sábado, 9 de setembro de 2023

Sarau 7 de setembro: Independência? A dominação cultural

 No Espaço Cultural COMUNA o SBC realizou, no dia 7 de setembro, um belo encontro de amig@s, que é a melhor coisa que sabemos fazer: o nosso SARAU de 7 de setembro... permeado de história (e histórias), reflexões, depoimentos pessoais, poesia, música e boas conversas. Tudo isso com cerva do SARUÊ, drinks do Andarilho e comidinhas das queridas do Congo... e tudo isso no espaço aberto da Comuna Cultural!

Este foi nosso cenário. E o que sobrou de boas trocas faltou de fotos e vídeos, poucas pessoas registraram o evento. Dizem que quando está muito bom a gente se esquece de alguma coisa, como por exemplo pedir para fazer vídeos e fotos. Foi o caso. Mas um resumo do conteúdo... temos... a seguir:



O 7 de setembro pode ser comemorado como uma data de liberdade? essa foi nossa pergunta...

e pesquisamos pra levar o tema pro nosso sarau ... e concluímos:

a independência do Brasil foi um ato conservador, que manteve a escravidão, os interesses da oligarquia, dos proprietários de terras... e a dominação dos ingleses!

A história ...que não conhecemos... é a de que dom Pedro I entrou em conluio com o latifundiário brasileiro, proprietários de escravos, e na medida que ficou claro que as cortes e a sociedade em Portugal queriam reconquistar o lugar proeminente da Inglaterra em relação ao Brasil, resolveram separar os dois países. 

Portanto, Dom Pedro se aliou aos proprietários de terras e escravocratas para manter o poder. E por isso, fomos o último país a abolir a escravidão, e sem dar nenhum direito a esse povo!

Argentina, Venezuela, Chile, Peru e Equador tiveram que organizar exércitos populares para combater os espanhóis e adotaram a bandeira republicana. O brasil foi o único país a declarar independência e manter o imperador!

Esses dados nos causam perplexidade...

Aqui a nossa querida SBCense Neide entrou com a história da Leopoldina... e com seu depoimento pessoal:

"História de Leopoldina... Por coincidência nasci em Leopoldina, cidade da Zona da Mata que passou a ser Vila em 27 de abril de 1854 e foi elevada a cidade em 1861. Em 2022 uma escultura em homenagem à princesa substituiu o símbolo do Rotary.

E a partir do que foi relatado pela Santuza podemos perceber que nosso príncipe era sapo.

E como em toda nossa história, as mulheres que participaram desse processo permaneceram na invisibilidade e não estiveram presentes em nossos livros de história.

E continuando a tirar o véu de tudo o que foi escondido de nós  chegaremos a uma princesa. Só fora dos livros escolares nós podemos conhecer e reconhecer o papel da princesa Leopoldina na nossa independência.

Princesinha dos nossos contos de fada? Querendo ser acordada? Não.

Mas, há controvérsias!!!! Para o historiador e escritor Paulo Rezzutti, Leopoldina foi de grande importância na independência. Ela influenciou D. Pedro no dia do Fico (janeiro de 1822) . No papel de regente durante a viagem de D. Pedro a São Paulo, presidiu uma reunião do Conselho de Estado que teve como fruto a recomendação da declaração da independência do Brasil. Portanto ela foi a primeira mulher a governar o país.

Nasceu em Viena, Austria, em 22 de janeiro de 1817.Aos 20 anos se casou sem conhecer Dom Pedro. Viajou durante 6 meses para chegar ao Brasil e trouxe na tripulação pintores, cientistas e botânicos.

Da família poderosa, os Habsburgo foi preparada para governar. Falava 11 idiomas e teve aulas de teatro para aprender a desempenhar o papel de monarca.

Para Rezzutti ( D. Leopoldina: a história não contada- A Mulher que Arquitetou a Independência do Brasil) ela era revolucionária por ter sido a primeira mulher na altas esferas políticas do Brasil. Relacionava-se bem com os pobres, era contra a escravidão. Acreditava que tinha uma função pública.

Já Maria Celi Chaves Vasconcelos, professora da Educação da UERJ, acredita que ela apenas desempenhou o papel para o qual foi educada e tinha medo de que acontecesse com ela o mesmo que com Maria Antonieta, sua avó. Para ela, Leopoldina era submissa e aceitava ordens e traições do imperador. Sua irmã mais velha, Maria Luiza, era casada com Napoleão, inimigo da família. Leopoldina a considerava como modelo e de maior importância por ter se casado com Napoleão. 

Na verdade Leopoldina teve um  papel ativo no Brasil. Morreu em 11 de dezembro de 1826, aos 29 anos.

E, na verdade, também, ao contrário do que nos foi ensinado, as cores da bandeira se referem as duas casas que deram origem ao Brasil independente: A Casa Bragança (verde) e a Casa Habsburgo (amarela)".

Então, Neide  nos convocou:

Deixemos a realeza e voltemos para o povo, grande protagonista da nossa história!

Cantemos Liberdade liberdade, abre as asas sobre nós...  da Imperatriz Leopoldinense,  em 1989:

O refrão é excepcional... mas prestem atenção à letra, ela exalta a Princesa Isabel... Isso é pertinente  ao nosso assunto "dominação cultural" e construção da nossa "Identidade Autônoma": A "canetada" da Princesa Isabel invisibilizou  toda a luta e conquistas, que já aconteciam,  das pessoas escravizadas,  pela sua libertação!

Em seguida outra grande SBCense, nossa querida Antonieta, professora de história |(aprendemos muito com ela|), vestida de verde e amarelo,  nos conta duas histórias preciosas: uma outra independência do Brasil, na Bahia; e a história da Maria Quitéria... mulheres invisibilizadas na nossa história...temos inúmeras delas! 

"Temos, também tão pouco conhecida, uma outra história da independência do Brasil, especificamente na Bahia, 2 meses antes do grito do Ipiranga.

"Os dois exércitos se encontraram em 8 de novembro em Pirajá, na periferia de Salvador." Durante 10 horas, cerca de 10 mil soldados combateram com ferocidade. Esse combate consagrou uma heroína e deu  origem a um mito. 

A primeira é Maria Quitéria de Jesus, então com 30 anos, primeira mulher nas forças armadas brasileiras.

O desfile realizado no dia 2 de julho tem percurso entre a Lapinha e o Campo Grande, e conta com a presença do Caboclo e da Cabocla, símbolos da guerra pela independência baiana e da cultura local. Caboclo e Cabocla, de certa maneira, são nossos ancestrais, mestiço do povo primitivo com o colonizador português, e tb com o africano.

Mulher feita, legalmente emancipada, sabendo bem o que quer, Maria Quitéria consome-se de amor pela Pátria prestes a nascer. Assumindo a sua condição feminina, livra-se, por fim, dos constrangimentos da simulação. É, doravante, o soldado Medeiros, nome com que se apresentara à tropa. Os milicianos, a princípio ousados, aprendem a respeitá-la. Por baixo, aquele soldado de voz macia veste saias, mas é homem, na coragem, no trato, no companheirismo. 

Quitéria torna-se exemplo e, mais que isso, mascote da tropa interiorana de resistência".


Então percebemos... e compartilhamos com o nosso público, a importância do movimento de percepção... do PARTICULAR (nossas subjetividades) para o GERAL (nossa compreensão de mundo) ...  e volta ao PARTICULAR para nos compreender melhor... e vai, de novo para o GERAL, a visão de mundo... e, assim, ampliamos nossa consciência... este  movimento fizemos no SARAU...

Compartilhamos um livro sobre nossos povos ancestrais,  gentilmente oferecido pelo SINPRO, Sindicado dos Professores de Minas Gerais:


Este livro fala, no capitulo 7, sobre três filósofos indígenas: Daniel Munduruku, David Kopenawa Yanomami e Ailton Krenak. 



Tivemos, também, a leitura de uma parte, a sexta e última parte, do poema de Castro Alves:

Auriverde pendão de minha terra,

Que a brisa do Brasil beija e balança,

Estandarte que a luz do sol encerra

E as promessas divinas da esperança...

Tu que, da liberdade após a guerra,

Foste hasteado dos heróis na lança

Antes te houvessem roto na batalha,

Que servires a um povo de mortalha!...

"O Navio Negreiro" é um poema de Castro Alves, um dos mais conhecidos da literatura brasileira. Foi escrito em 1870, quando o poeta tinha 24 anos, e denuncia a situação dos africanos arrancados de suas terras e tratados como animais nos navios negreiros que os traziam para ser propriedade de senhores e trabalhar sob as ordens dos feitores. A obra é abolicionista e retrata o negro como um herói, quebrando os laços com o ultrarromantismo. "O Navio Negreiro" é uma parte do poema épico "Os Escravos" e é dividido em seis partes com metrificação variada. A linguagem do poema emite pessimismo e angústia".

Foi emocionante, ou melhor, a emoção INDIGNAÇÃO foi suscitada. E o interesse em conhecer mais a nossa história... e nos posicionarmos ... e,  tomando consciência da DOMINAÇÃO CULTURAL que vivemos, nos instrumentarmos para o movimento de construção da nossa IDENTIDADE AUTÔNOMA. E a arte, a música, a poesia, nos serve de ferramenta para este movimento.

Outras poesias foram faladas, músicas... Gonzaguinha, Fernando Pessoa, Drummond, poemas autorais, Joyce ("o que é ser feminina..."). Obrigada a todas as pessoas que participaram, presencialmente e a distância, com ótimos "pitacos"... Livros, como por exemplo, "As veias abertas da América Latina", de Eduardo Galeano; filmes, como "Macunaíma, o herói sem nenhum caráter", com Grande Otelo, baseado no livro de Mário de Andrade de 1928 (o Movimento Modernista, dessa época, era também a tentativa de se construir uma identidade brasileira através da arte, no nosso entendimento). E, mais recente, os filmes "Bacurau" e "Medida Provisória". Músicas de Emicida... poemas de Neggo Tom, Eliza Lucinda, entre outras e outros.


Enfim, é muita coisa que precisamos conversar, lembrar, cantar, dizer... para que se ative a nossa perplexidade, que consideramos o princípio do raciocínio orientador para uma nova visão de mundo e de nós mesm@s... e a construção da nossa identidade. Parece que precisamos fazer outro sarau sobre isso, ou tema semelhante... nos enviem sugestões...

E terminamos com uma música de "ESPERANÇAMENTO": "Pra não dizer que não falei  das flores", música de Geraldo Vandré, segundo lugar no Terceiro Festival Internacional da Canção em 1968.


E, ainda, fizemos um exercício de reflexão que nos mostra como ocorre a dissociação entre a vida da pessoa e a percepção de mundo... 

Ou seja, faz parte da "dominação cultural" a construção de uma visão alienada de que NÃO somos construtores do mundo, da história, uma visão, no nível subjetivo,  "egoísta", individualista, dissociada da construção coletiva.

A visão "você vai estar bem se o mundo estiver bem" não existe na "dominação cultural". Existe, sim, a ideia "eu vou estar bem, o mundo que se foda". 

Enquanto... um conceito simples: "comunista", significa "busca do bem comum"...

Grande jurista e filósofo (e grande SBCense) Allyson Mascaro fala em "afetos sociais": alegria de compartilhar, de estar em conjunto "versus" esse nosso sistema, que alimenta o individualismo, o consumismo, a competitividade, a meritocracia...

O SBC é grato a todas as pessoas que nos abraçam, que estão juntas nos nossos projetos, participam e se envolvem... e nós falamos sempre: 

OS BONS ENCONTROS SÃO SEMPRE EM MÃO DUPLA, uma "filosofia de vida" SBCense, um conceito de "bem-viver".

Até nosso próximo encontro... primeira quinta feira do mês de outubro...

Abraços carinhosos a todas as pessoas








4 comentários:

  1. Parabéns , e pelo que li, foi grandioso ! Lamentavelmente confundi o horário! Mas outros belos momentos virão!@Abçs

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  2. 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻🌹

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  3. Fiquei triste por não participar estava viajando

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  4. Puxa vida! Foi fantástico menina. Vou arranjar uma fugidinha para estar com vcs. Sensacional! Quero ler o livro me empresta. Parabéns!

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