quinta-feira, 27 de novembro de 2025

O FILME DA SEMANA... DO ANO ...

 

O amor é espera... ou estraga tudo?  Pergunta do filme. Não é pra responder, pode ser pra 'permanecer com a pergunta', pode ser às vezes espera e às vezes 'estraga tudo'...

Até o meio do filme, capitulo V talvez, a gente vai entendendo as personagens e a ligação entre elas. Do meio em diante a gente só chora, emoção a flor da pele, identificações com todas e com cada uma delas. Talvez nesse capítulo, a cena do Camilo fazendo com uma caneta num papel um círculo duas, três, quatro, cinco vezes, então a mosca - ou formiga, não sei bem -  ali dentro do círculo  roda, roda mas não consegue sair daqueles círculos - apenas com uma caneta! - essa cena que me fez desabar... e dali em diante "apenas senti" todas as personagens, me vi em cada uma delas...

O filme: O FILHO DE MIL HOMENS, nos cinemas e na NETFLIX,  uma adaptação do livro de 2011 de Valter Hugo Mãe, nome artístico do escritor, poeta, artista plástico, apresentador de TV e cantor português.


Sinopse: Combinando realismo mágico e drama, a trama conta a história do pescador Crisóstomo, um homem simples e solitário que, aos 40 anos, se sente vazio pela ausência de um filho que nunca teve. Em busca de preencher essa lacuna, seu caminho cruza com o de Camilo, um adolescente órfão, que ele decide adotar e construir uma família atípica. Incentivado pelo garoto, Crisóstomo procura uma companheira e se aproxima de Isaura, uma mulher desonrada que vive um casamento falido com Antonino, um homem extremamente fragilizado.

Dirigido por Daniel Rezende, cineasta, montador e diretor brasileiro que ganhou destaque em 2002 quando montou o aclamado filme Cidade de Deus. Ele conta sobre a construção "da palavra e do silêncio" no filme, pois no livro o Crisóstomo "fala muito", já no filme só as imagens - e a belíssima interpretação do Rodrigo Santoro - falam por si só. 

Além do Rodrigo Santoro, maravilhosa atuação de Johnny Massaro:


                                                                                Juliana Caldas:

Miguel Martines, o Camilo:

e muitos(as) outros(as)... E Zezé Motta é a narradora!

Carol Tilkian, psicanalista, pesquisadora de amor e relações humanas, diz: "Ele - o filme -  não fala apenas sobre paternidade, filiação ou encontro; fala sobre o gesto humano de tentar costurar sentido onde a vida deixou espaços abertos. Fala sobre como cada vínculo é uma aposta diante do impossível de garantir: amar alguém sem possuir, acolher alguém sem preencher totalmente, criar um laço sem apagar as próprias feridas. O filho de mil homens nos lembra que ser família não é ter origem, é construir destino. E que, diante do desamparo que nos acompanha desde o início, encontramos no outro não uma cura, mas um espelho que nos permite existir de forma mais inteira. Um convite para pensar as relações não pelas faltas que nos formaram, mas pelas presenças que podemos escolher sustentar"

Nós entendemos que o filme fala muito mais: fala sobre expandir o conceito de família, fala sobre preconceito, machismo, capacitismo, homofobia... 

Nos dá uma linda referência do masculino: para além do padrão conhecido de "força", o masculino pode "ser - praticar a alteridade, a emoção. 

Fala sobre a angustia, a dor que traz o sentimento de inadequação em relação aos padrões sociais que nos moldam. 

Fala sobre "quem sou eu e qual é o meu lugar no mundo"; fala sobre "aprender a relacionar", crescer com o outro e o outro crescer comigo. 

E fala sobre sonhar...  sonhar outros sonhos fora aqueles que nos ensinaram, aqueles 'limitados'. 

E fala sobre esperança... ou esperançar ... para além (ou ao contrário) da romantização (leia-se idealização) do mundo, das pessoas e de nós mesmas(os), a esperança no real, que se dá na construção de relações mais verdadeiras... e de um mundo mais bonito.

Bora 'arregaçar as mangas' e "superar" a formiga - ou mosca - que não conseguia sair do círculo de caneta?

E o menino Camilo ainda nos dá ótimas dicas de leitura:





Ele, Camilo, aparece no filme lendo o livro de Krishnamurti... diz o nosso diretor Daniel Rezende que toda a equipe do filme leu este livro... e numa outra cena um livro do Valter Hugo Mãe, acho que um desses dois acima, que são livros infantis desse precioso autor ... que também é poeta e músico:

Abraços carinhosos a todas as pessoas que nos acompanham,

Santuza TU







Um comentário:

  1. Não vi o filme ainda. Já tinha ouvido comentários favoráveis do mesmo. Com estas reflexões de Santuza, fica claro que vale muito a pena ver e "sentir" este filme. Toda a nossa vida é um eterno aprendizado.
    Antonieta Shirlene

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