Estudei psicologia na antiga Universidade Católica de Minas Gerais, hoje PUC, nos anos 70 do século passado. E uma das matérias mais importantes do curso era PSICOPATOLOGIA. vista dentro do modelo médico de saúde-doença. Fazíamos estágio na Pinel, naquela época na região da Pampulha. Entrevistávamos os pacientes para fazer o diagnóstico da doença mental. E quase sempre errávamos... no entanto, sofríamos muito vendo e participando do sofrimento de cada um deles. E nosso principal sintoma era, a cada entrevista e diagnóstico, nos encaixar naquela "doença mental"... quando entrevistávamos uma histérica "sentíamos" todos os sintomas da histeria, assim era com os/as esquizofrênicos/as, obsessivos e obsessivas, e assim por diante. Uma colega já botava uma malinha pronta perto da porta de saída da sua casa, caso ela surtasse e sua família tivesse que interná-la.
Pois agora, nessa conversa, provavelmente a minha histeria me faz me colocar em TODAS as categorias de, digamos, vivências de sexualidade, colocadas na pesquisa e no assunto... e alguns e algumas de nós também...
Pois não é que, agora, temos inúmeras categorias dessa vivência!
- Cada vez mais novos nomes surgem para descrever as nuances da nossa sexualidade. Que bom! Já passou da hora de nos entendermos melhor nessa área.
- Já há algum tempo tomei conhecimento de sapiossexualidade, um termo que se caracteriza pela atração sexual e/ou romântica baseando-se em sua inteligência e educação. A definição geralmente limita a atração pelo outro, seja ela física e/ou romântica, puramente ao intelecto das pessoas. Os sapiossexuais, em específico, podem usar a conversa como um jogo sexual, por exemplo. O termo vem do latim (”sapio” significa “sábio”) e teria sido usado pela primeira vez pelo engenheiro Darren Stalder na rede social LiveJournal, no início dos anos 2000. Porém, a denominação começou a se popularizar somente na década seguinte.
E a sapiossexualidade tem até bandeira, essa acima...
A bandeira assexual foi criada em 2010 por integrantes da REDE DE VISIBILIDADE E EDUCAÇÃO ASSEXUAL (AVEN), um fórum virtual para assexuais. A bandeira apresenta quatro faixas horizontais de igual tamanho. De cima para baixo, as listras são de cores preta, cinza, branca e roxa. A faixa preta representa a assexualidade, a faixa cinza representa a assexualidade cinza e a demissexualidade, a faixa branca representa a sexualidade ou alossexualidade (ou, às vezes, aliados), e a faixa roxa representa a comunidade como um todo. A bandeira costuma ser hasteada em eventos LGBTQIA+ e é usada para representar a comunidade assexual.
O 'A' da sigla LGBTQIA+ representa os assexuais. São pessoas, em linhas gerais, que não sentem atração sexual ou necessidade de ter relações sexuais. Mas esta é uma definição simplificada do grupo que se define como assexual. A assexualidade é uma orientação sexual e o termo pode ser usado como um guarda-chuva dentro do espectro de pessoas assexuais. Vale ressaltar que existe diferença entre os termos "assexuado" e "assexual". O assexuado, reforça a psicologia, seria a pessoa sem sexualidade. Por sua vez, o assexual tem sexualidade, mas não sente desejo sexual.
Em alguns casos, o assexual pode se sentir inapropriado para ter qualquer tipo de relação, acabar desenvolvendo ansiedade e depressão por não entender a sua condição e achar que tem algo de errado consigo mesmo. Nesse caso, a importância do autoconhecimento para ter consciência e entender essa escolha como uma preferência interna.
Importante, ainda, conhecer os Não assexuais ou Alossexuais: essas pessoas têm atração sexual por qualquer pessoa, mantem relações sexuais com frequência e com diversos parceiros durante a vida. A relação sexual é algo que transcorre normalmente, com envolvimento afetivo ou amoroso ou ser apenas fruto de uma escolha prazerosa.
Alossexualidade ou zedsexualidade define pessoas que não são assexuais, sendo alossexual quem vivencia atração sexual, regularmente ou em geral. O termo inclui, mas não limita-se somente a, monossexuais (homossexuais, heterossexuais, ginessexuais e androssexuais) e multissexuais (bissexuais, polissexuais, onmissexuais e pansexuais).
Esse grupo, por fazer parte de grande parcela da sociedade, pode ser caracterizado dentro de certa normalidade. Mas, é importante saber que, apesar desse grupo fazer parte da maioria, não se deve excluir os outros. Ao entrarmos no campo da sexualidade, entender as suas diferentes nuances e singularidades humanas é essencial. Além disso, as escolhas devem ser honradas e respeitadas, independente de qual for. Digamos que a normalidade é ser quem você que ser, exercer suas preferências, evitar a rotulação, tanto dos outros quanto você com você mesmo/a.
Lembrando que o fator emocional sempre será fundamental para que se desmistifique o papel do desejo e suas interferências nas relações humanas. É fundamental não permanecer nas polaridades, e sim, abrir a mente para o novo e o que traz prazer à vida.
Se identificam com a alossexualidade? Nós do SBC também... somos super alossexuais.
Começamos a conhecer melhor, além da sapiossexualidade, a assexualidade (ou alossexualidade), a demissexualidade,. Embora possam parecer confusos, os três são orientações que refletem diferentes formas de atração, mas têm significados diferentes. A sapiossexualidade refere-se à atração sexual e romântica pelo intelecto e inteligência de uma pessoa. A demissexualidade, por outro lado, descreve a atração sexual que só surge após a formação de um vínculo emocional profundo. Em contraste, a assexualidade é caracterizada pela pouca ou nenhuma atração sexual por qualquer gênero, independentemente da conexão emocional ou intelectual. Cada uma dessas orientações destaca diferentes aspectos que influenciam a atração e a conexão entre as pessoas.
Ótimo, vamos então, à DEMISSEXUALIDADE, que também tem sua bandeira, essa acima. Trata-se de termo do espectro sexual que se caracteriza pelo surgimento de atração sexual somente quando existe envolvimento ou conexão emocional e/ou afetiva. Alguns demissexuais têm mínimo, pouco, raro ou nenhum interesse em atividade sexual. A demissexualidade, está em uma zona de indefinição de identidade sexual, por não especificar necessariamente para qual sexo biológico ou gênero alguém demi direciona sua atração. Deste modo, quando uma conexão é estabelecida, ela não dependerá necessariamente de tais características.
O termo demissexual é um neologismo advindo de demi - do francês, que significa metade ou parte e começou a ganhar popularidade generalizada em 2008.A demissexualidade tem relação com a atração sexual manifestada somente em casos de vínculo afetivo com outra pessoa. A conexão, ligação e comprometimento são pré-requisitos para estabelecer algum tipo de relacionamento. A pessoa demissexual irá aceitar se relacionar sexualmente apenas com alguém que teve alguma ligação emocional, ou seja, com algum companheiro que já conhece e que já tenha tido algum tipo de envolvimento a longo prazo. O gênero pode ou não ser um motivo relevante para essa atração, já que tem a ver com a orientação sexual.
Ou seja, entre as pessoas assexuais e as pessoas não assexuais, existe o grupo dos demissexuais. É um grupo diferenciado, mas não menos importante. As pessoas que pertencem a esse grupo só sentem atração sexual por quem já nutre algum tipo de ligação emocional e/ou intelectual. O aspecto dessas pessoas é relacionar-se sexualmente apenas com quem sentem vínculo afetivo. Para essas pessoas, a atração sexual é posterior a uma conexão que depende de vinculação emocional.
Segundo fontes, os demissexuais, no espectro, ficam mais próximos dos assexuais. Isso porque, na maioria das vezes, eles não sentem muita atração sexual durante a vida, já que isso exige um envolvimento emocional muito grande deles com as outras pessoas. A pessoa demissexual só consentirá o sexo com alguém que já tenha nutrido algum sentimento. Para uma pessoa demissexual, a atração física está diretamente relacionada a uma conexão afetiva.
Quatro características de uma pessoa demissexual:
1. Vontade de conhecer melhor as pessoas: Para as pessoas demissexuais, existe uma maior atenção no momento de conhecer a outra pessoa. Antes da aparência física, a intelectualidade e o afeto vêm em primeiro lugar. Portanto, o conhecimento mútuo é essencial entre os parceiros.
2. Necessidade de envolvimento: Como é necessário ter um envolvimento com a pessoa, as relações podem, geralmente, iniciarem a partir de uma amizade. Um demissexual irá se apaixonar por pessoas que tenha uma convivência maior e por mais tempo, como, por exemplo, um amigo, um colega de classe ou de trabalho. Em muitos casos, essas pessoas não tiveram namoros durante a adolescência, e/ou tiveram a primeira relação sexual numa fase tardia, já que essa relação aconteceu exatamente após criar um vínculo com alguém.
3. Forma diferente de se aproximar: Essa característica se manifesta na exclusividade que o parceiro dos demissexuais são escolhidos. Como precisa haver um vínculo próximo entre os parceiros, os demissexuais não se sentirão atraídos por qualquer pessoa, portanto, serão criteriosos na escolha do parceiro ou parceira. Esse é um dos campos mais exigentes da sexualidade porque ele não se sente atraído por qualquer um. Se ir em uma balada, provavelmente não irá beijar ninguém antes de ter alguns encontros com essa pessoa.
4. Conexão maior entre as pessoas: A conexão é a principal característica das pessoas demissexuais, já que ela precisa, necessariamente, existir entre os parceiros para que haja algum tipo de relação sexual.
A cantora Iza falou, em 2023, sobre o fato de ser demissexual. "Não posso desperdiçar minha energia sexual com qualquer pessoa. Se for para gozar, gozo bem sozinha", disse em entrevista à Marie Claire. Mas o que é demissexualidade para ela: "O que quero dizer é que preciso admirar muito alguém para ter um relacionamento sexual. Não tenho que casar, ter um relacionamento sério, mas já tentei fazer sexo casual e não funciona comigo. A experiência raramente é prazerosa para mim"...
Com Laerte aprendemos a fluidez de gênero, que não é a mesma coisa da sexual.
Gênero fluido é a pessoa que não se reconhece como uma única identidade de gênero, transitando entre várias. Essa fluidez que pode englobar os gêneros masculinos e femininos ou abranger outras manifestações, como não se identificar com gênero algum (agênero).
Já a fluidez sexual descreve uma ou mais alternâncias na sexualidade. A orientação sexual é estática, estável e imutável para a grande maioria das pessoas, mas alguns estudos indicam que algumas pessoas são suscetíveis de passar por mudanças de orientação sexual, o que, de acordo com estudos, é mais frequente entre mulheres. À medida que definições de sexualidade mudam e se expandem, orientações das mulheres estão se tornando menos rígidas do que as dos homens. Essa evolução pode ser atribuída, em grade parte, às mudanças culturais, como o avanço do feminismo e do movimento das mulheres, que mudaram significativamente o cenário sociopolítico nas últimas décadas.
Enfim, a identificação sexual pode mudar ao longo da vida de um indivíduo e pode ou não se alinhar ao sexo biológico, comportamento sexual ou orientação afetiva.
E com Laerte recordamos também, do termo QUEER, usado para se referir a pessoas que não se enquadram nos padrões tradicionais de identidade de gênero e sexualidade. Pessoas queer podem assumir uma diversidade de expressões, tanto de gênero quanto de sexualidade, não se identificando com os padrões normativos - cisgênero e heterossexual. Em 8 de julho de 2013, no nosso post "Sou muitas, de uma delas você vai gostar", escrevemos sobre QUEER, e a descoberta de "ser quem você quer ser" vem a ser libertadora, assim como "ser diferente é o que nos torna todos iguais", todos esses conceitos transmitem a essência do que é ser QUEER... e nos declaramos, nós do SBC, tod@s somos queer, pois lutamos pela nossa liberdade de ser...
E chegamos à categoria mais recente de vivência da sexualidade: ECOSSEXUAL
O termo ecossexual vem do prefixo eco ("casa", "habitação") que se refere ao ramo da biologia que estuda as relações dos diferentes seres vivos entre si e com o seu ambiente: «a biologia dos ecossistemas» e o desenvolvimento de uma sexualidade saudável.
Em termos simples, uma pessoa ecosssexual é alguém que considera a natureza não apenas como um elemento passivo do seu ambiente, mas como uma parceira ativa em sua vida sexual e emocional.
A premissa principal é ver a natureza como uma amante e não como "mãe". Ao encarar a Terra como uma parceira íntima, os ecossexuais têm a esperança de que isso os motive a lutar contra as mudanças climáticas e proteger o meio ambiente, afinal, estaremos mais comprometidos em preservá-lo.
Sprinkle explica: "A ecossexualidade transforma a
Terra numa questão sexual urgente. Em vez de tratarmos a Terra como uma mãe que
nos acolhe, passamos a vê-la como uma amante — no mesmo nível que nós —
colocando a responsabilidade em nossas mãos para manter o relacionamento em
equilíbrio." É uma verdadeira revolução!
A ecossexualidade não é só um passatempo. Segundo o manifesto, ela é
uma identidade tão importante quanto ser gay ou
bissexual. "Para alguns, ser ecossexual é a identidade principal, enquanto
para outros não. Ecossexuais podem ser LGBTQIA+,
hétero e de várias outras formas. A gente convida e incentiva os ecossexuais a
se assumirem. Estamos por toda parte".
Com o futuro do nosso meio ambiente cada vez mais ameaçado, os ecossexuais nos convidam a dar uma boa olhada na relação com o mundo ao nosso redor. Dados de pesquisa mostram que o interesse das pessoas em descobrir mais sobre essa identidade sexual tem aumentado significativamente. Então, aqui estão seis coisas que todos precisam saber sobre a ecossexualidade!
E nós, do SBC, aceitamos o convite... sejamos, todos, todas e todes, ECOSSEXUAIS! Incorporamos à nossa definição e ao nosso estilo de vida:
"O SBC é, por definição, um grupo aberto, inclusivo, anárquico, democrático, ecológico, e feminista... lembram? Então, agora ficamos, em vez de ecológico, ECOSSEXUAL...
Então ficamos assim: sapio, hétero, homo, demi, eco... tudo isso junto e misturado... e mais queer... fluidos... etecetera... etecetera... etecetera... Cantemos Pepeu Gomes, música de 1983 que celebra a fluidez de gênero e a quebra de estereótipos tradicionais do masculino e do feminino... A letra é da Baby...
COMO FAZER AMOR
Autoria atribuída a Gabriel García Márquez
—Então o que vamos fazer?
— Amor.
—Tem certeza?
—Sim.
—Bem, vou me despindo.
—E por que você está tirando sua roupa?
—Então, para fazer.
—Quem te disse que você tem que se despir para FAZER AMOR?
—Pois que eu saiba é assim que se faz.
—Não, essa não é a única maneira de fazer Amor.
—E como então?
— Apenas deixe a roupa vestida e conversemos até cansarmos, riamos por nada e por tudo, olhemos devagar até tentarmos decifrar.
Comigo você não precisa se despir de corpo, mas de alma, apenas nos olhar até ficarmos sem palavras, e ali, nesse instante em que as palavras são insuficientes para explicar o que sentimos, nesse silêncio infinito finalmente poderemos nos tocar. Percebes?
—Tocar-nos?
—Sim, tocar-nos com a ternura dócil de uma carícia que se expanda docemente até morrer num abraço.
—Ai, que lindo.
—Olha, deixa eu segurar sua mão?
—Sim.
—Sente? essa é uma das maneiras de fazer amor.
É sobre isso.
Você apenas deixe a roupa vestida e vamos conversar até cansar, vamos só olhar a boca, os cílios, os lábios por um tempo e se o beijo for necessário virá sem pedir licença.
Vamos conversar até conhecermos todas as nossas memórias, até sabermos os nossos segredos mais profundos, apenas deixe-me olhar para você até o mais extremo e requintado deleite, deixe-me ver a ALMA até o cansaço, até que estes olhos se rendam e me obriguem a baixar as pálpebras me incitando a dormir.
—E você vai forçá-los a ficar abertos?
—Sim, para te olhar a noite toda…
Só você.
Texto informativo, reflexivo, sensacional, divertido, poético. E a crônica final de Gabriel Garcia Marquez sobre “Como fazer amor” é pura poesia!
ResponderExcluirSim... Obrigada pelo comentário
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