quinta-feira, 26 de maio de 2022

TERCEIRA OFICINA 'TA CAINDO FLOR': Trabalhar e Conversar sobre Vida e História

 


O espelho ficou, como podem ver, uma verdadeira "obra de arte". Servirá, no nosso evento "TÁ CAINDO FLOR", para as pessoas fantasiadas se verem... e, pós evento, será super bem aproveitado nos chalés de Ouro Preto... porque lá também faremos o evento "TÁ CAINDO FLOR" (vejam nosso post de 20 de abril: Semana Santa em OP). Aliás, "TÁ CAINDO FLOR" está se transformando num "conceito SBCence de vida"... que pode significar, para nós, "liberdade, responsabilidade, com leveza".

E as fantasias! maravilhosas: são saias num estilo cigano... e os adereços para cabeça... lindísssimos


"... é que Narciso acha feio o que não é espelho..." (grande SBCense, Caetano). Não sei  diferenciar muito bem, o que seria narcisismo e o que seria auto estima, disse uma das nossas 'oficineiras'... na dúvida, reforço e tento, sempre, praticar minha auto estima:  digo a mim mesma:  "auto estima ao ponto", nem super metida (arrogante), nem "sub metida" (subserviente). 
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E a oficina vai ocorrendo com conversas sobre arte em geral: músicas, filmes, poemas... e sobre vidas...

Uma oficineira precisava sair mais cedo, pois o marido estava "desconfiado" das suas saídas... Ela relata que ele sempre liga e pergunta: onde você está? e, quase sempre, ela está no sacolão. Daí, ele acha que sacolão é "Ricardão"... e ela retruca: olha, se eu precisasse de um Ricardão, com certeza não iria num sacolão, e sim num hipermercado!  

Todas nós rimos... e nos identificamos... Outra oficineira relata uma lembrança de quando tinha filhos pequenos: eu saia e "esquecia", de propósito, o celular... pois o que eu queria era um mínimo de sossego. 

E a Lyra, querida artista, gravou música para o dia das mães. Ela me mandou o vídeo, que publicamos aqui, está cortado no final... provavelmente, pelo que diz a música, ela foi chamada: MAAAEEEE!!!! 



E daí passamos à conversa sobre filmes e histórias de vida:

Uma de nós citou filme inglês, visto recentemente na Netflix: EDUCAÇÃO, o título já é interessante, já provoca reflexão: de qual educação o filme fala?

 Uma adolescente de 16 anos (Carey Mulligan - belíssima atuação, lembra Audrey Hepburn, em especial quando está com o cabelo preso),vive no subúrbio londrino em 1961. Inteligente e bela, anseia por deixar as garras da família  sofre com o tédio de seus dias de adolescente e aguarda impacientemente a chegada da vida adulta. Jenny sonha em conhecer o mundo, adora lançar frases soltas em francês, é madura para sua idade e estuda, muito, para alcançar seu objetivo: entrar para Oxford. Até que David (Peter Sarsgaard) surge em sua vida. Ele é mais velho, tem em torno de 30 anos. Pode lhe proporcionar momentos até então apenas sonhados, como ir a restaurantes, leilões e conhecer lugares. Pode também lhe tirar do mundo regido por seu pai. 

Só que, em meio à paixão, vem a difícil decisão: o sonho de Oxford permanece? A resposta passa pela situação da mulher na década de 60, período em que o filme é retratado. As alternativas existentes eram basicamente se casar e tornar-se dona de casa ou se formar e ingressar na carreira como enfermeira ou professora. Jenny sabe disto e precisa pesar ambos para definir qual será seu futuro.
 
O roteiro do filme não é novidade. Apresenta uma situação simples e já vista diversas vezes. Porém, o toque delicado da diretora Lone Scherfig nos  remete às nossas histórias de vida, de mulheres brancas, de classe média, da segunda metade do século passado (na Inglaterra e aqui entre nós, no Brasil)., 

E, além de nos remeter às nossas histórias, nos faz, também, refletirmos sobre a atualidade desse tema... como diria Nietsche, "da utilidade da história para a vida e para a ação".

Pois a maioria de nós somos mulheres da segunda metade o século passado, e é útil que conversemos, sempre, sobre nossas histórias e sobre sermos objetos e, ao mesmo tempo, sujeitos, históricos e culturais, ou seja, reprodutoras da cultura, assim como transformadoras da mesma. E foi nessa perspectiva nossa conversa sobre o filme:

. Todas nós ouvimos, principalmente de nossas mães: estuda, minha filha, pra você não depender de marido... Uma contradição: vejam que continuava o padrão "marido"... ou seja, não era pra gente ampliar as possibilidades de escolha.

. Ouvíamos, também, a expressão "bom partido" e, de alguma forma, éramos educadas (observem o título do filme, super apropriado) para desenvolvermos a 'competência' para arrumarmos um "bom partido" ... era, inclusive, muito frequente, a expressão "curso espera marido", se referindo a alguns cursos superiores mais  frequentados por mulheres, aqueles  das áreas humanas.

. O nosso "destino" era casar e ter filhos, não tínhamos escolha. Ainda nos anos 90 do século passado uma mulher que "ousasse"  sair desse padrão recebia a "pecha" de "triste, louca ou má". 

. Reparem, no filme, que "estudar" era internalizado como um propósito de vida percebido como desinteressante, uma vida sem atrativos. A vida "sonhada", de glamour, viagens, passeios, conhecer coisas novas, era, na nossa concepção, somente obtida através do outro (de um homem), de forma alguma nos era transmitido que poderíamos conquistar essa vida por nós mesmas. Daí que aprendemos que tínhamos que esconder nossos desejos, para vê-los realizados através do outro. E, de tanto esconder que éramos seres desejantes, chegamos a nos esquecer mesmo disso... 

. E, junto com os conceitos de amor internalizados (amar é se doar, amar é sofrer, ...) era "fabricado" o padrão feminino de ser, nossa "identidade reflexa", ou seja, tudo que "somos educadas para...". Quantas músicas, quantos romances, quantos filmes reforçando esses padrões e gravando "a ferro e fogo",  nos nossos espíritos, o "sonho romântico que definia a nossa existência". 
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. Mas também, como, na segunda metade do século passado,  aproveitamos as "contradições" inerentes ao próprio modelo, para a construção das nossas identidades de uma forma mais autônoma, mais livre, mais bonita, enfim... Foi daí que lembramos de um outro filme fundamental para nosso próprio reconhecimento enquanto "sujeitas", seres desejantes e "construtoras" da nossa própria vida: 

MARVIN, filme francês,  nos cinemas no Brasil em 2018 no Festival Varilux, incentiva as pessoas a aceitarem as diferenças. Direção de Anne Fontaine, Roteiro de Pierre Trividic e Edouard Louis e título original: Marvin ou La belle éducation. Martin Clement (Finnegan Oldfield), nascido Marvin Bijou, escapou da aldeia onde morava com o pai tirano e a mãe que o renunciava. Apaixonado por teatro, ele junta aliados para conseguir fazer com que seus sonhos virem realidade. 
E, cena final do filme, aberta para cada pessoa que o assiste, 'elaborar' (e apropriar). Nossa 'oficineira' elaborou assim, juntando os dois filmes: "olhar para minha história e me ver agora, o que construí, me faz muito feliz comigo mesma!"   É, realmente, muito gratificante,  E, de alguma forma, é uma responsabilidade de cada uma de nós, tanto individualmente como coletivamente,  fazermos essa construção. 

Vejam que interessante: também a palavra "educação" no título do filme Marvin. Em ambos os filmes que conversamos se revelam as contradições do conceito de educação: educação para a reprodução dos padrões ditados pela nossa sociedade... e a superação, ou seja, a "educação libertadora", como nos ensina grande Paulo Coelho. 

Ainda, sempre nos lembrar do grande Marx, que nos ensina a considerar, nas nossas análises, as contradições inerentes à vida. Assim como as superações dialéticas que fazemos, e que, por sua vez,  já encerram outras contradições... e dessa maneira é o movimento da vida... considerou, de uma maneira simples, uma das nossas 'oficineiras'.



E terminamos (apenas a conversa, pois fechar conversas abrindo para a continuidade da reflexão é próprio do SBC) com grande psicanalista:
Até nosso próximo encontro... abraços carinhosos...


2 comentários:

  1. No encanto de tantas palavras chaves torna-se complexo simplesmente comentar. Um misto de poesia e filosofia. Há de se considerar o ser e seu envolvimento com os sentimentos. Fechar os olhos e refletir sobre a própria história que de certa forma, foi posta aqui, apesar da não intencionalidade. Em meio a um emaranhado de reflexões a vida se concretiza.

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    1. Obrigada pelo comentário Neide! Poético!

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