômico baseado na cooperação e na igualdade.
O
capitalismo e o socialismo são sistemas político-econômicos distintos e que são considerados antagônicos, num raciocínio maniqueísta.
O capitalismo é
um sistema que se baseia no lucro, na defesa da propriedade privada, na livre
iniciativa, no livre-comércio e no individualismo. A riqueza nesse sistema é
considerada mérito da pessoa.
O socialismo,
por sua vez, é contra a existência da propriedade privada e defende os
interesses da coletividade. No socialismo, os meios de produção são controlados
pelos trabalhadores e pelo Estado a fim de reduzir as desigualdades sociais, ofertando trabalho para todos e distribuindo igualmente a
riqueza produzida.
E o comunismo, o que é? Pensem em pessoas muito ruins, que vão tirar a força tudo que é seu... e que comem criancinhas! No maniqueísmo que aprendemos, ou/ou, bom-mau, certo-errado, o comunismo é isso... desde meados do século passado, fim da segunda guerra mundial, a polarização EUAxURSS se estabeleceu e era bastante interessante para o nosso mundo ocidental - e a hegemonia estadunidense - se pensar/sentir assim, e assim internalizamos, sem buscar conhecimentos que nos possibilitassem críticas. Pois ainda, mais de 50 anos depois, mudamos de século, um mundo multipolar está se construindo, e inúmeras pessoas ainda pensam assim... está impregnado o maniqueísmo, a polarização... a alienação, a passividade, o radicalismo... e por aí vai...
Pois bem, dentro do que conhecemos como socialismo científico, o comunismo e o socialismo não são a mesma coisa. Relembrando que, na teoria marxista, o socialismo é a etapa que se inicia com a revolução dos trabalhadores. Estes passariam a controlar o Estado e os meios de produção, implantando modificações e preparando a sociedade para o estágio seguinte.
O socialismo é, portanto, o estado intermediário que antecede a implantação do comunismo. O comunismo seria o estágio final, em que o capitalismo é superado. A implantação do comunismo viria acompanhada da abolição do Estado, da propriedade privada e também das classes sociais."
Atualmente, países como China, Cuba, Vietnã, Laos e Coreia do Norte se identificam como socialistas.
Na América Latina, o mapa abaixo é de 2022, com certeza depois da eleição do Lula por aqui, pois o Brasil está em vermelho. Vamos atualizá-lo:
Primeiro, na Argentina sabemos do caos da ultra direita do Milei, ou seja, mudamos para o azul;
No Chile, com Gabriel Boric, temos tentativas de uma nova constituição, para substituir texto criado na ditadura do general Augusto Pinochet, que durou de 1973 a 1990;
Na Venezuela, Maduro sucedeu Hugo Chávez, presidente do país entre 1999 e 2013 implementando o que se chamou de Socialismo do século XXI. Maduro reeleito há pouco tempo, claro que sob uma forte polarização política: apesar do grande apoio popular, a rejeição entre as classes média e alta é forte, com o apoio estadunidense, com grande interesse no petróleo, entre outras riquezas daquele país. Claro que as sanções contra esse país são inúmeras, realizadas pelos EUA;
Por falar em sanções, um país referência no socialismo na América Latina é Cuba, que sofre embargo dos EUA desde anos 60 do século passado. O embargo dos Estados Unidos contra Cuba é uma das medidas mais condenadas pela Assembleia Geral da ONU, onde todos os anos, desde 1992, é aprovada uma resolução contra a imposição americana. Mas nenhuma medida é tomada, o embargo continua;
Na Nicarágua, Daniel Ortega, um dos líderes da Revolução Sandinista de 1979, que derrubou a ditadura de Somoza, governa o país pela segunda vez desde 2007, a primeira de 1979 a 1990. É conhecido como um ditador, embora tenha sido reeleito em 2021;
Evo Morales assumiu a presidência da Bolívia em 2006 e alimentou as esperanças dos mais pobres de combater o neoliberalismo e produzir melhorias no bem-estar de todos os cidadãos. A reafirmação da propriedade estatal sobre o petróleo e o gás natural e o aumento as taxas de impostos pagas pelas petroleiras aumentou fortemente as receitas do Estado. Em junho deste ano, tentativa de golpe liderada por ex-comandante do Exército, foi afastado e preso após ameaçar ex-presidente Evo Morales. Presidente atual da Bolívia, Luis Arce, rival de Morales, fazem parte do mesmo movimento político;
No Peru temos Dina Boluarte, desde 2022, primeira mulher a se tornar presidente nesse país. Ela foi empossada após um autogolpe de estado fracassado do presidente Pedro Castillo, que resultou em seu impeachment, destituição e prisão. Sua presidência ocorre durante um período de turbulência política no Peru, que começou em 2017, ela é a sexta presidente em cinco anos. Ela era vice de Castillo, de esquerda, e após sua ascensão à presidência se alinhou com figuras de direita, levantando preocupações sobre a formação de um governo civil-militar;
Já em Honduras, Xiomara Castro, também primeira mulher presidente, que devolve a esquerda ao poder, herdou um aparelho estatal profundamente corrupto. Ela é confrontada com a forte vulnerabilidade de Honduras à pressão norte-americana para manter o país dentro dos regimes regionais de livre comércio e a presença dos militares norte-americanos em seu território.Em março de 2022, ela proibiu a mineração a céu aberto, declarando-a prejudicial ao meio ambiente e à população. O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos acolheu a decisão como sendo "coerente com o princípio da justiça climática e da proteção dos recursos naturais, da saúde pública e do acesso à água como um direito humano". A indústria de mineração, entretanto, desafiou a medida. Em 2022, foi declarado estado de emergência para lidar com o crime. Honduras, junto com a Guatemala e El Salvador, pertence ao "triângulo da morte" na América Central, uma região assolada pela violência, pobreza e corrupção;
E o Gustavo Petro, na Colômbia? Alvo de golpe à lá Dilma Rousseff naquele país, dominado pela oligarquia política, fez um discurso maravilhoso no mês passado, setembro, na ONU, um discurso duro no qual se referiu ao aprofundamento da "policrise", em referência às múltiplas causas que afetam a vida humana, e mirou naqueles que pedem aos latino-americanos que vão à guerra para "treinar máquinas de guerra, homens para irem aos campos de batalha.""Eles esqueceram que nossos países foram invadidos várias vezes pelas mesmas pessoas que hoje falam em lutar contra invasões. Eles esqueceram que por petróleo invadiram o Iraque, a Síria, a Líbia. Eles esqueceram que as razões que são expressas para defender Zelensky são as mesmas com as quais a Palestina deve ser defendida", disse Petro, acrescentando que para completar todos os objetivos de desenvolvimento sustentável "todas as guerras" teriam que cessar;
Por último, queremos falar do México: acaba de tomar posse, primeira mulher Presidenta, Claudia Sheinbaum, com o apoio de Lópes Obrador, fenômeno político mais forte da história política do México. Apostou em políticas voltadas para os pobres e discursos duros conta a elite. Ainda mais, na formação da consciência política da população, em conversas diárias através de lives com o povo.
Bem, parece que saímos do assunto: economia... capitalismo, socialismo, comunismo, socialismo no mundo e na América Latina... e perceberam que, de socialismo, passamos ao tema direita e esquerda? e centro? Com essa digressão tentamos, na nossa conversa, entender... e mostrar: não existe o ou/ou, e sim um movimento, uma construção, que não é linear e sim cheia de altos e baixos, idas e vindas, como tudo no humano; mas existem convicções político/econômicas que norteiam nossas visões de mundo e nossa ação transformadora.
Estes dois vídeos do grande jurista brasileiro Alysson Mascaro nos explica, de forma tão simples e tão significativa o que é ser de esquerda e de direita, na história e atualmente.
Voltando ao nosso tema, tentamos compreender o que é economia, a economia no sistema capitalista e no sistema socialista; e as tentativas de se implementar um sistema socialista, no mundo e na América Latina...
E a nossa conversa, em sequência, foi sobre a força do sistema capitalista no mundo, que, com podemos refletir, não se trata somente de um sistema econômico... trata-se de uma ideologia, um jeito de pensar, sentir e agir - o individualismo, a meritocracia, o lucro, o sucesso... o consumo, a guerra, a exploração até a destruição, a "morte", do ser humano e do ambiente - que vai se "impondo", tanto no nível micro quanto no nível macro. E que vai sofrendo transformações e adaptações, sem mudar sua essência de exploração... e que, quando "ameaçado" se transforma em fascismo, destrói, mata... para continuar sobrevivendo...
Por último, falamos num tipo de economia que cria a possibilidade de "combater" esse sistema. Talvez, no exercício dessa economia, "romper" com o modelo linear, exploratório...
O que é economia
circular?
A economia circular é um conceito baseado na
inteligência da natureza e que se opõe ao processo produtivo da economia
linear. Nela, os resíduos são insumos para a produção de novos produtos. No
meio ambiente, restos de frutas consumidas por animais se decompõem e viram
adubo para plantas. Esse conceito também é chamado de “cradle to cradle”
(do berço ao berço). Ou seja, não existe a ideia de resíduo, e tudo serve
continuamente de nutriente para um novo ciclo.
Enfim, não é o "fim do mundo", é o "fim do sistema"... mas vai demorar um pouco... ou um tanto... e precisamos sobreviver emocionalmente, não nos desesperançar... para isso precisamos produzir "políticas de encantamento" , apostar na esperança e combater a indignação que paralisa.
Pensar o presente almejando o futuro, como diz nosso grande Krenak.
Pois não é que conversando sobre Krenak, meu querido amigo SBCence Papa nos apresentou um outro conceito ECO: ECO ESPIRITUALIDADE, e Papa - seu nome na eco espiritualidade é AMAR - ficou de nos escrever sobre o assunto. Imagino que não tenha relação com religião, pois espiritualidade é diferente de religião. Querido Papa, ou querido Amar, o SBC aguarda seu texto - seu vídeo - e agradece.
Abraços esperançosos a todas as pessoas que nos leem e refletem conosco...