quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Antes do encerramento: as mulheres invisibilizadas da Semana


Esta é Fátima Carvalho, uma grande mulher... geógrafa, professora... e membra do MPM - Movimento Popular da Mulher. E ela nos ajudou, hoje, antes de encerrarmos as comemorações dos 100 anos da Semana de Arte Moderna, a lembrar as mulheres invisibilizadas daquela época... e lembrar, também, da nossa ação hoje, em defesa de todas nós e a favor do nosso empoderamento.


A Semana de 22 foi revolucionária para a sociedade da época, mas apenas duas mulheres entraram para a história do evento: Tarsila e Anita, já contempladas no nosso projeto aqui no blog.  Segundo a professora do Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB), Vera Pugliese, Tarsila nem no Brasil estava na data do festival. Em fevereiro de 22 ela estava em Paris. A pintora paulista foi, de fato, umas das principais modernistas do país, mas não participou da Semana de Arte Moderna. Nenhuma de suas obras esteve presente no festival artístico.
Então, corrigindo a história, segundo os registros, apenas quatro mulheres participaram da Semana de Arte Moderna: as artistas visuais Anita Malfatti, Gomide Graz e Zina Aita; e a pianista Guiomar Novaes.










A artista plástica Tereza Aita, conhecida como Zina, nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1900, e estudou desenho, pintura e cerâmica na Itália dos 14 aos 18 anos.

Quando retornou ao Brasil, em 1918, teve contato com o modernismo por meio, principalmente, dos amigos Anita Malfatti e Mário de Andrade.
Apesar de ser considerada precursora do modernismo em Minas Gerais por causa de uma exposição individual feita na capital mineira em 1920, Laudanna aponta que a lacuna sobre a obra de Zina no Brasil é enorme. "Ainda hoje, pouco se sabe e quase nada se conhece dos trabalhos de Zina Aina", diz Laudanna. "Ela basicamente foi esquecida por falta de pesquisas (no Brasil) e por se localizar pouquíssimas obras suas". Depois da Semana Zina voltou para a Itália, tendo permanecido no país até a sua morte, em 1967, trabalhando preferencialmente com a cerâmica. "Sua produção permanece pouco conhecida, e grande parte de suas obras não é datada", afirma trecho de sua biografia na enciclopédia do Itaú Cultural.

Regina Gomide Graz

 

A pintora, decoradora e tapeceira Regina Gomide Graz nasceu em Itapetininga (SP) em 1897. Após estudar em Genebra, na Suíça, Graz retornou ao Brasil em 1920, se aproximou dos modernistas e expôs sua obra em tapeçaria na Semana de Arte Moderna. Foi pioneira no interesse pela tradição indígena brasileira, tendo estudado a tecelagem indígena do Alto Amazonas para compor parte de sua obra.

A artista é considerada uma das mais produtivas do Modernismo brasileiro entre 1920 e 1940, mas sua obra foi reduzida pela história como "colaboradora" do marido John Graz e do irmão Antônio Gomide. Em livros, Regina é descrita como "esposa" e "irmã" de artistas, quase nunca como "autora".

Guiomar Novaes

Nasceu em São João da Boa Vista, interior paulista, em 1894. Começou a tocar piano aos 4 anos e, aos 15, se mudou para a Europa para estudar música. Teve uma sólida carreira internacional, tendo se apresentado para personalidades como a Rainha Elizabeth 2ª e o presidente americano Franklin Roosevelt. Ela já era uma das pianistas mais prestigiadas do Brasil quando se apresentou na Semana de Arte Moderna. Novaes se apresentou na terceira noite do evento em um recital com obras de Debussy e Villa-Lobos. Teria sido a única artista daquela noite no Teatro Municipal a ter uma plateia em silêncio durante a sua apresentação e, em seguida, receber aplausos calorosos do público. Apesar do sucesso entre o público, Novaes deu uma entrevista na época afirmando estar triste com "peças satíricas à música de Chopin" que marcaram a segunda noite de apresentações. A pianista teria se sentido ofendida, uma vez que Chopin era a sua especialidade.

Bem... com este resgate histórico estamos (quase) completando nossa galeria das grandes mulheres da Semana da Arte Moderna de 1922. Junto com Annita Malfatti (lembrada pela nossa querida Nilmara no post de 23 de janeiro) e com a Tarsila (no post de ontem dia 15, da querida Juliana) Graz, Novaes e Aita formam nossa galeria. Isso não esquecendo uma outra grande mulher, a Pagu, Patrícia Galvão, homenageada pela nossa querida Izabela no post de 26 de janeiro, que não participou diretamente mas viveu essa época e relacionou com artistas da Semana. Grande Pagu! 

Mas, como não homenagear, também, outra grande mulher, que não participou diretamente da Semana, mas do Movimento Modernista: Eugenia Álvaro Moreyra, mineira de Juiz de Fora.


Nasceu em 1898 e morreu em 1948, Eugênia foi uma jornalista, atriz e diretora de teatro brasileira. De personalidade anticonvencional e transgressora, foi uma das pioneiras do feminismo e uma das líderes da campanha sufragista no país. Ligada ao movimento modernista brasileiro e defensora de ideias comunistas, foi perseguida pelo governo Vargas, chegando a ser presa acusada de participação na Intentona Comunista. Casada com o poeta e escritor Álvaro Moreyra, desempenhou com ele papel importante na renovação do setor teatral brasileiro, organizando campanhas culturais de popularização e trabalhando como atriz, diretora, tradutora, declamadora e posteriormente presidente do sindicato dos profissionais de teatro.

Enfim, todas essas mulheres são referências para nós, na luta pelo nosso protagonismo. 

Agora sim, podemos passar ao nosso encerramento da Semana: amanhã, dia 17... aguardem...

E fechamos por hoje com o vídeo da nossa  querida Fátima, que nos convida a este protagonismo:



Este vídeo está no nosso youtube. Aproveitem para se inscrever no canal e dar o seu "like". Será muito bom pra nós.

A Fátima, nossa gratidão. E até amanhã, com nosso encerramento.


Abraços carinhosos a todxs...




4 comentários:

  1. Que lindo amiga. É com imensa satisfação que vejo este belo projeto sbcense se estendendo até o MPM. Parabéns pelo trabalho. Excelente texto e vídeo impecável. Que nunca percamos o nosso rumo em busca da Equidade de Gênero. Principalmente através da arte. Tenho afirmado que :a arte nos liberta da barbárie e torna nossa pretensa liberdade mais próxima da realidade. Um grande beijo e obrigada por ter aceito o desafio.
    "Quem sabe faz a hora não espera acontecer..."






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