quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Homenagem SBCense a grande brasileiro

 

"Mas eu desconfio que a única pessoa livre, realmente livre, completamente livre, é a que não tem medo do ridículo".

Estamos tristes. Perdemos em 30 de agosto passado nosso grande Luis Fernando Verissimo, aos 88 anos. 

Luis Fernando Veríssimo nasceu em Porto Alegre em 1936. Foi escritor, humorista, cartunista, tradutor, roteirista, dramaturgo e romancista. Também foi publicitário e revisor de jornal. Verissimo exerceu ainda a ocupação de músico, tendo tocado saxofone em alguns conjuntos. Com mais de 80 títulos publicados, foi um dos mais populares escritores brasileiros contemporâneos.

E era filho do também grande escritor brasileiro Érico Veríssimo, famoso pelos livros O TEMPO E O VENTO, OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO, INCIDENTE EM ANTARES.

Porém, um livro menos conhecido do pai do Luiz Fernando é o Solo de Clarineta, um livro de memórias em dois volumes que traz reflexões do escritor sobre sua obra e é o testemunho de um período da história brasileira e mundial. Revela a trajetória da família Veríssimo, desde a infância do autor, passando pela decadência econômica da sua família e pela luta de sua mãe para manter os filhos com o trabalho de costureira, até seu sucesso como escritor. 

E pensamos que o nosso homenageado herdou do pai a escrita, principalmente através desse livro, pois a principal característica do Verissimo filho foi a simplicidade com profundidade, bom humor e visão crítica social e cultural, num estilo de escrita acessível e divertido. 

E mais: Luiz Fernando foi um grande resistente, para além da ditadura, resistente ao  liberalismo, ao neoliberarismo, à globalização, ao empobrecimento da população brasileira dos anos 80 e 90, à perda de sentido do estado brasileiro.
 Em todas - ou quase todas - suas obras, tirinhas, crônicas, romances, aparece a dicotomia, a dualidade entre o desejo de ser rico e a realidade do empobrecimento do nosso Brasil nessa época do Fernando Henrique presidente, assim como posteriormente. 

Vamos conhecer um pouco da sua obra:

O primeiro livro de Luis Fernando Veríssimo "O Popular", que reuniu crônicas e cartuns, foi publicados nos jornais onde trabalhou.

Em 1975, retornou ao jornal Zero Hora e passou também a escrever para o Jornal do Brasil. Nesse mesmo ano publicou o livro de crônicas, "A Grande Mulher Nua", que conta a história de Mário, um homem que se apaixona por uma mulher nua que vê em um quadro e decide encontrá-la a qualquer custo, Nessa jornada, ele conhece personagens excêntricos e se envolve em situações hilárias. No final, Mário descobre que a mulher do quadro não é real, mas sim uma criação de sua imaginação.


Em 1979 publicou "Ed Morte" e Outras Histórias, livro de crônicas, cujo personagem viria a ser um dos mais populares de toda sua obra. Entre 1980 e 1981 morou em Nova Iorque, época em que escreveu "Traçando Nova York".


Em 1981, Luis Fernando Verissimo lançou, na Feira do Livro de Porto Alegre, o livro de crônicas "O Analista de Bagé", que se esgotou em dois dias.


Entre 1982 e 1989, foi redator semanal, com artigos bem humorados, para a revista Veja. Em 1994 publica "Comédias da Vida Privada", onde faz uma leitura apurada das transformações culturais nos anos 80, mostrando as contradições sociológicas, econômicas, psicológicas e relacionais dessa época. Crônicas dessa livro foram  adaptadas para uma minissérie na televisão.

Em 1995, o livro O Analista de Bagé, lançado em 1981, chegou à centésima edição. O personagem, ou melhor, o analista é um freudiano ortodoxo que pratica a "terapia do joelhaço". Muitas vezes machista e preconceituoso, ao mesmo tempo meio que obediente, sempre "ouve" sua secretária, uma mulher que ajuda a criar um contraste entre a eficiência, a lógica, e uma abordagem muitas vezes subjetiva e confusa do analista. A secretária serve como uma espécie de  "voz da razão" ou "olhos críticos" nas histórias.

Me lembrei de uma terapia do joelhaço - chamamos de "terapia do chalap-chalap", que é uma espécie de grito, "bater na cara" para "sacudir o cliente" -   para depressão: "Olha para além do seu próprio umbigo!!! Aprenda a fazer isso, a olhar pro mundo, que a sua depressão vai diminuindo!". Outra do Chalap-chalap: sabemos, no processo terapêutico, da resistência, no entanto não estamos a favor dela, e sim lutamos contra a mesma.

Em 1983, dois anos depois do Analista de Bagé, ele lançou outra personagem interessantíssima: A velhinha de Taubaté, famosa por ser "a última pessoa no Brasil que ainda acreditava no governo", surgiu na ditadura e falava de política com humor e irreverência. Ora demonstrava ingenuidade e ora sabedoria, contraditória - e humana -  como as personagens de Veríssimo, parecida com uma velhinha do Chico Anísio, agora poderia ser, talvez, a nossa "TIA DO ZAP".


Por último, relembramos as tirinhas:  (d
o blog de Raissa R. Antunes)...

“As Cobras” é o tema dessas famosas tiras, da autoria de Luis Fernando Veríssimo, que eram feitas para os mais diversos jornais brasileiros entre os anos de 1975 à 1997. De forma satírica e irônica ele desenhava e criava falas que discutiam os temas mais polêmicos e falados no pais e no mundo, tanto no atual quanto no mundo de três décadas atrás. Assuntos como: futebol, política, economia, filosofias da vida, questões sobre o universo entre outros.
As personagens principais das tirinhas, são duas cobras que inclusive não tem nome, porém tem muitas questões e opiniões na cabeça a respeito de tudo, até mesmo de Deus, a quem eles pedem um sinal de vez em quando. No decorrer das tiras surgem outras personagens como Queromeu, o corrupião corrupto, que de certa forma retrata os políticos do nosso pais; Dudu o alarmista, uma cobra de expressão assustada e neurótica, que sempre passa correndo lançando um trocadilho a respeito dos problemas do mundo de forma hilária e perturbadora; Flecha e Shirlei, um casal de caracóis que estão sempre andando. Shirlei está sempre perguntando coisas para o sensato e convencido Flecha, que está sempre à sua frente e tem as respostas para tudo; O velho mestre Bubi, que vive a responder as muitas questões das duas cobras curiosas. Entre outros personagens como a Tia Jibóia, Sulamita: a pulga Lasciva, Mark Eting, a Pesquisadora, Zé do Cinto, Gerson, Alves Cruz (...) 
Quando estão sozinhas, as duas cobras aparecem em certos cenários, como no mar, na praia, no campo de futebol, de frente para as estrelas e até mesmo fora da Terra em: Cobras no espaço. Há também seqüências de outras histórias como Neo-Robin Hood, A Bíblia condensada e Robinson Cruz.
Em 1997 foi lançada uma coletânea chamada “As Cobras em: Se Deus existe que eu seja atingido por um raio" onde estão reunidas e selecionadas as tiras de Veríssimo que foram publicas entre 1975 à 1997.




Enfim, seu humor, sua crítica, e principalmente sua humanidade deixa saudades... e admiração...
E também aprendizagem! Visão crítica... a seguir, crônica atribuída a ele, não sei se procede, mas parece mesmo com ele, vejam:

                                        NÃO ACABO AMIZADE POR CAUSA DE POLÍTICA                                                             

Luis Fernando Veríssimo

"Se você concorda que os portugueses não pisaram na África e que os próprios negros enviaram seus irmãos para nos servir, acabo a amizade pelo desconhecimento da História.

Se você concorda que de 170 projetos, apenas 2 aprovados, é o mesmo que 500, acabo a amizade por causa da Matemática.

Se você concorda que o alto índice de mortalidade infantil tem a ver com o número de nascimentos prematuros, acabo a amizade por causa da Ciência.

Se você concorda que é só ter carta branca para que a PM e a Civil matem quem julgarem merecer, acabo a amizade por causa do Direito.

Se você concorda que não há evidências de uso indevido do dinheiro público, mas acha que é mito quem usa apartamento funcional "pra comer gente", acabo a amizade pela Moral.

Se você concorda que Carlos Brilhante Ustra não foi torturador e que merece ter suas práticas exaltadas, acabo a amizade por falta de Caráter.

Se você concorda que o Bolsonaro participou, aos 16 anos, da perseguição ao Lamarca, acabo a amizade por falta de Verossimilhança.

Se você concorda que não temos dívida social com um povo que foi arrancado do seu mundo pra servir a outro e que diferenças de tratamento étnico-racial é historinha, acabo a amizade por Racismo.

Se você concorda que as mulheres devem ganhar menos por gerar vidas e que são frutos de fraquejadas, merecendo serem estupradas ou não, de acordo com a sua aparência, acabo a amizade por Misoginia.

Se você concorda que não há possibilidade das pessoas viverem sua sexualidade livremente, com direitos e deveres como qualquer cidadão ou cidadã, mas que devam apanhar para aprender o que é certo, acabo a amizade por Homofobia.

Como vocês podem ver, não acabo a amizade por causa de política.

Acabo pela ignorância, truculência e pelo desrespeito que acompanha quem diz que não se acaba amizade por causa de política.

O fascismo não se discute, se combate."


Leiam Luis Fernando Veríssimo... 
O SBC recomenda.

Abraços carinhosos a todas as pessoas que nos leem...
Santuza TU





Um comentário:

  1. Fiquei triste com a partida de mais um gênio brasileiro!

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