sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Conversas SBCenses: sobre muitos tipos de ECOs

                                   

Conversas sobre amor e sexo não terminam nunca! 

Depois do poema COMO FAZER AMOR recebemos, além de comentários sobre a lindeza, doçura, poesia... do texto, outras sugestões, digamos, sobre "como fazer amor":

- Tá valendo, também, "sexo selvagem"? Daqueles de rasgar os botões, rolar na cama, cair da cama, rolar no chão - pode ser chão da casa, pode ser na grama, na areia da praia - escalavrar os cotovelos e joelhos, arder o rosto de tanto beijo... mordidinhas na orelha, vai descendo, no corpo todo... até morrer de cansaço e apagar completamente... e quando acordar retomar tudo... rola que rola... ri... grita ... canta... até ficar com muita fome... aí tem que dar uma parada pra comer, pois ninguém é de ferro... A Rita incluiria o chalap-chalap, claro, não poderia faltar... não conhecem o chalap-chalap?  conhecemos desde 2012, leiam nosso post de 14.março desse ano.

Claro! Tá valendo! Maior tesão! Qualquer maneira de amor vale a pena... quando a alma não é pequena...

E das risadas sobre sexo selvagem lembramos do nosso SBCense Sérgio Marone e retomamos sobre a ECOSSEXUALIDADE. Não é que essa ideia da ecossexualidade de entendermos a natureza como amante e não como mãe faz todo sentido!  

Lembramos de um caso que ouvimos há muito tempo e ficou gravado na nossa memória afetiva: um sítio lindo, bastante arborizado, um rio e uma frondosa árvore frutífera onde essa pessoa, todos os dias, ficava a descansar e "conversar". E a árvore respondia, generosamente. Ele comia os frutos deliciosos... porém ficava imaginando se tivesse uma canoa para passear pelo rio... e a árvore "sugeriu": toma o meu tronco! e ele fez isso... cortou a árvore, fez uma bela canoa... e passeava pelo rio. Um dia, cansado, procurou a árvore, uma sombra... e não encontrou... aquilo que restava da árvore o convidou: senta aqui no meu tronco e descanse um pouco!... 

Essa metáfora nos diz muito sobre a relação do ser humano com a natureza...  e também, possivelmente, com as mães, pois "aprendemos" sobre o amor incondicional, generoso sem limites, da mãe ... e da mãe natureza. Trata-se da conhecida relação mitificada, romântica,  e assimétrica. Com mãe "pode tudo", ela sempre vai perdoar, acolher, ser generosa... E o pior é que nós, enquanto mães, aprendemos a onipotência e somos compelidas e reproduzir e alimentar esse modelo, desempenhar o papel de mães idealizadas. Triste, pra nós e pra nossos filhos e filhas... idealizar nossas mães, assim como "nos matar" para corresponder ao modelo idealizado por elas. 

E a saída é a aprendizagem da humanização. Mães, não queiram ser perfeitas, não caiam nessa armadilha! Filh@s, façam o movimento de humanização das suas mães, vocês estarão aprendendo algo fundamental para todos os outros níveis de relação, a busca da simetria, a relação sujeito-sujeito, de troca, a relação prazerosa, enfim...  

Pois após esse preâmbulo "quase psicanalítico" o assunto foi ECO, para além da ecossexualidade:

ORIGEM DA PALAVRA|do grego ekhó, «eco», pelo latim echo

substantivo masculino
1.
FÍSICA repetição de um som refletido por uma superfície de grande área situada a uma distância do emissor do som tal que o intervalo de tempo entre a emissão e o retorno da onda refletida seja superior a um décimo de segundoressonância
2.
som produzido por essa reflexão
3.
repetição de sons ou de palavras
4.
figurado divulgação de palavras ou expressões atribuídas a uma pessoa
5.
figurado notícia infundadaboato, rumor
6.
figurado repercussãoconsequência
7.
figurado bom acolhimentoaceitação, simpatia
8.
figurado famaglória
9.
figurado marca deixada por alguém devido aos seus feitos ou às suas qualidadesmemória, recordação.

O termo ECO é uma abreviação de "ecologia" e é frequentemente utilizado para se referir a práticas e conceitos relacionados à preservação do meio ambiente e à sustentabilidade.

A palavra grega “oikos”  significa “casa” ou “lar”. A ecologia é o estudo das relações entre os seres vivos e o ambiente em que vivem, e o termo “eco” é frequentemente utilizado para descrever práticas que visam preservar e proteger esse ambiente. O conceito de “eco” está relacionado à ideia de que todas as formas de vida estão interligadas e dependem umas das outras para sobreviver.

A ecologia pode ser considerada uma das ciências mais complexas e amplas, pois para compreender o funcionamento da natureza, ela envolve o estudo de diferentes campos de estudo, como evolução, genética, citologia, anatomia e fisiologia.

Níveis de organização

níveis de organização

"O estudo da ecologia provoca em nós o exercício da humildade, uma das maiores virtudes... o  movimento da saída da nossa arrogância humana", afirmam os ecologistas. E todos e todas nós precisamos urgentemente mudar nossa relação com a natureza:

Definitivamente, a natureza não é nossa mãe, naquele sentido "aprendido" sobre mãe. A ideia de relacionarmos com a natureza enquanto nossa AMANTE - seres que se amam - cria a possibilidade da relação de troca, de dar e receber, da busca da simetria na relação. 

Em 1975 nosso grande Paulinho da Viola canta Amor à Natureza: Um Clamor Poético pela Preservação Ambiental. "Uma semente atirada Num solo tão fértil não deve morrer É sempre uma nova esperança
Que a gente alimenta de sobreviver"

E chegamos ao conceito de ECOSSOCIALISMO:

ecossocialismo conjuga elementos do socialismo com a ecologia. Defende que a expansão do sistema capitalista é a causa da exclusão social, da pobreza, da exploração e da DEGRADAÇÃO AMBIENTAL

A William Morris  (1834-1896), romancista, poeta e desenhista inglês, é geralmente creditado o desenvolvimento de princípios-chave do que mais tarde foi chamado ecossocialismo. Durante os anos 1880 e 1890, Morris promoveu suas ideias ecossocialistas dentro da Federação Social Democrata e da Liga Socialista.

Ariel Salleh se tornou ecofeminista nas lutas contra a mineração de urânio em terras indígenas na Austrália, na década de 1970.

Ecofeminismo materialista:  convergência da resposta feminista, decolonial e socialista diante do colapso ecológico do século XXI.

A década de 1990 viu as feministas socialistas Mary Mellor e Ariel Salleh abordarem as questões ambientais dentro de um paradigma ecossocialista. Com o crescente perfil do movimento antiglobalização no Sul Global, um "ambientalismo dos pobres", combinando consciência ecológica e justiça social, também se tornou proeminente. 

Em outubro de 2007, a Rede Ecossocialista Internacional foi fundada em Paris.

Em maio de 2024 aconteceu o 1° Encontro Ecossocialista Latino-Americano e Caribenho junto com o 6° Encontro Ecossocialista Internacional, em Buenos Aires, que contou com a presença de várias personalidades ecossocialistas brasileiras e mundiais.

Também em maio de 2024, o Comitê Internacional da Quarta Internacional Reunificada aprovou o texto de seu Manifesto Ecossocialista para ser debatido em seu próximo congresso mundial, incorporando ainda mais os debates do ecossocialismo na sua organização.

Michael Löwy (1938]) é um pensador brasileiro radicado na França, onde trabalha como diretor de pesquisas do Centre National de la Recherche Scientifique. É um relevante estudioso do marxismo, com pesquisas sobre as obras de Karl Marx, Leon Trótski, Rosa Luxemburgo, Georg Lukács, Lucien Goldmann e Walter Benjamin.

Vale a pena assistir esse pequeno vídeo do Michael Löwy, acima.

Francisco Alves Mendes Filho, mais conhecido como Chico Mendes (1944 - 1988), seringueiro, sindicalista, ativista político brasileiro, lutou a favor dos seringueiros da Bacia Amazônica, cuja subsistência dependia da preservação da floresta e das seringueiras nativas. Seu ativismo lhe trouxe reconhecimento internacional, ao mesmo tempo em que provocou a ira dos grandes fazendeiros locais que o assassinaram. Sua morte foi noticiada internacionalmente e provocou indignação no Brasil e exterior.


Murray Bookchin (1921-2006) foi um escritor, orador, professor, historiador e filósofo político anarquista e posteriormente, comunalista estadunidense autodidata. Pioneiro no movimento da ecologia, Bookchin formulou e desenvolveu a teoria da ecologia social e do planejamento urbano, dentro do pensamento anarquista e ecologista.

Ecologia social é um conceito filosófico, social e político que relaciona questões ecológicas e sociais. A teoria surgiu em meados da década de 1960, época de ascensão do movimento ambientalista no mundo e dos direitos civis nos Estados Unidos, e desempenhou um papel muito mais visível com o crescente movimento contra a energia nuclear no final da década de 1970 Apresenta como ideia principal que os problemas ecológicos do mundo estão arraigados e profundamente assentados em problemas sociais, particularmente no domínio dos sistemas políticos e sociais hierarquizados, e busca resolvê-los através do modelo de uma sociedade adaptada ao desenvolvimento humano e à biosfera. É uma teoria da ecologia política radical baseada no comunalismo, que se opõe ao atual sistema capitalista de produção e consumo, visando o estabelecimento de uma sociedade moral, descentralizada e unida, guiada pela razão.

Em síntese, alguma dúvida, ainda, sobre a estreita relação entre os sistemas econômico, social, político, ideológico? Tudo intimamente relacionado, certo? E alguma dúvida, ainda, sobre a ideologia do "lucro acima de tudo" do sistema capitalista nos levar à destruição? Caminhar para o socialismo é a nossa salvação, precisamos desse entendimento e dessa luta de todas as pessoas...

Em 1976 Drummond escreveu este poema e jamais retornou a Belo Horizonte até a sua morte em 1987.

Lindo texto do Ailton Krenak, publicado essa semana na Folha de S. Paulo, aborda a tragédia das queimadas, parte delas de origem criminosa, que ferem gravemente o futuro de muitos biomas no Brasil.

A DANÇA DA CHUVA – Ailton Krenak

Uma colega que vive no Reino Unido me fez sentir a boa inveja hoje de manhã, e olha que nem sabia desse sentimento com tanta intensidade, no peito e na pele.

A causa de tanta boa inveja foi saber da chuva que cai no seu pequeno jardim em Londres. Ah, chuva, chuva, chuva que cai do céu e nem me importa se muito fria ou gelada na ilha dos Beatles! Inveja da chuva alheia deve ser assim, como achar mais verde a grama do quintal do vizinho. Aqui, entre nós, às portas da primavera tropical, o céu de fumo e fuligem joga sobre nossas cabeças a tinta preta do carvão florestal.

Luxo de exibicionistas, pois queimamos jacarandá, peroba rosa, cedro, angico, peroba do campo, amarelinho, pau-ferro, canela de velho e ipê. Tocamos fogo na mata para ver a bicharada, onças-pintadas e amarelas, viados do campo, preguiças, tamanduás-bandeiras e tamanduás-mirins, cobras de todos os tipos, tatus, araras-vermelhas, amarelas e azuis, jacarés de barriga amarela, saguis, rãs e lagartos fugirem entre labaredas no planalto e nas campinas, no cerrado e na caatinga, biomas que lá no frio da Inglaterra chegam também a dar inveja.

Temos tanta floresta, mata atlântica, mata seca, mata de beira de rio, mata ciliar. Temos tanta floresta para queimar por toda a eternidade. Será?

Meus vizinhos maxakalis, aqui do Vale do Mucuri, são meus grandes professores na invocação da fauna e da flora. São capazes de listar e convocar todo um gradiente de vida de um lugar onde o pasto e a degradação já expulsaram quase todos os insetos, répteis, pássaros, animais peçonhentos, plantas e fungos que havia ali.

Esse povo, que foi expropriado de tanto, ainda consegue recriar, em meio ao deserto em que foi convertido o seu território, com seus cantos, suas rezas e suas histórias, um mundo para ser habitado.

Enquanto isso, bravos brigadistas combatem as chamas aqui e nos quintais vizinhos, afinal, floresta não tem fronteiras. Nem vento, nem fogo, nem água reconhecem essa invenção do bicho-humano. Brigadistas brasileiros pularam para o lado boliviano em um árduo corpo a corpo na contenção do fogo.

Uma linha de chamas segue aumentando de ambos os lados e ameaça chegar às terras dos indígenas guatós, a uma comunidade ribeirinha e à Serra do Amolar, área protegida no Pantanal sul-mato-grossense formada por 80 quilômetros de extensão de morros e que combina áreas com características de mata atlântica, do Pantanal e da Amazônia, fazendo dela um verdadeiro santuário da biodiversidade.

A Serra do Amolar foi, inclusive, declarada patrimônio natural da humanidade. Da humanidade? Que ironia. Pois entre os ameaçados pelo fogo estão cerca de 3.500 espécies de plantas, 325 espécies de peixes, 53 espécies de anfíbios, 98 espécies de répteis, 656 espécies de aves e 159 tipos de mamíferos.

No meio da fuligem, com sonhos de chuva, penso que vamos ter que aprender com os maxakalis como enxergar os espíritos do mundo invisível e falar com eles.

Por último, falamos sobre ECOLOGIA INTERNA, exercitando o movimento do geral para o particular e para o geral e assim por diante: "A ecologia pode  começar do lado de dentro",  quando tomamos medidas internas, uma ação pode mudar nossa concepção e uma mudança de concepção pode levar a uma mudança de ação... e aí,  algo estará  efetivamente se estabelecendo no mundo - interno e externo.

Praticamos alguns exercícios simples de harmonização do nosso interior.

Acreditamos, também, na inteligência emocional como um treinamento para a ecologia interna... e a "ecologia relacional" (acabamos por criar esse novo eco):

1. Eu me sinto... (fale das suas emoções);

2. Me conta mais sobre isso... (fale com as pessoas);

3. Sinto muito... (pratique);

4. Estou te ouvindo... (diga às pessoas, e pratique);

5. Entendo o que você está dizendo, penso (ou sinto) de outra forma... ;

6. Obrigado! ... (diga sempre);

7. Como você se sente em relação a isso? (crie o hábito de perguntar...);

8. O que você que dizer com isso? (pergunte sempre, evite fazer conclusões);

9. Treine sempre a respiração diafragmática, mais profunda;

10. Ria... e cante...

E terminamos com música linda de Guilherme Arantes, do álbum AMANHÃ, de 1978.


O SBC continua ABERTO, INCLUSIVO, ANÁRQUICO, DEMOCRÁTICO, ECOLÓGICO E FEMINISTA... hoje destacando a ECOLOGIA...


Abraços fluidos a todas as pessoas que nos leem...

Santuza TU





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