segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Novas conversas sobre o Chile

 


Ainda estamos em setembro e, além de sarau sobre a primavera (vejam no Instagram @sambabobagemcerveja - aproveitem para nos seguir também por lá) , o SBC continuou conversando sobre o Chile. Logo depois do nosso post do dia 12.setembro fomos em Santa Tereza, no Instituto Helena Greco, assistir esse belo filme de Carlos Pronzato BUSCANDO A ALLENDE. 

Numa mistura de documentário com ficção, o cineasta utiliza como pretexto (ou pré-texto...) sua busca (atual) entre os chilenos da casa onde nasceu e morava Salvador Allende para exibir entrevistas e depoimentos de pessoas da época - entre os anos 1970, ano em que ele o mesmo foi eleito presidente do Chile, até 73, quando ocorreu o golpe - numa tentativa de compreensão histórica desses acontecimentos. 

Pois - refletimos - a história serve para compreendermos o presente e projetarmos o futuro, além de nos colocar como sujeitos na construção da história prospectiva. Por isso nos servimos desde filme para continuar nossas conversas, assistir outros filmes, e trazer para a atualidade a compreensão da América Latina e do Brasil. Vejam que o debate pós filme contou com a participação de um brasileiro exilado no Chile que vivenciou o golpe em 73, Marco Antonio Meyer, que nos fala, emocionado, sobre essa época, sobre outros intelectuais, artistas e políticos que se exilaram no Chile em função do golpe no Brasil, principalmente com o AI5 em  1968... e, posteriormente ao golpe militar no Chile, todas essas pessoas tiveram que se exilar, de novo, em outros países, principalmente na Europa.

Depois da fala emocionada do Marco Antonio, o professor, fotógrafo e documentarista Richardson Pontone nos brindou com uma perspectiva crítica|histórica do capitalismo, do imperialismo estadunidense pós 1945... então, os interesses econômicos estão por trás das ideologias "moralistas"... qual era a principal riqueza do Chile? o cobre! e os EUA estavam de olho no cobre para alimentar a indústria armamentista, naquela época a guerra era com o Vietnã, O Vietnã do Norte contra o Vietnã do Sul, EUA apoiando este último "contra o comunismo"... Ho chi Ming, grande líder do Vietnã do Norte, dizem que venceu a guerra da prisão, escrevendo poemas aos seus comandados. Em 1975 os Vietnames se unificaram, os EUA já haviam, derrotados, abandonado aquele país. Tragédias provocadas pelas guerras, milhões de pessoas mortas... para alimentar a indústria armamentista, para alimentar o poder, para alimentar o imperialismo... a lógica do capitalismo é cruel.


Voltando ao Chile, recebemos a indicação de documentário que está no Youtube no site da UJC: considerado um dos melhores e mais completos documentários latino-americanos, A BATALHA DO CHILE, do cineasta Patricio Guzmán. Dividido em três partes: A insurreição da burguesia, O Golpe Militar e O Poder Popular. E uma edição especial neste site se completa com outros dois documentários: Patrício Guzmán, uma história Chilena, sobre a trajetória única deste cineasta; e A resistência final de Salvador Allende, uma reconstituição dos últimos momentos de Allende antes do golpe.

"Salvador Allende põe em marcha um programa de profundas transformações sociais e políticas. Desde o primeiro dia a direita organiza contra ele uma série de greves, enquanto a Casa Branca o asfixia economicamente. Apesar do boicote, em março de 1973 os partidos que apoiam Allende obtém mais de 40% dos votos. A direita compreende que os mecanismos legais já não servem. De agora em diante sua estratégia será o golpe de estado. A Batalha do Chile é um documento que mostra, passo a passo, esses acontecimentos que comoveram o mundo". 

O SBC agradece a indicação e super recomenda: Entrem no site UJC Brasil no Youtube, se inscrevam no canal e vejam os documentários. Vale a pena! Nossa proposta é conhecer mais o Chile, conhecer mais a América Latina... "lido e corrido" e através dos filmes... conhecer a história dos países da América Latina... e fazer o exercício de comparação com o Brasil. A comparação pressupõe ver semelhanças e diferenças. E estaremos nos conhecendo através da comparação. Estaremos, também, desenvolvendo nossa competência para a crítica e, prospectivamente, construirmos nossa identidade autônoma, o trabalho de construir a resposta a "quem somos nós". 

Saindo dos documentários, vimos também outros dois filmes do mesmo cineasta chileno, Pablo Larraín, que valem a pena:

Em 2012 Larraín fez o interessantíssimo “No” para reconstituir realisticamente o processo do plebiscito de 1988 que tirou os militares do poder no Chile. 

Pressionado pela comunidade internacional, o ditador Augusto Pinochet aceita realizar um plebiscito nacional para definir sua continuidade ou não no poder. Acreditando que esta seja uma oportunidade única de pôr fim à ditadura, os líderes do governo resolvem contratar René Saavedra (Gael García Bernal) para coordenar a campanha contra a manutenção de Pinochet. Com poucos recursos e sob a constante observação dos agentes do governo, Saavedra consegue criar uma campanha consistente que ajuda o país a se ver livre da opressão governamental.


Agora, em 2013, o mesmo diretor recorreu à fantasia mais anárquica possível para tratar da pós-ditadura chilena. É uma filmagem para remexer o entulho histórico, social e econômico deixado pelos militares no país, segundo Enio Vieira, na Revista Bula.

Larraín surpreende ao criar uma sátira política e "surreal" sobre Pinochet, por meios das figuras do vampirismo. O filme faz uma mistura de ficção, documentário, jornalismo, teatro jurídico de julgamentos e, acima de tudo, narrativas de fantasia, monstros, terror. O personagem Augusto Pinochet  já foi dado como morto na história, mas aparece vivíssimo na pele de um vampiro francês de 250 anos de idade. Vive isolado com a esposa e um mordomo. Porém, seus cinco filhos querem sua morte definitiva para receber a herança, fruto da pilhagem feita pelo general quando presidente do Chile. O filme resgata uma série de histórias verídicas sobre as famosas contas bancárias mantidas pela família Pinochet, em paraísos fiscais, e alimentadas por simples corrupção. Num dos trechos mais engraçados, o protagonista discute com a interlocutora se é mais adequado ser chamado de assassino ou de ladrão. Ele prefere ser lembrado como assassino.

A sequência mais anárquica de “O Conde” é a revelação de quem é a narradora do filme. Na verdade, o grande vampiro é o neoliberalismo implantado ao mesmo tempo no Chile e na Inglaterra. Pela visão correta do diretor, o DNA é o mesmo. O sangue bebido é o de comunistas, sindicalistas, opositores. "É uma alegoria do morto-vivo dos vampiros que ilustra a literatura há séculos e ainda é uma imagem representativa para ver a realidade", diz o crítico Enio Vieira.

E para terminar nossa conversa com arte - e com esperançar - lembramos Neruda:


Uma primavera cheia de arte, cultura, e boas conversas para todas as pessoas, é o que deseja o Coletivo SBC.


Até a nossa próxima conversa, talvez sobre a América Latina, talvez sobre a Argentina... quem sabe... abraços carinhosos













Um comentário:

  1. Um mergulho na história do Chile pelo cinema. E ainda, como locação, Instituto Helena Grego. Tive o prazer de votar e elegê-la a Primeira Mulher Vereadora em BH.
    Crônica bem escrita: os EUA de olho no cobre do Chile, financiaram o golpe, depondo Allende.
    Os interesses econômicos sob a moral da ideologia.

    Valeu as dicas dos filmes!

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